Passado Presente escrita por Vick


Capítulo 3
Capítulo 1 - parte dois


Notas iniciais do capítulo

Então, eu sei que demorei demais para postar novamente e ainda apareço com a continuação do outro capítulo, porém, foi necessário todo esse tempo para eu reservar o TEMPO e conseguir escrever algo; ou finalizar algo. Está tudo muito corrido agora que as aulas voltaram... Coloquei então, uma partezinha do último capítulo para facilitar a 'lembrança' de cada um. Assim que todos os que acompanham comentarem, eu vou mover esse capítulo para junto do primeiro, já que faz parte dele. Espero comentários e expressões. Obrigada, e desculpa, novamente.



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Uma vez, há muito tempo, sua mãe lhe dissera que somos nós que atraímos os problemas. Após o sumiço da mulher, só restaram-lhe essas palavras e a companhia dos dois homens em sua vida: o pai e o irmão. O primeiro e sua ausência.

Nesse caso, vivenciando a euforia de mais uma luta, acreditava imensamente que aqueles Problemas – sinônimo para quatro feiticeiros – estavam sendo atraídos ainda mais, levados pelas suas ambições de dominação. Não fora ela, Julia, que os atraíra, mas seria com toda certeza a que os faria deixar de ser um problema. Pelo menos para a Sede de Londres e naquele momento.

Quando irrompeu pelo grande salão de entrada, reservado somente para festas natalinas e para o Dia de Ação de Graças, empurrou Harry para o lado sinalizando para que ajudasse a recém-iniciada vinda da França que manuseava desajeitadamente seu bumerangue e tentava evitar que um jato de luz verde, que saia das mãos de uma mulher vestida com trapos, a atingisse.

Um feiticeiro lançou-se em sua direção. Parecia um pouco esgotado e por isso a magia seria utilizada com menos frequência. Isso era só mais uma coisa que se aprendia com todo aquele treinamento. Participava da Caça desde os 15 anos, a idade permitida para a iniciação, e já estava mais do que acostumada com uma batalha como aquelas e com as vantagens que o sangue de Caçador proporcionava sobre as mesmas. Os feiticeiros eram extremamente bons em lutar, e a Sede se encontrava praticamente vazia naquele momento. Mas eles tinham a luta no sangue. Tinham benefícios.

Julia desviou-se da primeira investida do homem, fazendo um agachamento forçado e apoiando o peso do corpo na mão esquerda. Ele agachou-se juntamente e puxou uma de suas pernas, começando a arrastá-la até um canto longe da ajuda dos outros, perto da entrada do corredor. Julia deixou. Tinha uma ótima estratégia bolada em sua mente e havia feito aula de teatro no ano passado, o seu último nos estudos. Juntou uma boa atuação com sua voz melancólica:

— Por favor, me solte. Estou tão fraca.

O feiticeiro adulto ria e agora puxava-a com mais força e rapidez.

— AJUDEM-ME! POR FAVOR! ELE IRÁ ME MATAR! — dessa vez ela mesma teve que reprimir o riso. Nunca que Julia White se faria de coitadinha. Aquilo era apenas parte de seu plano, já que os outros quatro do salão estavam muito bem empenhados em suas batalhas. O brilho dourado das armas enviava flashes em seus olhos.

Quando parou de ser levada, o mesmo levantou-a pelo colarinho da regata e encaixou-a na parede próxima, levantando-a ao nível de seu rosto, fazendo com que o colar que tinha envolto no pescoço provocasse uma queimação sobre sua pele branca.. A garota nunca odiara tanto ser baixinha, mas era um bom porém para ter suas habilidades muito acima e poder surpreender os inimigos.

Como ela estava planejando fazer no momento em que ele pegou um pequeno canivete já fendido e pressionou em sua jugular.

— Isso doí, não é mesmo? Quem sabe vocês, Caçadores invejosos, consigam sentir um pouco da dor de meus colegas.

Julia sentiu algo quente lhe descer pela extensão do pescoço, passando até seu decote. Não era doloroso por enquanto, quando a adrenalina corria em suas veias como se fosse sangue.

Levantou sua perna dobrada dentando fazer com que o feiticeiro não reparasse no movimento, e em seguida alongou-a chutando o mesmo entre as pernas.

Mais um grito cortou o ar como facas afiadas.

Ele inclinou as costas na forma de um arco e colocou as mãos sobre onde havia sido atingido.

Se fosse uma adolescente normal apenas correria, contudo Julia não era. Aquele era seu mundo e a sensação deliciosa que ele causava em si. Atacaria. Mataria.

Julia empurrou com os pés o homem, de forma que caísse no chão cuidadosamente polido pela manhã e sujasse-o com sua imundice. Parecia ter se recuperado um pouco do que ela sempre chamava de Fraqueza Universal dos Homens.

Quando estava retirando a arma dos Caçadores de seu cinto, o que se semelhava com raízes envolveram seu pulso começando a provocar o formigamento interno conhecido apenas por alguém que já esmagou quase todos os dedos da mão pelo menos duas vezes em treinamento. Julia se contorceu com o aperto e tentou alcançar a lâmina com a mão livre.

— Está complicado, mulherzinha? Não achou que me ferindo naquele lugar iria conseguir alguma coisa, né?! — ele continuava com as costas deitadas no chão e as raízes saíam da palma de suas mãos.

O cérebro dela fez um clique.

Uma ligação de outra ideia, como uma ponte.

Puxou se pulso para perto da garganta. Onde o pingente de diamante - que ganhara do pai em seu aniversário de dezessete anos - emitia um brilho esverdeado, deixando suas veias mais aparentes.

— Sabe, não é tão fácil se soltar disso. Pode chacoalhar a vontade.

Ela forçou um pouco mais a raiz na direção do diamante. Se lembrava vagamente das aulas de ciência; na escola mundana, onde aprendera sobre o fato do diamante ser o sólido mais duro encontrado na natureza. A raiz tinha um aperto violento, porém fazia força somente em seu pulso e não quando tentava se movimentar.

Por fim, passou a parte mais fina da planta sobre o pingente, sentindo as fibras naturais se rompendo. O feiticeiro se levantou com dificuldade e fez as raízes que agora fluíam um líquido branco desaparecerem, começando a vir para perto dela novamente. Totalmente recuperado.

Correu até o centro do salão, onde só havia os corpos de quatro feiticeiros sendo arrumados lado a lado. Acreditava que ninguém teria percebido a falta do quinto deles. Harry se precipitou em sua direção, mas foi interrompido pelo gesto dela ainda no primeiro passo. Ela era independente e já tinha idade para lutar em suas próprias batalhas.

Julia escutou os passos leves do homem durante a corrida, enquanto estava de costas, já perto da entrada para o salão. Prendeu sua mão pequenina envolta do bumerangue e o calor já a muito conhecido enviou choques por seu braço. Contou.

Um.

Dois.

Três passos. Uma respiração desesperada em seu pescoço.

E o giro no último instante antes do contato. Mortal apenas para o feiticeiro, que sentiu o metal ultrapassando sua pele e a sensação de estar sendo violado. Uma dor efervescente o consumindo, o sangue vibrando-o enquanto se esforçava para a liberdade de jorrar como uma nascente que logo em seguida se transformaria em uma cachoeira.

Julia apunhalou-o na barriga com uma das pontas da pequena e eficiente arma. Aquela região do corpo do feiticeiro começou a queimar em chamas como sempre acontecia. Entretanto, o verdadeiro fogo estava nos olhos do mesmo, ela teve uma visão privilegiada do inferno da alma um pouco antes do homem cair para frente em sua direção:

— Aguardem...

O sangue do feiticeiro misturou-se com o seu assim que a encostou, mas Harry estava lá como todas as outras vezes, para ajudá-la; mesmo que insistisse em fazer tudo por conta própria na maioria. Empurrou o corpo para longe com a lateral e em seguida começou a arrastar para junto dos outros.

E ela deixou.

Gritou com uma euforia imensa através de um sorriso, enquanto sentia um pedaço de sua tatuagem crescer próxima a clavícula.

— Morto. Marca. Meu — suspirou enquanto saboreava a dor da missão e desabava no chão. Tirou a blusa por completo, ficando apenas com seu sutiã de rendas brancas, e pressionou o tecido sobre o ferimento no pescoço; ainda não estava doendo e baseado em sua euforia demoraria mais um bocado. O local onde sua tatuagem crescia mais um pouco estava vermelho e latejava, mas não se importava. Era delicioso matar.

— Lidou direitinho com ele, né?! Quem sabe aprenda a não escapar mais! — Gus parecia animado, um fato raro.

Harry bufou e tomou a blusa das mãos da irmã e tentou fazer com que ela a vestisse novamente, porém a mesma levantou e o olhou da forma mais assustadora que poderia significar um homicídio visual. Julia raramente se considerava uma garota, mas tinha consciência de sua beleza e do que ela poderia provocar em adolescentes com hormônios a flor da pele. Isso irritava seu instinto protetor.

— Onde está o Ja...

— Dieu, Harry, il va bien!

— Querida Marie, não sei se você percebeu, mas além de você todos aqui somos britânicos e não franceses. O que acha disso? — Julia ironizou enquanto chutava um dos corpos caídos com suas botas de salto fino.

Marie fuzilou-a com os olhos azuis e repetiu frase em inglês sem vontade alguma.

— Gente, vamos limpar isso aqui antes que a me...

Alguém arranhou a garganta com um som metálico. O grupo virou para a direção da curva que chegava ao Hall.

Lá estava Elizabeth.

Com uma impressão nem um pouco assustada.

*

Elizabeth ainda não fazia a mínima noção de nada, ao certo, entretanto, estava começando a se descobrir um pouco mais. A segunda descoberta.

Ela não suportou, apenas não suportou, ficar lá parada. Como se seus nervos a guiassem em direção ao barulho da entrada por onde Harry e Julia haviam sumido.

Levantou com um pouco de dificuldade, segurando as pontas do vestido com as mãos, e refez o mesmo caminho que os outros tinham seguido; passando por toda a estrutura até chegar a um salão bem iluminado. E tingido.

Tingido pelo sangue de quatro corpos agora alinhados, rodeados de adolescentes. Elizabeth observou uma Julia apenas de sutiã, toda ensanguentada e franziu o cenho. Andou mais um passo, adentrando, na sala ampla de cores quentes, iluminada pela luz do dia. Eles haviam matado aquelas pessoas. Haviam as matado.

Harry precipitou-se para perto dela, colocando uma mão sobre seu ombro e passando a outra sobre seus cabelos molhados de suor, como se as mãos varressem dificuldades.

Opção final: venha comigo até a biblioteca.


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