Se a gravidade não fosse presente na atmosfera com certeza estaria flutuando nesse momento. Não tinha mais controle sobre os meus pés e por mais que eu quisesse chegar perto dele, eu não conseguia.

Damon abriu os olhos com um pouco de dificuldade e me olhou. Seus olhos continuavam azuis, mas aquele brilho se perdera. Mesmo que meu moreno seja branco por natureza, a cor que estava ali presente era muito mais pálida que o normal. Ver ele daquele jeito com a cabeça enfaixada, tubos respiratórios e uma bolsa de urina presa na cama era totalmente piedoso.

– E-E-Le... – assim que pronunciou parte do meu nome cheguei perto dele e coloquei meus dedos em sua boca pedindo silêncio.

– Pelo que vi conhece nosso paciente e agora sei seu nome – chegou perto de Damon que o mesmo apenas fechou os olhos devido a dor de cabeça – Elena peço que se retire da sala para fazermos alguns checapes com ele. Tudo bem?

– F-Fica... – Damon sussurrou com dificuldade e segurou minha mão logo que dei sinal de partida.

– Posso ficar Doutor? Ele está um pouco desorientado e precisa de mim – falei sorrindo fraco e o mesmo assentiu retribuindo.

Mesmo que o choque tenha sido grande eu não poderia demonstrar frieza a ele. Para Damon foi como se ele tivesse dormido no dia anterior e acordado no dia seguinte. Não sei da onde tirei forças para ir a sua direção ou agir “normalmente”. Até cinco minutos atrás eu pensava que ele havia me abandonado e projetado uma vida pra si. Sinto-me uma vadia, sim, uma vadia. Eu simplesmente larguei mão de procurar meu noivo e segui a minha vida com um novo homem.

Enquanto Damon sofria.

Argh! Como sou uma vadia.

Fiquei observando o Doutor James – que fez questão em consulta-lo – fazer alguns checapes rápidos e escrevendo alguma coisa em sua prancheta que deveria ser a de Damon. Meu amor estava olhando pra mim com certa dúvida e olhando diretamente pra minha barriga. Oh não, minha barriga. Até imagino como seus pensamentos devem estar: Onde está aquele barrigão?

– Como ele está Doutor?

– Ele ficou por três anos em coma, mas milagrosamente não houve nenhuma sequela cerebral evidentemente. Todavia vamos fazer alguns exames ainda hoje e amanhã já ira sair os resultados. Ele só está um pouco fraco devido o sedentarismo, sonda alimentar e alguns remédios, mas agora o tratamento é outro e ele logo se recupera – tirou o aparelho respiratório de sua garganta e esperou algum efeito em Damon, o mesmo não reclamou para meu alivio – Não precisa mais do aparelho, isso é bom. Vou chamar um médico que está cuidando dele há algum tempo para ficar o observando até os exames saírem.

– Pelo que sei, ele não pode conversar até lá, certo? – já sabia da resposta, mas queria que isso fosse bem claro pra Damon. Não queria mais causar nenhum tipo de problema a ele. Sei que o mesmo vai perguntar várias coisas sobre o que aconteceu, mas não quero responder pelo simples fato de nem mesmo saber a resposta.

– Sim, até sabermos o que ele tem. Como sabe estamos mexendo com a cabeça e qualquer noticia pode causar um A.V. C, já que não sabemos como está sua pressão – colocou o aparelho respiratório de volta em seu pescoço tampando o buraco que ali estava para facilitar sua respiração – Vou ligar para o doutor Pierce – franzi o cenho... Conheço esse nome de algum lugar, mas não me recordo da onde – Sei que é pedir muito, mas você pode ficar aqui com o paciente Damon até ele chegar?

Legal! Tudo o que eu mais (menos) queria era ficar sozinha com o Damon agora. Ver ele nesse estado é doloroso demais. É como se tudo isso fosse culpa minha...

E é.

– Vai demorar muito? Por que às 18h00min tenho um compromisso – e é verdade. Deixei minha pequena no colégio e terei que busca-la, mas não posso simplesmente falar isso na frente de Damon.

– Não, não vai demorar. O Doutor Pierce mora a 15min daqui e tenho certeza que ele não vai negar. É ele quem cuida do caso do Damon.

– Entendi. Tudo bem, eu espero.

– Vou indo, Elena. Logo mais o Doutor estará aqui e você poderá ir embora – assenti e acenei.

Quando virei-me em direção ao Damon ele estava dormindo. Adorava o observar dormindo. Sempre tão angelical. Meu anjo. Se eu soubesse que tudo isso aconteceria iria com Damon a Londres. Entretanto não podemos voltar no tempo.

Enquanto eu me apaixonava por outro homem, Damon estava sofrendo. Formei-me, arranjei um emprego, apaixonei-me novamente, criei minha filha com todo o amor possível... Sem ele. E eu me odeio por isso. Odeio-me por ter traçado minha vida, odeio-me por nem ao menos ter lhe procurado, odeio-me por criar minha filha com um homem que nem mesmo é o seu pai, odeio-me por ter feito amor com um homem que nem eu mesmo amava... Damon nunca vai me perdoar.

...

Depois de quase quarenta minutos vendo o eterno amor da minha vida dormir, um homem entrou na sala. Não qualquer homem. O tal Doutor Pierce não era apenas um Doutor. Era Stefan Pierce...

Assim que o homem me viu arregalou os olhos, mas logo desviou para Damon. Fiquei o encarando para demonstrar irritação, mas ele nem ao menos se importou e continuou checando Damon.

– Pode me dizer o que está acontecendo aqui? – gritei, mas logo abaixei meu tom de voz quando vi Damon se movimentar demonstrando irritação.

– Acho que já viu o que aconteceu, Doutora Gilbert – deu de ombros – Seu noivo ou sei lá o que vocês são estava em coma e agora acordou. Essa é a magia do amor, minha cara.

– Não estou com bom humor pra deboches, Stefan – irritei-me e peguei sua mão virando-o obrigatoriamente para mim – Desde quando você sabia disso? Desde quando você sabia que Damon estava nesse estado?

– Abaixe o seu tom de voz, não piore a situação dele – falou com centésimas intenções. Com certeza ele sabia do rumo que tomou minha vida – Damon estava indo de taxi para o aeroporto pela avenida principal, o motorista foi surpreendido por um caminhão que tentava ultrapassa-lo, o veículo capotou. Por sorte alguns comerciantes os socorreram, sentiram o cheiro de gasolina e os tiraram do veiculo, em poucos minutos o carro explodiu. Provavelmente seus documentos, celular e outros pertences estavam todos no carro, não havia como saber quem era o cara, o taxista era a única esperança, porém faleceu antes mesmo de chegar ao hospital. Quando os paramédicos chegaram encontraram o cartão de meu pai em seu bolso. Damon iria contratar meu pai para investir sua mais nova fortuna de maneira que rendesse o bastante para dar a Melanie uma vida boa. Meu pai não se recordou de dar o cartão a ninguém que fosse a Londres e negou conhecimento da vítima, afinal ele não sabia que eu havia dado o cartão a Damon. Meu pai comentou esse fato comigo, achando curioso e eu logo relacionei o ocorrido ao Damon. Seu noivo então foi transferido para um hospital qualquer e então há algumas semanas para o San Magno. Paguei seu tratamento em anonimato desde o começo pelo simples fato de amar meu amigo. – fez uma pausa e completou - Não sei se você sabe, mas eu estava morando no Brasil antes mesmo de tudo isso acontecer... – assenti – Trabalhava na San Magno de lá e fiquei por um ano e meio tentando uma transferência pra cá. E cá estou eu.

– Então você sabia todo esse tempo e nunca me avisou? Nunca passou pela sua cabeça que eu queria saber noticias do meu noivo? – aumentei meu tom de voz.

– Acalme-se, Elena. Estamos em um hospital. Enfim, sei muito bem como está sua vida, não finja que eu não sei. Você está com outro, sua filha também chama ele de papai? – debochou.

– Cala boca. Eu pensei que Damon tivesse me abandonado.

– Ter te abandonado, Elena? O Damon era completamente louco por você. Eu via isso nos olhos dele. Eu desejei você sim, mas vi que você fazia meu amigo feliz e deixei de lado. Por isso me afastei de você, porque não queria causar problemas. Ele nunca lhe abandonaria – olhou pro amigo e suspirou – Foi por isso que não te avisei. Se você voltasse, iria ser pior. Queria livrar meu amigo de problemas.

– Que problemas? – falei duramente sem alterar meu tom de voz.

– Decepção – e pela primeira vez ele olhou em meus olhos – Eu ainda tinha contato com Miley há dois anos e ela disse como estava sua vida. Eu iria te contar, mas assim que soube que tinha seguido em frente eu desisti. Era desses problemas que estou falando. Infelizmente não vou conseguir evitar. Ele acordou e vai querer saber de tudo. Se você quiser explicar tudo o que aconteceu, tudo bem, eu não vou me meter. Só não o magoa. Sempre fui a favor da verdade, mas se a verdade o machucar... Minta se for preciso. Ele é meu melhor amigo. Quero apenas o bem dele.

E pela primeira vez pude ver verdade em seus olhos. Eu queria ficar com raiva dele, mas não conseguia. Ele podia ter me contado. Como poderia imaginar que meu noivo sofreu um acidente? Stefan tem noventa por cento de culpa sobre a minha culpa. Talvez tudo isso não estive acontecendo. Eu poderia cuidar dele e teria evitado todos esses problemas que irão surgir logo quando ele recuperar a lógica.

Entretanto, Stefan foi um ótimo amigo para Damon. Deixou sua vida no Brasil para cuida-lo. E como o Doutor James disse, ele estava sempre a mercê do meu moreno. Ele sim foi um amigo de verdade. Não uma noiva que seguiu sua vida com outro homem.

“Se você quiser explicar tudo o que aconteceu, tudo bem, eu não vou me meter.”

Damon, nesses três anos que ficou em coma eu fiquei noiva de outro homem, sua filha o ama muito e foi criada por ele e ano que vem provavelmente iria me casar com ele.

Como irei contar isso? E repito novamente: Ele nunca vai me perdoar.

– Já pode ir, James disse que tinha um compromisso. Você estará aqui para saber os resultados dos exames?

– Sim – ignorei Stefan e fui pra perto do meu amor – Amanhã eu venho te ver. Eu te amo – acariciei seu rosto e beijei seus lábios delicadamente e saí sem dizer uma palavra ao Stefan.

Há um dia pensava que minha vida iria mudar caso eu morasse em Londres, sim mudou, mas foi totalmente oposto ao que imaginava. Não sei como vai ser amanhã, nem futuramente. Mas não irei abrir mão do meu futuro com Damon. Eu o amo e mesmo que ele não me perdoe irei fazer de tudo para que nossa história recomece de onde parou.