Álcool, Shirley e rock n' roll escrita por AnaMM


Capítulo 4
O Efeito Felipe


Notas iniciais do capítulo

A participação deles acabou, mas continua na fic ;)



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Antes que Felipe pudesse sair de onde estava, Shirley estava à sua frente.

–Ei, covarde, tá se escondendo do que?

– Eu não estou me escondendo. – O irmão de Helena respondeu com nervosismo embargando a voz.

– Bom, eu vou me retirar antes que a cena daquele dia se repita. – Clara anunciou.

– Não vai acontecer nada. – Felipe assegurou.

– Nada enquanto você estiver sóbrio! – Divertiu-se Shirley.

O nerd entrou em defensiva, incomodado. Clara se dirigiu ao sofá onde estava sua irmã, que estava alheia à cena.

–Você fala como se eu fosse um alcoólatra. – Felipe percebeu.

– E não é? – Shirley desafiou.

– Não. Eu bebo tanto quanto o seu queridinho.

– O meu queridinho? – Shirley riu.

– O Laerte.

– Você vai continuar insistindo que eu gosto do namorado da minha melhor amiga?

– Só se você continuar jogando charme pro namorado da sua melhor amiga.

– Você anda bebendo demais, Felipe. Faz mal.

Irritado, o nerd a segurou pela mão.

–O que você tá fazendo aqui, hein? Veio só pra rir da minha cara? Pra me chamar de bêbado, de louco? – Felipe perguntou transtornado.

– Eu estava indo ao banheiro retocar a maquiagem, miss perseguida. – Shirley debochou.

– Vou te mostrar a miss! – O garoto respondeu a empurrando contra a parede.

– Vai me beijar de novo? – A miss desafiou.

– Não. Eu não estou nem bêbado, nem louco.

Shirley sorriu. O que acontecia com os homens de Esperança? Laerte a rejeitava, e, agora, até o nerd bêbado a esnobava. Com Laerte entendia. O músico era obcecado por Helena. Já Felipe... Se tivesse uma chance com uma miss como Shirley Soares, estaria no lucro. Talvez precisasse lembrá-lo do que estava perdendo. Sem meias palavras, foi a sua vez de beijá-lo contra a parede que os escondia da sala. Silenciosamente, para que ninguém em Esperança soubesse que Shirley Soares estava beijando um cdf patético como Felipe Fernandes. Agora, sóbrio, veria o que estava esnobando. Duvidava que Felipe soubesse o que era beijar conscientemente uma mulher.

Pego de surpresa, o garoto gentilmente a segurou pela cintura. A camisa de xadrez da miss estava levemente acima da saia, causando o encontro da mão de Felipe com sua pele. Sentia-se em outra órbita. Nenhuma explicação lógica previa a sensação de seus dedos explorando a cintura de Shirley.

E então, como começou, parou. A miss o deixou boquiaberto no corredor e voltou para sua rota inicial, enquanto Felipe tentava recobrar os sentidos.

No banheiro, Shirley lavou o rosto com urgência. Não podia estar atraída pelo irmão cdf de Helena. O beijo era uma afronta, uma provocação a Felipe, não a si. Era para o garoto estar mexido com o ocorrido, não ela.

–Você demorou. – Helena estranhou.

– Eu não tava me sentindo bem, desculpa.

– Sei... – Clara desconfiou. – Muitas emoções a caminho do banheiro?

– Do que você tá falando? – A irmã mais velha questionou confusa.

– De nada. Ela não tá falando de nada. – Tentou se concentrar na negação, enquanto Felipe atravessava a sala. – Eu acho que vou embora, a minha mãe falou que tinha um presente pra mim. Com licença.

Da porta da cozinha, Felipe a viu partir. Sentiu-se aliviado. A presença de Shirley o deixava desconfortável em sua própria casa. Revistou os armários. Precisava renovar seu estoque, ou enlouqueceria.

–x-

– Você tem notado o Felipe meio estranho ultimamente?

– Ele sempre foi estranho, Helena. – Clara ironizou.

– Verdade! – A mais velha riu. – Só que eu tenho notado ele mais tenso. Ele não brinca como antes, parece estar sempre atormentado com alguma coisa.

Clara pensou melhor. Analisando os últimos dias, Helena tinha razão. Desde que vira o irmão beijando Shirley, algo havia mudado. Felipe parecia transtornado, preocupado. Não era mais o nerd focado nos estudos de antes. Mesmo quando o via se sentar para estudar, parecia estar com a cabeça longe, com dificuldades de concentração. Poderia concluir que Felipe estava aéreo por estar gostando de Shirley. O comportamento do irmão, no entanto, não lembrava em nada o de um romântico apaixonado. O que estava acontecendo parecia consumi-lo, como se tivesse raiva do que sentia. Os pais reclamavam de certas bebidas sumindo da despensa. Também sabia que Felipe andava bebendo não mais apenas em festas, como também em casa, diariamente.

–Ele deve estar preocupado com as provas, só isso. – Clara assegurou.

Apressado, Felipe passou pelas irmãs sem uma palavra.

–Lá vai ele... Parece até que a Shirley viu ele nu, pra terem saído os dois desse jeito, um depois do outro. – Zombou Helena.

Não sabendo como responder à irmã, Clara simplesmente riu. Felipe a mataria se contasse o quão perto da verdade a irmã estava. Mudaram de assunto, ainda que Helena continuasse curiosa.

Felipe seguiu pelas ruas em direção ao boteco onde conseguia suas garrafas. Não eram muitos que vendiam a um menor. Deste, Felipe era freguês. Não sabia se era do conhecimento de Shirley que o único filho homem de Chica comprava no exato bar onde estava, porém foi exatamente onde a encontrou. Em frente ao único lugar onde procurava paz, falando com Laerte. Irritada com o que sentira com o beijo em Felipe, Shirley sorriu ao vê-lo se aproximar. Era tão previsível... Distraiu Laerte o suficiente para deixá-lo desprevenido, esperando ter certeza de que o irmão de Helena olhava em sua direção. Beijou-o. Pego de surpresa, o namorado de sua melhor amiga se afastou rapidamente, irritado, xingando-a como podia.

De longe, Helena e Clara assistiam à cena. A mais velha ria da reação de Laerte. Não poderia dizer que não desconfiava de sua amiga. Agora, graças à preocupação por seu irmão, tinha certeza de que a loira não era confiável. Divertida, aproximou-se do trio.

–Que chato, Shirley! Você finalmente tem a chance de beijar o meu namorado e ele te dá um fora desses? Não sei não, viu? Acho que a sorte não está do seu lado. – Helena zombou.

– Não falei? – Felipe sorriu, embora estivesse inexplicavelmente incomodado pelo que vira.

– Cala a boca, nerd! – Shirley retrucou.

– Vem calar! Você adora, né? – O nerd riu.

Helena já não prestava atenção nos dois. Brigava com Laerte.

–Você me paga! – Shirley ameaçou.

–Eu nem sabia que a Helena tava atrás de mim, se você quer saber, mas bem feito!

– Seu bêbado imbecil! – A loira tentou atacá-lo fisicamente, sendo parada pelos braços de Felipe.

– Felipe, você quer fazer o favor de parar de atiçar essa cobra? Daqui a pouco vocês acabam se beijando de novo e você se envenena. – Clara recomendou.

Incomodada com as palavras de Clara, Shirley não via outra ação a tomar. Beijou Felipe novamente. Apesar da irmã, o garoto não conseguiu resistir, retribuindo o beijo por um instante. Antes que o beijo se aprofundasse, no entanto, a miss se afastou.

–Pronto. Agora além de bêbado, o seu irmão também está envenenado. E olha que bom: soro antiofídico não leva álcool. – Ironizou.

Dificilmente recuperaria a confiança de Helena, ou de Laerte, mas tinha Felipe em suas mãos. Seria a chave para conseguir roubar o namorado da ex-melhor amiga. Convencendo-se de que o beijo no nerd fora apenas uma manobra, Shirley seguiu para sua casa, ainda tensa. Sua adrenalina era resultado do flagra de Helena e do fora de Laerte, não do beijo em Felipe. Nunca de Felipe. Odiava-o cada vez mais. Patético, perdedor, cdf, nerd, empata, bêbado... E odiava bêbados. Aguentar um em casa todos os dias já era castigo suficiente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e, por favor, dêem retorno pra que eu saiba o que vocês acham que falta, no que eu preciso melhorar, o que vocês querem ver, o que vocês gostaram e estão gostando na fic... Pode não parecer grande coisa, mas os comentários de vocês são muito importantes.