O Lado Negro da Lua escrita por Yuna Martins


Capítulo 1
Capítulo 1-Lua Crescente




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Meu nome é Yuna, moro em uma metrópole chamada Zanarkad que está quase que constantemente coberta por nuvens. Acredito que o Senhor das Chuvas mora em alguma nuvem acima de nós, o que justificaria a quantidade absurda de água que cai por aqui. Vivo sozinha em um pequeno apartamento no centro da cidade a aproximadamente cinco anos. No começo foi difícil ter que deixar minha terra natal, meu pai Braska e minha irmã mais velha, para realizar o meu sonho de ser uma repórter famosa. Os primeiros meses aqui foram marcados por uma forte depressão e comprimidos em alta dosagem. Contudo o tempo se encarregou de mudar meu destino e logo eu já estava acostumada com essa nova e eufórica "vida". Ou pelo menos era isso que eu pensava...

-E então?! Já se conformou com seu novo cargo? -perguntou Lulu sentando na beirada da minha nova mesa. Cruzando suas pernas em um gesto gracioso, como se fosse uma modelo posando para a capa de uma revista, deixando o vizinho da minha direita atordoado. Ela sabia o efeito que causava nos homens e isso parecia deixá-la ainda mais satisfeita com seus dotes.

-Temporário. -revidei enfatizando a palavra. Estava decidida a provar ao diretor do programa que ele estava enganado ao meu respeito. Pensei virando a última caixa com 

meus objetos pessoais na mesa, fazendo um barulho mais alto do que eu esperava. Perturbando a paz e atraindo olhares irritados na minha direção.

-Desculpe. - corei abaixando a cabeça e colocando um bloquinho de notas dentro da caveta.

-Tenho certeza que dará tudo certo. Lulu tentava me animar, mas quando a olhei notei pelo seu sorriso morno que nem ela confiava em suas palavras.

-Hunf! -suspirei enquanto virava os olhos e sorria desanimada para o grampeador, agora em minhas mãos. Lulu percebeu meu desanimo e completou:

-Se tudo der errado para nós ainda podemos virar hippies! -disse com uma voz alegremente musical, abrindo um largo sorriso. Não pude deixar de sorrir em resposta.

-É uma opção... -concordei empilhando recortes de jornais ao lado do computador. Guardava-os com muito cuidado perto de mim. Olhei-os satisfeita e por um instante me perdi naquele momento, até que os longos e suaves dedos de Lulu tocarem meu ombro.

-Yuna...você não tem um compromisso agora? -indagou me olhando curiosa com um sorriso nos lábios.

-Hã?! -tentei retornar a conversa ainda meio abobada.

-O seu sobrinho, Yuna!

-Ah! Que horas são?-puxei assustada a manga da blusa para conferir as horas. Empalideci no mesmo instante, estava cronicamente atrasada. Puxei a bolsa que estava na cadeira e joguei o blazer no ombro. Lulu me observava atentamente.

-Afinal de contas Yuna, o que tem naqueles papéis que a deixa tão aérea? -ela me olhava com intensidade, talvez, tentando de alguma forma ler a resposta em minha mente. -Você é paranóica por algum ator famoso e coleciona tudo que pode existir no mercado livre sobre ele?!



Essa era uma teoria absurda, afinal eu não me interessava por um homem a "séculos". Desde a última tentativa venho tentando limpar da minha mente qualquer coisa desse tipo que envolva no final uma aliança ou um cartório civil. Olhei para ela e ela pareceu entender que não arrancaria nenhuma informação sobre a papelada.

-Não se atreva a mexer em nada. -Alertei-a disparando pelo corredor, contornando as mesas e passando até o elevador. Corri para dentro dele apertando o térreo. Olhei novamente o relógio -"é incrível como o tempo acelera quando estamos em apuros"-pressionei as sobrancelhas, focando o teto -"um mau jeito de começarmos as coisas".

Antes que as portas abrissem completamente, saltei para fora. A luz não permitiu que enxergasse o que estava na minha frente, me fazendo trombar em seguida com quem vinha entrando. Tudo que pude ver foram copos plásticos, uma bolsa, um blazer e rosquinhas voando pelo ar e caindo no chão,espalhando-se pelo hall de entrada.

Enquanto caia com o estranho,fitei seu rosto e quase fiquei sem ar quando li a expressão em seus olhos, eram surpresos e abrasadores. Senti seus braços passando pelas minhas costas e cabeça, amortecendo a queda. Caímos embaraçosamente no chão, com ele por cima de mim.

-Ops...-quando consegui absorver a situação corei como um pimentão.Tentei desesperadamente sair de seu abraço forte, em vão. Então ele cuidadosamente me liberou. Consegui me endireitar, ficando de joelhos no chão ainda meio zonza pela queda, levei a mão na cabeça.

-Você está bem? -ouvi uma voz aveludada me perguntando, com uma rapidez incrível ele já estava em pé na minha frente com o braço estendido. Seu sorriso era enigmático e perfeito.

-Sim, sinto muito pela bagunça. -respondi lhe estendendo a mão e tropeçando em um biscoito, fazendo-me voar pela segunda vez em sua direção. Logo estava novamente em seus braços."Como podia ser tão perfeito, como podia estar pensando nisso com tantas pessoas me olhando agora?!"-fiquei assustada comigo mesma. Entretanto ele me olhava calmamente.



-Você está testando meus reflexos?! - ele perguntou e senti uma pontinha de divertimento em sua voz serena. Meu rosto ficou a centímetros do dele. Podia sentir seu hálito frio e fresco, estremeci. Minha cabeça girou fazendo-me abrir a boca sem pensar.

-Hum!Que cheiro bom...-sussurrei.

-O que disse? -ele me olhou confuso erguendo uma sobrancelha.

-Nada, estou bem, obrigada. -sorri timidamente desviando os olhos para a entrada onde havia mais alguns rapazes parados. Todos usavam um uniforme bem estranho, inclusive ele. Tive certeza pelo tremor no queixo deles que lutavam para não rirem da cena cômica que presenciavam. Escutei um passo largo e virei os olhos para a esquerda, Aproximando-se com uma mão na barriga e a outra passando rapidamente pela careca reluzente vinha meu chefe soltando algumas risadas abafadas. "A quanto tempo ele estava ali?"-desejei não saber a resposta.

-Vejo que acaba de conhecer uma de minhas funcionárias. - Jake falou olhando para o rapaz e depois para mim, sua voz podia ser ouvida do outro lado da rua. Sua mão bateu de leve nas minhas costas, o que me fez dar um pulo para frente.

Senti meu rosto arder outra vez quando notei um leve sorriso no rosto do rapaz.

-Posso saber qual o motivo dessa bagunça?- agora Jake me encarava. Como eu odiei olhar para aqueles olhinhos felizes que lacrimejavam de tanto rir. Desejei poder correr dali para me poupar da humilhação de ser sempre lembrada desse ocorrido todas as vezes que passasse por ele.

-Eu sinto muito, é que eu estava indo para o aeroporto e ... - tentei formular uma desculpa, mas nada vinha a minha mente. Olhei para os confetes no chão, senti como se um buraco se formasse no chão. Se pudesse me esconderia dentro dele e cavaria até chegar do outro lado do mundo. Onde mudaria meu nome e viveria secretamente pelo resto da vida.

Sorri mentalmente com a idéia.



-Na verdade a culpa foi minha -a mesma voz de veludo interveio ao meu favor e me trouxe de volta dos meus planos para a realidade. Ele estava tentando me livrar da culpa. -Eu queria chegar logo no quinto andar e fui tão apressado, absorto em pensamentos, que colidi com ela. -Peço desculpas senhorita...

-Yuna. Respondi rapidamente.

Pude ver seus lábios sussurrarem meu nome, como se tentasse memorizá-lo.

-Então está tudo resolvido. -Disse Jake passando minha bolsa e meu blazer que apanhara do chão. -Você não disse que estava indo a algum lugar?

-Mas e essa bagunça?!-indaguei confusa. Ainda esperava pelo sermão.

É para isso que contratei os faxineiros.agora vá logo.-ordenou me apontando a saída enquanto os rapazes abriam uma passagem para mim. Passei direto por eles olhando atentamente o chão. Não suportaria outra queda.

Passando pela porta de vidro virei discretamente o rosto para trás. O mesmo par de olhos me encarava divertindo-se -"flagrada novamente".Voltei minha atenção para meus passos, jogando uma mecha de cabelo para frente na tentativa de cobrir o rosado de minha bochechas.

Bufei indignada contornando a esquina rezando para que meu carro ainda estivesse lá. Felizmente as garras do azar ainda não haviam tido tempo de tirá-lo de lá. Soltei um suspiro.

Desativei o alarme, joguei as coisas no banco de trás fechando a porta bruscamente. "...que embaraçoso...". Tentei acalmar as células do meu corpo respirando fundo, segurando no volante com as mãos suadas. Levei alguns minutos para que eu finalmente girasse a chave do carro e saísse. Segui até o final da rua onde peguei a marginal, esperando recuperar algum

Tempo. Finalmente um raio de luz em meio às trevas. Consegui fazer todo o trajeto em apenas 15 minutos. Estacionei o carro em uma vaga perto da entrada e sai desajeitada 

com a bolsa pendurada no ombro. Apesar do meu esforço, estava atrasada 45 minutos. Estava o procurando entre os bancos quando ouvi uma voz familiar nas minhas costas.

-Está atrasada tia Yuna.-aqueles olhos verdes me encararam impetuosamente.Havia tanto tempo que não o via. Estava bem diferente desde que o vira da última vez. Crescera uns 10 centímetros e agora estava com 11anos. Seu rosto estava mais afinado e o cabelo na linha dos olhos, mais escuro e bagunçado do que nunca. Usava uma camiseta parecida com a dos rapazes que acabara de deixar no trabalho, um calção cinza e um all star surrado. Segurava um mine videogame em uma mão e a outra arrastava uma mochila e uma mala de rodinhas.

-Olá Will! Tive alguns problemas de percurso. -respondi tentando disfarçar o sorriso amarelo.

--Estou vendo, e o que seria isso em sua blusa? Você esqueceu-se de usar o babador? -apontou o dedo para minha blusa. Ainda não havia notado que estava ensopada de café com alguns confetes presos nos botões.

-Oh..droga! -xinguei batendo as mãos na roupa, fazendo-os cair e sair saltitando pelo chão.Em seguida olhei para Will que dava risadas.

-Vamos então. -anunciei desconsertada apontando para a saída e pegando a mala. Presa a ela estava uma carta. Reconheci a letra de Ayumi guardando-o no fundo da bolsa. -"uma criança com manual de instruções, bastante conveniente".Sorri puxando a mala pela porta. Joguei a bagagem no porta-malas, levantando a poeira acumulada no fundo. Anotação mental: mandar o carro para o lava rápido.

Will sentou no banco de passageiros ao meu lado, apertando o cinto. Pegou o porta CDs embaixo do banco. Era incrível ele lembrar onde ele ficava quando eu mesma havia esquecido.

-Como consegue ouvir isso? -perguntou incrédulo puxando um cd rosa escrito Ayumi Hamasaki. Por coincidência era o mesmo nome de minha irmã. Minha mãe também devia gostar dela.



-E o que você me sugere? Talvez Fresno, ou Link Park ou RBD...

-Bom -pensou um pouco antes de continuar.-Sugiro Evanescesse, Épica e muitos outros.

-Uau, estou impressionada. Quem te obrigou a ouvir tudo isso? -brinquei com ele tentando manter uma conversa que me deixasse o mais distante possível da explicação do meu atraso.

-Ninguém, eu tenho bom gosto.- respondeu confiante e retirou um cd da mochila que estava jogada entre seus pés e o colocou no som.

-Posso... -soou mais como um aviso do que um pedido.

-Fique a vontade. - acenei a cabeça enquanto cortava um carro.

-Valeu! -ele me lançou um sorriso fazendo-me lembrar de minha irmã mais velha. Girou rapidamente o botão do volume fazendo os vidros do carro vibrarem. Imediatamente levei a mão no controle para reduzir o som de guitarras dentro do carro. Olhei para ele pelo canto do olho, ele murmurou algo que não consegui entender, mas se deu por vencido.

Chegamos no prédio com o cair da noite. Um caminhão de mudanças estava estacionado na entrada da garagem. Deixei o carro do outro lado da rua, não estava me sentindo no meu melhor dia para discutir meus direitos com alguém. Passamos pelas caixas espalhadas pela calçada e entramos no prédio. O senhor Dan sorriu para nós, era o segurança do prédio a mais de 10 anos. Conferi a caixa de correios, estava vazia. Minhas esperanças em torno da resposta do meu pedido de emprego diminuía a cada dia. Entramos no elevador arrastando a bagagem quando alguém gritou para nós.

-Segure o elevador, por favor. -eu estava tão distraída que não ouvi direito a voz. Will colocou a perna na porta impedindo que ela fechasse.



-Obrigado. -agradeceu o rapaz, por sobre a caixa de papelão. Sua voz me pareceu estranhamente familiar. Will ficou inquieto ao meu lado, encarando a nova presença muito entusiasmado.

-Boa tarde. -ele me cumprimentou também. Mas evitei seu olhar,encostei no espelho e fixei os olhos no teto. Passando a mão por sobre o café seco.

-Sugiro que deixe de molho. -o rapaz falou apontando o dedo para a mancha. -Ou não irá sair.

Um bip ruidoso informou que o elevador havia parado.

-Bom, é aqui que eu me despeço, até breve. -disse enquanto saia. -E boa sorte com a blusa.-ainda ouvi sua voz antes da porta se fechar por completo.

-Tchau!! -respondeu Will acenando freneticamente para o rapaz com um sorriso iluminado nos lábios.

Saímos do elevador parando em frente ao meu apartamento. Busquei a chave dentro da bolsa, sempre demorava para encontrá-la.Destranquei e entrei colocando a chave pelo lado de dentro da porta, dando passagem para Will que entrou correndo largando a mochila no carpete. Pulou no sofá tirando os tênis com os próprios pés e jogando-os pelo ar. Rolou por cima das almofadas até o controle remoto, ligou a TV e sentou com as pernas cruzadas.

-Por que o desespero? -pulei a bagagem. -Não esqueça de guardar suas coisas.Era preciso deixar bem claro que mandava na casa, pensei.

-Ahãm. -acenou com a cabeça e inclinou o corpo para ficar mais próximo da TV. duvidei que ele estivesse me escutando.

-Eu vou tomar um banho. -continuei. Deixei a bolsa em cima da bancada.



-Ahãm.

-A janta está na geladeira, caso fique com fome é só colocar no microondas e se servir.Gritei entrando no quarto. Novamente ele sussurrou "ahãm". “Nosso diálogo ficará bem limitado nesse ritmo.”Entrei escorando a porta, não achei sensato trancá-la. Alguém poderia invadir a casa, como eu iria ouvir o grito de socorro de Will?. Estava ficando paranóica, imaginando uma coisa dessas. Uma coisa um tanto improvável de acontecer, pelo menos nesse bairro. Entretanto preferi não contar com a sorte. Pelo menos não hoje.

Segui para o banheiro, abri a torneira e deixei que a água quente tomasse conta da banheira, enquanto me despia. O cheiro agora já não estava tão forte, mas creio que as manchas não sairiam tão fácil. Avaliei penosamente o estrago e em seguida a lancei para perto do cesto de roupa suja.

Entrei na água suavemente, sentindo seu efeito relaxante percorrer todo o meu corpo.

As pontas do cabelo solto molharam com o movimento que fiz quando me deitei deixando a cabeça de fora e os braços apoiados nas beiradas da banheira.

Isso deve me animar. -suspirei pegando um pouco de creme espumante e o derramando na água. Agitei as mãos até que uma quantidade considerável de bolhas cobrisse toda a superfície. Inclinei a cabeça para trás fechando os olhos, tentando recapitular tudo que havia me ocorrido. Eram informações demais, mas minha mente parou abruptamente quando me lembrei de um par de olhos negros abrasadores.

"Como podia existir algo tão inumanamente lindo?" - me perguntei lembrando-me de seu sorriso estonteante.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, por falta de tempo não pude revisá-lo, portanto me desculpem os erros drásticos.



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