O Império dos Titãs. escrita por Martinato, Monsieur Noir


Capítulo 9
Meu novo mundo.




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Apesar de ter sacrificado metade da minha janta, de resto não houve muita euforia. Normalmente com tantos reunidos, amigos e conhecidos, o falatório dominaria completamente, mas nos tempos atuais, o luto estava visível nas ações e rostos de cada um ali.

Não aguentei muito tempo um clima tão pesado. Tinha de respirar. Ar puro acompanhado de um âmbito bom, onde a calmaria predominasse e minha mente pudesse relaxar. Não demorou muito para perceber que estava sendo um andarilho noturno no meio das areias gélidas que continham na praia.

A sensação da brisa colidindo-se com meu rosto amenizava grande parte da situação.

Fiquei tão desligado e nem pude ouvir os passos de longe, só os notei quando o grupo estava a poucos metros de mim. O som das vozes calmas e preocupadas revelaram eles no meio do breu. Um deles acenou, e retribuiu o afeto, mas de maneira bem menos intensificada. —— Percebemos que não estava mais lá no refeitório... Joe disse que você tinha ido andar. —— Falou Rasquel, tentando não demonstrar sua preocupação no meio de todos os secundários, o nosso grupo. Ele era péssimo nisso. —— Ah... O clima estava muito... Tenso pro meu gosto. Precisava de um lugar mais tranquilo... —— Murmurei, e logo todos estávamos sentados numa roda, só que sem uma fogueira para conseguirmos distinguir os rostos dos mais afastados.

O silêncio ficou por pouco tempo, logo o assunto surgiu e não paramos de conversar. Eram diversos tópicos, mas o mais incrível de tudo aquilo tinha a ver com o fato de que qualquer coisa que falávamos, tudo parava algo malicioso. —— Vocês só pensam merda! —— Consegui exclamar e rir. Tinha me esquecido como era bom rir. —— A culpa não é minha se vocês levam tudo na malícia! —— Rebateu Jujubs, também rindo e apoiando seu rosto nas pernas de Anna. Ela também ria e limpava as lágrimas que escorriam em seus olhos por debaixo do óculos. Lágrimas de tanto gargalhar. As duas Gabi riam de modo mais discreto, estavam abaladas, mas pelo menos a tensão tinha saído de seus corpos. Lyu estava ao lado de Léo e Luma, também riam, e comentavam sobre o assunto, gerando sempre mais gozações. —— Não, mas espera! Só sei que o Batman faria melhor! —— Pedro puxou aquele assunto justamente para me provocar, e no exato momento em que me alarmei, uma onda chocou fortemente contra a margem. —— JAMAIS! —— Foi uníssono. A batida, o estrondo emitido, minha voz, como se fôssemos um. Apenas um, unidos e com as mesmas emoções. —— O Flash faria melhor. Inclusive o Aquaman. —— Terminei a frase calmamente, e as águas apenas arrastavam-se na margem úmida. E mais risadas foram proliferadas. A conversa demorou mais do que eu imaginava, até sermos surpreendidos por um grupo de centauros que vasculhavam a área.

[...]

Se não fosse por aqueles quadrúpedes chatos, teríamos ficado até de manhã, com toda certeza, mas infelizmente eles nos disseram que tinham horários. Regras... Odiava isso. Qual o problema de ficarmos acordados até mais tarde? Depois de tudo que passamos, não era justo impedir nosso momento de distração e alegria. Embora ainda estivesse com muita raiva, não pude mudar os fatos. Me encontrava na frente do chalé 3, assim dizia pelo enorme número jacente ao centro e acima. Aos lados, tinham dois pégasus, da mesma forma que na armadura de Poseidon, e a coloração azul podia ser vista até mesmo no escudo. Na porta, encontrei Joe, ele estava me esperando, pelo visto deveria ter ficado com seus amigos que eram apenas conhecidos meus, pois seu rosto estava tranquilo e habitual. —— Não foi deitar ainda por que? —— Tentei bancar o mandão, apenas brincando com ele. —— Sabe como é, tenho que dar uma de irmão mais velho! —— Ele socou de leve meu braço. —— Você sabe muito bem que o mais velho sou eu, hora de dormir, maninho. —— Ri e o agarrei pelo pescoço, repousando meu braço em seus ombros.

Ao entrar no chalé, ficamos perplexos. Estar nele era como estar ao mesmo tempo no fundo do mar. Corais desenhados, objetos como cavalos marinhos e tubarões em miniaturas se encontravam pendurados próximos ao teto, conchas enfeitavam as gavetas e camas, como também os armários e criados-mudos. No canto, nem tão escondido assim, tinha um amontoado de pedras, formando uma espécie de mini cachoeira. O mais incrível? Jorrava água, forte e com o som similar ao de chuva. Reconfortante. —— Isso é incrível. —— Disse, até me deparar com a quantidade de beliches dentro dele. Provavelmente possuía uma dúzia deles. —— Cara, olha isso! —— Joe me tirou do transe, e prestes a iniciar um pensamento frustrante. Novamente tendo a atenção voltada a mini cachoeira, percebi que no fundo dela, haviam peixes, mas não eram poucos, tinham muitos, praticamente um cardume rodopiando em um mar de cores distintas. Hora ou outra, um vulto vermelho passava, seguido de um amarelo, depois preto. Muitas cores, parecia um desfile de carnaval. —— Já sei que vou ter uma excelente noite hoje. —— Murmurei. —— Concordo. —— Ele respondeu, sorrindo e se maravilhando, como eu, os peixes.

Finalmente me dei conta de que estava olhando tempo demais. Ficamos parados cerca de quinze minutos, apoiados no enfeite de quase cinco metros de largura. Algo mais a declarar depois de tanto tempo olhando? Sim, pelo cheiro, notei que tratava-se de água salgada, e aos poucos aquilo começou a infestar nossas acomodações. Se eu liguei? Não dei a mínima. Adorava o cheiro do mar. Pelo visto Joe também, já que ele respirou fundo umas cinco vezes seguidas. —— Nunca imaginei que no meio de tanta loucura, acharia um lugar tão bom para ficar. —— Ele comentava, deitando de cama em cama, para saber qual deveria ser a mais confortável. —— Isso é quase tão bom quanto aqueles hotéis que você fica debaixo do mar. —— Relembrei algumas fotos que tinha visto no tumblr, não chegava aos pés da imagem, mas mesmo assim, era incrivelmente satisfatório.

Joe já tinha deitado em seis. Se eu não agisse, ele ficaria com a melhor, porém, meu corpo aparentou ceder ao fardo do dia. As pálpebras pesaram e me senti mole. Olhei ao redor e fui em direção a cama mais próxima de lá. Como todas tinham aparentemente o mesmo formato, me deitei sem protestos, até perceber que aquela era a única sem uma parte de cima. Sorri desdenhosamente. —— Joe. —— Sussurrei um pouco baixo, não esperava que ele ouvisse, no entanto... —— Sim? —— Indagou curioso o rapaz que se deitava na sua oitava tentativa. —— Eu achei a melhor. A décima terceira cama. —— Esbocei um sorriso, e fechei meus olhos. —— Isso é sacanagem! —— Ele berrou, mas imediatamente deitou na oitava cama de novo, parece que o agradou também, mesmo que seu teto fosse apenas madeira e o meu uma imensidão do mar. Pelo menos uma ilusão similar.

[...]

Pela manhã, os raios solares passavam pelas aberturas que o chalé tinha. Como era uma construção comparada as antigas, algumas fendas e buracos apareceriam, entretanto, acho que foi proposital, para que a brisa do oceano fizesse o cheiro salgado se instalar com mais facilidade no chalé.

Me levantei esfregando os olhos uma, duas vezes, bocejava e percebia que dentro do lugar tinha um banheiro. Seria exclusivo? Talvez, pois se não fosse, qual a finalidade dos vestiários? Bom, sem mais delongas, fui até ele e pelo caminho vi Joe ainda dormindo e bem relaxado. Não iria acordá-lo. Na metade da distância, lembrei que não havia pego nada, tais como roupas, escovas de dentes, tênis, absolutamente nada. O pior foi ter esquecido de constatar meus pais pelo meu desaparecimento. Típico egoísmo da minha parte, não ligar e avisá-los, mas como poderia? Meu celular foi destruído, junto com as antigas roupas, agora vestias estas que me deram, mas será que teriam mais? Seria desconfortante passar outro dia com as mesmas de ontem, apesar de não ter feito muita coisa. Que trocasse pelo menos a cueca.

Vasculhando o banheiro, percebi duas escovas, pastas, toalhas, sabonetes, toalhas de rosto, fio dental, gel, tudo que se possa imaginar e que fosse preciso para uma renovada na cara cansada. O mais interessante? Tinha duas banheiras. —— Eu me acostumaria com o luxo. —— Me permiti uma piada, tentando alegrar o começo da minha manhã.

O banho foi demorado, não tinha como sair de lá tão cedo. A água morna me relaxava enquanto as bolhas massageavam várias partes do meu corpo. O mais legal, vinha do fato da existência de bolhas de sabão. Me senti uma criança fazendo barba e cabelos gigantes. Quando cansava, apoiava os braços na borda e como uma típica pose de tranquilidade, ficava lá, com eles estirados e as pernas submersas como o resto do corpo, exceto dos ombros pra cima.

Mais vinte minutos se passaram. Cheguei a conclusão que bastava. Me ergui, retirando o resto do sabão fixado no corpo com a água e agarrei a toalha, quando me cobri deixando apenas as pernas e o peitoral nu, Joe bateu na porta, mas entrando. —— Se eu estivesse pelado, você não ia ter uma visão muito legal. —— Comentei rindo. —— Ainda bem que sou sortudo. Não estou a fim de ver cobras logo cedo. —— Ele passou reto e foi até a outra banheira, possivelmente iria fazer a mesma coisa que eu. Andando vagamente com os pensamentos dominando meu consciente, visava o chão sem muita noção dos passos molhados pelo chalé, e por isso, paguei pelos meus erros de desatenção. Trombei no que me parecia uma rocha, acertando minha testa naquilo. Esfregando a área atingida, carrancudo, olhei para cima, finalmente conseguindo enxergar uma estátua de Poseidon, ela tinha uns três metros e meio, e ele majestosamente empunhava o tridente e trajava uma toga grega, exibindo seu peitoral mas cobrindo as áreas íntimas. Ufa. Pensei aliviado.

Passaram-se meia hora, e eu já estava trocado e com os tênis nos pés. Joe saiu do banheiro já vestido, o que facilitou a minha espera. —— Tem alguma ideia de que horas são? —— Ele perguntou, esfregando a toalha em seus cabelos, e quando terminou eles se alinharam como de costume, até ele botar o boné por cima. —— Não tenho certeza, mas acho que são quase oito horas... Talvez nove. —— Deduzi pelo céu límpido e cristalino na janela. Já disse que tinha vista pro mar? Provavelmente já.

Joe por sua vez, deu de ombros e calçou os sapatos. —— Bom, vou dar uma caminhada, encontrar com o pessoal, quer vir? —— O convite me soou educadamente, como ele costumava agir. —— Relaxa, vai lá, não quero incomodar. —— Ele ergueu as sobrancelhas. —— Sabe que não vai. —— Olhei-o com deboche. —— E eu sei que vou. Relaxa, acho que vou explorar o lugar. Te encontro na hora do almoço. —— Ele ia retrucar, mas eu impedi isso me levantando e agarrando a maçaneta da porta. —— E está decidido. —— Acenei, e só pude ouvi-lo murmurar coisas, embora não conseguisse deduzir o que. Esperava não tê-lo magoado.

Fora do chalé, percebi que apenas os sátiros e centauros caminhavam com seus afazeres, todavia, alguns outros corriam atrás de algumas garotas verdes, e colidiam-se nas árvores, pois elas sumiam misteriosamente. Os centauros que presenciavam tais atitudes, riam e diziam "Sátiros, sempre iguais." Será que eles faziam isso com muita frequência? Bom, algo me diz que eu descobriria com o passar do tempo, seja lá quanto passasse aqui.

Finalmente iniciei meus passos com os ventos soprando contra mim, sensação gostosa. Algo que me deixou curioso foi saber como conseguira acordar tão cedo. Normalmente fico esparramado na cama até umas duas horas da tarde depois de ficar tanto tempo na madrugada de hoje. Seja lá o que tivesse acontecido, gostei de ter acordado cedo, assim ninguém me impediria de vasculhar cada canto do lugar.

Comecei pelo básico. A praça se estendia envolta dos chalés e suas numerações. O maior de todos era o primeiro, segundo, terceiro e décimo terceiro, respectivamente de Zeus, Hera, Poseidon e Hades. Me perguntava porque Hera queria ter um chalé se ela não tinha filhos com mortais. Talvez ela fosse a típica rainha mesquinha que queria aparecer em todos os lugares. Me assustei pois logo que pensei nisso, tive a sensação de uma estátua dela, bem a frente de seu chalé, me encarasse friamente. "Ok, me desculpe." Pensei, com o coração acelerado e a estátua me aparentou estar no seu estado... Como diria? Sólido sem ficar encarando as pessoas? Era uma boa ideia.

Voltando ao objetivo central, me dirigi para próximo da primeira casa esculpida no horizonte. Ela era aproximadamente do tamanho dos chalés comuns, pintada de vermelho e com o telhado negro, cores chamativas. Nas paredes, haviam janelas de madeiras invertidas. Como? Bom, vocês sabem como normalmente se abrem janelas, aquelas, pareciam balcões como os das cantinas das escolas, abriam de cima para baixo, dando espaço para uma mesa de madeira. Na entrada principal, tinha uma placa mediana escrita num tom de preto forte: Armazém.

Olhei sorrateiramente, a porta se encontrava aberta e dentro, Sátiros carregavam espadas, lanças, machados, escudos, tudo que você possa imaginar, enfileirando e deixando uma a uma com seus respectivos tipos. Machados sob machados. Espadas sob espadas. E assim por diante. —— Já sei onde vir quando precisar de uma arma reserva. —— Mencionei, virando e continuando a andar. A esta altura consegui ver Joe saindo do chalé em direção ao de número 16. Tinha esquecido quem era o deus ou deusa, mas pouco importava. Nossos rumos estavam separados por enquanto.

Na trilha de terra gasta, chutava algumas pedrinhas soltas pelo caminho, elas atingiam árvores, muros, e acidentalmente, o casco de um centauro. Ele rosnou, incomodado, e eu me desculpei, sem vontade. Pelo menos não me meti em confusão, ele estava com as mãos cheias de lenha, e parecia se importar com o tempo, pois trotou velozmente para longe.

A medida que andava, várias coisas se alastravam no caminho. Vi uma casa enorme, já que estava de frente pra ela. O refeitório mais ao lado, um outro caminho para a praia, uma colina, bem grande, mas nada impossível de andar nela. Tinham também um rio, com várias rochas ornamentadas por entre ele. Um sátiro pescava tranquilamente por lá. Sua extensão por enquanto era desconhecida, pois ele subia pelas árvores. Se eu contar pra você que uma floresta rodeava nosso perímetro e se arrastava por quilômetros, você acreditaria? Se sim, maneiro, você está tendo uma visão igual a minha agora. Se não, bom, abre o google ai e tente achar a melhor imagem possível.

Nas minhas anotações mentais, decidi que mais tarde exploraria o rio. Tinha água, e com água por perto, eu não estaria em perigo. Pelo menos pensava assim, até que algo me provasse o contrário. Mas desviando o devaneio sobre algum ruim acontecer comigo na água, voltei a olhar a imensa casa. Era amarela, com escadas e corrimãos brancos. Uma típica casa de histórias infantis. Nela, haviam várias possibilidades de se entrar. A primeira e mais comum, pela porta da frente, grande, com bancos e poltronas por fora, e ao centro as portas exuberantes. Alternativas? Bem, você escolhia. Tinha uma escada que dava a um possível porão, outra que dava a um possível sótão, mais uma que subia para o segundo andar, e outra porta que dava acesso a uma área fechada por um muro de madeira. Decidi ir por aquela, já que o portão estava semiaberto.

A porta rangeu um pouco, mas bem baixo, o que não permitiu o centauro lá dentro com uma camisa escrita "I'm the best!" verticalmente. Ele usava um par de óculo, enquanto lia um pergaminho antigo. Atrás dele tinha uma mesa cheia dos mais variados tipos de frascos químicos, todas com aquele objeto que não sabia o nome, onde emitia uma chama fraca ou forte, dependendo do ajuste da válvula. Elas esquentavam os líquidos coloridos, uns borbulhavam espuma branca, enquanto outros sequer se importavam com as chamas.

O quadrúpede por si era Quíron, o que tinha feito a apresentação no momento em que cada um era proclamado pelo seu pai divino, e que também explicava as dúvidas e exibia o vídeo de autoajuda. —— Porcaria... —— Ele reclamava. —— Isso está me deixando louco! Não faço ideia do que está acontecendo. Maldito Dionísio! Se não fosse um deus eu chutaria a bunda dele... —— Sua ira exalava pela voz áspera, e quando mencionou o nome do Deus do vinho, parecia ter cuspido cada sílaba. Resolvi não me meter e sequer ser deixado visto, mas errei ao sair de mansinho, devido um exclamar da porta. Aquela maldita deixou toda sua falha dobradiças para agora? Desgraçada.

O som ecoou tão alto que não duvidaria que alguém dentro do meu chalé não ouviria. O homem barbudo então se virou, baixou um pouco o rosto, obrigando os óculos caírem pelo nariz, deixando os olhos nu para me avistarem. —— Bisbilhotar pode lhe fazer perder a vida, garoto. —— Senti uma ameaça. —— Bom, por isso que estava saindo, até essa porta praticamente me dedurar. —— Ele sorriu um pouco. —— Ela é um belo mecanismo de defesa contra penetras. —— Bufei. —— Pelo visto é. Agora com licença, não quero atrapalhar mais do que já estou atrapalhando. —— Fui saindo, mas ele fez um "caham" com a garganta, e soube que se ignorasse, estaria frito. —— Pois não? —— Balbuciei satirizando a cena. —— Entre. Sei que está querendo saber das coisas, o que está acontecendo, como sua vida mudou, como seus pais estão, e outros mil motivos. —— Fiquei corado por meros dois segundos. —— Por acaso os centauros podem ler mentes? —— Indaguei, com receio. "Se podem, você tem a bunda de cavalo mais feia que já vi! Otário!" Pensei, como um teste. —— Receio que não. —— "Ufa!" Ri, e ele ficou curioso. —— Qual a graça? —— Rapidamente engoli a risada e fiquei sério. —— Hãn... Nada não. Apenas me lembrei de uma piada. Bem engraçada. —— Ele cruzou os braços, pensativo. —— Me conte então. —— Estremeci e uma gotícula de suor escorreu pelo meu rosto. —— Ah, sabe como é... Não é a mesma coisa quando outra pessoa conta. Você provavelmente me olharia com uma cara de: "Você é algum sem noção por acaso?" E eu não estou nem um pouco a fim de me rebaixar a esse nível. —— Quíron passou suas mãos pelos cabelos encaracolados, e deu de ombros, mas mesmo assim acenou com a mão para que eu viesse, mas fechasse a porta antes.

As poções - decidi chamar assim - estavam emitindo um cheiro forte. Alguns aromas doces, outros pareciam um peido. Naqueles bem potentes depois de uma feijoada brava. —— Por acaso está fazendo algum perfume e uma nova bomba de mau cheiro? —— Interroguei-o. Ele mexeu nos frascos, e descartou o de cheiro ruim. —— Mais um fracasso. —— Olhei para o recipiente cheio de líquido da mesma cor e com vários cacos espalhados. —— Que pena, poderia fazer uma pela bomba com eles. —— Finalmente seus olhos me encontraram. —— E você provavelmente mataria todos asfixiados. —— Sorri sem jeito. —— Mas seria uma bela pegadinha. —— Suas sobrancelhas fizeram a típica expressão de: puta merda, cala a boca. —— Tem certeza que é filho de Poseidon? —— Ele coçou a barba, mexendo no frasco vermelho. —— Bom, ele veio no meu sonho e um tridente azul surgiu na minha cabeça ontem, e ainda por cima consegui afogar uma górgona com sangue e água de um lago... Precisa de mais provas? —— Será que peguei pesado? —— Realmente é filho de Poseidon. A maré não deve estar tão boa hoje. Traiçoeira, deveria dizer. —— Será que meu humor sempre seria comparado com a maré? Tomara que não, aos poucos as piadinhas que se repetiam perdiam a graça e passavam a irritar. E se tinha algo que me incomodava era o fato de me zoarem com a mesma coisa por muito tempo. Aquilo me tirava do sério! Se você é meu amigo, é melhor maneirar e sempre ter um bom repertório de piadinhas sem graças, pois se começar a ficar em uma só por muito tempo... Pode ter certeza que minhas mãos acidentalmente irão parar na sua cara.

Enquanto me perdia nos pensamentos, o homem-rabo-de-cavalo depositava um líquido branco no vermelho. A combinação inicialmente pareciam se aceitar, mas logo borbulharam tanto, que o frasco estourou, fazendo o líquido cair nas chamas e um fogaréu alto e chamativo se iniciar. Mas durou apenas dois segundos. —— Estou ficando sem alternativas! —— Ele berrou e socou a mesa. —— O que exatamente está tentando fazer? —— Minha voz fez ele lembrar que estava ali. —— Estou tentando descobrir o motivo de as criaturas descobrirem o cheiro de vocês. Elas são fisicamente incapazes de uma proeza tão grande. Isso é muito maior... Coisa de deus. —— Um Deus querendo semideuses mortos? Que grandessíssimo filho da puta. —— E por que um deus iria querer nos matar? —— Ele pegou um pano em um bolso que continha na camisa - só percebi aquilo quando ele pôs a mão dentro -, assim limpando o suor que escorria em sua testa. Foi então que notei também as olheiras debaixo dos olhos. Por quanto tempo ele estava trabalhando naquilo? —— Quando disse deus, quis dizer imortal... Algo tão forte e potente como um deus... Mas Gaia já adormeceu, Cronos está em pedaços no Tártaro... Não sei! Quem mais poderia iniciar isso? Oceano deixou o reino de seu pai em paz. Hipérion foi apagado pelo Tártato. Jápeto, nem preciso dizer... Mudou de lado há anos! Sinceramente não sei mais em quem pensar... Por Zeus! Nada está funcionando... Estou prestes a desistir. —— Sua frustração me deixava com pena dele, mas minha pena não seria lá algo tão convincente para animá-lo. —— Ei cara, você já deu o seu melhor, e olha pra você. Está exausto. Acabado. Quase caindo de cara nessa mesa. Eu sei que não sou lá o melhor e mais dedicado em estudos, mas uma mente boa é uma mente descansada. Então, acho bom você dormir um pouco. Não vai adiantar nada ficando ai, se esforçando, passando raiva. E nem preciso dizer que o sono nos deixa com um mau humor desgraçado! —— Não sei bem como aquilo o atingiu, mas estava convicto de cada palavra minha. Não sou lá um psicólogo, mas às vezes agia como tal.

Quíron recuou um pouco e limpou mais uma vez o seu suor. Levou as mangas até os ombros, como se fossem uma regata, por fim, respirou fundo e expirou, relaxando sua mente. —— Você está certo. —— Ele esfregou os olhos. —— Acho que uma pausa não irá me atrasar. —— Ele andou, ou trotou, sei lá como vocês chamariam, e repousou a mão em meu ombro. —— Obrigado por me fazer acordar para a realidade. —— Ergui um pouco a mão canhota, mostrando o dedão em pé. Sinal de positivo. —— Não há de que. Agora descanse na sua cama, capim, em pé... Sei lá, sinceramente não sei como um centauro dorme. —— Ele riu, mas ao invés de saciar minha dúvida, apenas saiu do âmbito, e sumiu no cenário majestoso, deixando uma frase de efeito. —— Quando eu voltar, responderei as perguntas que mencionei outrora. Lhe devo isso. —— Sem questionar sua autoridade, sai do recipiente de experiências e fechei a porta, desta vez por inteira, mas sem a trava.

[...]

Como eu tinha dito, explorar o rio seria a minha próxima opção, e a cá estou eu, aquele matagal íngreme, cheio de mosquitos e plantas peçonhentas, raspando no meu corpo e arranhando minha pele. —— Que boa ideia, não Vinicius? —— Me amaldiçoava, só que era incrível de ser filho de Poseidon, pois todos os arranhões que surgiam e me incomodavam, simplesmente os mergulhavam na água e sumiam, deixando minha pele forte e mais saudável.

A nascente já podia ser avistada, e não era tão glorioso assim como diziam, apenas um buraco numa montanha alta que escorria água aos montes. Já tinha visto cachoeiras melhores. —— Bom, senhor aventureiro, hora de voltar. —— Falava comigo mesmo, parecia um idiota, mas podia jurar que ouvi badalares, seria o despertador coletivo? Quem diria, aquele lugar tinha de tudo, MENOS UM RELÓGIO!

[...]

Se eu fosse pela mata, iria me atrasar, isso ninguém além de mim duvidaria. Vocês podem achar que eu sou problemático, retardado ou simplesmente idiota, mas eu não estou nem ai, não quando se tem uma boca livre com tudo que você quiser, disponível rolando. Eu pulei nas águas sentido o toque gélido... E foi então que me toquei que teria de me secar todo antes de poder comer. —— Merda! —— Consegui falar perfeitamente debaixo d'água. Abri os olhos e e água não incomodou-os. Naturalmente prendi a respiração, vendo alguns peixes nadarem envolta de mim, curiosos. Normalmente teria se afastado, mas por eu ser filho do grande deus do mar, quem sabe eles não estariam se perguntando o que eu fazia ali? Férias? Apenas uma visita para checar a ordem? Bom, muitas alternativas, deveria dizer.

Comecei a nadar e mais peixes vinham ao meu encontro, repetindo o movimento o máximo que meu fôlego permitia. Fui até a superfície, abri a boca e enchi os pulmões com o ar fresco. Submergia de novo, e nadava, com extrema facilidade. A distância que eu cobria me alarmava, nunca consegui nadar tão rápido assim, era como se uma corrente inexistente me empurrasse junto.

A colina aos poucos ia perdendo sua enorme grandeza, embora conseguisse perceber que meu corpo, mesmo aparentando estar normalmente pairado, flutuando nas margens, não estava. Ele se encontrava majestoso exposto na vertical. Descendo com a correnteza e o forte fluxo que me empurrava.

Mergulhei de novo.

Os olhos sequer queixaram-se. Tão boa aquela sensação que jamais me enjoaria. Percebi que estava rodeado por um cardume. Seus olhos inexpressivos me deixavam curioso. Suas, se deveria chamar assim, bocas, emitiam um som vago, como se quisessem falar comigo. Sim, eu tive aquela sensação, mas como qualquer um, achei loucura demais.

Abri caminho entre eles, sem precisar de esforço, afinal, era só chegar perto de um que ele se espremia para o lado, dando abertura ao meu nado. O fôlego aos poucos se tornava mais intenso. Aguenta minutos debaixo d'água, somente quando me pegava contando. Distraído, provavelmente somava mais alguns. Enquanto o peito não apertasse pela falta de ar, eu ficaria lá embaixo.

Aos poucos percebi que estava na área do "Acampamento" que estava. Os peixes aos poucos tomavam seus rumos, pareceram se enjoar com a presença do filho de Poseidon. Fiquei imaginando o que pensariam sobre isso. Será que pensavam algo? São apenas peixes... Eis de que a razão me provou isso. Um objeto pontiagudo e curvado, com um pedaço de alguma coisa, enrolado nele. Próximo, um peixinho que não serviria nem para um aperitivo. Mordiscava aos poucos, e acima, notei ser o Sátiro que outrora pescava. Ele ainda estava ai? Persistente. Parecia comigo.

Nadei até lá, e no momento que o peixinho ia engolir a parte do anzol, coloquei minha mão na frente. Seus olhos arregalados me encarava. —— Calma ai amiguinho. Isso não vai ser bom. —— Um fato interessante a declarar: Minha voz saia perfeitamente bem ali. Nem as bolhas saiam como de costume.

Me lembrei sobre o que Quíron havia mencionado da minha personalidade àquela manhã. Traiçoeira. Bom, façamos jus ao que os experientes dizem. Arranquei a isca o mais delicadamente possível. Poseidon não me ensinou a pescar, mas meu pai sim. —— Toma pequenino, e não ouse mais cair nessas armadilhas. Aqui está cheio de comida boa, melhor do que essas minhocas enlatadas. —— O peixinho engoliu rapidamente a isca e correu com suas nadadeiras para o fundo, ficando entre algumas pedras. Talvez estava de barriga cheia agora.

Subi um pouco, nada que fizesse o sátiro conseguir me ver. As águas ali não eram tão claras. Mas pra mim pouco importava. Notei que ele dormia ou pelo menos cochilava. —— Perfeito. —— Murmurei.

Afundei outra vez, até onde o anzol estava. Outra coisa que notei foi que entre os cochilos do homem bode, a parte do carretel estava solto, portanto, a linha corria, mas ainda sim, dava alguns trancos. Puxei uma parte acima do metal, com todas as minhas forças. A vara envergou e quase saiu das mãos do estranho. Ele acordou assustado. Maldito, tinha uma força grande e reflexos acima da minha compreensão.

O homem berrou, coçando seu cavanhaque enorme. —— Eita! Esse é dos grandes! —— Dizia convicto de que tiraria um de lá. Para minha sorte, ele travou o carretel quando estava a dois centímetro do fundo, literalmente. Sua força enrolando a linha era em vão enquanto segurava-a. Se ele abusasse, provavelmente estouraria a linha, mas sua maestria na pescaria era louvável. Ele puxava e deixava regredir, puxava, regredia. Me perguntei se aquilo eram habilidades naturais, ou se ele ligava a TV pelas manhãs de domingo, na Record? Enfim, e assistia aqueles programas de pescadores.

Procurei eufórico por algo que sustentasse um peso parecido com o meu. E Voilà! Uma rocha solta flutuou alguns instantes e logo atingiu o solo. Agarrei-a e prendi-a num laço feito as pressas. —— Vai um peixe pedra pro jantar? —— Sorri e desta vez algumas bolhas escaparam pelo canto dos meus lábios, flutuando até a superfície.

Terminando de amarrar, nadei para longe, até que finalmente notei a falta que o oxigênio me fazia. Do outro lado do lago próximo à algumas moitas, emergi, arfando, enquanto os berros de insatisfação do sátiro ecoavam pelo lugar todo. —— MALDIÇÃO! Quem ousa fazer uma brincadeiras dessas?! Eu sou um sátiro com reconhecimento do conselho! —— Ria baixo, agora em pé detrás dos matos.

Próximo as águas, podia jurar que um rosto feminino se formava em forma líquida, e sorria. Tinha uma beleza familiar, como se fosse uma pessoa que conhecia. O sorriso me encantou e eu me aproximei da margem outra vez. Foi então, antes do meu maior erro, que o peixinho de antes saltou, batendo contra o meu peito. Mesmo que o choque fosse quase nada, acordei, e notei dentes serrilhados. —— Argh! Tava melhor antes! Seduza o sátiro! —— Levantei as pressas e corri para o refeitório.

[...]

Aos poucos o povo ia acordando e caminhando envolta do pátio. Viam com mais clareza as estátuas e admiravam com mais vigor seus chalés. Eu estava sentado, e com fome é claro. Tinha feito tantos exercícios e sequer bebido um copo com água. —— Acho que vou querer... Seis fatias de pão com geleia de uva, uma porção de pão de queijo! E para beber, suco de maracujá fresco e bem docinho. —— Num puff, tudo estava lá. Ergui-me com a refeição e joguei metade dela no fogo. —— Espero que goste. —— Sussurrei, voltando para mesa e devorando-os com voracidade.

Já tinha terminado o meu café quando a multidão invadiu o lugar. Estava satisfeito mas entediado novamente. Me levantei e fui até a mesa de Apolo, com educação, fiquei em pé em frente a Lyu, cabisbaixo até demais. As olharas embaixo das pálpebras diziam que ele teve uma péssima noite. —— Qual foi, cara? Você dormiu num chalé de ouro! Quer ostentar menos que isso? —— Tentei animá-lo com o meu jeito, e me pareceu funcionar um pouco. —— Cara, não é isso... Eu tive uns sonhos estranhos... Pareciam estar acontecendo coisas. Estou com um mal pressentimento. —— Ele se ergueu, deixando de lado seu café ainda intocável. Nem tinha feito o sacrifício ainda, como a maioria dos seus meios-irmãos. —— Olha, eu sei que pesadelo é foda, mas calma, estamos bem, pelo menos aqui. —— Assegurei e ele assentiu, embora suas feições indicasse o oposto. —— Eu sei, mas mesmo assim, tudo me parecia real demais. Eu estava lá! Tenho certeza do que estou dizendo. Foi mais uma visão do que um sonho. Mano, eu sei que posso parecer estar delirando, mas por favor, confie em mim, tome cuidado. Você parece ser o único que me leva a sério. Até o Peeta levou isso na brincadeira comigo falando sério... —— Repousei minha mão e seu ombro, e com o semblante sério, encarei seus olhos, queria demonstrar o quão atento estava e que não achava suas palavras meras piadas. —— Pode deixar. Mas ficar assim o tempo todo também não vai te fazer bem. Vão achar que você está neurótico ou coisa do gênero. Tente agir normalmente até lá. Vou chamar um pessoal para conversarmos sobre isso, e já sei bem em quem chamar. —— Ele respirou aliviado e pegou seu prato. —— Me acompanha? —— Revirei os olhos sorrindo. —— E eu tenho escolha? —— Ele riu pela primeira vez na manhã. —— Não. —— Disse quando nosso passos se iniciaram.

A mesa de Apolo inteira formava uma fila, comigo e Lyu por ultimo. Mesmo sendo grande, andava depressa e não demorou mais que dois minutos de espera. —— As filas do banco poderiam ser assim. —— Ele mencionou. —— Não sei, nunca tive uma conta no banco ou tive que pagar algo nele. —— Fui sincero. —— Sorte sua. —— Ele retrucou. —— Talvez seja mesmo. Pelo menos em alguma coisa eu tenho que ter sorte, não? —— Ele deu de ombros, finalmente despejando metade da sua comida no fogo. —— Temos boca livre, mas sempre desperdiçando metade dela. Que injusto! —— Percebi que falei alto demais, pois algumas garotas atrás de mim riram, acompanhando Lyu. —— Pelo menos tem o que quisermos. —— Ele se sentiu, me convidando, mas não achei uma boa ideia, recusei e fiquei em pé. —— Jurava que você ia pedir lasanha. —— Os olhos curiosos dos filhos de Apolo pairaram sobre mim, inerte ao lado do seu irmão. —— Isso fica pro almoço. —— Ele mencionou, arregaçando as mangas. —— Por acaso aqui tem um estúdio de tatuagem? —— Indaguei, perplexo. Ele notou minha curiosidade, embora demonstrasse estar ligeiramente confuso. —— Por que? —— Apontei para o seu braço no mesmo instante que ele indagou. Lá jazia um enorme sol com uma lira menor ao centro, juntamente com algumas notas musicais saindo ao canto direito. —— MINHA MÃE VAI ME MATAR! —— Ele berrou, com todos presentes ouvindo e em seguida caindo na gargalhada, mesmo sem entender o porquê. —— Ah, ficou maneira! —— Consolei ele. Mesmo rindo pela sua frustração. Ergui os braços para apoiar o pescoço, vendo-os todo da mesa comendo e rindo ao mesmo tempo. Uma cena bastante engraçada. Na minha mesa era apenas eu e Joe, e se tornava um tanto solitário, assim como Nico e Cody, Dudu e Isa. —— Parece que ele não é o único que vai dormir com a bunda quente, Marti. —— disse Jujubs, apontando pro meu antebraço esquerdo. —— Por que? Eu não tenh... —— A frase sequer foi completada. Consegui enxergar um tridente cobrindo quase todo o meu antebraço, e umas marcas ainda sem formado - como se faltasse terminar o desenho - atrás dele. —— Bom... Já disse que eu sempre quis fazer uma dessas? —— Todos riram de novo. —— Mas óbvio que preferia meu lobo primeiro. —— E lá se iam mais risadas e algumas engasgadas.

Depois de passar um bom tempo na mesa de Apolo, percebi que nas demais mesas, somente um de cada chalé tinha uma marca, ou tatuagem. Não iria mencionar todos, porque ainda faltava gente, principalmente do chalé de Hipnos e Afrodite.

Na porta de entrada do refeitório, uma mão tocou meu ombro. Era Lyu novamente. —— Agora seria o momento ideal para você chamar quem disse que iria chamar. —— Mesmo com a repetição nas suas palavras, sem questionar, desapoiei do pilar de mármore, iniciando a busca pelos meus seletivos candidatos.


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