O Legado de Jack Sparrow escrita por Costa


Capítulo 2
Capitulo 1




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– Então você quer eu acredite que você tomou um galeão sozinho? – Diz o homem mal vestido e fedorento sentado na minha frente, no chão da cela, com os braços cruzados e incredulidade nos olhos.

– Eu estou falando sério. – Mentira. – Eram uns trinta marinheiros e derrotei todos com minha alta habilidade em esgrima. – O homem ri de mim como se tivesse escutado a melhor piada do mundo, e, bom, talvez tenha sido.

É verdade que tenho uma espada, mas, nunca aprendi a usar corretamente. O que sei (o que acho que sei) aprendi olhando. Mas, e daí? Estou preso mesmo, minhas armas foram confiscadas. Provavelmente serei enforcado em breve por praticar pirataria, mas não me arrependo de nada. Não mesmo.

– Então diz aí – volta a falar o meu fedorento parceiro de cela – como, você, o incrível pirata, acabou preso?

– É só me dar rum e estou acabado. – Digo sorrindo. Na verdade nem sou tão fã de álcool, fui preso logo quando cheguei aqui em Tortuga. Ninguém me avisou que a ilha estava dominada pela marinha. Este deveria ser o paraíso dos piratas. – Mas, mudando de assunto, o que aconteceu com Tortuga?

– Parece que algum outro palhaço está no comando da marinha agora, e esse cara é mais durão. Nos últimos anos assumiu o controle de grande parte das rotas marítimas. A era dos piratas está acabando afinal. – Ele sorri de repente. – Se Jack Sparrow ainda estivesse vivo, não duraria um minuto.

– Quem disse que ele morreu? – Digo automaticamente. Todos presumem que ele morreu desde que sumiu há dez anos atrás, e até eu acreditaria nisso se Jack Sparrow em pessoa não tivesse me entregado sua bussola e dito que iria pra um lugar onde ninguém o acharia. – Afinal, nunca acharam seu corpo, não é?

– O oceano é enorme, ele deve ter enchido a cara e se jogado no mar.

Besteira. Jack Sparrow não é idiota. Ele é um grande pirata, caso contrário nunca teria alcançado a fama que tem. Ele está escondido em algum lugar e eu vou descobrir onde.

Nesse meio tempo um guarda entra trazendo uma mulher num vestido longo, luxuoso e sujo. Mesmo estando um pouco suada e descabelada, é muito bonita. Tanto que a olhamos até sair do nosso campo de visão. O guarda a leva pelo corredor prendendo-a na cela ao lado da nossa, a qual a grade que a separa de nós é a que estou encostado.

– E se eu disser que posso descobrir onde ele está? – Digo retomando o assunto. - Que sei um jeito de achar qualquer coisa que desejar? – Um homem, que se manteve sentado imóvel o tempo inteiro na cela ao lado, atrás da grade onde o meu parceiro se encosta, move levemente o rosto ao ouvir o que digo. Ele ficou interessado? Há! Como se houvesse chance de eu entregar a bussola a ele; como se houvesse chance de qualquer um de nós sair daqui.

– Eu diria que você é um azarado – responde o meu parceiro de cela com um sorriso de deboche e um olhar de quem acha que sou louco – por estar preso aqui e não poder se aproveitar disto.

Após isto a conversa morre, ficamos sentados ali vendo o tempo passar, apenas esperando por nossas sentenças. Na nossa cela, além de nós dois, há um velho que dorme desde que cheguei, talvez já esteja morto. Na cela a minha frente tem o cara que não se movia até eu falar da bussola, ele tem cabelos lisos amarrados num pequeno rabo de cavalo e roupas compridas. Ele apenas encara o teto com seus olhos bem puxados (os quais demorei pra perceber que estavam abertos). Além dele há dois caras do tipo brutamontes que também conversavam. Após esta cela há uma outra também com três ou quatro pessoas. Atrás de mim tem a cela da garota que está sozinha. Do lado de fora esta prisão parece ser bem grande, devem haver mais prisioneiros em outras alas.

Pelas peles queimadas de sol, tatuagens características e marcas de batalhas, acredito que todos, com exceção da garota, sejam piratas. Até porque, estamos em Tortuga, seria estranho se não fossem.

– Que legal, seremos enforcados juntos. – Digo num sarcástico tom alegre para meu parceiro e ele sorri de volta confirmando pra mim que ele também é um pirata e que não está surpreso e nem temeroso quanto ao seu destino. Não vou mentir, eu estou com medo, mas aprendi (e muito bem) a disfarçar o que sinto com piadas.

Anoiteceu. Sei disso por que há pequenas janelas em cada cela no alto da parede, fechadas por grades, por onde posso ver o céu estrelado. Estou deitado no chão duro de pedra da prisão, estão todos quietos.

Repentinamente escuto um trovão. Deve chover em breve. A janela é pequena mas deve ser suficiente pra nos molhar. Saco. Um segundo estrondo, mais alto, ocorre logo depois. Deve estar perto. Um terceiro, e desta vez o chão vibra. Posso ouvir os guardas da prisão gritando ordens uns pros outros. Isso não é um trovão, algo está acontecendo lá fora. Todos se levantam por causa do barulho.

Escutamos um estouro de longe seguido de um assobio e então a parede no fim do corredor da prisão explode. Todos se projetam pra trás por reflexo. Quando levanto os olhos vejo uma bola de metal na extremidade oposta e os portões da nossa cela e a do olhos puxados bem tortas e praticamente abertas. São tiros de canhão. É um ataque. Eu e meu parceiro empurramos o portão o derrubando no chão. Os ocupantes da cela ao lado da nossa fazem o mesmo. Olho para a cela da garota. Ela continua presa e, por um momento, nós nos olhamos nos olhos. Percebo que seus olhos são azuis, tão belos quanto o mar e seus cabelos, caídos sobre os ombros, dourados. Nesse momento, que deve ter durado um ou dois segundos mas que pra mim pareceu mais tempo, ela não diz nada. Como se fosse necessário.

Corro pelo corredor até achar a sala onde os carcereiros ficam (localizada em frente a porta de saída da prisão). Todos os que trabalhavam naquela prisão já haviam fugido. A maioria dos prisioneiros saíra correndo pela porta da frente, mas na sala dos carcereiros encontro meu, agora, ex-parceiro de cela e o cara de olhos puxados, eles vieram pegar seus pertences confiscados pela marinha. Aproveito e pego minha espada, minhas duas pistolas, meu chapéu e a bussola. O ex-parceiro pega tudo que vê pela frente, acho que não são necessariamente seus pertences. O de olhos puxados pega duas espadas e duas pistolas e um chapéu de palha que mais parece um prato. Meu ex-parceiro de cela vai em direção a saída e para quando me vê vasculhando as gavetas de uma mesa.

– O que você está fazendo? Vamos embora!

– Eu tenho que ajudar a garota. – Não preciso olhar diretamente para ele pra saber que está me olhando como se eu fosse louco. Outra explosão ocorre perto da prisão.

– Boa sorte, a gente se vê. – Ele vai embora, engolido pelo apocalipse que acontece lá fora.

Finalmente encontro o molho com as chaves das celas. Ao levantar o rosto vejo o cara de olhos puxados parado perto da porta de saída, como se esperasse alguma coisa. O encaro por um segundo e ele me olha de volta mas não diz nada. Apenas o deixo e corro até a garota, passo pela primeira cela com quatro pessoas que imploram para que as liberte, mas ignoro. A segunda cela está vazia, e a terceira, a minha cela, ainda está com o velho dorminhoco. Chego a cela da garota e após tentar algumas chaves erradas finalmente consigo abrir. Ela sai quase no mesmo segundo e me abraça.

– Obrigada.

É tudo que ela me diz antes de correr pra saída, eu saio logo atrás dela e arremesso o molho para dentro da cela que ainda tinha quatro caras, e eles avançam sobre ele como se fosse a última gota d’água no deserto.

Passamos pela porta onde o olhos puxados ainda esperava. Sem dizer nada ele nos segue pela noite. Ficamos no meio da rua, sem saber para onde ir. Há pessoas desesperadas para todo lado, ouvimos tiros de pistola e gritaria. Há marinheiros lutando contra homens na rua, não dá pra saber se são piratas do navio que está atacando ou se são os prisioneiros fugidos. Vejo que alguém precisa tomar a liderança nesse grupo.

– Não podemos ficar aqui! – Digo para os dois. – Vamos acabar sendo pegos no fogo cruzado! – Sou o mestre do obvio.

Tarde demais. A garota grita de medo e, quando me viro, vejo um marinheiro apontando sua arma pra gente. Tento puxar a minha, mas, assim que a toco, percebo que não há mais necessidade. O homem é perfurado no peito por uma espada vinda de trás, é o meu ex-parceiro de cela.

– Não fiquem ai parados. – Diz ele - Temos que ir até o navio. – Ele ponta para o mar, onde vemos, bem ao longe, o navio que atira contra a ilha.

– Você perdeu a cabeça? – Grita a garota. – É um navio pirata!

Ouvimos o som de lamina deslizando sobre carne. Ao virarmos, vemos o de olhos puxados cortando, com muita habilidade, um marinheiro que tentou surpreende-lo. Esse aí, eu acreditaria que tenha subjugado um galeão sozinho.

– Então você prefere ficar aqui e ser presa novamente e depois ser executada em praça pública? – Grita o ex-parceiro.

– Se formos lá, vamos morrer do mesmo jeito! – A garota grita de volta e o rapaz de olhos puxados atira na testa de mais um.

Eu queria poder defender a garota bonita, mas, eu concordo com o meu sujo amigo que conheço a poucas horas.

– Eu concordo com ele! – Digo a ela. – Acho que temos mais chances entrando no navio. Não estamos pedindo pra vir conosco. Eu entendo se não quiser. - Ela fica em silêncio.

– Fique com isso. – O ex-parceiro entrega uma das várias pistolas que pegou à garota. – Vai precisar.

Olho para o ex-parceiro e aceno positivamente com a cabeça entrando em acordo. Nós corremos até o porto logo a frente. Olho para trás e vejo o dos olhos puxados vindo atrás de mim, e logo atrás a garota finalmente se decidindo em vir também. Na corrida cortamos alguns caras e atiramos em outros. A sensação de cortar alguém é muito estranha, ainda não usei uma espada vezes o suficiente pra me acostumar com isso. Se eu não estivesse muito preocupado com minha própria segurança, acho que teria vomitado.

Chegamos à beira do porto e nos deparamos com vários barquinhos, provavelmente usados pelos piratas para vir do navio até aqui. Entramos nós quatro em um deles e remamos rapidamente em direção ao navio, mas não sem antes o olhos puxados atirar em um marinheiro que tenta nos impedir. Esse cara não disse uma palavra até agora e parece ser muito bom em matar, além de ter muito sangue frio. É bom manter os dois olhos sobre ele.

Há outros barquinhos saindo do porto e alguns, já bem próximos do navio pirata, cheios de caras que sobem abordo através de escadas de corda. Quando chegamos não é diferente. Rapidamente subimos e nos deparamos com outra cena de guerra: há piratas lutando contra piratas e o chão já há alguns corpos. Percebemos também que o navio começa a se mover. Tem um homem barbudo no timão, provavelmente o capitão.

Não demora até sermos atacados, a garota se abaixa e grita, nós três começamos a lutar, minha espada é facilmente tirada da minha mão então começo a lutar com as mãos vazias e me saio muito bem. Sempre vivi nas ruas, então desde cedo aprendi a me virar. Mas os ouros dois são ainda melhores, o olhos puxados derruba o dobro de caras que eu usando duas espadas ao mesmo tempo, enquanto o ex-parceiro alterna entre ataques de espada, socos e chutes, ele é bem musculoso e grande, um golpe dele não deve ser pra qualquer um.

– Olhos puxados, proteja a garota! – O mando por ele parecer ser o melhor lutador, ela vai estar mais protegida com ele. Parte de mim esperava que ele não fosse me obedecer. Por ele ser tão mudo as vezes tenho a impressão que ele não ouve nada. Além disso, não sei o nome dele, achei que não fosse notar a quem me refiro, mas, ele obedece imediatamente sem questionar. Acredito que ele só está aqui por mim; pela bussola.

Enquanto luto faço um sinal pro ex-parceiro, indicando com a cabeça o capitão no timão. Ele parece ter entendido, pois acena positivamente. Só agora percebi que não sei o nome de nenhum deles mas já estamos agindo como um grupo de companheiros, isso é tão legal e estranho ao mesmo tempo. Começo a me mover na direção do timão e o ex-parceiro começa a me dar cobertura. Antes que perceba estou com minha pistola na direção na cabeça do capitão.

– TODO MUNDO PARADO! – Grito e todos param, parece até que tenho algum tipo de poder. Posso ficar mal acostumado. Olho para o ex-parceiro e ele acaba de nocautear um cara e segura a espada na garganta de outro, mas um terceiro cara aponta uma arma para sua cabeça. Olho para o olhos puxados, e ele segura dois caras, cada um com a garganta colada em cada uma de suas espadas, mas tem um outro pirata com uma espada apontada para suas costas. A garota pensa em pegar sua pistola, mas acaba sendo rendida por outro inimigo com uma espada em sua garganta. – Eu estou tomando este navio! – Grito, tentando fazer parecer que tenho o controle da situação, até que escuto um som metálico de pistola atrás da minha cabeça. Droga.

– E quem é você? – Pergunta a voz grave e rouca atrás de mim.

– Eu sou... Eu sou o capitão Jack Sparrow!


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