Falando de Flores escrita por Arabella


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Gente, seguinte, um comentário não dói nada, sabe? Só me faz feliz.
Minhas aulas começam dia 2, choremos.
Com a rotina em dia vou escolher um dia certo pra postar os capítulos novos.
E então, preparados pro Felipe? BUHAUAHAUAH



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“O passado está sempre por perto, apenas esperando o momento certo para acabar com o presente”.

Gossip Girl

Depois de xingar algumas vezes o tal Daniel, Olívia desligou e me olhou com um sorriso maroto. Vinte minutos depois estávamos no estacionamento do boliche, que segundo meu irmão, era o point da cidade.

Pelo visto, só o condomínio continuava a mesma coisa desde a última vez que eu vira, aproximadamente três anos atrás. A cada vez que eu notava um prédio novo, uma loja ou sei lá o que tinha surgido ao meio ao nada, tentava me lembrar que agora eu tinha que me acostumar, além do mais, aqui era uma cidade grande e vivia em constante mudança, mesmo que muitas delas envolvam o desmatamento e a poluição.

Quando minha prima mais velha finamente encontrou uma vaga livre do estacionamento, começou aquela palestra enjoada e ensaiada sobre não bebermos nada de estranhos, não falarmos com estranhos, não sorrirmos para estranhos, ou seja, ignorar o mundo.

Uma vez que a garota do balcão prendeu em nossos pulsos as pulseiras-controle do fliperama, um grupo de adolescentes aceraram para minha Olívia, o que fez com que ela se animasse mais ainda.

Tentei identificar as pessoas ao lado da pista, comparando cada um com as descrições que Olívia fez no carro. Ela tinha dito que provavelmente eu reencontraria duas pessoas, e assim que prestei atenção na fisionomia de uma garota ruiva com algumas sardas, lembrei-me de quando tinha 10 anos, época que passar as férias aqui era um habito. 'Fernanda', seu nome surgiu em minha mente com uma pontada de nostalgia, 'a paranormal', escutei minha mente falando de novo.

Forcei meu melhor sorriso para ela e tentei identificar as outras três pessoas. “O Felix é o tipo de cara que você esbarraria no corredor fazendo o derrubar zilhões de livros geeks, simplesmente porque não o notou. Magricela com cabelos encaracolados.” Localizei o que eu achava que seria essa garoto vidrado em algum game de luta contra uma boneca de porcelana humana. “A Isabella é uma flor de pessoa, mesmo sendo uma das ‘serviçais’ da Bárbara... Olhos azuis e uma bochecha angular de dar inveja.’’

Quando finalmente alcançamos a mesa onde Fernanda e outra garota de costas estavam sentadas, a boneca humana, digo, Isabella, gritou:

– Toma mais essa, Lynch. – ela pulava de animação e meteu o dedo magro no peito do garoto. – Vai querer revanche pela milésima vez ou vai pagar logo o meu sorvete?

– Isso foi nada menos do que sorte de principiante, Isabella. – o garoto falou indignado, colocando a arma de plástico no lugar.

– Você disse isso cinco rodadas atrás, guarde esse discur... – começou a menina sentada de costas.

– Valentina! – Fernanda a interrompeu.

A menina se levantou em um salto e me abraçou com um sorriso de bochecha á bochecha.

– Você cresceu! – zombou ela, sempre dizia isso toda vez que nos víamos, mesmo eu não crescendo nada.

Mostrei a língua pra ela, que me encheu de perguntas e me puxou para sentar ao seu lado, mas antes que pudesse responder, minha prima perguntou.

– Uai, onde está os garotos?

– Eu estou aqui. – Félix se manifestou, piscando para ela.

– Não você, bicho, o Felipe e o Daniel. – Felipe?

– Encontrei com o Daniel na porta, acabou de sair. – disse uma voz atrás de mim enquanto algo voava e parava na mão de Olívia.

– Caramba, garoto! – Olívia botando a mão no coração, ofegante, cerrando os dentes para o dono da voz que me fez congelar. – Eu já lhe disse que tenho pavor do jeito que você anda silenciosamente!

– Damas não fazem cena, Olie. – o menino respondeu, parecendo se divertir com isso, como e fosse uma piada interna deles.

Minha prima riu. Algo me fez ter vontade de me levantar da mesa onde estava conversando com a Fernanda e passar as mãos naqueles cabelos claros e lisos. Parecia uma coisa tão certa em se fazer. Ainda não tinha coragem de me olhar e ver se era mesmo ele. Eu podia estar simplesmente confundindo a voz dele.

– Como se você fosse um cavaleiro, né?

– Tinha é que estar me agradecendo por achar o filme. Ainda acho que não deveria ter te dado e fazê-la ler o livro para aula de redação, mas...

– Ela nunca vai descobrir, Lip. – minha prima diz, abrindo uma caixinha de memórias que eu lutei tanto pra esconder. Usando aquele apelido como chave. Não aguentei mais me segurar e me virei.

As bocas bem delineadas dele se abriram para responder a Olívia, mas antes que algum som pudesse sair dali, seus olhos, como se notassem que alguém o observava (no caso, eu), capturaram meu olhar. Aí sim sua boca se abriu ainda mais, era como alguém que via o fantasma do natal passado ou coisa assim.

– An... Aninha? – ele disse, andando em minha direção parecendo estar em transe.

É, eu era como o fantasma do Natal passado.

Meu cérebro estava embaralhado demais para formular uma frase inteligente, ou simplesmente ocupado tentando atualizar cada diferença do Felipe de 12 anos para o de 15 (?). Assim a única coisa que consegui mandar meu corpo fazer foi enterrar o rosto nas minhas mãos.

– Juro que eu não tenho nada a ver com isso. – Fernanda falou rapidamente, na defensiva. Se alguém ali sabia de cor minha ‘historia’ com o individuo que agora estava na minha frente, esse alguém era ela.

– Claro que não. – falei, olhando para minha prima que parecia segurar o riso.

– Culpada. – ela admitiu, insinuando para eu me levantar e falar com ele. Pelo menos ela estava fora do campo de visão dele a esse tempo.

– Está tudo bem, Nanda. – disse para ela enquanto me levantava e sorria para o menino. – Faz muito tempo, não é? – isso! Algo racional, algo racional, algo...

– Vo-você está diferente. – o sorriso que ele deu, mesmo não querendo, me relaxou. – Só não cresceu muito. Acho que ainda posso te chamar de baixinha.

Baixinha, tampinha, pirralha, tudo que eu sempre odiei que me chamassem, mas toda vez que ele falava comigo assim eu nem me importava. Chegava a achar uma coisa fofa, uma coisa ‘nossa’. Só torcia para não estar com cara de boba agora.

– Bem, não posso dizer o mesmo de você... Não mudou nada. Nada mesmo.

Ele não respondeu e eu não sabia o que dizer então um silêncio torturante dominou a mesa. Félix parou com o dedo no gatilho. Minha prima sorria satisfeita. Não tinha coragem de desviar o olhar dele que percorreu cada pedaço do meu corpo para saber a reação das outras garotas.

Então uma voz estridente quase gritou:

– Amor! Achei que não viesse mais.

A garota que ficara até agora sentada, mexendo entediadamente em seu celular, se jogou nos braços dele arrancando um beijo que rendeu assobios e exclamações de várias pessoas.

– Ei, Babi, desculpe a demora. – Ele disse, beijando a testa da menina, sem tirar os olhos de mim.

Eu queria dar no pé e comprar uma passagem para Holanda. Queria explicar á ele que eu não tinha nada a ver com aquilo e não sabia que ele estaria ali. Mas que burra eu sou, claro que ele estaria, Olívia disse que eles estudavam juntos, mas como em todas as vezes que ela toca no nome dele, eu ignoro, ou tento.

A garota que eu desconfiava ser a tal Bárbara se virou e me fez congelar pela segunda vez em menos de dez minutos. Ela era parecida comigo. Era muito parecida. Era como estar me olhando em um espelho, fora o fato de seus cabelos chegarem só até o queixo e serem pretos, quase azuis. Seu nariz era levemente mais arrebitado do que o meu e portava um piercing também, porem o dela era uma pequena pedrinha brilhante que chegava a cegar, seus lábios, um bocado mais grossos e carnudos e era claramente uns quinze centímetros mais alta.

Meu espanto foi imediato, mas a menina nem pareceu notar nossas semelhanças, ou simplesmente ignorou. Isabella parou do meu lado e passava os olhos com tanta rapidez por mim e pela outra menina que parecia estar assistindo uma partida de tênis.

­ – Vocês poderiam ser irmãs! – Isabella exclamou. – Nossa, parece que eu estou dentro de um daqueles filmes onde duas gêmeas se encontram e trocam de lugares.

– Deixe de ser dramática, Isa – Bárbara me analisou com um ar de superioridade –, ela é baixinha demais para ser minha irmã e, além do mais, não somos tão parecidas assim.

– São sim – Félix afirmou –, Maria Bárbara, e as chances de... – o garoto se calou quando Cristina lhe lançou um olhar mortal.

Maria Bárbara? Anotar mentalmente de agradecer a minha mãe por meu nome não ser tão esquisito assim, penso enquanto tento esconder o riso.

– Ah, Lip, vai dizer que a única razão para você ter aceitado namorar com a Bárbara assim que a Ana te deu um pé na bunda por causa de um carinha argentino é por elas serem muito parecidas. – Olívia disse a ele, embora encarasse a garota ao seu lado.

Corei no instante em que minha prima acabou de falar. Não era bem aquilo que tinha acontecido, no entanto, não estava longe da verdade. Praticamente nascemos juntos, criados por famílias amigas. Ainda tenho que me segurar quando minha mãe começa a falar sobre ele. Nós só... confundimos sentimentos. É, foi isso.

– É... ahn, Isa! – Fernanda gagueja tentando mudar de assunto. – Olhe meus modos, nem te apresentei direito. – ela sorriu. – Essa é a Valentina, ela é prima da Liv. Se muda muito e costumava passar todas as férias aqui, agora se voltou definitivamente, chegou a pouco pra me poupar de aguentar a Liv sozinha mais um ano. Val, essa é a Isabella e esse cabeça de E.T. é o Félix.

Ambos acenaram para mim a Isabella me deu dois beijinhos na bochecha e disse que estava feliz em finalmente conhecer a tal Valentina, mas recuou assim que notou o olhar de desaprovação de Bárbara.

– Milady – Félix disse antes de beijar minha mão –, matador de zumbis profissional ao seus serviços.

– Profissional é o teu nariz. – Isa provocou e recebeu outro olhar desaprovador.

– Interessante. – estranho.

– Olívia – a voz de Felipe agora tinha um tom mais sério. –, quando você me disse que uma prima sua vinha, não disse que era ela.

– Deve ser porque era uma surpresa. – ela deu de ombros e pediu um suco ao garçom que passava. – E se eu dissesse á um sobre o outro, vocês viriam?

Ele não respondeu, não o culpo. Provavelmente eu arrumaria um milhão de desculpas para não vir. Não estava preparada para isso e nem sei se poderia me preparar. Não como se eu não soubesse que o veria mais tarde ou mais cedo, só esperava que fosse mais tarde. Não estou sendo dramática nem nada, é só que ele sabe coisas sobre mim que talvez ninguém saiba, e esteve comigo em partes da minha vida que eu tento o máximo esconder.

– Assim, eu ficaria feliz se alguém me explicasse o que tá rolando. – Isabella diz meio confusa. – Tem algo entre vocês dois? – ela apontou para mim e para ele.

Minha resposta e a dele saíram juntas, um alto e súbito ‘não’, ao passo que um alegre ‘sim’ saiu da boca da minha prima.

– Eles foram namorados, só isso, Isa. – disse Olívia como se fosse algo obvio – Aí ela se mudou, eles vivem brigando, nada de mais.

– Não fomos não. – protesto.

– Lip, você não disse que a Barbie foi sua primeira namorada? – Isabella agora estava mais confusa ainda.

– Eu e a Aninha éramos amigos, namoramos há muito tempo e por um curto período. – ele parecia desconfortável, mas disse com tanta determinação que algo em mim doeu. Só foi isso pra ele?

– Vocês já se conheciam? – Bárbara tirou os olhos do celular pela primeira vez desde o beijo, como se só agora tivesse percebido a conversa.

– Sim. – eu e ele respondemos juntos ao mesmo tempo, de novo.

Nos olhamos mais uma vez, ele sorriu como se dissesse que está tudo bem, mexo a cabeça levemente e dou o assunto por encerrado.

– Então, qual é esse filme que trouxe pra Liv? – pergunto e me sento de novo.

– Ah, Os miseráveis. – agradeço mentalmente por ele pegar o barco. –Nosso professor passou há três semanas e ela nem encostou no livro, agora está desesperada pelo filme, mesmo que eu ache que não vai funcionar, pois...

– O livro é muito diferente do filme. – dizemos juntos, mais uma vez. Fico vermelha e torço para isso não virar um habito.

– Credo, ein? É só uma prova, o Cabeça-de-bacalhau não vai pedir detalhes. – minha prima se defende.

– Vai nessa, Liv, depois se fode e vem chorar. Estou acostumada come esse filme. – eu respondi e recebi um gesto grosseiro vindo da minha prima.

Todos já voltaram ao normal, ou ao que se pode considerar normal. Foi a vez de Fernanda jogar com Isabella, Félix ficou olhando e criticando cada coisa que elas faziam, minha prima iniciou uma conversa com Maria Bárbara – eu fazia questão de me dirigir a ela pelo nome todo – sobre a festa do dia seguinte. Deixando eu e Felipe sozinhos para falar sobre livros. Pelo menos nesse assunto conseguimos manter um conversa boa.

Talvez as coisas não fossem tão mal assim.

Queria ter coragem de admitir a ele que senti sua falta.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Apertem na opção de acompanhar a história e não perca nada quando eu tomar vergonha na cara de portar algo.
Kisses, Mari.



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