O Hyuuga acordou assustado e transpirando, o medo transparecia em seus olhos que normalmente eram tão calmos quanto o luar refletido em um lago de água parada. Levantou-se ainda perturbado, e, assim que se recompôs, seguiu até o banheiro de seu quarto e deixou que a água tomasse-lhe o corpo por um tempo suficientemente demorado, a fim de esquecer o que sonhara; esse pesadelo já o havia visitado mais três vezes antes dessa e isso estava realmente preocupando-o. O jovem Neji vestiu-se e saiu de seu apartamento, seguindo para o Café onde se encontrava toda manhã com seu amigo Lee e se alimentava antes de ir ao seu escritório na empresa de seu tio, o senhor Hyuuga Hiashi.

Neji chegou, como sempre, frio e rígido ao café. Seus olhos perolados correram pelo local até encontrar a mesa onde sempre se sentava para esperar seu amigo, Rock Lee. Foi em direção ao seu lugar costumeiro e abriu o jornal que carregava consigo.

– Gostaria de fazer o pedido? - perguntou Mitsashi Tenten, uma garota de cabelos e olhos castanhos, pele clara e que sempre se encontrava sorridente. Ela constantemente atendia Neji, mas ele jamais levantou os olhos daquele "maldito pedaço de papel".

– O de sempre - respondeu.

Após afastar-se, Tenten viu Lee entrar no Café com o seu típico sorriso no rosto, sobrancelhas marcantes, cabelos negros e, agora, arrepiados, pele morena e olhos tão escuros quanto suas madeixas.

– Bom dia, Lee! Já te levo o seu expresso duplo - disse ao cumprimentá-lo -, ele está te esperando...

– Como sempre - completou sorrindo, beijou o rosto de sua velha amiga para depois ir até o Hyuuga.

Rock sempre gostou de observar aquele lugar, 'é magico', dizia sempre, 'o único que consegue me acalmar'. Lá era simples, com aquela porta e seu irritante sininho que avisava sempre que alguém entrava ou saia, suas janelas amplas e impecavelmente limpas, o chão de madeira clara que rangia em algumas partes, as paredes creme e os móveis com uma pegada rustica e ao mesmo tempo seguia o estilo dos anos 60, os pequenos quadros coloridos, o balcão simples com detalhes em vermelho, tudo devidamente organizado e sempre com aquele perfume doce, que Tenten usava, pairando pelo ar.

– Demorei? - Perguntou ao sentar-se de frente ao seu colega de trabalho.

– Não - respondeu seco -. Hoje haverá muita coisa para mim no escritório?

– Não... acho que não - disse pensativo -. Por quê? Por acaso o sr. Hyuuga Neji está pensando em faltar?! - Neji abaixou o jornal e, agora, percebeu Lee, suas olheiras estavam maiores e seu olhar cansado, mesmo que demonstrando a rigidez de sempre, havia tristeza nele, desespero.

– O sonho... - limitou-se a falar quase sussurrando - De novo.

Rock Lee já não sabia mais o que falar, ele conhecia esse pesadelo tão bem quanto seu sonhador, já o ouvira da boca de Neji algumas vezes e sabia o quão perturbador ele podia ser, poderia contá-lo em detalhes para quem quisesse ouvir, mas não tinha resposta para ele.

– Eu te cubro por hoje - pronunciou por fim.

– Obrigado - Neji sorriu triste.

– Com licença - Tenten anunciou-se -, aqui, hã, expresso duplo para Rock Lee e uma xícara de café, sem açúcar, para Hyuuga Neji - disse, mais para si mesma do que para os dois homens à sua frente -. Desejam mais alguma coisa?

– Tenten, teria problemas de ele ficar aqui por algumas horas?

– Bem... eu... - Mitsashi mordeu o lábio e encarou o dono de olhos perolados por um instante, 'ele parece tão abatido', pensou, 'talvez...' - acho que... acho que não tem problema.

– Obrigado... - Neji sussurrou encarando o vazio das palavras à sua frente. Tenten sorriu triste e novamente se retirou.

– Talvez, só talvez, você devesse procurar a mulher dos teus sonhos, aquela garota...

– Mesmo que eu quisesse, como encontrar alguém pelo sorriso? - disse enquanto bebericava seu café - E, além do mais, por que eu procuraria uma pessoa que me traria todo aquele sofrimento novamente?

– Só você pode fazer isso, Neji... - disse se levantando - Só você.