– Sabia que ia estar aqui. – uma voz suave e tranquila me assusta atrás de mim.

Ele se senta ao meu lado colocando uma manta nas minhas costas.

– Você também precisa. Não está com frio? – falo.

– Estou, mas você é mais importante. – ele fala calmamente.

Ele se senta apoiando as costas em uma arvore com uma expressão abalada no rosto. E eu me apoio em seu peito.

– Essas arvores são lindas. – comento.

– E frias. – ele retruca.

– Ah, admita, você gosta da floresta.

– Gosto... Mas por sua causa, gosto de ver sua expressão quando está aqui. Você sorri mais. – ele fala e eu sorrio para ele. – Viu?

– É... Talvez sege a floresta que me arrancou o sorriso. – murmuro. Ele ri. O vento frio faz com que eu chegue mais para perto de Peeta. Vejo sua respiração rápida e os batimentos mais rápidos ainda.

– Katniss... Droga – ele começa a tremer. – sai. – Não! Não vou sair de novo, não vou deixar ele sozinho, era pior, ele pode ter um ataque e me machucar, mas não vou deixar ele. Faço uma coisa que pode ou não ser a maior burrice da minha vida.

– Peeta, Peeta olha para mim. – falo rigidamente e seus olhos ficam vermelhos, ainda úmidos, - mas nem um pouco parecidos com antes - olhando para mim. Fico imóvel na frente dele, não seguro seus punhos, não toco nele. Apenas olho para seus olhos frios. E ele faz o mesmo.

– O que pensa que está fazendo? – ele fala tão frio quanto seu olhar.

– Tentando te controlar. – digo sem tirar os olhos dele. Ele se ajeita e fica sentado na minha frente.

– Tenta me controlar me respondendo apenas 5 perguntas. Depois pode fazer o que quiser comigo. Não irei tocar em você. Pode me prender e colocar algemas. Se você ficar com medo como sempre fica em situações em que precisa fazer mais coisas do que está acostumada, pode fugir, não irei atrás de você. Se quiser chamar pacificadores ou me torturar com suas palavras pode fazer. Mas não garanto que você não irá se machucar.

– Acabou de falar que não tocaria em mim. – digo séria e atenta a suas palavras, desde sua respiração até seus olhos são capazes de decidir se saio viva ou então terei de comprar mais ataduras.

– Katniss... Você sabe tanto quando eu que há maneiras mais cruéis e dolorosas de se machucar alguém sem ser fisicamente.

Congelo, ele fala com a mesma aspereza de Snow, porem com uma fúria e desgosto que vem dele próprio.

– Quais são suas perguntas?

– Você ainda sente alguma coisa por Gale?

– Sim – falo pensativa. Mas não importa, ele está alterado e nada que eu diga irá o fazer piorar.

– Você sente culpa por ter matado minha familia?

– Sim – respondo.

– Então você admite ter matado minha família?

– Não. Eu não matei sua família, Peeta.

– Não use meu nome do final da frase de maneira reconfortante. – ele rosna.

– Eu não usei. – retruco. Por qual razão ele está fazendo essas perguntas? Se ele quisesse saber essas coisas ele poderia perguntar. Ele tem essa chance, quantas vezes ele me perguntava triste... E então entendo. Ele me faz essas perguntas agora, pois é o único momento em que ele se torna imune nesse tipo de coisa. Ele se torna uma parede contra os sentimentos, pois ali só cabe fúria e raiva. E então, ele me machuca. Uma terapia que sofre apenas uma pessoa. Eu.

– Você sente alguma coisa por mim?

– Sim. – falo rapidamente e certamente. – E você? Sente alguma coisa por mim? – pergunto.

– Infelizmente sim. – ele fala decidido. – E sim, essa resposta se aplica a quaisquer que sejam as situações.

A mágoa que sinto pelas palavras que acabaram de sair de sua boca faz criar lagrimas nos meus olhos, mas não as deixo cair.

– Vamos terminar logo com isso. – falo. O plano dele é me quebrar, sempre foi.

– Você sabe que Gale está vendo isso?

– O que? – falo surpresa. – Gale? Ele está aqui? – me levanto e dou alguns passos a procura dele. – Onde ele está? - Peeta também se levanta e coloca as mãos no bolso.

– Não, não está. Só mais uma pergunta, diz que sente algo por mim, mas correria assim tão certamente para ele e me deixaria sozinho?

Fico em silencio.

– Não precisa responder, sei que correria... – ele fala.

Doentio, isso é o que ele é. Manipulador e com seu jogo de lábia conquista tudo. Me quebrou. Plano concluído com sucesso.