A agressividade com que ele escreveu e se referiu a Peeta foi de me abalar tanto quanto a ele, Gale está mais diferente do que imaginava, o que antes era fúria agora virou ódio e só piora. Ele escreveu isso, mas como que Peeta soube disso? Onde ele pegou isso? Ele leu? Claro que leu. Gale estava na Capital? – um flash do pacificador com roupa preta – Era ele. Porque não veio falar comigo? Um ano que não nos vemos... Uma carta? Porque uma carta? Ele estaria diferente demais para vir falar pessoalmente? Não teve coragem e a entregou para Peeta?

O trem parte e vejo Gale na estação vigiado por mais dois pacificadores, antes que ele possa ir embora, mostro a carta pela janela. Ele entra em desespero e sai correndo até o trem. Os pacificadores o seguram e deixamos o 2 para trás. Antes de qualquer coisa, começo a escrever uma carta de resposta para Gale. O nosso assunto estava encerrado, e não haveria mais nada a se falar, e deixei bem claro isso na carta.

“Gale,

Recebi, li e entendi sua carta. Você está diferente, tão diferente que ousaria dizer que não o conheço mais. Entendo seu ponto de vista, mas falar essas coisas do Peeta e entregar a carta logo para ele, de maneira tão fria assim foi uma coisa que o antigo Gale detestaria. Se você discorda com isso, então acho que não o conhecia tão bem assim antes... Sei que ele sempre está aqui, ele não me faz relembrar as lembranças ruins, ele me faz entende-las. Ele sabe lidar com a dor de uma maneira que você não conseguiria. Você afirmou que “conseguiria suportar”, o que quis dizer? Que era tão ruim que você não iria ajudar e sim suportar? De todas as coisas que você podia falar, essa foi uma das piores, a outra, foi falar que Peeta poderia me matar. Gale, você até pode ter sofrido, mas ele sofreu muito mais, e se você não sabe disso, por favor fique quieto. Porque se sabe que vai falar alguma coisa ruim, melhor não falar. Por incrível que pareça, Peeta não leu a carta, ele apenas me entregou do jeito que você mandou. Coisa que se fosse você, não faria, agiria por impulso e provocaria um caos. Desculpa se isso machuca, mas é a verdade, você sempre soube que não daríamos certo. Mesmo antes do Peeta. É um mundo novo e tudo está diferente... E agora realmente entendo o que você disse: “Muita coisa pode acontecer em algumas semanas”, sim, podem mesmo. Então imagina em um ano.

Katniss.”

Embrulho dentro de um envelope e coloco no correio do trem. Quando ele voltar para o 2 novamente, Gale irá ler e entender. Suponho que não mandará outra de volta.

Saio do quarto e vejo Peeta sentado na cadeira encostado na janela, não gostaria de falar com ele já que talvez ele possa ter mais algum tipo de ataque. Porque está voltando tudo isso agora? Por que das coisas estarem tão complicadas? Ao que parece a guerra acabou, mas não dentro das pessoas. Por incrível que pareça vou para o vagão bar, pego um whisky. Passo por Peeta e Haymitch e ouço algumas palavras da conversa. “Você tem que se controlar garoto.” “Haymitch...” “Você sabe como ela é” “Você não deveria ser mais assim...” “Eu sei que não...”.

Estou indo para o quarto quando vejo um corredor e o aviso de ENTRADA RESTRITA rasgado em uma das portas que havia nele. Pus a entrar. Um vídeo antigo roda no aparelho de DVD e o vejo. São as imagens das câmeras do dia em que entramos na Capital. A curiosidade toma conta de mim e observo todos os detalhes. O chão se abrindo e Gale sendo levado pelos pacificadores. Essa foi a única fez que vi onde Peeta estava naquele momento. Ele estava ajudando uma garotinha com mais ou menos a idade de Prim que estava pendurada na cratera. Ele ia conseguir puxa-la, mas alguma coisa o puxa para trás e ele sai correndo para outra direção e a menina cai. Mais um ataque. A câmera muda e aparece o aerodeslizador vindo, tento não olhar para a eminente morte da minha irmã. Snow chama os pacificadores, eles tentam proteger as crianças, mas antes que percebam os paraquedas chegam... Prim está resgatando a quem parece ser a irmã da menina que Peeta ajudara. Ela chora muito e mostra um bebe, Prim o acolhe no colo. Um paraquedas chega na sua frente, ela olha para onde ouviu o seu nome ser chamado e me avista. A câmera da zoom em seu rosto.

– olá de novo patinha. – falo sorrindo, porém triste.

Há um estouro, os paraquedas explodem e o filme acaba. Peeta entra na sala e limpo as lagrimas rapidamente. Ele me olha e sabe imediatamente o que é. Ele me conhece e ele melhor que qualquer um, pode me ajudar. Porque ele querendo ou não, sabe como é a dor da perda.

– Peeta, você leu a carta? – pergunto.

– Não. Ele me deu ela assim. Já aberta. – ele diz vindo em minha direção. Fico chocada e percebo a diferença de Gale e Peeta, Gale agiria por impulso, leria a carta, brigaria comigo e com Peeta e ainda ficaria bravo por achar que teria mais de uma. Mas Peeta não leu pois sabia que era apenas uma coisa minha e não nossa. Ele sabia que não deveria pois os resultados iriam ser ruim.

– Eu também sinto falta dela, Katniss. – ele fala me abraçando. – tudo bem, ela está bem. – ele faz uma pausa. – Ela te ama, Katniss... Prim te olha todos os dias e sorri admirada pela sua coragem. Vai ficar tudo bem.

"Vai ficar tudo bem", mais que um consolo, uma promessa.