Álcool, Shirley e rock n' roll escrita por AnaMM


Capítulo 8
Proposta


Notas iniciais do capítulo

UFA! Cheguei! Foi mal, gente, viagem, semana de provas, uma semana doente e mais todo esse tempo com o site fora do ar... Mas agora deu!



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O que estava fazendo de sua vida? Merecia muito mais que aquela cidade interiorana, que aqueles caipiras ao seu redor... Por que se sentia tão presa àquele lugar? E quanto mais tempo ficava em Goiás, mais distante parecia sua fuga da realidade. Havia se distraído nos últimos dias, semanas. Tudo culpa de um certo ex-amigo, para quem nem deveria olhar. Estava perdendo o controle, a pose. Precisava voltar à razão o quanto antes, ignorar o sorriso hesitante e o olhar solitário daquele que a atrapalhava e focar naquele que representava seu futuro. Se não podia fugir do que sentia por Felipe, iria domá-lo, usar o que quer que fosse que a atraía a ele em seu favor. Talvez devesse agradecê-lo antes de partir... Havia ganhado uma nova ferramenta para conquistar Laerte e sumir de Goiás.

O dia seguinte começou bem. Gritos, briga, tumulto. Laerte havia aparecido no colégio atrás de Helena, como não raro acontecia. Como sempre, a grande maioria dos alunos parava para assistir a mais um pequeno espetáculo de Helena Fernandes e seu namorado possessivo. Alguns professores cogitavam marcar reuniões com os pais da adolescente acerca de seu relacionamento pouco saudável, outros cogitavam suspendê-la caso Laerte aparecesse mais uma vez no colégio. O burburinho que ressoava da curiosidade de pequenos e frequentes grupos de jovens à volta do casal tomava conta do ambiente, ao que Shirley observava, sádica e venenosa predadora à espera do momento propício para dar o bote. Normalmente esperaria próxima ao portão, a postos para consolá-lo quando saísse em um rompante de fúria colégio afora. Dias e mais dias e havia apenas conseguido olhares de furiosa indiferença vindos de Laerte. Aquele dia seria diferente.

Avistou os cachos emaranhados pela mão de quem já havia se cansado da cena. As mechas cobriam olhos já cansados da indiferença da irmã a cada vez que a abordavam sobre a loucura do flautista. Felipe claramente se sentia impotente, ponderou. Perfeito.

– Ei. – Aproximou-se com voz mansa.

– Você deve estar feliz... – Respondeu irritado.

– Você também deveria...

Ao olhar confuso de Felipe, Shirley explicou:

– Quanto mais frágil a relação entre eles, mais provável que terminem e mais rápido sua irmã fica livre do Laerte.

– Eu quero a minha irmã bem, com ou sem Laerte. Ela não está bem. Satisfeita?

– Quase... – Respondeu sugestiva, passando o dedo pelo ombro firme de Felipe.

– Vai me beijar na frente dos amigos, miss Esperança? Acho que vai pegar mal pra reputação de vossa alteza.

– Deus, não! – Tremeu a cabeça com nojo. – Eu tenho uma proposta pra você.

Afastaram-se, escondidos pelos pilares.

– Eu não quero nada de você, Shirley! Só me esquece!

– Eu te perturbo tanto assim? – Sorriu vitoriosa, seu olhar sombrio.

– Qual é, Shirley, me deixa em paz.

– Até parece que sou eu que vou atrás de você... – Comentou irônica.

– Pra mim chega, ok? Eu não vou me render a esse seu sorriso perverso! Eu tenho objetivos, eu tenho uma vida e não preciso sucumbir a uma cobra por sexo. Ok, por alguns beijos. – Acrescentou rapidamente ao perceber o olhar irônico da loira.

– Felipinho, eu esperava que você ao menos valorizasse os nossos antigos anos de amizade... – Lamentou falsamente, ainda que a frase trouxesse uma verdade disfarçada à tona. Realmente lhe feria o desprezo do nerd, só não sabia explicar, ou aceitar, o porquê.

– O sinal já vai tocar, fala logo o que você quer. – Pediu com pressa, concentrado em seu relógio de pulso.

– Ok, a questão é a seguinte. – Inspirou. Expirou. Perto do garoto, o perigo de sua tão bem construída fachada desmoronar era quase inevitável. – Você quer a sua irmã feliz, não quer? E você não aguenta mais vê-los sofrer, aguenta?

– Desde quando você se importa? – Perguntou com desprezo.

– Cala a boca e me escuta! – Interrompeu impaciente. – Eu quero que você me ajude a separar a Helena do Laerte. Eu conquisto o homem da minha vida, você se livra de mim, a sua irmã fica livre do Laerte e todo mundo fica feliz, que tal? Ou você é impotente até pra ajudar a sua irmã e a si de uma vez só?

A proposta pegou Felipe de surpresa. Embora soubesse das intenções de Shirley de separar o casal, não esperava que lhe abrisse o jogo, muito menos que lhe pedisse ajuda. Estava tão desesperada? E por que ainda lhe incomodava tanto a paixonite da loira por Laerte se, mais do que nunca, o queria longe da irmã? Não aguentava mais as brigas, tampouco suportava ver sua irmã escondendo roxos e controlando enxurradas de sentimentos que a martirizavam. Ainda assim, como poderia se unir à rival de Helena a suas costas e, pior, tentar de alguma maneira forçar que o namorado a abandonasse? Pior: queria fugir de Shirley, não se aproximar ainda mais.

– Você não presta! Está completamente maluca!

– Talvez por isso eu combine tanto com o Laerte... – Apontou com um sorriso.

– Eu não desejo nem a ele uma cobra como você. - Virou-lhe as costas pronto para partir rumo à sala de aula.

Shirley voltou-o para si determinada, segurando seus braços com força por volta de seu corpo.

– Mas você me deseja. – Sussurrou insinuante. – Você me deseja e faria qualquer coisa que eu pedisse com jeitinho... – Passou a mão do nerd por sua coxa, segurando-a firmemente onde estava, alguma dezena de centímetro por dentro de sua saia. – E se com a ajuda viesse, além da felicidade da sua irmã, uma recompensa à qual você tanto está resistindo? Você não tem que resistir, Felipe, não há mal nenhum em desejar alguém... – Abraçou-o aos poucos, a boca estando à altura de sua orelha. – Basta querer... Basta aceitar a minha proposta. Uma noite e você vai estar livre de mim pra sempre.

Felipe agradeceu imensuravelmente por estar sóbrio. Sob outras circunstâncias não teria resistido. Ainda que sem álcool em seu corpo, passados dois minutos não se lembrava mais de como havia conseguido se desvencilhar da loira, soltar a mão de sua perna, afastado seus braços, corrido para a aula de biologia. Corpo humano. Por que logo corpo humano? Ainda sentia cada pelo arrepiado, cada célula em choque pelo toque de Shirley. Não sabia como escapara, sabia apenas que a proposta ainda ecoava em sua mente, sobrepondo-se à voz do professor de que tanto gostava.

–$-

– O que você queria com aquele perdedor? – Perguntou Fred.

– Desde quando você anda com a escória, Shirley? – Uma amiga cobrou.

– Do que vocês tanto falavam que precisavam estar tão próximos? – Fred continuou.

– Fred, ter ciúme da escola inteira eu até acho fofo, mas do Felipe é ofensivo! Eu tava só implicando com ele. Sei lá, é divertido ver aquele cdf todo perturbado pela briga da irmã.

– Ah, é? Então nos explica porque vocês sumiram logo depois? Olha lá, hein, Shirley?

– Quem você pensa que eu sou, amiga?

– Alguém que não mente tão bem quanto pensa.

– Ok, você me pegou. – Tentou pensar em uma desculpa o quão rápido pôde. – Eu... Eu tô atrasada em biologia e queria a ajuda do Fe- dele. Satisfeitos? Eu só não queria que me vissem com aquele idiota por muito tempo.

– Certo... – Rafaela respondeu.

Havia visto certo? Não, Shirley jamais sentiria algo por Felipe, havia sido impressão, pura impressão. A loira logo voltou a criticá-lo convincentemente, apagando momentaneamente as suspeitas de Rafaela.

De longe, Felipe observava o grupo. Ao vê-los rir com malícia, sabia que havia feito a escolha certa ao negar o pedido de Shirley. Estava acostumado a servir de alvo do grupo, a ser julgado por um grupo de semi-evoluídos que sequer o conheciam. A risada cruel de Shirley já lhe era conhecida, assim como os olhares de desprezo de seus amigos. Não o incomodavam os ataques do grupo, nem as palavras por suas costas, mas não poderia envolver Helena. Que a irmã decidisse seu futuro. Não se uniria a quem mais queria prejudicá-la.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e a história entrou em sua trama principal.