Love is Redemption escrita por fairylady N


Capítulo 2
More Than You Think


Notas iniciais do capítulo

Está aí o segundo capítulo! Sem mais delongas, eu falo mais nas notas finais, pra quem chegar até lá HAHAHAHA ;D



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O Parque Estadual de Empire-Fulton Ferry ficava à uma distância razoavelmente curta de seu apartamento. Após vinte minutos caminhando com Regina, lá estavam elas; ambas em silêncio, apoiadas na barra de ferro com os olhos voltados na direção do rio East, próximas à monumental Ponte do Brooklyn. Emma não sabia se este era o destino inicial que Regina tinha em mente, ou se haviam ido parar ali por acaso. Emma na verdade não sabia mais nada a não ser o nome da mulher, que havia se apresentado na escadaria de seu apartamento.

Depois disso, fora como se Regina tivesse entrado em uma bolha e ignorado sua presença durante toda a caminhada, mantendo na maior parte do tempo seu olhar distante, com um leve ar de admiração em tudo ao seu redor. Tudo exceto Emma. Ela nem sequer fazia contato visual com ela a não ser quando apontava a direção que iriam, ou quais ruas atravessariam.

No começo isso a irritou. Emma várias vezes se viu mordendo os próprios lábios com força para impedir que perguntas inquietas escapassem por sua boca. Não queria passar a impressão de estar ansiosa sobre a história, isso porque a própria Emma negava o fato para si mesma. Estar ali com Regina foi uma decisão impulsiva e sem motivos, que ela sabia que provavelmente se arrependeria em algum momento depois de ter tomado. No entanto, enquanto esse momento não chegava ela aproveitou para obter mais informações sobre a morena misteriosa, da sua própria maneira.

Várias vezes, se Regina ao menos tivesse se dado o trabalho de olhar para ela, a morena veria Emma lhe espiando pelo canto do olho. Regina poderia parecer comum, vestia vestes comuns, mas era só olhar com mais atenção que Emma poderia ter certeza que não era nada comum. Primeiro havia seu olhar, e Emma estaria sendo uma maldita hipócrita se não admitisse que havia certo poder neles. Ela mesma se sentira influenciada pelas íris castanhas, quando resolveu desligar o telefone ao invés de ligar para a polícia, como seria o certo, e o mais racional a se fazer. No entanto, não era só isso.

Havia uma fluidez instigante em seu andar, algo nobre. Regina poderia se vestir como uma mendiga e ainda assim pareceria alguém importante, com sua postura impecável e um ar imponente, como se nada pudesse lhe atingir ou intimidar. Um andar de rainha. Emma ponderou se talvez foi isso que a impediu de abandonar Regina em sua caminhada silenciosa, manda-la para o inferno com seu papo esquisito... Manda-la para o inferno duas vezes por seu silencio que só deixava Emma mais inquieta, e voltado para sua casa.

Seus gestos também pareciam ensaiados. A maneira como virava a cabeça para olhar o semáforo, ou a maneira como seu lábio vermelho se comprimia devido ao vento gelado que castigava seu rosto, tudo era feito com uma magnificência tão minuciosa que Emma não pode deixar de lembrar-se da família real inglesa em suas aparições na televisão. Isso só lhe rendeu mais alguns minutos em uma ocupação divertida, imaginando Regina e sua família de alguma forma membros da realeza.

Talvez ela fosse uma prima distante do príncipe William, sobrinha de algum grau da rainha, pensou divertida. Mas sua imaginação durou pouco, pois logo que ela parava para pensar em sí mesma – As mãos enfiadas de qualquer jeito nos bolsos das jaquetas, seu andar pesado sem o menor resquício de graça, e a maneira frequente com a qual ela estava tropeçando e caindo sobre as coisas – Emma tinha certeza que não havia nada de real nela. Fosse quem fosse Regina não era de sua família, ou mesmo que fosse o gene de sua distinção havia pulado sua geração. Talvez Henry pudesse ter herdado um pouco disso...

– Nunca estive em NY antes. – Regina disse sem olhá-la. Emma foi surpreendida, e logo tratou de desviar o olhar da mulher que ela agora fitava descaradamente. Emma soltou um som desconfortável, e ainda tentou manter a compostura antes de lhe responder:

– Está gostando?

– É verdadeiramente grande e bonita, mas eu realmente sinto falta da minha cidade. – Emma continuou em silêncio lhe dando espaço para continuar – Era bem menor que essa, bem mais calma e bem menos barulhenta. Sabe desde sempre as pessoas tem essa adoração por cidades grandes, sempre querendo ficar perto do centro, antes das cortes reais... Já estive em tantos lugares e no fim não achei nenhum lugar melhor pra se viver do que uma pacata e amigável cidade minúscula.

Regina tinha adquirido um ar nostálgico enquanto falava. Mesmo sem olha-la Emma podia imaginar sua postura imponente abandona-la, e não esperava o efeito que isso causou em si mesma. Por mais que mal conhecesse a mulher, ver Regina perder um pouco de seu “brilho” a afetou; Emma se viu mais uma vez com o telefone na mão prestes a ligar para a policia, e se sentiu mais culpada do que nunca. Espantou estes pensamentos de sua cabeça, e voltou ao assunto que lhe interessava, que a havia trazido até ali:

– Eles estão lá? – Isto fez Regina virar seu rosto em sua direção, e encará-la. – Minha família... Eles são dessa cidade também?

Regina esboçou um sorriso tão triste, que Emma jurava que podia sentir sua tristeza também. Depois acenou positivamente com a cabeça, desviando seu olhar para baixo, antes de se virar e apoiar a bolsa enorme que levava consigo, na grade. De lá de dentro tirou um saco de veludo vermelho, no formato retangular e entregou para Emma sem lhe dizer nada.

– O que é isto? – Perguntou recebendo o saco nas mãos. Seu coração batia acelerado, e as mãos tremiam levemente. Uma vida toda em busca de respostas que agora estavam ali, entregues simplesmente em suas mãos por aquela mulher estranha.

– Isto vai lhe contar tudo sobre sua família, sobre quem você é.

Emma mordeu o lábio inferior com tanta força, como sempre fazia quando ficava nervosa. Passou as mãos pelo veludo, sentindo a textura macia como se isso fosse lhe acalmar de alguma forma. Suas pernas tremiam, e lágrimas acumularam-se em seus olhos antes que ela se desse conta. Precisou de um enorme autocontrole para não deixá-las cair.

Ao ver o olhar bem fixo de Regina sobre si, ela se afastou andando até o banco de madeira mais próximo, e sentou-se com o pacote ainda em suas mãos. Desfez o laço feito com barbante dourado que fechava o embrulho, depois lentamente, deslizou o tecido vermelho sobre o objeto, prendendo a respiração quando o objeto foi completamente revelado.

Once Upon a Time estava desenhado letras artísticas na capa dura e grossa do grande livro à sua frente. Emma franziu as sobrancelhas em confusão, seus dedos se apertavam em volta do objeto como garras de um predador em volta de sua presa. Emma olhou para Regina, que encostara as costas na grade, olhando em sua direção com expectativa.

Emma parou por um momento e tomou um longo suspiro, tentando acalmar os sentimentos agitados em sua cabeça. Provavelmente era algum álbum de família, com fotos de rostos que ela sempre buscara, mas não conhecia. Aquelas pessoas com as quais ela tinha sonhado tantas vezes, por quem ela rezara tantas vezes, e para quais ela tinha tantas perguntas, tantas angústias e mágoas e ela nem ao menos sabiam como eram. Perguntava-se se ela teria irmãos, primos, tios, avós... Um a família inteira que ela nunca faria parte realmente.

Emma vacilou por um momento, com vontade de devolver o livro a Regina, e correr de volta para sua casa e tentaria esquecer que aquilo havia realmente acontecido, para a vida que ela realmente tinha e não todas as coisas que poderia ter tido. Mas então com uma pontada aguda de coragem, ela abriu a capa antes que pudesse se arrepender.

– O-oque...? – Disse folheando rapidamente as inúmeras páginas, contendo apenas histórias e mais histórias de conto infantis. Virou o livro esperando que alguma foto, ou qualquer carta caísse, mas nada aconteceu. Era realmente apenas um simples livro de conto de fadas.

Olhou para Regina e pela primeira vez durante o dia sentiu-se realmente brava com a mulher. Regina poderia ter lhe ignorado em sua caminhada, e até dito aquela história estranha enquanto estava postada por um longo tempo em sua porta, mas ela definitivamente não tinha o direito de brincar com uma coisa dessas. Não quando Emma havia lhe dado tanto crédito ao ponto de segui-la as cegas. Emma se sentiu uma idiota por fazer aquilo. Sentiu-se ainda mais idiota em perceber que estava começando a gostar da companhia daquela mulher estranha.

– Muito engraçado. – Disse com um sorriso ressentido.

– Não é pra ser engraçado, Miss Swan. – Regina se adiantou parando à alguns centímetros em sua frente, Emma teve que olhar para cima de onde estava sentada para encará-la.

– Um livro de histórias infantis? Francamente, Regina eu sei que mal nos conhecemos, mas eu não esperava uma coisa dessas de você.

– Não são histórias infantis! São nossas histórias... A sua história. – Disse, se sentando ao seu lado no banco. Emma apenas esperou ouvindo aquilo de boca aberta, sem saber como reagir àquilo. Regina aproveitou seu estado, para abrir novamente o livro repousado em seu colo, e abrindo numa página ilustrada.

– Aqui. –Disse apontando para a figura de uma mulher morena com um longo vestido branco clássico e armado, ao seu lado um homem vestido de maneira igualmente clássica e espada embainhada. – Estes são seus pais.

Emma olhou para as figuras, e deu um suspiro exasperado. Então na página seguinte procurou na história a identidade dos personagens que Regina apontava com convicção. A capacidade de fingir era mais uma coisa para ser adicionada na sua lista de características admiráveis. Mesmo para Emma, que conseguia facilmente distinguir uma mentira, ela parecia bem convincente.

– Snow White? Meus pais são Snow White e Príncipe Charming?! – Disse incrédula. – Sério, você tem noção do que você está falando?

– Sei que parece um absurdo, mas não é. É a verdade!!! Você só não consegue se lembrar, por causa da maldição...

– DA O QUÊ????!

– A maldição que destruiu Storybrooke e apagou suas memórias, é por isso que você não se lembra de nada do que aconteceu...

– Espera aí! Tempo! Tempo! – Disse gesticulando as mãos na direção de Regina, que em resposta deu um longo suspiro cansado e concordou com um aceno se calando. Emma encarou seus olhos, não vendo nenhum sinal de brincadeira neles. Ela estava com uma seriedade tão real quanto estava em sua porta quando se encaravam à centímetros de distância. Seja lá qual fosse a besteira que estava falando, Regina acreditava completamente nisso.

– Olha eu... - Disse se levantando, pronta para ir para casa. Aquilo já havia ido longe demais; e por mais que a companhia de Regina fosse agradável, e Emma percebeu que se sentisse menos só quando estava com ela, não havia mais nada o que poderia fazer ali. – Eu acho melhor eu ir andando...

Antes que se desse conta sentiu mais uma vez naquele dia a mão de Regina fechar-se em volta de seu braço; desta vez seu pulso foi segurado com firmeza, e novamente seu olhar teve o efeito de lhe prender à ela.

– Por favor, escute o que eu tenho pra lhe dizer. Só escute... Você não faz ideia do que estamos lidando, todos nós. – Se não fosse todo seu ar grandioso, Emma poderia até pensar que havia um modesto tom de súplica em suas palavras. – Emma, por favor...

Emma se sentou se amaldiçoando mais uma vez por ceder aos pedidos daquela mulher mesmo que tudo lhe dissesse para não fazê-lo. E lá ela ficou absorvendo cada palavra sua sobre uma história absurda que a cada momento parecia menos provável ser verídica. Regina lhe contou vagamente sobre Storybrooke, uma cidade criada por uma maldição, onde todos os habitantes eram personagens de contos de fadas, mas haviam se esquecido de suas reais identidades... e por aí foi.

Ela incluiu até mesmo Henry na história, dizendo vagamente como havia sido ele que havia guiado ela – a própria Emma – para quebrar a maldição, e razer de volta as memórias perdidas dos habitantes. Até mesmo para uma história inventada notara que Regina havia sido vaga em algumas partes, Emma teve vontade de saber mais, por exemplo, como Henry havia a encontrado. Quer dizer, ele era seu filho... Porque estariam separados, pra começar? Não! Ela não deveria pensar sobre isso, sobre nada disso. Era tudo uma mentira! Uma história, uma boa história, mas isso não fazia se tornar menos impossível.

– Ok, supondo que eu acreditasse nessa sua história. O que eu não faço, mas... Quem seria você no livro? – Perguntou curiosa, depois de ouvir tudo o que aparentemente Regina tinha pra lhe falar.

– Eu? – Regina mais uma vez folheou o livro, encontrando a página onde uma figura de uma mulher de longos cabelos escuros encarava Emma, vestes elegantes e um olhar maldoso em sua expressão. Emma tinha que admitir que o ilustrador, fosse quem fosse, era bom. A Rainha Má estampada era até que semelhante com Regina, mesmo com toda a vestimenta berrante, e cabelos compridos.

– A Rainha Má? – Emma perguntou e Regina concordou parecendo um pouco envergonhada do fato. – Se você fosse mesmo a rainha má por que estaria aqui tentando... Sei lá.

– Muitas coisas mudaram, Miss. Swan. Henry foi o responsável por boa parte da minha mudança desde que você quebrou minha maldição. – Disse ela com um leve resquício de sorriso em seu rosto quando falava o nome de seu filho.

– Sua maldição? Então foi você que ferrou com a vida de todo mundo? – Perguntou Emma sem julgamento em sua voz, apenas curiosidade.

– Eu estava tão cega de ódio e infeliz... Era tudo o que eu tinha Miss. Swan, era a única coisa que eu achava que existia para mim até... Até Henry aparecer, e me provar o quanto eu poderia amar, e quanta felicidade isso poderia me trazer. Abrir mão disso só me fez confirmar tudo o que eu aprendi.

– Então, nesta sua história em que você lançou essa maldição, e então depois quebrou a maldição que apagou minhas memórias e do meu filho. – Emma prosseguiu se lembrando da história que havia sido contada por Regina.

Ela sabia que já deveria ter dado um basta em tudo aquilo, não acreditava nem vagamente naquilo, em nada daquilo. Era como o horóscopo, concluiu Emma. Nunca acreditou em realmente nada daquilo, mas de vez em quando se via olhando seu próprio signo, em busca de coincidências. Com Regina era a mesma coisa. Seria uma boa história para se lembrar e rir depois.

– Então por que você está aqui?

– Bom algo terrível aconteceu quando voltamos à nossa terra, após o fim da maldição. – Regina olhou reflexivamente para o chão, dedos entrelaçados. – Uma nova bruxa, Elphaba, veio de uma terra distante querendo dominar Floresta Encantada. Não só isso, ela quer escravizar todos nós, e se proclamar como governante suprema de lá. E você é a única que pode nos ajudar, Emma.

– Eu? Ah, sim porque eu sou a grande salvadora, e é meu destino salvar a todos? – Emma riu quando Regina concordou. Era tudo muito previsível, no fim das contas. Clichês, e mais clichês...

– Eu sou a salvadora, meus pais são Snow White e Príncipe Charming... Alguma chance do meu primo ser Harry Potter? – Perguntou Emma debochadamente.

– O que? – Regina franziu as sobrancelhas para ela, claramente não entendendo o humor através de suas palavras.

– Oh, não? Talvez tenha algum anel... “Um anel para todos governar”*– Disse mais uma vez acompanhado de uma risada.

Regina a encarou por um momento, antes de perceber que a loira estava brincando com sua cara. Depois revirou os olhos de maneira irritada, e soltou um suspiro impaciente, que Emma jurava que não era a primeira vez que via aquela expressão.

– Miss. Swan, está sendo infantil...

– EU ESTOU SENDO INFANTIL?! – Respondeu incapaz de acreditar no que tinha acabado de ouvir. - Você vem até aqui, com toda essa história de contos de fadas e maldições e eu que estou sendo infantil?

– Você acha que tudo isso é fácil pra mim, também?! – Respondeu erguendo a voz, se pondo de pé em frente da própria Emma que inconscientemente havia se levantado enquanto falava – Por que eu inventaria uma história como essa, Miss Swan?

– Eu não sei, me diga você. Talvez porque é uma louca de pedra que nem seu amigo... Quem é ele, mesmo?

– Capitão Killian Jones. – Disse, e ao notar que Emma não havia lhe reconhecido, completou: - Hook.

– Ah, claro. Claro que é. – Disse entre outra risada incapaz de controlar.

– Miss. Swan pode colocar quantas ironias quiser o meio desta história, isto não vai fazer dela menos verdadeira. – Regina havia levantado a voz, e gesticulava abertamente os braços enquanto falava. Pelo jeito Emma havia ultrapassado sua paciência, novamente. - Eu não estaria aqui se tivesse outra escolha, mas não tenho. Você querendo ou não acreditar, Elphaba está atrás de você e de Henry, e precisamos fazer alguma coisa antes que ela ache vocês dois!

– Como você conhece meu filho? – Perguntou seriamente, finalmente alguma coisa que fazia sentido em toda aquela porcaria de história. Sim, pois a história poderia ser toda falsa, mas Regina certamente conhecia Henry. Não só isso, mas notava toda afeição que ela parecia ter sobre seu filho. – Como você sabe tanto sobre ele?

– Eu... Eu... – Regina pareceu desestabilizada, por um momento. Emma teve que se inclinar para ouvir suas próximas palavras:

– Porque eu sou a mãe dele.

– O que?! – Emma pensou ter entendido errado, mas quando Regina repetiu suas palavras com mais firmeza, Emma teve certeza de que estava ouvindo realmente isso. – Vai me dizer que nessa sua história aí eu e você... Você sabe... Nós... – Disse apontando de uma para a outra incapaz de concluir seu pensamento. Pensar em Regina daquele modo, mesmo que hipoteticamente a fazia sentir um estranho nó no estômago de constrangimento.

– Não! De jeito nenhum! – Respondeu rapidamente, parecendo tão constrangida quanto ela. – Isso seria ridículo, sem a menor chance disso...

Depois disso foi muito mais difícil encarar Regina. O olhar que tentaram encontrar foi abandonado por ambas, que desviaram o olhar, para o rio no caso de Regina, ou para os próprios pés, como Emma. Uma tensão estranha parecia ter se estabelecido entre elas, mais uma coisa que Emma não conseguiu entender. Havia sido só uma brincadeira...

– Então como Henry pode ser seu filho também? – Perguntou quebrando o silêncio deixado pelo constrangimento inicial. Regina demorou mais alguns segundos encarando o rio, então quando virou-se para Emma novamente e lhe respondeu.

– Porque eu o adotei. Quando ele era um bebê... Quando você...

– Não. – Disse Emma simplesmente, sentindo sua última grama de paciência se esgotar. Sabia do que Regina estava falando, ela não precisava nem terminar. Assim como sabia que aquilo já tinha ido longe demais. – Você não sabe do que está falando!

– Emma, me desculpe... Eu não queria te contar isso desse jeito... Mas, mas você não me deixou escolha! – Regina parecia realmente lamentar, mas até ali Emma já não se importava com nada mais que Regina falasse.

Já fazia muito tempo desde aquilo, e mesmo assim ainda era como uma ferida aberta, para Emma. Por mais que não tivesse feito, por mais havia escolhido fazer a coisa certa, a culpa ainda a assombrava tão presente como o fantasma de seu próprio abandono. Ela havia sido fraca e covarde; a lembrança de que quase desistira de seu próprio filho parecia estrangulá-la, tornando quase impossível respirar. Não sabia como Regina sabia disso, na verdade, decidiu que não queria saber mais nada sobre Regina.

– Emma, por favor...

– CALA BOCA! – Gritou descontando um pouco da raiva que sentia de si mesma sobre Regina. Não tinha sentido, mas pensando bem, nada daquilo fazia sentido. –Você não pode chegar aqui e falando o que é ou não real na minha vida! Você não sabe nada!

– Eu sei muito mais sobre você, do que você mesma.

– Eu não quero ouvir mais nada. Isso não importa, isso não aconteceu. Eu não abandonei meu filho! – Disse mais para si mesma do que para a mulher. – Isso que você disse... Tudo o que você disse é mentira!

– Se é como eu saberia dessas coisas todas? – perguntou Regina tentando soar calma, mas Emma conseguia notar a mulher quase tão nervosa quanto ela. – Como eu saberia que Henry começou a andar quando tinha só oito meses? Ou... Quando ele tinha três anos, quando ele estragou um tapete de couro inteiro com tinta verde, e eu... Você não foi capaz de brigar nem um pouquinho com ele, porque ele abriu aquele sorriso, que sabia que era impossível que eu ficasse brava com ele.

A mulher sorria quando terminou de falar, o mesmo sorriso terno maternal que já havia expressado quando falara de Henry, anteriormente.

– Como você...? – Emma disse as lágrimas ardiam em seus olhos. Aquelas lembranças... Como era possível? Ela mesma tinha uma lembrança vaga e fugaz sobre essas coisas, quase como se elas houvessem sido apagadas o que deixava as lembranças de Emma confusas; Como aquela mulher poderia estar descrevendo suas lembranças com seu filho quando Emma nunca tinha falado para ninguém? Quando a própria Emma tinha certa dificuldade em se lembrar sobre elas?

– Porque quem viveu estas lembranças fui eu, Miss. Swan. Todas as lembranças que tem de Henry até o ano passado... Eu as dei para você, para que você e ele tivessem uma vida boa e feliz. Eu o amo tanto...

– Não! – Negou com a cabeça. Passou a mão exasperadamente pelos cabelos aproveitando para afastar as lágrimas cada vez mais abundantes que acumulavam em seus olhos.

Aquilo não era possível. Não podia ser. Ela nunca tinha abandonado seu filho... Henry era tudo para ela, tudo o que ela tinha. A única coisa que havia feito de certo em sua vida inteira. Porque deveria escutar aquela mulher, afinal? Era só mais uma louca falando mil coisas sem sentido, como contos de fadas... Não devia lhe dar ouvidos. Devia ter ligado para a polícia, e evitado toda aquela confusão.

– Sei que tudo isso parece difícil de aceitar. – Regina tentou dizer de maneira calma e devagar, em uma tentativa visível de acalmar uma Emma perturbada que ela deveria estar aparentando. – Mas é importante que você acredite, tente se lembrar... Você está correndo perigo, meu filho corr...

– MEU FILHO! – Gritou Emma na cara da mulher, no ápice de seu descontrole. Regina arregalou os olhos um tanto quanto surpresa com sua explosão. Emma não a culpava, ela mesma estava surpresa com seu instinto maternal protetor.

– Nosso filho. – Respondeu a morena, da mesma maneira calma, ao mesmo tempo em que Emma sentiu uma única lágrima teimosa escorreu por sua bochecha. Emma não respondeu, não se sentia capaz de fazê-lo. Não naquele momento.

Ela e Regina apenas ficaram naquela troca de olhares tão profunda, tão companheira. Emma não conseguia odiá-la. Mesmo que quisesse, mesmo que devesse depois de tudo o que a mulher havia falado, todas as lembranças e dúvidas que Emma gostaria de ter esquecido. Por mais que Regina deveria ser encarada como uma louca, uma inimiga, ou uma mentirosa, Emma se sentia menos só encarando aquele olhar tão cheio de segredos, tão expressivo...

Antes que alguma coisa pudesse ser dita, a loira sentiu algo vibrar no bolso do jeans. Logo o toque de seu telefone despertou-as ambas daquele momento, fazendo Emma voltar sua atenção para o celular enquanto Regina andou alguns passos em direção à grade que lhe dava uma visão direta sobre o rio East.

– Alô. – Atendeu o número desconhecido, tentando manter sua voz sobre controle. Do outro lado da linha uma voz feminina se identificou como professora de Henry; a mulher requisitava sua presença hoje mesmo na saída da escola, por algum motivo que Emma não conseguiu prestar muita atenção no início. Sua cabeça latejava, seu olhar ainda teimava em ir na direção de Regina, tentando encontrar algum sentido, alguma razão no que falava.

Emma respondeu que compareceria, a mulher respondeu educadamente e então ela desligou o telefone. Regina se aproximou com um ar interrogativo; Emma não lhe devia explicações, mas mesmo assim lhe contou o que estava acontecendo, agora graças aquele intervalo, calmamente:

– Era sobre Henry... Tenho que ir na escola resolver algumas coisas.

– Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou interessada.

– Nada demais. – Emma se sentia cansada. Todos aqueles gritos, toda aquela briga e disputa por quem estaria certa. Ao olhar para Regina sentia que a outra mulher parecia na mesma situação que a sua. Era como se tivessem se empenhado tanto em atacar uma a outra, que haviam abandonado suas próprias defesas.

– Olha, eu não sei do que você está falando... Eu e meu filho estamos passando por uma fase difícil, e eu só quero ajeitar as coisas e dar uma vida boa para o meu ele. Para nós dois. – Disse dando um fraco sorriso – Eu não sou quem você acha que eu sou.

– Você é muito mais do que pensa que é, Emma. Você só precisa descobrir isso em si mesma. – Respondeu retribuindo seu sorriso. Emma tinha a impressão de que ela iria lhe dizer mais alguma coisa, mas antes que tivesse chance, ela lhe deu as costas, sem dizer nenhuma palavra, nenhuma despedida.

Era mais fácil assim, era melhor assim. Para ela, para Henry... para todo mundo.


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Notas finais do capítulo

* = Pra quem não identificou ou não leu, Emma está se referindo ao "Um Anel" do Senhor Dos Anéis, obra do J RR Tolkien, beijão tio Tolkien :*
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Alguém chegou até aqui??? Então gente, vou falar a verdade: Este capítulo era pra ter pelo menos mais umas duas cenas mas ia ficar COMPLETAMENTE gigante! Então tive que dividí-lo, e ficou meio enrolação, mas em breve eu JURO que a carruagem vai começar a andar, com mais ação! Ainda estou meio que me "situando"...

Eu sei, eu sei, que eu não devia ter enrolado tanto MAS era uma coisa importante, e também acho que uma revelação desta, não ia ser simples, não quando são Regina e Emma que estão discutindo, e eu admito que eu me empolgo escrevendo sobre essas duas HAHAHAHAHA'
Desculpem, mas Swan Queen sem briga não é Swan Queen! Swan Queen sem olhares profundos (e sexys) NÃO é Swan Queen!

E tinha que ser dramático! Sei lá, eu fico tentando imaginar como ficou a cabeça da Emma, por mais que ela tenha as memórias da Regina tem sentimentos que não podem ser abandonados, ou esquecidos (Como eu acredito que aconteça com a culpa que a Emma sente por ter abandonado o Henry, mesmo que ela "não tenha" realmente abandonado), assim como a forte hm, "ligação" que ela sente com a Regina... Hmmmmmm...

E outra coisa, ela ter as memória da Regina não tendo vivido realmente o que ela viveu, não tendo os sentimentos que a mamis poderosa Regina teve, também deve causar uma certa confusãozinha na cabeça dela, não acham? Sei lá, eu escolhi abordar desta forma...

Então se você chegou até aqui que tal deixar uma review e me contar o que você achou? Dicas, sugestões, críticas? Não me deixem falando sozinha por favor HAHAHAHAA (Nível de carência EXALANDO aqui)

Obrigada pelas pessoas que comentaram no capítulo, vocês me deixaram muito feliz, de verdade!