O Lado Negro da Lua escrita por Yuna Martins


Capítulo 2
Capítulo 2 - Lua Crescente


Notas iniciais do capítulo

FF X não me pertence ( mas bem que eu queria...). Decidi fazê-la depois de ouvir várias vezes uma pessoa me dizendo que eu parecia muito com a Yuna...Refleti muito sobre o assunto e resolvi me arriscar nessa aventura e testar a minha criatividade.Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46764/chapter/2

Os minutos passavam lentamente e uma imagem surgia em minha mente. Não sabia ao certo quando havia entrado naquele lugar, nem mesmo a quanto tempo estava lá, e isso me assustava. Apertei os olhos na esperança de ver melhor por entre a fraca neblina. Estava parada no meio do salão principal. Usando um vestido negro como a noite e um colar prateado com um pingente brilhante.O espaço tinha uma áurea de mistério. Escura e fria,porém sendo, iluminada pela luz do luar que passava pelos vitrais das janelas, a mais de 5 metros do chão.

           

 

            Um cheiro peculiar preenchia todo o ambiente me causando vertigens.Precisava me manter atenda. Olhei a minha volta para assimilar todos os detalhes do lugar. As paredes eram feitas de grandes blocos de pedras, cobertas por musgo e teias de aranha. As colunas que sustentavam os arcos no teto eram compostas por formas geométricas, círculos, tracerias e flora. Lembrando-me uma catedral gótica.

           

 

            Olhando para trás me deparei com um portal de madeira entalhada com figuras de seres fantásticos. Havia também a estátua de um gárgula de cada lado do portal, eram do meu tamanho e estavam em posição de ataque, como se estivessem sido incumbidos de guardar aquele recinto.Voltando minha atenção para a frente, observei todo o lance de escadas .Tive que levar as mãos na boca para impedir meu grito. Meu estômago deu uma cambalhota.Não havia prestado atenção na sua presença, pois mal escutara seus passos. No entanto ele estava lá e logo percebi que se tratava de uma figura masculina, sentado em uma cadeira refletida pelo luar.

           

 

            Atraída pela curiosidade e ao mesmo tempo refreando o medo que se espalhava como veneno pelo meu corpo, abaixei as mãos levando-as no vestido. Dei alguns passos cautelosos a frente. A estranha presença não moveu um centímetro. O desejo de desvendar o mistério e descobrir quem ele era e o que fazia ali, me fez continuar até perto da escada. Deveria estar em pânico a essa altura, entretanto a cada passo que dava em sua direção me sentia mais segura. Agora,faltando poucos metros, pude vê-lo melhor.

           

 

            Ele manteve sua postura imóvel. Estava reclinado na cadeira e a posição de sua perna formava um quatro.O braço esquerdo descançava na cadeira enquanto o outro,apoiava sua face.  

 

            As roupas que vestia pareciam ter sido tiradas de um baú. Eram negras como a minha, mas diferentemente de mim,nele, elas emanavam elegância e sensualidade. Sua pele era pálida e brilhante. O cabelo castanho dourado estava impecavelmente arrumado com algumas mechas caindo sob sua face de traços retos e angulares. Quase escondidos pela sombra do cabelo pude ver seus olhos que cintilavam um brilho vermelho nas bordas, escurecendo até se tornar negro no centro. Os arroxeados abaixo dos olhos estavam nítidos, como se ele não dormisse a muito tempo. Era a versão de um deus grego. Sua expressão era gentil porém seu corpo parecia tenso e defensivo, como se esperasse que algo o atacasse a qualquer momento. Tentei imaginar quem poderia querer atacá-lo.

 

            A porta se abriu bruscamente atrás de mim, assustada virei- me rapidamente para ela. Uma corrente de ar gélida e úmida irrompeu pelo salão, fazendo-me estremecer e levar uma das mãos rapidamente ao pescoço.

 

            Vultos deslizaram pelo piso de mármore e ganharam forma enquanto se alinhavam em formato de meia lua ao meu redor. Todos a uma certa distância,com movimentos estudados, pareciam avaliar meu grau de perigo a eles.Os novos visitantes tinham a face encoberta pela capa de chuva, vinho. O que estava parado na minha frente deu um passo, deveria ser o líder do grupo, pude ver por um breve momento um dente canino afiado e maior do que o normal surgindo por sobre seu lábio inferior.

 

            Antes que eu pudesse gritar ou me defender do eminente ataque, ouvi um fluxo de ar ao meu lado e um rosnado ensurdecedor. No mesmo instante levei a outra mão no pescoço e fechei os olhos, se fosse morrer ali que fosse rápido e indolor. No momento seguinte senti um braço gélido por sobre o tecido de meu vestido, envolvendo minha cintura, me puxando para perto de seu corpo.

 

            Prendendo a respiração olhei para ele apavorada, sentindo o sangue disparar debaixo da pele. Afinal, como chegara até mim tão rápido?! O agressor parou seu movimento, retornando para o círculo, enfurecido com a interferência. Ouvi uma risada baixa de algum deles, mas não tive tempo de identificar de onde vinha. Minha atenção se voltou para outra coisa.

 

            Meu suposto protetor, aproximou seu rosto do meu calmamente, ignorando os demais presentes e sussurrou entre os lábios:

 

            -Estará tudo bem, confie em mim.

 

            Em seguida senti algo puxando meus braços para longe dele,olhei em volta, mas o que me puxava não tinha forma, uma força vinda de não sei onde. Tentei lutar contra ela agarrando mais forte as mãos em suas vestes. Essa presença era mais forte do que eu e com facilidade me roubou de seus braços. Olhei para ele assustada, esperando que ele impedisse nossa separação. Porém ele não se mexeu, permitindo que meus dedos deslizassem pela sua blusa e flutuassem no ar sem nada encontrar.

 

            A última coisa que consegui ver antes que minhas vistas fossem completamente tomadas pela escuridão, foi ele me olhando com um sorriso torto enquanto todas as criaturas avançavam para cima de si com os braços estendidos em um ataque único.

 

            -Não!!! -um grito de desespero surgiu em meu peito.

 

            -Yuna, acorde! -uma voz sobressaltada me despertou.

 

            _Hã?! -respondi atordoada agarrando as vestes do dono da voz, tentando me apoiar em algo. Forcei meus olhos para que abrissem, sendo feridos pela claridade da luz no teto.

 

            -Ela está bem. -informou a pessoa jogando um roupão de banho sobre mim com uma mão e com a outra acenando para Will, que estava no portão com os olhos arregalados e cheio de lágrimas.

 

            Senti seus dedos em meu rosto, eram rígidos e frios, como se ele acabasse de mergulhá-las em uma bacia de gelo. Minha pele se aqueceu quando finalmente consegui focar meus olhos no rosto a minha frente. Não existia nada mais constrangedor no mundo do que perceber que era o mesmo rosto que eu havia visto mais cedo. E também era o mesmo que acabara de ver. Senti novamente meu estômago dar uma cambalhota.

 

            Como se sente? –perguntou me avaliando. Minha respiração estava trêmula. Puxei o roupão até o pescoço me sentando. Podia ouvir claramente as batidas do meu coração.

 

-Eu estou bem,só um pouco tonta. –desviei meus olhos, estava muito envergonhada para encará-lo.

 

-O que aconteceu? – perguntei a ele confusa.

 

- Você estava tentando se matar, felizmente fracassou. –respondeu com um tom de satisfação na voz. –Ainda irritada com a queda? –perguntou com sua voz sedosa, por entre os lábios trêmulos. Tentando controlar o impulso de rir.

 

-Hunf. Isso seria uma boa idéia, mas com você aparecendo a toda hora será impossível eu conseguir. –respondi me divertindo com a conversa.

 

-Oh! Então peço desculpas, prometo me conter da próxima vez. –Disse com um tom sério, depois sorriu com seus dentes brancos, perfeitos. Por um instante senti falta, ele me causava reações estranhas.

 

-Bom, eu acho melhor me retirar. – disse contrariado com alguma coisa, virando seu rosto para porta. Suavemente ele se levantou. –Controle seus impulsos suicidas enquanto se veste. –depois saiu fechando a porta do banheiro. Em seguida, ouvi a do quarto sendo fechada também.

 

“Afinal de contas, o que está acontecendo aqui?”-passei os braços pelas mangas do roupão.e amarrei o cordão na cintura. -“que sonho foi aquele?”-levei as mãos no cabelo para retirar o excesso de água, deixando as gotas caírem dentro da banheira. Vir-me-ei para me encarar no espelho acima do lavatório. Meu aspecto estava horrível, passando de assustada para irritada. Abaixe para direita e tirei a tampa do ralo, deixando que a água da banheira fosse correr pelos canos. Segui para o quarto cambaleando –“quem é ele e o que faz aqui?” –abri a porta do guarda-roupa, agora não sabia se estava feliz ou com raiva por vê-lo novamente. Ficando na dúvida tive que concordar com um fato, ele acabara de salvar a minha vida e devia algo a ele.

           

            Ouvi a voz dele falando com Will, em meio ao barulho da TV. –“preciso ter uma conversa séria com ele”- Busquei uma roupa confortável e discreta entre os terninhos. Não queria que o estranho pensasse mais coisas estranhas sobre mim. –“uma perua suicida”- minha ficha poderia ser pior. Encontrei um vestido azul florido. Havia comprado-o em uma das viagens que fiz para casa de papai, há 2 anos atrás. Depois de vesti-lo lá nunca mais o usei. Ayume me disse certa vez que ele parecia uma capa de fogão. Fiquei feliz quando meu pai a repreendeu e disse que ele era lindo. Entrei dentro dele e sequei o cabelo mais um pouco com a toalha. Calcei o chinelo velho e levei a mão na maçaneta da porta –“é agora”. Respirei fundo abri a porta e logo minhas bochechas estavam vermelhas.

 

            Cheguei na sala. Ele estava sentado no sofá segurando uma tigela de pipocas nas mãos. Quando notou minha presença a colocou em cima da mesinha de centro, dando um sorriso torto enquanto me olhava, Will estava na outra ponta do sofá com uma mão na boca cheia de pipoca, tossindo-as.

 

            -Belo vestido. –disse finalmente, levantando a mão e apontando para uma das rosas do vestido.

 

            “Uma observação educada. Talvez ele seja digno de confiança afinal. Realmente devo deixar as explicações de lado e agradecê-lo por ter me salvado.”

 

            Antes que eu pudesse pensar em uma resposta sincera ele completou.

 

            -Era da sua avó? –perguntou erguendo uma sobrancelha. –Ele parece estar fora de moda a alguns anos. –acrescentou.

 

            “Um safado e abusado, isso sim que ele é. Como se atreve a dizer isso?”-corei juntando minhas sobrancelhas, torcendo o nariz e apertando os lábios.

 

            Ouvi uma mistura de tossi e risadas da ponta do sofá. Will estava se contorcendo para não rir. Tentei ignorá-lo e me virei para o estranho que estava confortavelmente sentado na minha frente.

 

            -Quem é você e o que faz aqui? –minhas palavras saíram atropeladas. Ele continuou me olhando  “Como alguém poderia ser tão lindo...”-uma parte de mim flutuou para além da sala, “controle-se”-a outra parte puxou meus pés de volta para sala.

 

            -Meu nome é Tiddus e eu sou seu novo vizinho do andar debaixo.

 

            -E o que fazia nesse andar. –queria perguntar rapidamente para que ele não tivesse tempo de pensar em alguma mentira.

 

            Eu estava procurando por uma barra de sabão. –ele disse calmamente, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

 

            Uma barra de sabão??? –exaltei-me nesse momento, levei as mãos na cintura e me inclinei na sua direção. Essa era com certeza uma coisa que não esperava ouvir. “que falta de criatividade. Tudo bem em pedir uma xícara de açúcar ou um copo de leite, mas uma barra de sabão?Isso estava fora das regras de boa vizinhança.”

 

            -Eu sei o que deve estar pensando, que sou um maluco. Mas é que eu acabei de me mudar e meu apartamento está cheia de caixas. Não consegui achar a caixa onde está o sabão e preciso lavar meu uniforme para amanhã. –ele parecia sincero quando disse.

 

            -Entendo...e como você foi parar no meu banheiro? – “te peguei não é?!”- pensei sorrindo internamente –“tente sair dessa.”

 

            Ele demorou um pouco para responder, estava pensando cuidadosamente nas palavras que iria proferir. Notei seus lábios formarem algumas sílabas, parou bruscamente e depois finalmente disse:

 

            -Eu sou médium. Assim que entrei aqui senti que havia algo errado e que alguém estava em perigo, minha suposição estava correta.

 

            _Uau, que massa!-gritou Wil que estava a par da conversa, apesar de ter mantido os olhos o tempo todo na tela da TV.

 

            “Essa era sem dúvida a coisa mais absurda que ouvira na vida. Como alguém poderia narrar uma desculpa tão idiota mantendo essa serenidade nos olhos?”-ergui os olhos para o teto, ele notou a minha descrença em suas palavras.

            -Você não acredita certo?

 

            -Não. -respondi secamente, senti as borboletas voarem loucamente em meu estômago.

 

            -Bom, então como não posso convencê-la irei me retirar. Anunciou levando as mãos no joelho e em seguida ficando em pé.

 

            -Espere. –pedi, correndo para a porta e abrindo os braços até a altura dos ombros. _Você ainda não me disse a verdade. - ofeguei.

 

            -Eu já lhe disse. -ele respondeu com uma expressão insondável.

 

            -Mas não me convenceu. –rebati cambaleando. Estava exausta devido ao dia estressante.

 

            -Você prefere que eu invente algo que lhe agrade?-perguntou erguendo uma sobrancelha e sorrindo com seus dentes perfeitos. –Você parece cansada, devia dormir um pouco. -disse avaliando atentamente meu estado.

 

            -Eu estou bem.

 

            -Discordo, ainda acho que você deve descansar.

 

            -Você não vai me dizer a verdade, não é?-tentei mais uma vez.

 

            -Está viva, isso não é suficiente?!

 

            -Não.-encarei seu rosto pálido. Ele estava me escondendo uma informação muito importante, mas o que seria?Antes que eu pudesse pensar em outra forma de fazê-lo me dizer a verdade, Will desviou minha atenção.

 

            -Tia, estou com sono.-disse bocejando e se esticando contra as almofadas.-Meus olhos se perderam em seu movimento, dando uma chance ao meu salvador de escapar. Passando por debaixo do meu braço direito parou na porta já girando a maçaneta.

 

            -Até logo!-despediu-se,piscando para Will,saindo rapidamente. Livrando-se do meu interrogatório. Fiquei ali por alguns segundos tentando absorver a cena,olhando para o hall de entrada agora vazio. Virei lentamente para o Will, que se divertia com a minha derrota.

 

            Will me olhou por um momento e deu de ombros, dizendo em seguida com a sua voz teatral e inocente:

 

            -O que foi?

 

            Entrando em um estado elevado de fúria e histeria mandei-o para o quarto e tranquei a porta da sala,girando a chave ferozmente quase partindo-a. Segui para o meu quarto pisando forte e me joguei na cama.Logo já estava abraçada a um travesseiro e sussurrando para as paredes, antes de voltar para o mundo dos sonhos.

 

            “Quem eram eles?”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que perdoem os erros que estão espalhados pelo cap. , fui cobrada várias vezes para continuar essa estória, então corri os dedos pelo teclado e aqui está o resultado final.

Espero que tenham gostado e, por favor... COMENTEM

As opiniões, críticas e sugestões serão sempre bem-vindas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Lado Negro da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.