Angeline Morgenstern escrita por Ana Carolina


Capítulo 5
Got Poison On My Mind




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Angeline sabia que algo estava errado com ela quando sentir o rosto esquentando e um frio tomando conta de seu corpo inteiro. Será que havia esquecido a janela e as cortinas abertas, fazendo com que a luz do sol e o vento de outono entrassem em seu quarto e ficassem em volta de seu corpo? Foi então que ela ouviu a buzina de carros, não como ela costumava a escutar, mas a uma distância maior. A Caçadora passou os dedos pelo rosto, tirando alguns fios de cabelo que estavam a incomodando, mas não abriu os olhos. O cheiro de algo metálico e a sensação de ter uma substância pegajosa em seus dedos faziam com que Angeline tivesse mais a vontade de permanecer de olhos fechados. Sabia que encontraria quando deixasse que seus olhos se abrissem. Não queria ver aquilo. Podia ignorar tudo que estava acontecendo e pensar que era um sonho. Não podia aceitar a ideia de ter feito o que tinha feito depois de bons anos sem recaída ou qualquer tipo de possessão. De olhos fechados e se encolhendo o máximo que conseguia, Angeline soluçou e sentiu as lágrimas escorrendo. Mas não eram lágrimas de tristeza. Eram de raivas por ser incapaz de conter algo como aquele que tinha acontecido, lágrimas de raiva porque não podia controlar o que invadia sua mente e matava pessoa. Eles não são pessoas, alguém disse em sua mente, são membros do Submundo. Pessoas que nem deveriam existir. Angeline tremeu o corpo inteiro e se encolheu mais. Mas ela também não era uma pessoa. Era metade mundana e metade anjo. Será que também tinha esse direito de viver como os mundanos? Mas é claro que tem, a voz voltou, você protege os mundanos do mal. Você é do bem, Angeline Morgenstern. O que você mata é do mal. Não se preocupe.

– Saia da minha cabeça. – ela gritou com raiva e ainda de olhos fechados. – Saia da minha cabeça agora.

Angeline, silêncio. A voz do Irmão Rudiel invadiu a sua mente e a banhou com tranquilidade e com conforto que Angeline estava precisando. Quando sentiu os braços do Irmão a envolvendo, a Caçadora soluçou com força e abriu os olhos, deixando várias lágrimas acumuladas saírem de seus olhos. Quando a visão dela encontrou o foco, Angeline se viu encarando um corpo de um menino pouco maior que ela, com pele verde e cabelos alaranjados, e olhos sem foco a encarando. O sangue dele estava formando uma poça em volta do corpo e sabia que a causadora daquilo fora ela. Desviou o olhar para ela mesma e encontrou a roupa preta de couro e os dedos das mãos sujos de sangue seco. Outro soluço escapou da boca dela.

Você não o matou, a voz de Rudiel estava na mente de Angeline, mas ela não deu atenção. Angel, olhe para mim.

– Eu o matei, não matei? – ela mal conseguiu sussurrar. – Eu o matei.

Não. Não foi você e nós dois sabemos. Foi a pessoa que está controlando você. Você é só um instrumento dela. Não foi você.

– Foram as minhas mãos. Foi a minha lâmina. Foi o meu ato de levantar o braço e atacá-lo. Fui eu. – Angeline falava sem qualquer emoção.

Vou lhe levar para Magnus Bane.

– Não quero ficar perto de um feiticeiro agora, Rudiel. Não consigo....

Sim, você consegue.

Angeline teria ficado feliz em qualquer outro lugar, podendo ser qualquer outra casa de qualquer outro feiticeiro. Com os olhos de Magnus Bane sobre a Caçadora, Angeline sentia que seus segredos iam ser descobertos a qualquer momento e, tanto Rudiel quanto ela, seriam mortos. Estremeceu só de pensar nas mãos dos participantes da Clave agarrando seus braços e puxando-os para diferentes lados enquanto ela implorava para que a deixassem com vida, mas eles não deixariam e ela teria sua cabeça decapitada. Se pedissem para trair sua família, a única família que tinha sobrado para ela, Angeline não trairia. Essa era uma das coisas que estava pensando enquanto comprava uma peruca com cabelos cor de rosa e curtos para esconder os cabelos claros como os dos Morgenstern. Só tinha seus primos de família e tinha aprendido com o tio que não traía sangue do próprio sangue. E quando os olhos de Magnus Bane se encontraram com os delas, Angeline só martelava essa ideia ainda mais na mente.

A Caçadora de Sombras estava sentada em um largo sofá da casa do grande feiticeiro do Brooklyn enquanto via o Irmão do Silêncio e o próprio feiticeiro movimentando as mãos enquanto conversava. Rudiel deixava que as palavras que ele dizia ao feiticeiro serem ouvidas por Angeline, mas ela não estava se importando nem um pouco com aquela conversa. Estava observando o gato do feiticeiro que passeava pela sala e olhava para ela uma vez ou outra. Até que uma batida forte de porta fez com que Angeline se assustasse e puxasse a manta que estava por cima do corpo para mais perto. Magnus Bane olhou para trás dela e um brilho surgiu nos olhos dele junto com um pequeno sorriso nos lábios. Angeline conseguia ouvir dois tipos de passos.

– Opa, desculpa, Magnus. Não foi minha intenção bater a porta, mas ela apenas escapuliu das minhas mãos.

– Tudo bem, Alexander, querido. – Magnus fez um gesto com a mão e depois apontou para o Irmão do Silêncio. – Esse aqui é Irmão Rudiel.

Os dois pares de pés seguiram pelo resto da sala, mas um deles parou antes que chegar ao Irmão. Angeline sabia que a pessoa que estava parada estava com os olhos pregados nela, mas ela não virou a cabeça para olhar. Os olhos azuis dela seguiram os movimentos de um jovem vestido todo de preto, dos pés a cabeça. Ele cumprimentou Rudiel com um aceno de cabeça e olhou para Angeline, depois de ver Magnus acenando na direção dela com a cabeça. Angeline se surpreendeu com a intensidade da cor azul dos olhos dele.

– Oh! – ele abriu a boca, surpreso. – Quem é essa?

– Uma Caçadora. – a voz mais perto dela disse. – Não viu as Marcas dela, Alec?

– Ora Jace, não seja tão frio comigo. – Alec reclamou enquanto cruzava os braços. – O que eu quero saber é o nome dela.

– Pergunte a ela. Sabe, mesmo eu sendo um loiro natural, sou mais inteligente e mais rápido que você. – Jace se jogou no sofá bem próximo a Angeline.

Angeline, Magnus e Alec reviraram os olhos em sincronia. A curiosidade já estava tomando conta da mente da Caçadora. Algo forte dentro dela dizia que deveria virar a cabeça e olhar para o Caçador perto dela. Mas algo dizia para ela não fazer isso. Mas a curiosidade foi mais forte. Quando virou a cabeça encontrou um jovem alto e com os músculos marcados pela roupa preta de combate. Mas tinha uma coisa totalmente brilhante nele que não o deixava mais pálido. A pele, os olhos e os cabelos tinham uma espécie de brilho dourado. Os cabelos ondulados e puxados para trás deixavam que Angeline visse um belo rosto cheio com expressões de sarcasmo.

– Qual é o seu nome, bonequinha? – Jace perguntou colocando os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos. – Vai me contar como conseguiu esse cabelo rosa?

– É uma peruca. – Angeline fez uma careta para ela.

– Esse é o seu nome? Interessante. Agora me diga como conseguiu o cabelo rosa.

Angeline revirou os olhos e encontrou com o olhar do Irmão Rudiel. Esse é Jonathan Herondale.

Jonathan Herondale. O outro Jonathan que fora criado pelo tio na mesma época que ela. De repente, Angeline desejava virar o rosto para o menino ao seu lado e ficar encarando-o até realmente saber o que ele tinha de em comum com o tio. Mas não fez.

– Meu nome é Angeline.

– Eu sou Jace. – o menino loiro disse. – E aquele ali é Alec. Mas acho que você já percebeu isso.

– Certamente. – Angeline sorriu para ele com sarcasmo.

– Magnus, você nos chamou aqui para leva-la ao Instituto? – Alec perguntou desviando os olhos do garoto loiro e da menina de peruca rosa. – Acho que... Tenho certeza, na verdade, que quartos não sobram no Instituto. O que você acha, Angeline?

A Caçadora olhou assustada na direção de todos esperando que alguém explicasse a situação para ela, mas todos a olhavam a espera de uma resposta. Então ela encarou o Irmão Rudiel, exigindo uma explicação mental. Os olhos dela dizia “foi ideia sua, não foi?”. Angeline queria socar algo.

Não se preocupe, Angel. Irei ver como você está no Instituto todos os dias. Lá é mais seguro para você ficar porque vai ter mais companhia e sei que Jonathan Herondale está de olho em você. Está desconfiado. Não vai deixar você fazer nada.

Angeline quase gritou “E se eu matar alguém?!”

Não vai matar ninguém, Angeline. Você não vai.

Angeline escondeu o rosto entre as mãos com um vontade enorme de chorar. Mas não chorou. Não podia chorar. Então levantou o rosto, tirando o cabelo do rosto e encarou Jace.

– Eu vou com vocês. – ela disse.

– Ótimo. Adoro quando vejo meninas Caçadoras de Sombras nos uniformes. Mal posso esperar para ver você, bonequinha. – Jace sorriu.

Mas não era um sorriso de novos amigos. Era um sorriso cheio de desconfiança, como se soubesse que Angeline era o inimigo. Talvez eu seja o inimigo, Angeline pensou enquanto se levantava do sofá.


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