PARADOXO PERFEITO - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 3
Capítulo Final


Notas iniciais do capítulo

Finalmente aí vai o último capítulo! Aproveitem bastante a leitura assim como eu aproveitei na escrita!



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Hermione Granger estava sentada de frente a Floreios e Borrões no Beco Diagonal partilhando seu banco com um velho miúdo que lia com dificuldade o Profeta Diário. Vestia sua melhor roupa e usava seu melhor sapato. Seus cabelos estavam bem penteados e brilhavam a cada onda de seus cachos. Ela não sabia se arrumar como as outras garotas, era simples, mas havia tentado o seu melhor. Seus dedos tremiam enquanto tentavam manter firme entre eles um pedaço de pergaminho caro que brilhava com letras douradas em uma caligrafia incrivelmente perfeita. Era um convite. Só para ela.

Os minutos corriam lentos e ela tinha medo de que alguém que a conhecesse passasse por ali. O pergaminho vacilou entre seus dedos e ela o apertou mais dobrando-o sobre a palma da mão quando viu uma carruagem escura em comparação as outras. As rodas eram pratas e brilhavam quando o sol refletia diretamente sobre ela. Seu coração quase saiu pela boca quando ela parou de frente ao banco em que estava.

Hermione Granger? – perguntou o cocheiro.

Ela respirou fundo.

– Sim. – respondeu com a voz sem vacilar.

Entre. – ele disse.

Hermione se levantou e segurou a porta que estava aberta para ela.

– Essa não é a carruagem dos Malfoy? – o velho com o qual dividia o banco perguntou.

Hermione parou surpresa pelo velho ter se manifestado depois de enormes minutos de silêncio.

Sim. – quem respondeu foi o cocheiro.

O velho crispou com a boca e voltou para o seu jornal.

Não sabia que agora eles dividiam suas carruagens com nascidos trouxas. – murmurou o velho com uma careta. – Esse mundo errado. – resmungou. – Até os Malfoy... – e continuou a ler seu jornal.

Hermione quis fugir. No entanto aprumou a postura, entrou e fechou a porta com força. A carruagem avançou pelas ruas vivas de movimento do Beco Diagonal enquanto ela se atentava a analisar cada fachada que passava pela janela. Ela tamborilou os dedos no banco estofado que se encontrava sentada e logo depois alisou o veludo. Era tudo vermelho e prata ali dentro. Olhou sua roupa e comparou ao luxo que se encontrava. Ela parecia a mais pobre das pessoas ali. Não queria nem imaginar como se sentiria quando chegasse a mansão dos Malfoy.

Antes mesmo que ela tivesse tempo de ponderar sobre tal fato ela sentiu a carruagem sair do chão. Olhou pela janela e viu que levantavam voo. Ela se agarrou ao banco e fechou os olhos imediatamente. Suas mãos começaram a suar loucamente. Voar não...

Pareceu horas. Décadas. Não, Milênios! Quando finalmente aterrissaram Hermione quase foi capaz de soltar um gemido de alívio. Ela não podia vomitar. Estava tonta e sua cabeça doía. Porém tudo aquilo era relevante. Ela estava a salvo novamente e em terra firme. Seus olhos avançaram para a janela imediatamente. Andavam sobre uma estradinha estreita de pedras brancas. De um lado havia um denso jardim típico inglês e do outro uma vasta relva. A carruagem se elevou quando eles atravessaram uma curta ponta sobre um córrego e eles começaram a descer um pequeno monte.

Hermione sentiu o queixo pesar quando viu a frente dela se estender um jardim linear de perfeita simetria. Era enorme, bem cuidado, e as estátuas que emergiam dos espelhos d’água eram magnificas, mas nada se comparava ao casarão neoclássico que se erguia ao fim do extenso jardim francês. Ela perdeu a noção da hora enquanto atravessava tudo aquilo em direção a mansão. Cada arbusto, cada estátua, cada árvore, as pequenas fadas que passeavam sem compromisso entre uma árvore e outra. Ela sabia que a escala das coisas dos Malfoy sempre foram exageradas, mas tudo aquilo, era elegante demais. Ela sentiu-se novamente a mais pobre das pessoas.

A carruagem parou. Ela esperou que a porta fosse aberta e assim que o cocheiro lhe deu caminho ela pulou para fora da claustrofóbica e luxuosa cabine que se encontrava. Havia um elfo a esperando que a conduziu pela escadaria, varanda e finalmente porta. Ela teve que ajudá-lo a abrir a pesada madeira e como se não bastasse, quase perdeu o fôlego ao entrar no hall. O pé direito era alto e ela se sentiu minúscula ao atravessar. Seus passos ecoando se misturou com os do elfo enquanto avançavam. Ela tratava de olhar cada detalhe. “Não é a sangue-ruim?” uma dos quadros comentou mais alto do que deveria. Hermione precisou respirar fundo e apertar o passo para alcançar o elfo.

– Ah, querida! – Hermione se assustou quando Narcisa Malfoy apareceu subindo os poucos degraus que separavam o hall de uma das salas laterais. Hermione parou seguida do elfo. Narcisa vinha em um vestido impecável que variava de um azul para um marrom de uma forma confusa. Seus cabelos loiros incrivelmente arrumados em um penteado trabalhado e uma maquiagem casual que a deixava simplesmente magnífica. Sangues-puros. Sempre perfeitos. – Fico feliz que tenha aceitado meu convite. – ela se aproximou de Hermione e houve um segundo de vacilo para um sorriso amarelo quando ela analisou a garota de cima abaixo. – Então, como foi a viagem? – Narcisa tocou educadamente o braço de Hermione a conduzindo para a sala da qual havia vindo.

– Bem. – Hermione respondeu precisando limpar a garganta quando sua voz começou um pouco falha.

Ah, que ótimo! Ouvi dizer que não aprecia muito voar, mas então em pensei comigo mesma: que tipo de bruxo não gosta de voar, não é mesmo? – ela abusava de um tom tão educado que Hermione foi obrigada a lançar um sorriso forçado em resposta. – Sente-se, menina. – Narcisa disse e Hermione não gostou do adjetivo. Sentou-se. – Então finalmente estou conhecendo a melhor aluna de Hogwarts de todos os tempos. – começou Narcisa atravessando uma mesinha de centro e seguindo em direção a uma pequena adega a frente dela.

Hermione sorriu abertamente dessa vez. Não havia nada que a trazia mais orgulho do que seu título de excelente aluna.

É o que alguns dizem.

– Alguns. – Narcisa reforçou de uma maneira novamente educada enquanto abria o vinho que havia escolhido. Ela encheu duas taças e voltou-se para Hermione estendendo uma a ela enquanto sentava-se ao seu lado. – Tome, beba, vai gostar. – ela disse e Hermione estava pronta para negar. – Ora, vamos. – Narcisa pareceu ter lido sua mente. – Aposto que não tem a chance de beber vinhos como esse todos os dias. O preço não é acessível para qualquer um. – insistiu Narcisa e Hermione se sentiu ofendida. Estendeu a mão e aceitou a taça. Não bebeu. Observou a mulher dar um longo gole no seu.

A senhora não deveria abrir um vinho como esse só porque estou aqui.

Ah, querida. Não é nada. É apenas um vinho. – ela disse enquanto descansava a taça em seu colo como Hermione. – Soube que ensina em Hogwarts.

Será apenas por um tempo. – Hermione apressou-se.

Claro. – Narcisa concordou de imediato. – Não é um emprego muito agradável, não é? Não é rentável e aposto que logo encontrará alguém para se casar e não haverá mais a necessidade de se submeter...

Gosto de ensinar. – Hermione a cortou involuntariamente quando passou a não gostar do discurso da mulher. Narcisa se calou.

Hermione se sentiu estúpida. Talvez tivesse sido rude. Ela não colocaria tudo a perder tão cedo. “Controle-se, Hermione.”. Sentiu-se ainda mais estúpida quando a mulher sentada ao seu lado manteve seus olhos fixos sobre ela enquanto tomava mais um gole de seu vinho. Ela não podia desviar o olhar. Conseguiu.

É muito bonita. – a Sra. Malfoy voltou a falar. Hermione quis recuar quando ela tocou o fim de um de seus cachos e os ajeitou sobre seu ombro. – É evidente que não se veste de maneira refinada, mas creio que roupa alguma que usasse a deixaria feia. – Hermione se sentiu confusa em tomar como elogio ou ofensa. Não entendeu o porque do comentário. – Seus cabelos são muito bonitos e a cor de seus olhos é de certa forma muito interessante. Me lembra um cobre, âmbar. Quase um dourado. – a mulher divagou. – Gosto da simetria do seu rosto, do formato do seu nariz, da linha de suas sobrancelhas e até onde vi, tem um sorriso de uma beleza muito singela. – a cabeça de Hermione deu voltas. Mas que diabos... – Se confundiria facilmente com um puro sangue se todos já não soubessem, claro, sua procedência. – a taça de Hermione vacilou entre seus dedos. A mulher ao seu lado se levantou tomando mais um gole de seu vinho. – Draco sempre foi muito exigente já que sempre chamou muita atenção. – ela deu a volta na mesinha de centro passeando pela sala. – Desde criança. – acrescentou a mulher. Hermione precisou apertar firme a taça de vinho em suas mãos para que ela não entornasse. – Pansy Parkinson era a garota ideal para ele. Draco sabia que deveria se casar com ela desde cedo, sabia porque. Foram criados quase juntos. Eram muito próximos. – Ela parou de frente a uma pequena estante e analisou título por título enquanto continuava seu discurso. – Eles namoraram um tempo quando Lucius achou que já era conveniente, no entanto Draco sempre gostou que as coisas acontecessem como ele bem queria. Eram muito novos, claro, e quando Draco descobriu que podia ter muitas garotas então ele a deixou de lado. – ela estalou os lábios um tanto aborrecida. – Uma pena que Pansy tenha ganhado sua sentença em Azkaban. Por mais que seja curta nós jamais permitiríamos que Draco se casasse com uma ex prisioneira. – ela se calou finalmente. Hermione acreditou que fosse exatamente naquele momento que ela começaria a discutir sobre sangues ruins longe do sobrenome Malfoy, no entanto, o que viu foi a mulher tirar um livro da estante e analisar sua capa. – Gosta de livros?

Hermione estranhou a pergunta já que estava se preparando para começar a ser ofendida de forma direta.

Muito. – foi o que ela respondeu.

– Sim. – ela sorriu triunfantes voltando-se para a garota. – Os jornais comentam muito sobre você e aquele seu amigo Harry Potter. É claro que gosta de livros, melhor-aluna-de-Hogwarts. – Hermione tornou a não gostou do adjetivo.

Narcisa tornou a sentar-se ao seu lado. Ela estendeu o livro que havia pego na estante para Hermione que o segurou e leu seu título cravado em letras pratas na capa dura e negra de couro de dragão. “O Que o Mundo Deve aos Malfoy”. Era de um autor muito bem conceituado na área de história da magia. Hermione se lembrava de já ter devorado todos os seus títulos, inclusive o que ela tinha em mãos. Seu coração disparou. Por Merlin! Aquela mulher não poderia fazer o que estava planejando.

Certamente Hermione havia negado o convite da mulher assim que o recebeu. No entanto Narcisa pareceu ter previsto isso e lhe enviou corujas por quase uma semana convidando-a a fazer uma visita ao casarão dos Malfoy para um chá, com a justificativa de que tinha muito interesse em conhecê-la pessoalmente já que sabia que ela tinha uma parte significativa no processo que os livrou de Azkaban. Hermione não havia nascido ontem. Ela sabia que um Malfoy jamais receberia uma sangue-ruim no colossal e sagrado templo que chamavam de lar. Poderiam eles saber sobre ela e Draco? Havia aceitado o convite. Faria aquela mulher engolir tudo o que ela tinha a dizer se não fosse gentil como deveria ser pelas palavras que estavam escritas no convite. Porém estando ali agora ela se lembrou de que nunca se deveria confiar em um Malfoy. Quando ela havia esquecido isso mesmo?

Quantos livros que mencionam a família Malfoy já leu, querida? – perguntou Narcisa usando de um tom falsamente desinteressado. Hermione não gostava do nome “querida”, aliás, ela não gostava de nenhum que a mulher usava para se referir a ela.

– Muito. – respondeu a castanha.

– Muitos. – repetiu Narcisa verdadeiramente satisfeita com a resposta da garota. – Conhece então toda a história da família, certo?

– Sim. Não faça isso, por favor. Pensou Hermione.

Então certamente deve saber o porque alguém que carrega o sobrenome Malfoy jamais teria qualquer tipo de relação amistosa com nascidas trouxas como voc...

– Sra. Malfoy. – Hermione a cortou e surpreendeu-se com o tom alto que havia usado. – Acredito que não foi sobre isso que o seu convite dizia respeito...

A convidei para um chá! Acaso estamos tomando chá? – perguntou Narcisa dando mais um gole em seu vinho e abrindo um sorriso malicioso e vitorioso que lhe lembrava muito o de Draco em Hogwarts.

Desculpe, mas não posso aceitar que a senhora me ofenda!

Ofenda? – Narcisa achou engraçado o emprego da palavra. – Ninguém esta te ofendendo, querida! – Hermione sentiu o sangue fluir em suas veias ao escutar novamente o “querida”. – Todos nós sabemos que não são ofensas, são realidades. Ninguém pode te fazer menos Sangue-Ruim. Não é porque tem o cérebro e a aparência de um Sangue-Puro que...

A senhora deveria saber que todos os seus ideias podem ser descritos perfeitamente com uma única palavra chamada: preconceito! – Hermione se surpreendeu novamente com o tom que usava.

Narcisa não estava gostado do tom abusado que ela estava adotando para a conversa.

Não é a melhor aluna de Hogwarts? Eles não ensinam para vocês em História da Magia como o mundo bruxo enxerga nascidos trouxas?

Hogwarts não incentiva o ensino de mentes discriminadoras.

Pois você como uma garota que lê muito sabe exatamente como Hogwarts encoberta o que a sociedade bruxa pensa sobre raças como a sua! Negue-me o que eu disse! Negue que gente como a sua não enfraquece o mundo bruxo! Negue! Vá contra tudo que lê nos livros, garota! Vá contra tudo que enxerga! Não é? Só você sabe o olhar que as pessoas te lançam em silêncio quando descobrem que é nascida trouxa, não é mesmo? – Hermione sentiu a garganta queimar enquanto escutava a mulher Malfoy.

Desculpe, Sra. Malfoy. Eu vim para tomar um chá. – Hermione disse se levantando enquanto se lamentava fortemente por sua voz ter saído falhada.

Narcisa seguiu Hermione levantando-se junto com ela. Quando deu as costas Narcisa a segurou pelo braço forçando-a a se virar novamente.

Eu não te dei licença. – a mulher foi rude. A taça que estava na mão do braço a qual ela apertava derramou vinho no mármore branco do piso. Hermione temeu pelo modo agressivo ao qual estava sendo tratada. – Sei que está fazendo a cabeça do meu filho e eu realmente não faço ideia que tipo de feitiço que usou nele pra fazer com que de repente Draco passasse a ignorar tudo que ele sabe o quanto é importante! Ter brincado de casinha com o meu filho durante alguns aninhos miseráveis não te dá o direito de enfeitiçá-lo como tem feito, sangue-ruim. Você vai arruinar minha família. Nós descendemos da linhagem mais clássica do mundo bruxo e somos a família mais importante ainda viva! Temos poder, influência, e o sangue mais puro que alguém pode carregar nas veias! Draco deverá se casar com Astoria Greengrass e seguir a linhagem e você vai sair do caminho da minha família porque eu sei que é racional e sabe que não se encaixa em lugar algum dentro dela!

A visão de Hermione estava completamente embaçada. Ela se achou estúpida novamente no grau mais elevado que pode. Como havia cogitado fazer a mulher engolir qualquer palavra sua contra preconceito sendo que tudo que Narcisa havia dito era a mais pura verdade. A Sra. Malfoy tinha razão e Hermione era racional demais para ir contra qualquer palavra dela.

Sua garganta queimou como nunca havia queimado antes. Ela não iria chorar. Ela não seria fraca. Não seria. Quis se esconder de vergonha quando uma lágrimas pulou de seus olhos e escorreu pela sua bochecha rosada. Sentiu raiva. Puxou o braço com força escapando dos dedos apertados da mulher e logo quando o fez a taça deslizou para longe de seus dedos. Ela viu Draco Malfoy entrar no mesmo momento passando do hall em direção a escada. Ele parou assustado assim que o som do vidro se espatifando no chão soou por todo o primeiro pavimento da edificação.

Ah! Garota estúpida! – Narcisa urrou pulando para longe dos respingos de vinho e vidro. – Tem ideia de como é difícil importar essas taças? Não são renováveis!

Granger? – a voz de Draco soou seguida da de sua mãe.

Narcisa se virou assustada e surpresa para deixar seus olhos se encontrarem com a figura de Draco Malfoy parado no hall encarando as duas confuso.

Draco? – ela indagou tão confusa quanto ele. – Por que não está na casa de campo com seu pai?

Draco não deu importância para a mãe enquanto mantinha seus olhos fixos no de Hermione.

Não tem de quê, Sra. Malfoy. – Hermione disse ainda com a voz falha. Seus olhos estavam tão presos em Draco quanto os dele nela. – Muito educado da sua parte me convidar para agradecer por ter ajudado seu filho a encontrar a pessoa que te livrou do pior bruxo das trevas de todos os tempos. – ela desviou o olhar e tomou o caminho para porta pelo qual havia entrado.

Draco a alcançou quando ela passou por ele e a segurou pelo braço a impedindo de avançar.

– O que faz aqui, Granger? – ele perguntou quando ela puxou de volta seu braço o ignorando e seguindo seu caminho. Draco a seguiu. – Granger! – ela o ignorou. Ele teve que apertar os passos para manter-se próximo aos calcanhares da garota. – Granger! – ele tentou novamente. Nada. Segurou com força o braço dela dessa vez e o solavanco a obrigou a voltar-se para ele. Draco viu o rosto da garota banhado em lágrimas. – O que minha mãe te fez? – ele perguntou. – Merlin, Granger! Por que veio aqui?

Vim pedir a sua mãe que parasse de me enviar cartas para vir aqui! – seu tom de voz era alto porém ainda falho. – No entanto eu havia me esquecido que Sangues-Ruins não são bem vindos naturalmente em famílias como a Malfoy!

Pare com isso, Granger! Sabe que...

Que já vencemos essa barreira a muito tempo? – Hermione terminou para ele. – Quando foi que vencemos, Malfoy? Você foi quem sempre fez questão que ninguém nunca soubesse sobre nós! – ela exclamou. – Por que? – ele não pode respondeu – POR QUE? – ela gritou. Ele continuou sem responder. – Porque não gostaria que ninguém te visse com uma Sangue-Ruim, não é mesmo? O que falariam de um Malfoy com uma sangue ruim, não é?

– PARE COM ISSO! – ele gritou de volta.

NÃO! – ela gritou em resposta. Soluçou soltando-se dos braços dele. – Por que levamos isso adiante? Eu sabia que era um erro! Você sabia que era um erro! Fui imprudente, teimosa e impulsiva e agora eu estou sendo racional! – ela deu as costas.

Draco não deixou que ela desse um passo sequer virando-a pelo braço novamente.

Por Deus, Granger! Eu amo você!

PARE! – ela gritou soltando-se dele novamente. – Nós dois sabemos que não pode! Só estou fazendo o que uma hora ou outra você seria obrigado a fazer! – ela fez menção de dar as costas novamente, mas hesitou olhando-o nos olhos. Ela riu fraco enquanto as lágrimas ainda insistiam em escorrer pelo seu rosto. – Engraçado como sempre nos tratamos pelo sobrenome e eu tive a capacidade de me esquecer o peso do seu. – deu as costas e foi embora.

**

Hermione manteve seus olhos em vislumbre a enorme biblioteca que se encontrava. Muitas pessoas falavam ao seu redor e ela tinha vontade de mandar todos calarem a boca. Aquele era seu templo sagrado e todos deveriam fazer reverência ao silêncio ali. Ela já havia estado na biblioteca bruxa de Bradford por duas vezes, entretanto nas duas ela havia sido obrigada a estar ali como uma intrusa no meio da noite e agora que via todos aqueles lustres acessos ela brilhava com toda a sua glória mostrando ainda mais porque aquele lugar era tão especial.

– Hermione! – escutou Gina Weasley quase gritar o seu nome. Hermione apenas dirigiu seu olhar ríspido a ruiva que bufou. – Será que pode responder pelo menos a uma pergunta que estamos fazendo? Será que pode atender pelo menos quando te chamamos ou vamos ter que ficar gritando o seu nome sempre? – Gina voltou-se para a organizadora de eventos. – Tudo bem, ela é sempre assim quando entra em bibliotecas. – Hermione revirou os olhos e sorriu suspirando quando pode se lembrar de como aquele lugar era agradável mesmo envolto na escuridão da noite. – Hermione! – Gina exclamou novamente e Hermione olhou cansada para a ruiva. – Precisa decidir se vai querer descer as escadas ou realizar a cerimônia aos pés dela.

Hermione entrou em um momento de conflito. Céus! Aquilo seria mais difícil do que havia pensado. Afinal, ela havia contratado uma organizadora de eventos para que mesmo? Ela olhou para Gina e seu olhar cansado se transformou em um confuso.

– Certo, querida. – sua organizadora de eventos começou e ela realmente odiou ter sido chamada de querida. – Já realizei três casamentos aqui. Dois foram com a escada sendo usada como fundo para a cerimônia e o outro a noiva preferiu se utilizar daquela enorme estante no fundo da biblioteca, o que foi uma grande falta de bom gosto ao meu ver. – Hermione localizou a estante e realmente amou como seria significante para ela ter uma estante de livros como fundo de sua cerimônia de casamento.

– Eu gosto da estante. – Hermione disse e viu Luna fazer uma careta ao seu lado. Será possível que suas duas damas não serviriam de nenhum incentivo? Ela pigarreou vendo que não havia sido um comentário muito construtivo e acrescentou: – Mas acho que prefiro descer as escadas. – ela viu o olhar de todos se iluminar.

– Ótima escolha! – sua organizadora de eventos exclamou. – Veja essa escada! É colossal! Quase posso imaginar você descendo ao som da marcha! Será lindo e você será a estrela! Brilhará mais do que todos esses lustres acessos juntos.

Hermione sorriu amarelo engolindo a seco. Ela não gostava da ideia de chamar tanta atenção assim. Parecia tão fútil.

– Hermione.– Luna a chamou baixo enquanto a outra mulher passou a disparar sobre flores e colunas de fada. Hermione deu atenção a Luna. – Você não parece exatamente animada para tudo isso.

– Eu estou! – Hermione abriu um sorriso. – Quem não fica animada com o próprio casamento, Luna?

– Quem não quer se casar? – ela contrapôs.

Hermione fez uma careta.

– Não diga besteiras, Di-Lua! – exclamou Hermione visivelmente irritada.

A loira deu de ombros e seguiu Gina e a organizadora para os vitrais opostos a escada. Hermione soltou o ar aliviada assim que elas se afastaram. Deu as costas e voltou a se vislumbrar com a biblioteca. Do lado de fora ela via os seguranças do local tentarem conter três repórteres do profeta que gostariam de mais informações sobre o possível local do futuro casamento entre um dos casais mais famosos do mundo bruxo: Harry Potter e Hermione Granger.

Hermione os ignorou e passou a subir a escada. Seus pés se firmaram sobre o mármore que compunha o piso e a sensação foi completamente nostálgica enquanto ela avançava degrau por degrau.

– Hermione! – escutou a voz da organizadora de eventos a suas costas. – O acervo estará fechado no dia! Não há necessidade de ir até ele!

Ela simplesmente ignorou a mulher enquanto avançava pela escada. Assim que chegou ao mezanino começou a refazer todos os passos que havia feito na última fez que estivera ali. Ela quase podia sentir a companhia dele. Suas mãos unidas com as dela, seus braços fortes apertando-a pela cintura, sua voz grave ao pé de seu ouvido resmungando por estarem ali. Ela sequer notava o sorriso bobo que tinha estampado no rosto. Ela havia vivido seu romance adolescente.

Passou por entre as estante e chegou a uma sala aberta com mesas individuais para estudo. Ela não sabia que aquela madeira era tão clara. No escuro da noite elas pareciam tão escuras. Ergueu os olhos para os vitrais que circundavam em meia lua e suspirou. Ela se lembrava como se tivesse vivido tudo não fazia muitas horas. Seus pés avançavam refazendo passo por passo. Sentia a respiração quente dele contra seu pescoço. Ela se sentiu fraca novamente e se lembrou de como aquilo a tornava fácil de ser arrastada por entre aquelas mesas. Podia se lembrar do gosto que ele tinha quando a beijava apaixonado. Dos braços firmes dele a arrastando, suas mãos ágeis desfazendo o nós de seu vestido, do contato pele com pele. Ela tocou a madeira da mesa que haviam estado e se lembrou de sua força quando a havia levantado para sentá-la nela, dos músculos de seus dedos apertando sua coxa quando a puxou contra seu quadril, do modo como ele arfava, do tom do gemido que ela tinha. Hermione precisou puxar fundo o ar deslizando seus dedos sobre a madeira lisa. Todo seu corpo tremeu e ela fechou os olhos ainda sentido a presença dele tão forte.

Quase caiu quando foi abrigada a se afastar quase que num pulo quando uma coruja avançou para a mesa que ela estava. Seu coração ameaçava sair pelo boca com o susto enquanto encarava a figura da coruja parada a focando com seus olhos enormes. Ela se perguntou de onde havia saído aquele animal. Olhou para os lados e ficou ainda mais confusa quando não conseguiu montar nenhuma rota possível. A coruja continuava a fita-la como se fosse uma estátua. Ela devia estar perdida.

Avançou para apanha o animal e ele estendeu uma pata mostrando o minúsculo rolo de pergaminho preso. Hermione olhou nos olhos da coruja assustada. Corujas só faziam aquilo quando haviam encontrado o destinatário. Não era possível que era para ela. Estendeu a mão e pegou o rolinho. A coruja não protestou o que deixou Hermione ainda mais surpresa e confusa.

“Lembra-se dessa mesa bem acima de sua cabeça quando disser ‘sim’ para Potter”

Conhecia perfeitamente aquela caligrafia. Seu coração pulsou como se quisesse quebrar suas costelas. Como ele havia descoberto que ela tinha escolhido a biblioteca de Bradford para ministrar seu casamento? Seus dedos tremeram e seu sangue correu raso em suas veias. Ela amassou o papel em seus dedos e o fez virar cinzas. Tentou entender o que estava sentindo, mas não conseguiu definir. Soltou o ar tentando aliviar a pressão em seu peito. Porém antes mesmo que pudesse se acalmar ela levou outro susto.

– Hermione? – ela se virou. Conhecia a voz. – O que faz aqui? – era Harry.

– Harry! – ela exclamou. O tom de sua voz expressava alívio.

– Uau, te assustei? – ele se aproximou. – O que essa coruja faz aqui?

Hermione deu de ombros apressada.

– Não sei. Ela acabou de me assustar aqui. Deve estar perdida. – respondeu ela.

– Ela trazia algum correio?

– Não que eu tenha visto. – Hermione se limitou a dizer. – Espere! – ela parou. – O que você faz aqui?

– Gina acabou de me ligar. Disse que você não parece animada com a organização da cerimônia. – Harry tocou o braço dela com carinho. – Hermione. – ele suspirou. – Tudo bem se você não sentir que é a hora de nos casarmos.

– Harry! – ela exclamou assustada com as palavras dele. – Não. É a hora perfeita. Eu disse sim quando me pediu em casamento porque eu realmente queria!

– Então o que está acontecendo com você? Pode escolher o que você quiser, o vestido que quiser, a decoração que quiser, o lugar que quiser, a melhor orquestra do mundo! Eu pago, Hermione! Por que não está feliz?

– Eu estou!

– Não! – ele a cortou – Não está. Se lembra do dia que estávamos fazendo a lista de convidados? Você estava tão dispersa que não conseguia se lembrar dos nossos amigos mais próximos!

Hermione se sentiu envergonhada. Não podia ir contra as palavras dele. Soltou o ar frustrada e se encostou na mesa tampando o rosto com as mãos.

– Me desculpe, Harry.

Ele tirou as mãos dela do rosto e a fez o encarar.

– Eu queria poder fazer você ser a mulher mais feliz do mundo. Eu tento, Hermione! Sabe como eu tento! Todos os dias! Mas eu nunca vou ter seu coração por completo, porque ele sempre vai ser de...

– Não! – ela quase gritou colocando os dedos sobre a boca dele. – Por favor não diga o nome dele!

Harry suspirou segurando novamente sua mão.

– Acho que é um erros nos casarmos...

– Não, Harry! Não! – ela se agarrou a blusa dele. – Não, por favor! Eu preciso de você! É o único que entende como eu preciso! É o único que entende! Por favor! Só com você pode dar certo. Eu mereço tentar ser feliz e você é o único que entende e que me faz feliz da maneira que eu preciso!

Ele respirou cansado e a abraçou. Estalou seus lábios no topo da cabeça da mulher sentindo seus cabelos macios e cheirosos. Ele queria que ela o amasse como ele a amava. Sabia que nunca conseguiria. Estava cansado de tentar. Era sempre uma inconstância. Um dia ela era completamente dele e em outro ele simplesmente não conseguia entender como ela se dispersava tão fácil. Estava cansado, mas isso não o fazia amá-la menos. Estava pronto para conquistá-la todos os dias.

– Está tudo bem, meu amor! – ele sussurrou abraçando-a forte quando ela o apertou. – Tudo bem. – ele sussurrou. – Se quiser contratar alguém para arrumar todos os preparativos do casamento e você apenas precisar vestir o vestido no dia e dizer “sim” eu prometo que não vou ficar sentido.

Ela sorriu.

– Vai sim! – ela se afastou dele. – Não será preciso. – ela se pôs na ponta dos pés e estalou um beijo rápido em seus lábios. – Vou fazer isso, Harry! E tenho certeza de que vamos ser felizes juntos. Vamos ter uma família linda e aos poucos vamos construindo um amor forte, assim como temos feito. – ela sorriu. Foi sincero, porém no fundo de seus olhos estava escrito que ela mesma não tinha certeza sobre o que falava. – Vou me empenhar, prometo.

Ele lhe deu um beijo no topo da cabeça e desceu estalando mais um na ponta de seu nariz de forma descontraída.

– Eu sei que tudo que tudo que se empenha em fazer dá muito certo, Hermione. – Ele a soltou. – Eu te amo. – estendeu o braço para a coruja e ela se acomodou sobre ele pulando num voo. – Vou perguntar se é de algum dos seguranças. – deu as costas a Hermione e seguiu o caminho pelo qual havia vindo. – Você deveria descer. Estão te esperando. Tente pelo menos parecer interessada. – disse antes de sumir.

Hermione suspirou frustrada consigo mesma. Sentou-se na mesa e seu cérebro gritou o nome de Draco Malfoy como era acostumado a fazer com constância. Fechou os olhos e tentou se concentrar exatamente em como deveria agir com suas damas e sua organizadora de eventos. Pensou em seu casamento e o planejou por completo apenas nos segundos que teve ali. Seria exatamente como ela gostaria que fosse e fazendo suas damas cara feia ou não seria como ela estava pensando ali. Abriu os olhos e focou a aliança em seu dedo. Deveria ao menos agradecer que sempre em sua vida ela havia tido Harry para dar um jeito de tapar o buraco que Malfoy havia lhe feito.

**

Hermione fechou os olhos sentindo o vento da noite levar seus cachos para trás. Ela gostava do vento da torre de Astronomia de Hogwarts. Gostava daquele lugar desde que o conhecera em sua primeira aula. Gostava de estar ali sempre. Qualquer momento do dia ali era mais agradável. Sentava-se sobre os muros que cercavam a meia-lua aberta da torre que dava visão para todo o terreno do castelo e muito além dele. Ali lia por horas a fim. Lia seus livros didáticos, seus romances, seus suspenses, seus artigos. Ela lia e quando se cansava de encarar letras ela deixava seus olhos respirarem com toda a vista que a torre de Astronomia lhe proporcionava. Ela amava aquele lugar. Amava porque era um paradoxo se sentir tão segura e em casa mesmo sabendo que deveria odiar por temer tanto altura.

Ela puxou o primeiro livro da pilha ao seu lado. Abriu na primeira página e tentou se concentrar. Enquanto seus olhos simplesmente passavam automáticos pelas palavras sua mente lhe forçava a pensar que se estivesse em qualquer lugar do mundo agora com Draco Malfoy estaria usando uma camiseta qualquer dele, próxima a uma janela qualquer, com o livro aberto sobre suas pernas cruzadas exatamente como estava ali agora. Ela sabia que ele chegaria por trás, a abraçaria e daria a ela qualquer bebida quente que ele havia preparado como quase sempre faziam quando já estavam cansados de fazer amor e se bajularem deitados. Ele afastaria seus cabelos e passaria a distribuir beijos em seu pescoço, calmo, sem pressa, fazendo com que cada pelo de seu corço se eriçasse. Ele iria sorrateiro fechar o livro pousado em sua pernas e exigiria atenção sussurrando rouco em seu ouvido naquela voz tão sexy que a fazia se derreter. Ela desistiria de seu livro e daria a ele a atenção pedida e então eles passariam a rir sobre alguns momentos que tiveram juntos antes da guerra acabar e depois planejariam onde iriam passear no dia seguinte embora nada nunca saísse como o planejado.

Ela parou de ler. Fechou o livro com força e bufou passando as mãos sobre o rosto. Ela queria viver aquilo para sua vida inteira. Era tão fácil se esquecer que ele era um Malfoy quando estava com ele, quando sentia seu carinho, quando escutava a voz dele mansa em seu ouvido. Ela queria sentir aquela sensação única quando estava com ele para o resto de sua vida. A sensação de finalmente estar em casa após um árduo dia de trabalho. Talvez ela tivesse ganho isso quando ainda viviam juntos naquele mundo incerto da guerra onde se sentia extremamente grata quando paravam para descansar após terem arriscado suas vidas correndo de um lado para o outro durante dias. Sentia-se grata porque sabia que eles dormiriam em qualquer lugar que fosse e que durante a noite ele a abraçaria e velaria seu sono.

Não consegue se concentrar, Granger? - Seu coração quase saiu pela boca ao escutar a voz dele e ela pensou que estivesse alucinando. Será que ela havia chegado a esse ponto? Virou-se para trás e enxergou Malfoy sentado de qualquer jeito na cadeira do professor com uma das pernas sobre o braço da mesma. Ela o viu tomar um longo gole da cerveja que tinha em mãos. Ela tinha que estar alucinando! – Uma vez no quinto ano eu te observei ler um livro exatamente nesse mesmo lugar que está. Você nunca se deu conta que eu estive exatamente aqui durante boa parte da sua leitura. – ele sorriu. – Achava interessante a forma como seus cabelos voavam quando o vento batia contra você e revelavam seu pescoço. – Ele riu fracamente e tomou mais um gole de sua cerveja. – Eu já te amava e nem sabia. – concluiu.

Hermione voltou-se para frente novamente. Fechou os olhos. TINHA que estar alucinando!

O que faz aqui, Malfoy? – perguntou com os dentes grudados.

Sabia que estaria aqui.

Não foi essa a minha pergunta.

Creio que eu já dei para nós tempo suficiente depois daquele episódio em minha casa. - ele se levantou. Hermione suspirou. Não estava alucinando.

Você quer dizer um dia? – ela indagou. Sabia da resposta e sorriu quando ela veio. Se odiou por sorrir.

Não posso ficar muito tempo longe de você.

Você soa tão apaixonado, Draco Malfoy.

Ele sentou-se ao lado dela no muro.

Eu estou, Hermione Granger. – simplesmente disse. Eles se encararam em silêncio por um longo minuto e depois Hermione tratou de desviar seu olhar do dele para o amplo terreno a sua frente. – Pensei que tivesse medo de altura.

Não aqui. – ela lhe respondeu.

Ele analisou a escura floresta a frente deles banhada apenas pela luz da lua.

Me desculpe pelo que minha mãe fez a você, Hermione. – ele finalmente disse.

Hermione apertou os lábios e abriu um sorriso triste. Ela não queria abrir aquele sorriso.

Ela só estava cumprindo seu papel de Sra. Malfoy. – ela suspirou. – E você deveria estar cumprindo o seu de herdeiro não estando aqui.

Granger, quando eu digo que não consigo ficar longe de você eu não estou mentindo.

Ela suspirou cansada.

– Draco. – ela começou. Precisava dizer o nome dele por mais estranho que fosse. – Não podemos mais fingir que você não é um Malfoy e que eu não sou uma Sangue-Ruim.

Eu sei. – ele disse baixo enquanto mantinha seus olhos bem longe dela.

O silêncio foi longo. Tão longo que o tempo quase parecia ter congelado.

Minha mãe disse que já leu muitos livros que mencionam minha família.- ele disse e Hermione assentiu. – Então entende porque não posso assumir você para o mundo inteiro e porque tenho que me casar com Astoria? – Ela assentiu sentindo seu estômago revirar enquanto uma pressão em seu peito parecia querer asfixiá-la. Fechou os olhos. Seu coração doía. Ela sabia tudo que ele diria depois disso. – Sou covarde, Granger. Não posso deixar que o meu nome entre para a história como aquele que deu fim a família Malfoy. Eu fui criado me orgulhando dela! Tem ideia de que todo o meu ego está lapidado em cima do sobrenome que eu carrego? Pessoas vão estudar sobre minha história um dia assim como estudam sobre a dos meus pais, dos meus avós, dos meus tataravós. – Ele parou e soltou o ar. Parecia ter pensado nesse discurso durante muito tempo e parecia sofrer a cada palavra. – Não posso ficar com você, Hermione. - Ela concordou e eles entraram num silêncio que durou mais que o anterior. Draco sentia suas mãos suando a cada minuto que ela insistia em manter a boca fechada. Ela apenas se sentia infantil por querer tanto sair dali correndo e chorando. Mas ela era grifinória, não era covarde como ele. Ela ficaria ali e não derramaria uma lágrima por saber que aquele seria o momento em que diria adeus para o sonserino que havia conhecido. Ela nunca deveria ter ido o procurar aquele dia no Bar do Velho na Travessa do Tranco, ela deveria ter superado sua pequena idiotice em não conseguir dormir sem o abraço dele durante a noite, ela tinha que ter superado a dependência que havia criado com a figura familiar dele com ela a sós. Teria sido bem mais fácil do que passar por tudo isso agora. – Merlin, Granger! Diga algo!

Ela o encarou. Ele a olhava. Seus olhos cinzas eram sempre tão fortes que as vezes ela perdia as forças apena de olhá-lo. Desviou o olhar do dele. Nunca em toda a sua vida ela havia desejado tanto ter o sangue mais puro do mundo bruxo.

Eu te amo, Draco Malfoy. – ela nunca imaginou que um dia fosse conseguir dizer essas palavras seguidas do nome dele. Sentia, mas nunca se imaginou dizer. – Eu te amei em silêncio todas as noites que passei chorando porque havia me ofendido pelos corredores da escola. Te amei em silêncio quando oficializou seu namoro com Pansy Parkinson. Te amei em silêncio todas as vezes que tinha nojo de você quando te via se agarrando com garotas em armários, salas e qualquer lugar que pudesse mostrar a toda a escola que dominava qualquer uma. Te amei em silêncio quando tive tanta raiva de Gina por estar perdidamente apaixonada por você. – ela soluçou. Não derramaria uma lágrima. - Te amei em silêncio os dois anos que estivemos juntos e te amo agora mais do que nunca amei em toda a minha vida.

Foi a vez dela sentir as mãos suando enquanto ele mantinha o silêncio. Se eles estavam dando um fim a tudo, antes ela tinha que dizer isso a ele. Quando chorava durante a noite em sua adolescência ela sabia que ele nunca saberia disso, mas agora parecia tão conveniente e ela havia sentido como se tivesse tirado o peso de toda uma vida de cima das costas. Olhou para ele e viu que tinha o punho fechado contra a boca, via-o de perfil e seus olhos estavam brilhosos e ao mesmo tempo incrivelmente densos.

Estou indo embora da Inglaterra. – ele tirou o punho de sua boca e parecia ter dificuldade para falar. – Não volto nunca mais. Cada pedaço desse país me faz lembrar você. – ele parecia ter raiva disso. – Vai viver sua vida e eu irei viver a minha. Como deveria ter sido. – ele saiu do lado dela a deixando sozinha novamente.

– Covarde.

– SIM, EU SOU! – ele gritou de volta e se virou para ela com raiva enquanto a via sair de cima do muro. – Se lembra do dia em que me perguntou se eu preferia ser um assassino a um traidor? Sim! Eu preferiria ser um assassino! Você sabia disso! Quem quer carregar o nome de um traidor, Granger? – Ele foi até ela. – As pessoas sempre esperam algo grande de um Malfoy e eu não vou ser quem irá destruir toda a história da minha família! NÃO SEREI EU! – ele quase grudou seu rosto no dela. – Por tanto peque todo esse seu amor e enfie nesse seu sangue imundo! – cuspiu com os dentes cerrados.

Ela prendeu a respiração. Sentiu todo o seu coração explodir em pedaços tão pequenos que ela nunca conseguiria encontra-los novamente. Ergueu a mão e marcou seus dedos no rosto dele. O som do tapa ecoou na torre. Draco pareceu se irar com o ato. Ela teve mede mas manteve sua postura firme. Ele a segurou pelo braço com força e a beijou. Ela o empurrou e lhe deu outro tapa. Ele se afastou esfregando o lado vermelho agora em seu rosto.

POR QUE NUNCA ME DISSE ISSO? – ele gritou para ela. – EU NUNCA ESCONDI NADA! NUNCA SEGUREI UMA PALAVRA MALDITA SEQUER DO QUE EU SENTIA EM RELAÇÃO A VOCÊ! EU NÃO ENTENDIA PORQUE VOCÊ SORRIA, MAS SEMPRE SE AFASTAVA, SEMPRE FUGIA, SEMPRE SE CALAVA. EU QUERIA QUE ME CORRESPONDESSE NA MESMA INTENSIDADE E SEMPRE ME FRUSTREI COM A FORMA COMO VOCÊ SE MANTINHA LONGE! E AGORA DIZ QUE ME AMA! QUE ME AMOU PRIMEIRO! POR QUE NUNCA DISSE ISSO?

PORQUE NUNCA SE DEVE CONFIAR EM UM MALFOY!

O QUE? - berrou incrédulo - EU TENTEI LOUCAMENTE FAZER COM QUE ME CORRESPONDESSE! ME PERDOASSE PELOS ERROS QUE TINHA COMETIDO COM VOCÊ ANTES! EU QUERIA TE FAZER ME AMAR!

PRA QUE? PRA TER O PRAZER DE ME DEIXAR AGORA PORQUE NÃO TEM CORAGEM DE SER O TRAIDOR DO ESTÚPIDO SANGUE MALFOY?

Eles se calaram, finalmente, ofegantes. Draco tinha o peso das palavras dela agora sobre ele. Ele havia vivido vidas paralelas estando com ela um dia e sendo um Malfoy em outro e ele fugia todo o dia da responsabilidade que tinha de unifica-las. Agora ele estava sofrendo as consequências por não ter sido prudente. Agora ele era forçado a fazê-lo. Sem plano de estratégia.

Eu odeio te amar, Granger. – ele se afastou dela.

Eu já estou acostumada com isso. – ela soltou com desprezo voltando para pegar sua pilha de livros. – Vamos fazer um acordo, Malfoy. Já que o que sente por mim pouco significa perto da traição do seu sangue...

Não duvide do que eu sinto por...

Você vai deixar a Inglaterra! – ela o cortou quase gritando novamente. – E não vai voltar nunca mais. - ela se aproximou dele enquanto jogava sua bolsa de livros sobre o ombro. – Nunca mais. – enfatizou.

Ele segurou o braço dela.

– Já convivemos tempo o suficiente para saber que as coisas são feitas da minha maneira teimando você ou não!

Vai me forçar a ser sua amante, Malfoy? – ela cuspiu. – Vai passar uma noite comigo naquele quarto imundo da Travessa do Tranco e depois voltar para sua mulher na sua casa maravilhosa que divide com seus pequenos herdeirinhos? – dizer aquelas palavras foi como bater um punhal em seu coração. - É isso que quer?

Não! Eu quero você! Eu não quero dividir aquele quarto com ninguém que não seja você! Eu não quero dividir mansão nenhuma com ninguém que não seja você! Eu não quero ter herdeiros com ninguém que não seja com você, Hermione Granger! – ele foi tão sincero e seus olhos estavam tão densos que Hermione pensou que veria Draco Malfoy derramar uma lágrima pela primeira vez em sua vida. – MAS EU NÃO POSSO, INFERNO!

Ela se soltou da mão forte dele. Sua visão estava embaçando e ela estava cogitando revogar sua decisão em não derramar uma lágrima sequer. Por que ele tinha que dizer aquelas coisas e depois dar as costas a ela?

Então deve nos esquecer. – ela odiava quando sua voz fraquejava.

Eu não quero.

Ela não podia mais dizer a ele nada. Ele a abandonaria e se esqueceria dela tão facilmente que ela sentia como se correntes de ferro apertassem o seu coração. Então ela soube que voltaria a amá-lo em silêncio e sozinha, porém ela se lembraria dessa vez de todos os momentos que o tiveram juntos. Seria ainda mais doloroso. Deu as costas para ele e seguiu para as escadas. Agora seria muito mais difícil do que em sua fantasiosa adolescência.

Parou pousando sua mão sobre o corrimão. A bolsa de livros em seu ombro pesou mais do que o normal e ela sentiu que desmoronaria no chão em prantos. Por que ela havia o procurado aquele dia na Travessa do Tranco? Por que? Se tivesse sido prudente não precisaria passar por tudo isso agora.

Tem certeza de que essa é a sua escolha, Malfoy? – ela mal soube como sua voz havia saído com o nó enorme que lhe prendia a garganta.

Não é uma escolha, Granger. Eu não tenho escolha. – a voz dele estava seca e sem vida alguma. Ela havia escutado aquela voz antes durante a época que o havia visto sofrer todos os dias por seus pais presos na mão de Voldemort.

Ela não o olharia. Não mais. Seria mais difícil. Desceu as escadas.

Draco a viu ir embora. Ele queria dizer a ela que a levaria com ele para sempre. Estando ele com quem for ele seria dela e ela seria dele, mesmo que ninguém soubesse, mesmo que fosse um paradoxo. Se ela soubesse o poder que tinha sobre ele, se ela soubesse que ela o fez descobrir algo que ele nem ao menos sabia como descrever, se ela soubesse o efeito que causava nele, se ela soubesse o quanto ele queria ser o traidor se seu sangue para estar com ela, se ela soubesse o quanto ele a queria talvez pudesse amenizar a dor dela. Ele apertou seus dentes sentindo sua mandíbula formigar. Algo lhe doía tão forte saber que ela havia lhe dado as costas, que ele estava sozinho ali, sem ela, e que estaria assim para o resto de sua vida. Sem o perfume dela, sem o toque dela, sem o corpo dela, sem sua voz incrivelmente doce, sem sua inteligência brilhante, sem seu sorriso, sem seus olhos. Merlin! Aquilo parecia que estar lhe arrancando um pedaço! Tudo dentro de si ardia e nada aliviou quando uma lágrima silenciosa pulou de seus olhos. Ele quase a conferiu para ver se não estava sangrando. Suas costas bateram contra a parede da torre e ele deslizou para o chão. Apertou as mãos fortes contra o rosto e urrou quando mais de uma lágrima começou a lhe escapar. Ele tinha que ser capaz de segurá-las e tinha que ser capaz de esquecer a sangue-ruim que amava.

**

Hermione abriu os olhos e precisou estreitá-los quando a luz direta do sol da manhã lhe atingiu ao se virar sobre os lençóis de sua cama. Esticou os músculos ao se espreguiçar e analisou Harry dormir calma ao seu lado. Ela sorriu. Passou uma mão sobre seus cabelos e se levantou o deixando ali. Tomou um banho demorado e vestiu-se da maneira como usualmente fazia, pegou sua capa do ministério pendurada no cabideiro ao lado da porta e deixou o quarto. A casa estava em completo silêncio e até mesmo seus passos sobre o carpete parecia estrondoso. Desceu as escadas, passou pelo hall e entrou na cozinha. Com a varinha ela ordenou que tudo se movimentasse para segundos depois ter uma chaleira sobre o fogão apitando. Desligou o fogo e agitou a varinha novamente para abrir a janela do balcão da pia enquanto se servia do chá que havia preparado. A coruja do Profeta Diário passou por ela e depositou o jornal sobre a bancada que Hermione estava. Ela pagou a coruja e ela se foi. Hermione sentou-se no pequeno banco e abriu o jornal enquanto se deliciava com um gole de seu chá de canela.

Engasgou-se quando leu a manchete do dia.

Draco Malfoy une forças de sua companhia de fornecimento de matéria-prima rara retirada do oceano com a famosa fábrica de poções da família Malfoy.”

Hermione devorou todo a matéria em minutos. A xícara com seu chá foi esquecida em um canto do balcão quando ela releu a matéria. Draco Malfoy estava agora completamente de volta ao caminho que todos esperavam de um perfeito Malfoy.

Sua atenção foi tirada quando escutou os baques de alguém empurrando com bastante dificuldade algo extremamente pesado escada abaixo. Ela fechou o jornal com pressa e o largou sobre o canto oposto do balcão como se sequer o houvesse tocado. Poucos segundos depois ela viu uma garotinha entrar puxando seu malão para dentro da cozinha.

– Mãe! – a garotinha exclamou batendo as mãos uma na outra enquanto voltava-se para a mulher sentada com sua xícara de chá. – Estou pronta para ir!

Hermione abriu o melhor sorriso que havia ganho quando concebeu aquela garotinha há onze anos atrás e se levantou.

– Uau! – Hermione exclamou. – Acho que nunca te vi acordar tão cedo!

A pequena Lilian revirou os olhos impaciente.

– Vamos nos atrasar! Onde está papai e James?

– Hei! Calma garotinha! – Hermione encheu outra xícara e colocou sobre o balcão. – Vai tomar seu café primeiro. E não precisa de toda essa pressa! Ainda temos muito tempo. - A menina bufou enquanto se sentava e puxava a xícara para perto. – O que vai querer para o café?

– Não estou com fome.

– Lilian! Sei que está ansiosa, mas precisa se alimentar.

Lilian fez uma careta e pôs-se a pensar.

– Ovos. – disse e pensou um pouco mais. – E talvez salsichas.

Hermione riu da menina e passou a preparar o prato. Lembrou-se de seu primeiro dia em Hogwarts e sentiu saudades daquela sensação.

– Como foi sua noite?

– Bem longa! – exclamou a menina enquanto abria o jornal. – A mais longa de toda a minha vida. – Hermione riu. – Veja, mamãe! Eu não sabia que o dono daquela companhia enorme de fornecimento marítimo era da mesma família da fábrica de poções dos Malfoy! – Hermione derrubou a colher que segurava e a apanhou de volta com pressa. – Se eles eram da mesma família por que não se juntaram antes? Mas que burrice!

Hermione sorriu um sorriso fraco para filha enquanto lhe estendi seu prato com ovos e salsichas tomando dela o jornal.

– Você é bem esperta para a sua idade, sabia? – Ela se sentou de frente para a garotinha. – Coma tudo! – ordenou a mãe.

Harry entrou sendo seguido por uma minúscula figura que esfregava os olhos com a frauda enquanto chupava sua chupeta. Hermione se levantou para pegá-lo no colo quando ele estendeu os bracinhos curtos para ela. Harry a recebeu estalando um beijo sobre os seus lábios e se sentando ao lado da filha.

– Lily, posso lhe fazer uma pergunta? – Harry começou. A menina o olhou desconfiada. – Por que não temos mais nenhum livro na biblioteca?

A filha se engasgou corando. Hermione estreitou os olhos para ela.

– Eu disse para não pegar todos os livros, Lilian Granger Potter! – brigou Hermione.

– Mãe! – a menina soltou em protesto – Eu preciso levar meus livros comigo!

– Isso não quer dizer levar toda a biblioteca, Lily! – Harry exclamou em resposta ao protesto.

A menina bufou frustrada. Hermione entendeu a garotinha e aninhou James em seus braços que já voltava a pegar no sono enquanto via os olhinhos brilhosos de Lilian frustrada por seus livros.

– Tudo bem, meu amor. – Hermione beijou o topo da cabeça da menina. – Vai nos mandar todos eles de volta quando entrar na biblioteca de Hogwarts e ver que os que está levando são apenas peso amais.

A menina voltou a sorrir.

Poucas horas mais tarde eles atravessavam King’s Cross em direção a plataforma 93/4. Lilian atravessou sem medo a parede e foi seguida pelos pais e o irmãozinho mais novo. O expresso de Hogwarts descansava na plataforma enquanto era preenchido aos poucos pelos alunos animados com a volta as aulas.

Lilian correu em direção aos amigos quando avistou a cabeleira loira de Alice Lovegood Weasley e os gêmeos de Gina e Neville.

– Pensei que tivesse desistido, sabe-tudo! – Alice disse assim que Lilian se juntou a eles.

– Eu sei! – exclamou a castanha. – Meus pais não queriam sair de casa nunca e papai dirigiu igual uma lesma!

– Vamos entrar logo! Já não deve ter sobrado nenhuma cabine boa! – Alice a puxou pela mão.

– Não! Espere! – ela se soltou da amiga. – Tenho que dar tchau para os meus pais. – virou-se apressada e colidiu com alguém que quase a levou ao chão.

– Hei! – era a voz de um menino – Garota estúpida! Não sabe olhar por onde anda? – ele cuspiu.

Lilian encarou o menino loiro a sua frente. Ela se assustou com a beleza pura que ele tinha. Seus olhos eram cinzas tempestuosos e seus traços eram perfeitamente esculpidos. Parecia quase não ser real. Ela se envergonhou por ter sido desastrada, mas foi passageiro quando viu que o menino tinha deixado sua raiva de lado dando espaço para um sorriso maroto.

– Desculpe. – Lilian se desculpou um tanto confusa pelo sorriso do garoto.

– Vejam só se não é a princesinha cicatriz! – ele jogou para ela e Lilian se sentiu ofendida pelo tom que ele estava usando. Um garoto grande e uma menina muito bonita se juntou a ele para lhe fazer companhia e abrir sorrisos e olhares para ela que não a agradaram nem um pouco. – Você tem uma cicatriz igual a do seu pai? – os amigos dele riram.

– Hei! Não diga isso! – Lilian exclamou irritada. Os amigos dele riram ainda mais.

– Ah, não! Me esqueci que você tem é o sangue sujo da sua mãe! – ele disse com uma cara de nojo e seus amigos acompanharam lançando a ela o mesmo olhar que ele. Lilian abriu a boca para se irar com ele, mas antes que pudesse dizer qualquer palavras sua voz sumiu e sua vista embaçaram enquanto sentia a dor da ofensa atingir a ela e a sua mãe. – Eu espero que não saia na mesma casa que eu! Seria um desgosto.

– Lily? – Hermione surgiu atrás da garota. Os sorrisos da trupe do pequeno Malfoy se desfez. A menina se virou para a mãe. – Está chorando?

– Não! – exclamou Lilian secando as lágrimas com força.

Hermione olhou para o grupinho que estava com a filha. Se assustou ao ver Draco Malfoy com onze anos novamente. Meu Deus! Ela não tinha dúvidas de quem aquele menino era filho. Olhou para sua filha que fugia e a segurou pelo braço forçando-a a ficar.

– Scorpius? – Um homem extremamente elegante surgiu.

Hermione achou que fosse vomitar o próprio coração quando viu Draco Malfoy pegar no ombro do filho. Eram idênticos. Seu olhar se cruzou com os dele e então tudo ao redor deles morreu em um silêncio drástico. Hermione escutou seu coração bater abafado contra suas costelas e sua respiração quase a matou quando o oxigênio parecia raro em seus pulmões.

– Malfoy. – ela conseguiu soltar.

– Granger. – ele sorriu para ela.

– Potter. – ela corrigiu.

– Granger. – ele insistiu. – Então quer dizer que meu filho finalmente conheceu a sua? Espero que sejam bons amigos.

Scorpius soltou um riso rápido, repentino e desgostoso. Hermione se lembrou de como Draco costumava fazer aquilo em sua adolescência.

– Mantenha seu filho longe da minha, Malfoy! – ela rosnou para ele. – Bem longe!

– Tenho certeza que ele ficará grato em praticar tal ato. – Draco disse e a trupe do malfoyzinho riu.

Lilian soltou-se do braço da mãe e correu para o pai na outra exterminada da plataforma onde conversava com Rony e Neville. Scorpius e seu grupinho tomou a direção do trem. Draco e Hermione mantinham seus olhares fixos um no outro.

– Seu filho é tão estúpido quanto você era. – Hermione disse sentindo raiva por ter visto as lágrimas nos olhos de sua filha.

– É uma pena que a sua tenha os olhos do pai. – ele se aproximou dela. – Por que em todo o resto ela consegue ser tão linda quanto você.

Hermione sentiu suas pernas fraquejarem. Ele se aproximou mais. Ela parecia estar embriagada quando começou a perder as forças ao sentir o cheiro tão familiar que ele tinha.

–Não vou aceitar que minha filha passe pelo mesmo que eu passei quando estávamos em Hogwarts por sua culpa novamente! – ela sentiu raiva pelo tom incerto que sua voz havia assumido.

– Não se preocupe quanto a isso, Granger. – ele sorriu, segurou-a pelos dois braços e aproximou sua voz do ouvido dela. – Vi a forma como meu filho olhava para a sua mais cedo. Ele só está tentando chamar a atenção dela agora. Uma hora ou outra ele vai descobrir o quanto a quer.

Ela se desvencilhou dele de modo ríspido. Trocaram olhares novamente. O dela caiu para sua boca tão rápido quando o dele caiu para a dela. Céus! Por que tinha que ser sempre assim mesmo depois de todos aqueles anos, de suas famílias consolidadas e de suas vidas separadas? Por que era sempre tão tentador?

– Mantenha seu filho longe da minha! – ela rosnou novamente para ele enquanto lutava para manter seus olhos longe da boca dele.

Ele sorriu divertido. Ela teve ainda mais raiva. Como queria vencer aquela barreira entre eles! Por que todas aquelas pessoas estavam por perto?

– Hermione! – A voz de Harry invadiu seus ouvidos. Ela ergueu os olhos para ele que tinha o filho no colo e a mão dada para Lilian. Sua família! Céus! E ela querendo Draco.

Harry lançou um olhar de nojo para Malfoy.

– Olá, Potter. – Draco soltou.

– Você não deveria estar com sua mulher, Malfoy? – jogou Harry lançando a ele um olhar ríspido.

– E estou, não estou? – brincou Malfoy.

Os olhos de Harry faiscaram e Hermione teve que apertar seu braço para que ele não avançasse sobre o loiro. O expresso de Hogwarts anunciou sua saída e Lilian aquietou-se soltando a mão do pai.

– Você deve ir, Lily. – disse Hermione voltando-se para a filha. Abaixou-se e recebeu um abraço da pequena. – Me faça orgulhosa. Quero ver suas notas.

Lilian sorriu e assentiu. Abraçou o pai e deu um beijo no irmãozinho.

– Prometo que serei uma boa apanhadora para Grifinória, pai! – ela gritou para Harry enquanto corria para alcançar Alice que já entrava no trem.

Hermione sentiu a mão de Harry se unir a sua quando eles se prepararam para ver o expresso tomar velocidade. Ela se lembrou das vezes que estivera ali dentro pronta para voltar para o famoso castelo que ela tanto amava. Olhou para o lado e encontrou Draco Malfoy acompanhado de Astoria Greengrass que agora era Astoria Malfoy abanando a mão em sinal de “tchau” para o filho que estava na janela de uma das cabines. Sentiu raiva da mulher quando ela tocou o braço de Malfoy. Aquela mulher o tinha todas as noites, todos os dias, tinha uma vida com ele assim como ela tinha uma com Harry. Sentiu-se ser corroída pela inveja e precisou respirar fundo tentando afastar todos esses pensamentos de sua mente assim como sempre fazia toda vez que eles a invadiam.

– Onde ela está? – perguntou a Harry quando o viu estendeu a mão e lançar o seu “tchau”. Harry apontou uma cabine no final do expresso e ela viu sua Lilian com a cabeça do lado de fora competindo espaço com Alice e os gêmeos. Hermione sorriu acenando para a filha.

O trem finalmente se moveu e começou a deixar a plataforma. O coração de Hermione apertou ao ver sua pequena partir. Suspirou quando ele ganhou velocidade e desviou seu olhar para Draco novamente aproveitando que Harry estava distraído em esperar o trem sumir. Ele a olhava.

Trocaram olhares. Dessa vez era sincero. Ela via nos olhos dele o Draco Malfoy que havia conhecido uma vez. O Draco Malfoy que deslizava o dedo pelo seu rosto enquanto lhe beijava a testa de uma forma tão carinhosa que não condizia nem um pouco com seu sobrenome. Não pode deixar de sorrir de volta quando ele sorriu para ela como costumava fazer na época que estiveram juntos longe do olhar de todos. Deus! Como era possível ela ainda amar aquele homem depois de toda a vida que havia construído com Harry?

Draco deixou os dedos de Astoria deslizarem para longe de seu braço sem se importar quando ele se afastou dela. Hermione o viu se aproximar e não se importou se Harry o visse fazer isso ou não. Ela deixou que o mundo se desligasse à sua volta.

Ele tocou a cintura dela com cuidado quando já estava perto o suficiente. Inclinou-se sobre seu ouvido e fechou os olhos inalando seu cheiro de rosas. Só ela tinha aquele cheiro. Nenhuma outra mulher era como ela.

– Sinto sua falta. – ele sussurrou para ela.

Hermione fechou os olhos quando sentiu a voz dele lhe causar choques por todo o corpo. Ela mal podia se lembrar de sua mão unida com a de Harry. Abriu os olhos e ele já a olhava com aquele olhar cinza misterioso que muitas vezes a deixava com medo. Era tão familiar.

– Sinto sua falta. – ela sussurrou exatamente como ele.

Ele sorriu por escutar aquilo. Trocaram novamente seus olhares e então ele se afastou tão rápido quanto havia se aproximado. Hermione o viu caminhar elegante para a saída da plataforma. Ele estranhamente chamava atenção. Era um Malfoy. Ela se ligou novamente para o mundo quando sentiu sua mão ser abandonada quando Harry a soltou.

– Vamos, Hermione. – o escutou dizer e quando ela voltou-se para ele ainda pode ver o fim do expresso sumir na primeira curva. Merlin! Será que tudo aquilo havia sido rápido assim? Para ela, seu tempo com Malfoy quase durara horas.

Ela seguiu o marido em direção ao portal que levaria a King’s Cross e olhou novamente para trás afim de ver Malfoy. Ele fez o mesmo então eles trocaram um último olhar. Cúmplices. Ele seria dela e ela seria dele. Sempre. Por mais que fosse um paradoxo.


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Notas finais do capítulo

Se você gostou da leitura POR FAVOR ME DEIXE !! Peço desculpa por todos os eventuais erros de digitação que passaram batido. Espero mesmo que tenham aproveitado tudo do começo ao fim! :)