12 anos em 12 escrita por 12 anos em 12


Capítulo 168
Capítulo 168 - De volta ao tempo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/465962/chapter/168

 

No capítulo anterior…

 

Ela fica em silêncio, encarando as próprias mãos como se só agora tivesse tomado consciência da decisão que teve.

 

 

— Não quero mentir para você… - resolve falar - ele conheceu a Franchesca ontem. Pedi a Lucy para levar ela comigo para buscar os irmãos e os levei depois para vê-lo. Já faziam meses que ele me implorava, que me importunava com isso!

— Cintia…- não esconde a decepção.

— Pensei que ele vendo logo ia parar de incomodar!

— E aí você decidiu que trair a confiança dela seria uma boa opção?

— Vitor, as crianças não tem nada ver com essa história… Eles não…

— Por favor Cintia! - a interrompe - Você não pode estar dizendo isso… As crianças são filhos dela! No tempo dela ela resolveria como achasse melhor.

— Ele tratou eles muito bem! Foi só um sorvete, ficaram conversando e…

— Chega! - sinaliza para ela parar. Nada disso muda o fato de que você traiu a confiança da Paula. Quando ela chegar você vai contar tudo a ela… Desde quando planejou, porque fez isso… Deixa claro que Lucy e Lidi não tem nada ver com essa história, que não sabiam o que você estava fazendo com eles. Confiamos tanto em você que não nos importamos em você pegar nossos filhos, em sair com eles. Sabemos que você estará cuidando deles. Mas qualquer decisão que envolva a vida deles, só cabe a mim e a Paula… E você passou por cima disso! Pense bem no que dirá a ela. - se retira.

 

 

Vitor vai até as crianças e senta-se com eles para tomar o café da tarde que Diva havia preparado. Paula telefone para eles que não comentam sobre terem visto o avô.

 

 

— Filha, deixa eu falar com o papai…

— Pai, aqui…- passa o celular para ele.

— Oi amor!

— Tudo bem?

— Sim, porque?

— Mal falou comigo… Já passou para as crianças!

— Eles estavam ansiosos! Como você está?

— Com muitas saudades…- sorri. Dos meus filhotes, da minha casinha, dos meus bichinhos, da minha cama…

— De mim?

— Muitas! - riem. Nem sei dizer o quanto… Do seu cheirinho… - sorri. Prepara um jantar para nós amanhã? Na adega…

— Sim…- pensa no que ela vai descobrir.

— Que sim mais sem graça…- ri. O que está havendo?

— Uai, Pulinha…- sorri. Nada! Olha aqui…- vira para Francesca. Fala com a mamãe, pitoca!

— Oi amorzinho…

 

 

 

Paula finaliza a ligação pra retornar aos seus compromissos. Pela noite Dulce chega na fazenda para ajudar o genro nos cuidados com os netos. Após colocarem todos para dormirem no quarto de Paula e Vitor, sentam-se na varanda, com uma garrafa de vinho e ele conta a sogra sobre o que Cintia fez.

 

 

— Dulce…- chama atenção dela.

— Estou tentando entender…

— É…- serve mais uma taça. Quer?

— Sim! - pega. Ela ficará muito mal! Por que ela foi fazer isso?

— Não sei… - ficam um longo tempo em silêncio.

— Vou me deitar! - se levanta. Boa noite…- o cumprimenta e sai.

 

 

 

Ele permanece em silêncio. Sabia que era um assunto delicado para Dulce também. O dia amanhece e Vitor mal pregou os olhos. Dormindo com os filhos em sua cama, acaba levantando muito mais cedo para atender as necessidades das crianças.

 

 

 

— Pai… A gente pode ficar em casa hoje? Queria tanto ver a mamãe chegar…

— Vamos buscar ela pai?

— Vou levar uma bronca dela se vocês não forem!

— É só um dia… - Dulce chega. E estão com saudades dessa mamãe. Tenho certeza que ela não vai brigar… - sorri.

— Depois vocês digam então que foi vovó quem deixou vocês ficarem! - riem. Vou me arrumar para buscar ela no aeroporto…

 

 

 

 

Ao sair da cozinha, passa pelo corredor dos quartos e vê que o quarto que Cintia dorme está aberto. Resolve entrar e a encontra no closet, guardando suas coisas em uma mala.

 

 

 

 

— Bom dia Cintia! Não sabia que estava aqui. O que está fazendo?

— Vim buscar minhas coisas!

— Como assim?

— É o que entendeu! - fecha a mala.

— Cintia, vou buscar a Paula e então vocês podem conversar quando ela chegar.

— Não. Ela não precisa saber. E estou indo embora já. Já entreguei meu pedido de demissão na Jeito de Mato.

— Você está se precipitando! Paula jamais faria isso.

— O que ela faria ou não, não é mais do meu interesse. Vou me poupar da humilhação!

— Cintia, você precisa ao menos falar com ela. Vocês irão conversar, ela vai te perdoar!

— Mas eu não quero ser perdoada. Eu não fiz nada. Só que ela não vai entender isso como você não está entendendo!

— Você pensa então que tudo bem ter levado nossos filhos para o pai dela conhecer, sabendo que ela não queria isso?

— Ele já conhecia todos, menos Francesca. Ele já estava na porta na escola das crianças há semanas, para que ele parasse de ir eu chamei ele pra ver eles de uma vez e pronto.

— E quem falou para ele onde as crianças estudavam?

— Não sei!

— Não sabe ou não quer dizer?

— Está vendo? Você desconfia de mim. Paula vai desconfiar de mim. Não vou ficar aqui para ser humilhada! - pega as malas e vai saindo.

— Só estou querendo entender! - vai atrás dela. Você vai embora assim? Sem mais, nem menos?

— Estou poupando ela de ter que sair de ruim. Afinal, fiz isso a vida inteira.

— Que? Cintia… O que está havendo?

— Vou continuar falando com as crianças pelo telefone… Espero que não me proíbam.

 

 

 

Ela sai para fora, coloca as malas em seu carro e sai da chácara. Ele fica perplexo com a atitude, mas não alarma. Arruma-se e junto das crianças vai para o aeroporto aguardar Paula. Quando ela cruza o portão, vê todos os filhos e começa rir.

 

 

 

— Com quem preciso brigar? - abraça Vitória. Por que não estão na escola? - se abaixa e abraça Antônia e depois Vitor.

— Mãe, hoje não tem aula! Tá sendo o dia de feriado de buscar mamães no aeroporto!

— Não conhecia esse dia! - ri. Mas amei… - os abraça novamente. Estava com muitas saudades meus pequenos… E você, minha boneca serelepe? - vê Francesca se aproximar. Estava com saudades? - abraça a filha. Te amo! - beija-a. Como veio com todos no carro? - levanta e vai até o marido.

— Dei um jeito! - ri. Como você está? - abraça-a fortemente.

— Muito bem agora! - sorri. Com muita saudade de casa!

— Vamos matar essa saudade! - a beija.

 

 

 

Seguem para a chácara e no caminho Paula tenta ligar para Cintia, mas ela não atende.

 

 

— Cintia está em casa? Preciso passar a agenda da semana que vem para ela.

— Ela não está, pequena…

— Como não? Era para ela estar! E ainda não me atende! - tenta de novo.

— Mãe, a dindinha levou a gente para tomar sorvete depois da aula essa semana!

— Que bom filha! Vocês gostaram? - olha para trás.

— Paula, você quer algo diferente para o almoço? - interrompe, tentando mudar de assunto.

— Não, Vi! O que Diva fizer será ótimo.

— Mãe, a gente tem que te mostrar uma coisa quando a gente chegar.

— O que é? - ri, olhando para eles novamente.

— Um presente que o vovô deixou para você!

— Vovô?

— Sim, ele foi…

— Antônia - Vitor interrompe - qual música você queria ouvir quando viemos mesmo?

— Aquela do cachorro pai!

— Tá, vou colocar! Vamos cantar ela?

— Filha… - olha para Vitor tentando ver a reação dele - O vovô te entregou um presente?

— Sim, mãe. Ele tomou sorvete com a gente.

— Seu pai está na cidade? - pergunta ao marido, temendo a resposta.

— Pulinha… - olha para ela sem saber o que dizer.

— A Francesca adorou ele, ficava rindo! - riem.

— Para o carro Vitor! - tira o cinto.

— Paula, quando chegarmos em casa…

— PARA O CARRO! - grita.

 

 

 

Ele faz o que ela pede para não assustar mais as crianças. Ela desce ligeiramente e sem pensar duas vezes, vomita na beira da estrada. Vitor vai até ela preocupado.

 

 

 

— Pulinha… - segura a cabeça dela. Calma! Respira fundo…

 

 

 

Ela vomita mais duas vezes e ele corre até o porta malas pegando uma fralda da bebê para limpá-la.

 

 

— Ergue a cabeça, amor! - ajuda.

— O que você fez? - começa chorar.

— Paula…- olha-a. Não fui eu! - se emociona. Vamos para casa, por favor… Lá nós vamos conversar!

— Quem fez isso Vitor? - chora desesperadamente. Quem foi que deixou ele ver as crianças de novo? - segura na camisa dele. FALA!

— As crianças estão vendo tudo isso Paula! Por favor… Vamos para casa.

 

 

 

Vitor a leva de volta ao carro, a hidratando com água e inclinando o banco para que a pressão dela normalizasse. As crianças, assustadas, começam a perguntar a mãe o que está havendo.

 

 

— Vitória, Vítor e Antônia… - olha para eles. Preciso que vocês fiquem quietinhos até chegarmos em casa. A mamãe não está passando bem e precisa ficar em silêncio! Quando chegarmos lá, eu vou explicar tudo para vocês.

 

 

 

Obedecem ao pai e ao chegarem na chácara, ele as retira do carro e acompanha Paula até o quarto deles.

 

 

 

— Vou tomar um banho!

— Você está melhor?

— Quem foi que levou eles, Vitor? - olha-o, implorando uma resposta.

— Pulinha, vamos sentar aqui…- a leva até a cama. Parece que ele já estava há algumas semanas sondando as crianças na escola… Cintia viu e me disse que para ele parar, deixou que ele visse as crianças.

— Deixou que ele visse? Como assim deixou que ele visse? O que ela tinha que ter feito é contado para nós! - se levanta nervosa. Cadê ela? Ela extrapolou qualquer limite! Ela passou por cima de mim sem dó.

— Paula, ela veio buscar as coisas dela, disse ter entregue um pedido de demissão na Jeito de Mato! Mas, ela estava nervosa… Vocês podem conversar daqui alguns dias.

— Ela me trai, vira as costas para mim como se eu não fosse nada e ainda vai embora assim…? Sem ter coragem de olhar na minha cara e querer contar o que houve, mesmo que não haja justificativa? Ela não teve o mínimo de responsabilidade afetiva com tudo que vivemos… - começa chorar. Não quero mais ela aqui! Não quero ela perto dos meus filhos.

— Paula! - tenta argumentar.

— Resolve a demissão dela para mim! - vai para o banheiro e se tranca.

 

 

 

Dulce entra no quarto e ele conta o que aconteceu. Ela resolve ficar aguardando Paula sair do banho e ele vai conversar com os filhos.

 

 

 

 

— A mamãe teve um mal estar… Uma dor no estômago e por isso ela passou mal no caminho. Vocês foram muito atenciosos e obedientes! - sorri - Tenho muito orgulho de vocês e amo muito vocês.

— Podemos comer um pedaço de chocolate agora então?

— Não! Porque ser obediente é obrigação de vocês. Agora vão… Lidi e Lucy vão passar as atividades e depois que terminarem, vamos almoçar!

— E depois do almoço… CHOCOLATE!

— Vou pensar! - ri deles.

— Bom dia! - chega na sala.

— Oi tio! - corre abraçá-lo.

 

 

 

As crianças cumprimentam Nilmar e depois seguem com as babás.

 

 

— Já tomou café?

— Não!

— Vamos lá! - seguem para a cozinha.

— Paula já está sabendo da Cintia…? - senta-se.

— Já sim! - serve uma xícara.

— O que faço? Porque ela entregou o pedido, mas creio que seja só uma discussão boba delas.

— Cintia não te contou o que houve?

— Não! O que aconteceu? - se preocupa.

 

 

 

Ele explica toda a história para o cunhado que fica abismado com a situação. Tomam café e esperam Dulce e Paula retornarem do quarto.

 

 

 

— Oi! - abraça o irmão.

— Tudo bem filho? - o cumprimenta.

— Tudo bem… Como estão?

— Você já sabe? - se senta.

— Paulinha, o que você acha de esperarmos um…

— Paga todos os direitos dela, independente dela ter pedido ou não. - começa comer.

— Você tem certeza disso? - Dulce pergunta.

— Nunca tive tanta! Se ela não teve um pingo de consideração por mim, o que me faz ir atrás dela? Onde vai? - vê Vítor se levantar.

— Vou deixar vocês conversarem!

— Não! Já conversamos, senta aí. Cadê as crianças?

— Estão fazendo as atividades. Já tomaram café da manhã. Eu vou para o escritório e vocês conversam sobre os seus negócios…

— Vitor… - encara ele - Não são só meus negócios, são nossos.

— Não são nossos. É sua carreira, é a forma que você vai decidir as coisas enquanto empresária. Não tenho que dar opinião e nem se tivesse eu daria! Depois nos vemos! - pega um pão e sai.

 

 

 

 

Vitor vai para o escritório onde acende um charuto e termina de comer seu pão, imerso em seus pensamentos não escuta Vitória invadir a sala.

 

 

 

— Pai, tia Lucy pediu para mim vir aqui fazer essa tarefa com você. - senta-se.

— Oi! Por que não bateu na porta? - apaga o charuto.

— Esqueci!

— Sei… Deixa eu ver a atividade! - pega o papel. São perguntas…

— Sim! - vai ao lado do pai.

— Vamos ver…- começa ler - Descreva o que é ser um herói e uma heroína… - lê a pergunta. O que você acha que é? - olha para ela.

— Ah…- pensa - é ser você e a mamãe?

— Por que ser eu e sua mãe?

— Porque vocês amam a gente, cuidam da gente, brincam, fazem tudo…

— Então um herói e uma heroína seriam pessoas que amam as outras?

— É!

— É uma excelente resposta! - sorri. Escreva…

 

 

 

Aguarda Vitória escrever, com os olhos brilhando por vê-la evoluindo cada vez mais.

 

 

— Leia essa próxima para mim…

— Você acha que os heróis e heroínas tem medo de algo? Se sim, descreva o que.

— E aí? Você acha que eles tem medo?

— Olha pai eu acho que tem sim, porque todo mundo tem medo né?

— Isso mesmo! Ter medo é normal. É um sentimento como qualquer outro, não torna ninguém menos que o outro. Mas então… Do que você acha que seus heróis tem medo?

— A mamãe tem medo da gente se machucar e de cobra, né?

— Sim! - sorri.

— E você tem medo da mamãe!

— Que? - ri, surpreendido pela resposta.

— É, ué… Você tem medo dela! - escreve.

— Vitória, você vai colocar isso mesmo? - ri.

— Vou! Você fala que não pode mentir e eu não estou mentindo!

— Está bom então, fazer o que! - ri.

 

 

 

Conclui uma parte da tarefa escolar da filha, rindo das respostas inusitadas dela. Em outra parte é preciso contar a história da família e ele pede que para fazerem mais tarde, com a Paula junto.

Na cozinha, terminam de conversar a respeito de algumas decisões envolvendo a Jeito de Mato. Paula então vai em busca de Vitor, o encontrando no escritório.

 

 

— Oi! - a vê. Que bom que apareceu… Vitória tem uma tarefa em que precisamos contar a história da família, pedi para fazermos depois, juntos com você. O que foi? - vê ela se aproximar dele.

— Nada…- empurra a cadeira dele, sentando em seu colo.

— Está tudo bem? - ri.

— Sim! - se aninha no peito dele. Só estou com saudade de não ter que pensar em problema.

— Mas problemas fazem parte da vida…- a abraça. Feliz ou infelizmente… O importante é a gente saber como agir diante deles.

— Estou cansada de ter que agir. Só isso.

— Pulinha…- se preocupa. Entendo que nada esteja fácil, ainda mais agora… Mas, estamos aqui e como sempre, vai passar.

— Dessa vez não vai Vitor… A Cintia não vai voltar…

— Ainda é cedo para pensarmos nisso!

— Você acha que ela deve voltar? - olha para ele. Estou me sentindo apunhalada pelas costas! Ela mais do que ninguém sabe minhas dores e não se importou com isso. Você também sabe e ainda assim parece que está considerando normal o que houve! - levanta.

— Paula, por favor! Não é nada disso. - se levanta atrás dela. Me desculpe ter deixado você entender isso… Eu só achei que fosse o que você queria, talvez seja o que você quer… Não agora, mas…

— Não quero! Ficou claro?

— Tudo bem! Ficou claro. Agora vem aqui… - senta. Vamos só ficar ouvindo o silêncio! - estende a mão para ela. Por favor… - ela se aproxima novamente e senta no colo dele.

 

 

 

Permanecem um bom tempo em silêncio, parados sobre um sobre o outro, respirando conforme o coração batia. Dulce vai até eles, ao ver a cena tenta sair sem ser percebida, mas é em vão. Avisa Paula que a representante da empresa de organização de eventos em que agendou uma reunião, havia chegado.

 

 

— Vai ter alguma festa?

— Não… - se levanta. É só um coquetel pro lançamento do disco, na Jeito de Mato mesmo. Preciso ver alguns detalhes…

— Entendi! - sorri. Quer sair para jantar hoje?

— Querer eu até queria, amor… Só estou um pouco cansada!

— Tudo bem… Jantamos aqui!

— Certo! Já venho…- vai saindo.

— Pulinha…- chama, indo até ela.

— Oi! - é surpreendida com um beijo. Te amo! - ri.

— Eu também te amo, muito! - sorri. Não esquece que precisamos fazer a tarefa da Vitória…

— Não vou esquecer! - sorri.

 

 

 

Se encontra com a moça na sala mesmo e começam conversar sobre os detalhes do evento.

 

 

 

— Paula, trouxe um presente para você e um para Vítor…

— Nossa, que bacana! - sorri. Muito obrigada! - pega. Que fofura! - observa uma miniatura dela em um cavalo com as crianças. Amei! - ri. As crianças vão enlouquecer quando verem! Quanto carinho, obrigada…

— Imagina! - sorri. Esse é do Vítor…- entrega.

— Vou chamá-lo, espera…

— Eu vou lá Pulinha…- Dulce se levanta.

 

 

 

Vai até o escritório e chama Vitor para receber a lembrança. Ao chegarem próximos a sala, ele para de andar.

 

 

— O que foi?

— Dulce… Qual o nome daquela mulher?

— Não lembro… Acho que Fabiana, Fabricia… Não sei, porque?

— Não me é estranha…- começa se preocupar.

— Como assim? Você conhece?

— Hum… Não sei… - mente. Vamos! - seguem. Olá… Boa tarde! - sorri.

— Vitor Chaves…- se levanta. Quanto tempo! - o abraça.

 

 

 

Paula observa a aproximação e respira fundo, sabendo já do que se trata.

 

 

— Fabiane te trouxe um presente, Vitor…- entrega para ele.

— Que gentil da sua parte, obrigado! - sorri, sem graça.

— Não vai abrir, amor? - pede, curiosa.

— Vou… - abre. Um perfume…

— E o seu perfume… Há anos! - sorri, debochando.

— Obrigado! - agradece ainda sem jeito. Preciso voltar ao escritório, Pulinha…- olha para Paula que já entendeu a situação.

— Claro! - beija-o. Vai lá…

— Licença! - sai.

 

 

Trata a mulher com educação e finaliza a reunião pedindo que Dulce a acompanhe até a porta. Vai até o escritório e encontra Vitor encarando a tela do computador.

 

 

— Quando foi?

— Oi…

— Quando foi?

— O que?

— Ah, por favor… Não se faça de burro!

— Paula…- levanta.

— Eu ganhei uma miniatura minha com as crianças e você um perfume importado? E como é que ela sabia que você usa esse perfume? Me poupe né…- senta no sofá.

— Eu não lembro! Não lembrava dela até ver ela de perto. - senta ao lado dela. Amor…

— Saio de Uberlândia achando que não vou me deparar com suas exs… - o encara - mas eu onde for vai sempre ter uma né?

— Ela nem é ex! Não namorei ela.

— Você disse que não lembrava…

— Por isso mesmo! Não lembro dela, não namorei. Acho que só saímos uns dias… Mas, nada mais.

— Saiu como?

— Sério? Vamos mudar de assunto…

— Eu só quero saber!

— Saímos umas duas vezes para jantar eu acho.

— E você jantou ela?

— Que horror Paula! - ri.

— Para ela saber tão bem seu perfume!

— Não sei porque você faz isso… Encontro seus exs e não falo nada.

— Ah… Jura? - ri. Deu para mentir agora?

— Esta duvidando? - se levanta e vai até a mesa, retirando um papel da gaveta e retornando até ela. Fui renovar o seguro do seu carro… Olha quem é meu atendente! - entrega.

— Fábio… - lê e olha para ele. Sério?

— Sim!

— Você não me disse nada…

— Porque não faz parte do nosso presente, nem do nosso futuro! Qual a relevância?

— Não consigo ser assim. Você sabe que não sou assim como você.

— Não quero que seja igual a mim! Só quero que pare de achar que tem alguma importância o meu passado com essas mulheres.

— Não acho que tenha importância!

— Então não entendo!

— Não é para entender! Não acho que tenha importância, mas não quero ficar me deparando com elas em todo canto.

— Que exagero, Paula! - a puxa para si. Estou com saudades…

— Estou aqui!

— Não saudade disso…

— Deixa de ser safado! - riem. Nem almoçamos ainda e você com safadeza já a essa hora da manhã.

— Não temos horário marcado para isso! A qualquer momento o desejo vem…

— Tá bom! - ri. Mas segura seu desejo ai. O que precisamos fazer com Vitória?

— É uma atividade que pede que a gente conte a história da família.

— Meu Deus… Precisamos saber o que vamos falar.

— Pois é! - ri. Não dá pra contar a verdade, verdadeira…

— E por que não? - olha para ele.

— Precisamos fazer um resumo!

— Isso é! - ri.

 

 

Vitória entra no escritório e encontra os pais, pedindo que eles a ajudem na tarefa novamente. Seguem para a cozinha com ela e lá sentam-se para começarem a resumir toda a história.

 

 

— O que está pedindo para ser feito Vivi?

— Para contar a história da minha família…- mostra para ela. Olha…

— Ok… Vamos começar contando de você. Escreva seu nome, sua idade e os nossos nomes.

— Tá… - começa escrever. Mas, mãe… Como?

— Vai… - arruma uma nova folha para ela. Eu me chamo Vitória Zapalá… - começa ditar - tenho 7 anos de idade e nasci em Uberlândia, Minas Gerais. Meus pais são Vitor Chaves Zapalá Pimentel e Paula Fernandes de Souza.

— Mãe, porque não sou Fernandes?

— Porque quisemos fazer uma homenagem para sua bisa, filha… E colocamos só o sobrenome dela.

— Posso escrever isso?

— Pode…- ri. Coloca aí então… Ao contrário dos meus irmãos, não carrego o sobrenome da minha mãe por representar uma homenagem a minha bisavó Beatriz Zapalá, escritora, poetisa e membra da Academia de Letras.

— Afinal, o que a bisa faz? Porque não entendi nada disso aí não.

— Vitória! - riem. A bisa escreve livros… Lembra o livro que ela te deu e eu sempre li para você? Da fazenda… - ela assente - foi ela quem escreveu! - sorri.

— Legal! - sorri. E agora?

— Vamos lá… Continuando… Por falar em irmãos, - observa ela escrever e fala sobre a pontuação - tenho 4. Maria, minha tatá mais velha, Vitor e Antônia que são gêmeos e Francesca, mais novos que eu. Moramos atualmente em Belo Horizonte, cidade em que meus pais começaram a namorar.

— Foi aqui? - Vitor questiona.

— Você me pediu em namoro aqui! - ri. Você esqueceu?

— Não, uai… Mas achei que tinha sido em São Paulo. Enfim… Continua aí…

— Agora sua vez… Não sei como começar explicar sobre a gente.

— Vai Vivi… Meus pais se conheceram ainda muito jovens em uma viagem a trabalho na cidade de Barretos, em São Paulo. Se tornaram muito amigos e inseparáveis desde então. Após alguns anos de amizade, começaram a namorar, mas só se casaram e me tiveram muitos anos mais tarde.

— Pulou quase 15 anos de história!

— Você quer contar? - olha para ela. Não esquece que as professoras vão ler isso!

— Melhor não! Continua…

— Fui uma grande surpresa na vida deles, mamãe se casou quando eu estava em sua barriga e eles ficaram muito felizes com minha chegada.

— Pai, o que você e a mamãe fazem?

— Como assim, filha?

— Vocês trabalham onde?

— Uai, Vivi…- se surpreende com a pergunta. Somos artistas, cantores.

— Eu sei mãe, mas você trabalha no que?

— Filha…- começam rir da situação - cantar é um trabalho. Nós trabalhamos cantando…

— Ela não vai entender assim!

— Então explica você!

— Vitória… No que você acha que trabalhamos?

— De cuidar da gente.

— Também é um trabalho e um trabalho muito cansativo e digno. Quem trabalha cuidando de vocês é a tia Lidi e a tia Lucy, ok?

— Mas vocês e as vovós?

— Nós também cuidamos de vocês, mas não é nosso trabalho, profissão. Trabalho é aquilo que fazemos e que nos dá retorno financeiro…

— Que isso?

— Dinheiro, filha.

— Onde vocês ganham dinheiro então?

— Eu e sua mãe escrevemos músicas, cantamos músicas, fazemos shows e ganhamos dinheiro para isso.

— E o tio Leo?

— Também!

— E o tio Nilmar e a tia Paula?

— Vivi… Tio Nilmar é empresário. Ele cuida de algumas empresas da mamãe e outras dele. Tia Paula é psicóloga. Mas você não precisa entender isso agora, ok? Explicamos depois…

— Mais tarde você liga para eles e eles te contam o que fazem, pode ser?

— Tá bom! Quero escrever aqui o que vocês fazem pai…

— Tudo bem… Vamos ver - le o texto - tá… Meu pai e minha mãe são cantores e se aproximaram por conta da música. Hoje se dividem em cuidar de mim, dos meus irmãos e dos trabalhos no mundo da arte musical e empresarial. Somos uma família muito unida e adoramos brincar todos juntos, assistir filmes, comer batata frita e andar pela chácara observando cada bicho que tem por aqui. Minhas avós, Marisa e Dulce, também cuidam de nós e dos meus pais com muito amor e carinho, sempre estando presentes em nossas vidas. Minha irmã Maria mora nos EUA, junto com a mamãe dela, mas nos falamos todos os dias. Meus irmãos Vitor e Antônia, também em homenagem ao meu pai Vitor e meu bisavô Antônio, brincam muito comigo e por aqui dividimos todos os brinquedos. Minha irmã Francesca, em homenagem a vovó da minha mãe, minha bisa Francisca, está andando agora e acaba sempre atrapalhando nossas brincadeiras, mas amamos nossa caçulinha.

— Nem sempre né… Porque ela é muito enxerida às vezes.

— Vitória! - a repreende. Ela é um bebê. Você também era enxerida quando era bebê. Até hoje na verdade…- riem.

— Mãe… Quero falar da madrinha aqui.

— Não precisa, filha!

— Paula…- olha para ela.

— Vai insistir, Vitor? - o encara.

— Conversamos depois! Vitória, por hoje é só, ok? Depois concluímos sua tarefa. Guarda suas coisas no seu quarto! - a ajuda guardar os lápis.

 

 

 

Vitória segue para o quarto e eles se olham, prestes a começar um conflito, mas Dulce chega no momento certo.

 

 

— Paulinha, te mandaram essa caixa… Lembra da Amanda, esposa do seu primo, lá de Sete Lagoas? - coloca sobre a mesa.

— Me recordo vagamente, mãe…- se levanta e vai até ela.

— Ela tem uma loja e me perguntou se poderia te mandar algumas coisas, falei que sim…- pega uma faca para abrir.

— O que ela vende?

— Não sei filha…- começa abrir. Acho que roupa. Seria bacana você divulgar, ajudaria eles…

— Tudo bem… - a ajuda abrir. Uai... São produtos - não entende - Espera… - pega um. Mãe…- começa rir - não tem como eu divulgar isso, não!

— Por que? - pega mais alguns na caixa. Mas gente… Que loucura mandar isso!

— Mandaram o que? - Vitor se aproxima, curioso.

— Produtos eróticos! Olha esse…- mostra para ele.

— Seria interessante você divulgando isso! - ri dela, debochando.

— Vai te lascar! - riem.

— Olha aqui Pulinha…- pega um da caixa - É comestível…- ri. Deve ser legal!

— Coloca em você, aí vemos se é legal!

— Mas é para mulher usar! Tá escrito aqui…

— Uai, mas na hora H vale tudo! Por que só a mulher tem que usar?

— É uma calcinha? - Dulce olha.

— Sim! Por isso não tem como eu colocar, se fosse uma cueca, colocaria para você.

— Ah, me erra! - ri.

— Olá, bom dia! - chega na cozinha. Estou lá da sala chamando e ninguém me responde.

— Oi! - sorri, a cumprimentando. Estamos aqui olhando um presente que recebi…

— Hum, que legal! Deixa eu ver…

— Quer esse mãe? - mostra para ela - Diz aqui que deixa quente ou muito refrescante, é uma surpresa.

— Me respeita! - o encara. Você ganhou isso Paula?

— Sim! - ri, mexendo na caixa. Hum… Esse é legal!

— Deixa eu ver… - se aproxima dela e lê a descrição - gel que te proporciona sensações loucas e picantes que te deixam daquele jeito, pronta para jogo. - começa rir. As pessoas que escrevem essas descrições devem se divertir muito!

 

 

Se entretêm com os produtos e não escutam as crianças chegando. Quando os vê, jogam tudo na caixa e Vitor pega da mesa.

 

 

— Que isso pai? - o vê com a caixa.

— Uns cremes que mamãe ganhou! Vou lá guardar para ela…- se retira.

— Vamos almoçar galerinha?

 

 

 

Dulce se dispõe e leva os netos para se limparem. Marisa prepara a mesa e Paula vai atrás de Vitor para chamá-lo.

 

 

— Tinha certeza que você estava mexendo…- o encontra vendo a caixa.

— Só achei interessante! - guarda.

— Podemos testar alguns mais tarde! - se aproxima dele.

— Não sendo nada que deixe minhas partes picantes…- riem.

— Aí não tem graça! - enlaça as mãos sobre o pescoço dele.

— Precisamos conversar…- olha-a.

— Se é sobre Cíntia, melhor não! - se afasta.

— Conversamos depois!

— Já falei que não! - encara.

— Pulinha… As crianças vão perguntar dela, principalmente Vitória! Precisamos ver uma forma dela falar com eles, sem que eles sejam atingidos por isso. Não estou dizendo sobre ela vir aqui, não! Só conversarem…

— Eu falei que não quero conversar e você está insistindo!

— Tudo bem!

 

 

 

Segue para a cozinha e ela faz o mesmo tempo depois. Na mesa Vitória conta sobre sua atividade e os irmãos ficam intrigados com a história dos pais.

 

 

 

— Mas no que vocês trabalhavam pai?

— Éramos cantores! - limpa a boca.

— Já eram cantores naquela época? - Antônia pergunta.

— Sim! - todos riem.

— Como você viu a mamãe?

— Ela estava com a vó Dulce… - olha para a sogra - E eu com o tio Leo. Nos vimos, nos cumprimentamos e começamos a ser amigos. - explica.

— Ela já era bonita?

— Ela sempre foi linda! - sorri e olha para Paula.

— Vocês estão cheio de curiosidades, hein? - Marisa se diverte.

— Havia me esquecido que esse dia chegaria!

— Você já tinha cabelo branco, pai?

— Não! - riem.

— Antônia, papai tinha os cabelos iguais aos seus. A carinha é a mesma! - ri.

 

 

 

Almoçam desvendando as curiosidades das crianças. Na tarde, Marisa os leva para um passeio em uma chácara vizinha e Dulce aproveita para ir para Sete Lagoas por uns dias.

 

 

 

 

— Você vai ficar bem?

— Vou mãezinha… Pode ir tranquila!

— Qualquer coisa me liga… Vitor também estará aqui, você estará bem!

— Talvez se ele não estivesse eu ficaria! - riem. Ele fica insistindo para voltar no assunto, me irrita!

— Tenha paciência Paula…- fecha a mala.

— Vou ter! Vou tentar entreter ele.

— Sei! - ri. Já vou… Elias vai me levar! - coloca a mala no chão. Beijos…- vai até Paula e se despede.

 

 

 

 

Ela acompanha Dulce até a porta e a vê partir. Retorna para casa e dá de cara com Vitor na porta da cozinha, a encarando.

 

 

 

— O que foi?

— Nada! Sua mãe já foi?

— Sim! Porque não veio se despedir dela?

— Já havia me despedido antes.

— Vou tentar descansar um pouco, antes das crianças chegarem… - vai para o quarto.

 

 

 

 

 

Foge de Vitor durante o restante do dia, não sentia-se preparada para conversar e sabia que ele insistiria nisso. Aproveita o tempo sozinha e finaliza um livro que havia ganho durante a viagem em São Paulo. Sente-se tentada a mandar mensagem para a prima, pegando o celular por várias vezes, mas desiste, tentando afastar o pensamento e acaba adormecendo.

Vitor vai até o quarto e vê dormindo. Liga o ar condicionado e fecha as cortinas para que ela consiga descansar melhor. Escuta a chegada dos filhos e vai até eles.

 

 

 

— PAI, VOCÊ TINHA QUE VER! - diz empolgado.

— O que filho? - o pega no colo.

— TINHA VÁRIOS MACACOS! - surpreso.

— Sério? Meu Deus, que coisa legal amigão! - o beija. Você gostou então, né?

— Eu amei! - sorri.

— E vocês? Gostaram? - olha para as filhas chegando.

— Eu gostei! Amei dar bananas para os macacos, sabia que eles comem manga também?

— Eles comem muitas coisas, filha! - desce o filho. Adoram também pão, mexerica, muita coisa… - sorri. Francesca se comportou?

 

 

Contam a experiência para o pai, o quanto Francesca ficou encantada. Perguntam da mãe e ele explica que ela está descansando. Vitória então pede ao pai para verem alguns vídeos de patinação e conta que terá uma prova.

 

 

— Quando será filha?

— Amanhã!

— Já? Você não contou nada para gente, Vivi…

— Eu falei pai… Acho que você não ouviu.

— Me desculpa, amor… Não me lembro. - coloca o vídeo na tv. Mamãe e eu podemos assistir?

— Acho que sim!

— Você pode ir na minha aula de ballet também? - Antônia se aproxima.

— Claro que irei! - sorri.

 

 

 

Assistem aos vídeos até que Paula se junta a eles. Vitória conta para a mãe sobre as aulas, fala das manobras da patinação e surpreende os pais por tanto conhecimento e dedicação em aprender. Marisa prepara o jantar e eles colocam todos para tomar banho.

 

 

— Francesca dormiu…

— Não acredito! - olha para ele. Vitor, ela nem tinha jantado…

— E eu ia fazer o que?

— Não deixar ela dormir! Quero só ver mais tarde… Ela vai acordar e voltar a dormir só Deus sabe quando! Vem filha…- enrola Antônia em uma toalha. Veja se Vitor já tomou o banho dele…

 

 

Confere o banho do filho e o ajuda a terminar. Com todos prontos, jantam em família.

 

 

— Vó, posso dormir com você?

— Por mim tudo bem… Tem que pedir para a mamãe agora…

— Você deixa mãe? - olha para Paula.

— Sim…- ri. Vitor…- olha para ele no celular. Estamos jantando… - chama atenção. Temos um combinado sobre isso.

— Sim, desculpa! - coloca o telefone na mesa. Estava respondendo o Edu…- volta comer.

— Sobre?

— Nada importante… Estava me chamando para jogar.

— Ah sim… Você vai?

— Não sei…

 

 

 

 

Terminam o jantar e por insistência das crianças, assistem um filme. Marisa segue para seu quarto junto do neto e as meninas seguem para os delas com a benção de Paula para dormirem enquanto Vitor coloca Francesca no dela, já dormindo.

 

 

 

— Dormiram? - encontra Paula no corredor.

— Estão quase… Ficaram cansadas com o passeio hoje.

— Sim. - segue para seu quarto.

— Você vai jogar? - entram.

— Acho que não… Vou só para a adega organizar minhas coisas que deixei jogada lá. - pega seu celular.

— Entendi…

— Já venho! - sai.

 

 

Paula o sente distante e teme isso. Prepara seu banho e pensa em uma forma de quebrar o clima. Ao sair, vasculha a caixa que recebeu e coloca um dos presentes recebidos pela prima distante. Prepara o quarto e manda mensagem para Vitor.

 

 

 

WHATS ON…

 

— Não vai vir dormir?

— Só mais 5 minutos e vou… Estou terminando aqui.

— Ok. Estou te esperando… Vamos ver uma série? Passa no quarto das meninas e veja se estão dormindo bem.

— Pode ser, já vou. Ok.

 

WHATS OFF

 

 

 

Diminui as luzes, deixando apenas o led aceso. Separa alguns produtos e os coloca do lado da cama. O aguarda paciente, até que escuta ele se aproximar e abre a porta, o surpreendendo.

 

 

 

— Oi… - ri.

— Demorou! - fecha a porta.

— Fui conferir as meninas… - a olha. Pulinha…

— Se você rir…

— Você está linda! - sorri.

— Pensei que poderíamos experimentar algumas coisas diferentes… - se aproxima dele.

— É uma ideia ótima! Vou só tomar um banho…

— Não… A gente toma depois, juntos. - desabotoa a camisa dele.

 

 

Retira a camisa dele e em seguida a calça. O afasta até a cama entre beijos quentes e eita-se, o aguardando acariciá-la. Vítor escolha um dos produtos que está ao seu lado e espalha sobre corpo de Paula, causando uma sensação refrescante que parece virar fogo sobre a pele quando ele a beija, deixando-a inebriada. Ele prolonga a sensação nela, fazendo-a implorar para que ele vá além e quando o sente retirar sua peça íntima, sorri inteira por dentro e por fora, mas o brilho vai sumindo quando sente ele cessar os carinhos. Encara-o tentando entender o porque ter interrompido e ele a encara de volta, com os olhos mais passivos que ela poderia ver.

 

 

— Geralmente funciona comigo… - a observa serenamente. Mas hoje não! - sai da cama e recolhe sua roupa, seguindo em direção ao banheiro.

— Vitor…- o questiona sem entender. O que aconteceu? - puxa o lençol. Você está bem?

— Não! Não estou… - vira para ela. Porque você, mais uma vez, está mascarando o que aconteceu. Eu quis ver até onde você iria… E você seria capaz de ir além. Isso me incomoda, Paula! Me incomoda você estar tão machucada e querer seguir como se não houvesse NADA. - ela levanta da cama e ele observa. Nós precisamos conversar, o que aconteceu com a Cíntia…

— Para! - vira para ele, chorando. Por favor!

— Está vendo? Pulinha…- vai até ela, mas se esquiva.

— Não encosta em mim, não faz isso!

— O que estou fazendo? - questiona. Tentando te ajudar com uma dor? Tentando te fazer enxergar que ficar escondendo de você mesma tudo que acontece na sua vida é um caminho péssimo? Se a gente conversar, você vai conseguir desabafar o que sente, vai colocar para fora tudo que…

— Vitor! - o interrompe. CHEGA! É meu direito não querer tocar no assunto, não me sinto pronta ainda…- chora. Eu queria esquecer mesmo, eu queria…

— Sexo não é remédio! Ainda mais quando a dor essa… Não dá para querer transar a cada vez que você querer fugir de algo. Não é saudável sequer pensar que isso é uma opção.

— Não pensei nada! - olha para ele. Eu só queria que pudéssemos ter um momento diferente, um momento que…

— Que fizesse com que eu não conversasse com você! - ela o olha, entregando que era a real intenção dela, mas nada diz. Quer tomar um banho?

— Não! - se afasta.

 

 

 

 

 

Respira fundo enquanto a vê se afastar até a varanda, envolta no lençol. Vai para o banho e alivia a tensão acumulada sob a água quente. Quando sai já encontra o quarto arrumado, ela havia retirado todos os produtos e guardado, colocado um pijama e deitado. Ele deita ao lado, observa que ela está acordada e se aproxima dela.

 

 

— Quero ficar sozinha. - tira a braço dele de si.

— Pulinha… Vamos conversar, resolvermos isso para poder continuar nossa vida.

— Você acha que conversar vai resolver? - encara ele. Por favor, né Vítor? Não venha com essa.

— Vai aliviar a sua dor! Vai fazer com que você consiga passar o dia fora do quarto.

— Chega! Já te pedi, por favor. - vira-se de costas.

— Você é muito teimosa, Paula! Não dá para conversar com você. - se levanta nervoso.

 

 

 

Sai do quarto pisando alto. Acaba adormecendo na sala e é encontrado pelos filhos na manhã seguinte.

 

 

— Pai, porque dormiu aqui? - olha para ele.

— Bom dia, meu amor! - sorri. Vim assistir um filme e acabei dormindo… - se senta. Por que já levantaram? Não tem aula hoje…

— Mamãe acordou a gente. Vamos sair!

— Sair? - estranha.

— Aham! Você não vem?

— Não sei filha…- levanta. Vão tomar café, a Diva está esperando vocês!

 

 

 

Segue para seu quarto, encontrando Paula arrumando Francesca.

 

 

 

— Onde vai?

— Bom dia também.

— Bom dia… Para onde você vai com eles?

— Vou em Sete Lagoas.

— Por que não me chamou?

— Vai começar fazer cena?

— Não te entendo! Nem é comigo que você briga, mas sou quem pago o pato das suas raivas.

— Vitor… Sabe o que me mais me incomoda em você? - encara-o. Agir como se não tivesse feito nada… Como se não tivesse me chateado, me magoado.

— Paula, o que fiz? Só estou tentando conversar…

— O que você fez? - ri. Ontem eu me senti um NADA quando você me deixou naquela cama. Me senti humilhada, envergonhada!

— Eu só queria que a gente pudesse conv…

— CHEGA DESSA IDIOTICE DE CONVERSAR!

— Paula, se acalma…

— Olha o que você faz! - Francesca começa chorar.

— Você quem está gritando! - pega a bebê no colo. Pelo amor Deus, você não está bem…

 

 

 

A caminho da cozinha, Vitória escuta a voz da mãe alterada e antes que Diva possa segura-la, corre até o quarto surpreendendo os pais. Paula vê a filha entrar e se vira, tentando manter o controle.

 

 

— Mãe… Você estava gritando?

— Sim filha…- se vira, a olhando. Mas foi só um susto que levei…- vai até ela e se abaixa. Está tudo bem! - sorri.

— A Francesca estava chorando…

— Sim, ela se assustou também.

— Pensei que vocês estavam brigando. Pai, - olha para Vitor - você não vai embora, né?

— Vitória…- sente o coração ser esmagado - eu não vou embora! Estou aqui…- sorri. Vim ajudar a mamãe trocar a Cacá e aí elas se assustaram.

— Vai tomar café para irmos! - arruma ela.

— Tá bom! - sai.

 

 

Aguardam ela sair. Vitor senta na cama com a filha e não consegue segurar as lágrimas. Paula vai para a varanda, tentando controlar o nervosismo e a tristeza, retornando ao quarto pouco tempo depois.

 

 

— Toda vez nós falamos que isso não pode acontecer e sempre volta acontecer!

— É… Mas, de qualquer forma, a gente resolve isso depois. Vou me arrumar e vamos juntos para Sete Lagoas.

— Não precisa!

— Não começa, por favor…

 

 

Ele se arruma e algum tempo depois já estão na estrada. Paula vai relembrando toda sua infância a cada parte do caminho. Seu coração de certa forma vai se acalmando, as histórias das brincadeiras na beira do rio vão sendo contadas aos filhos que, curiosos, não param de perguntar sobre tudo. Aquele pouco tempo dentro do carro entre risos e velhas histórias alivia a tensão dos últimos dias.

Chegam na casa de Neusa, madrinha de Paula que se surpreende pela visita e os recepciona com grande carinho. Dulce sabe da visita dela e vai até a casa da irmã.

 

 

 

— Não avisou que vinha…- olha para ela.

— Quis relaxar um pouco… Você volta com a gente?

— Ainda não, vou ajudar Cazilda a resolver umas coisas no cartório.

— Entendi… Quero ver ela hoje, será que está em casa agora?

— Acho melhor você não ir lá. Cintia está lá e se você não quer conversar, melhor não ir.

— Leva as crianças para ela ver…- se levanta.

— Onde vai?

— Andar um pouco! Avisa Vítor pra mim…- sai.

 

 

Na cozinha Vítor se diverte com Neusa e as amigas dela que ao saberem, foram vê-los. Dulce vai até ele e pede que vá atrás de Paula, para não deixa-la sozinha.

 

 

 

— O que veio fazer atrás de mim?

— Só acompanhar… Não quero conversar, fica tranquila. - segue. Você está bem?

— Você disse que não quer conversar…

— Tudo bem! Vou ficar quieto.

— Você pode ir buscar o carro? - para de caminhar e olha para ele.

— Para que?

— Nada… Deixa pra lá! - volta andar.

 

 

 

Ela segue na frente, em passos lentos e olhos atentos a cada movimento das folhas na vastidão da estrada. A cabeça não parava de pensar, de questionar, de deixar a alma inquieta.

 

 

— Quero te perguntar uma coisa! - corta o silêncio, virando-se para trás para encara-lo.

— Pode perguntar…

— Foi fácil me rejeitar?

— Que? - estranha a pergunta.

— Ontem, foi fácil não me querer…

— Estava lendo esses dias que quando uma pessoa está triste e não consegue expressar isso, ela busca situações satélites para materializar a dor, tentando justificar o senti…

— Esquece! - volta caminhar, deixando ele para trás.

— Espera aí Paula…- segue.

— Te pergunto uma coisa e você quer escrever um livro!

— Você está perguntando uma coisa muito idiota… -  a alcança.

— Não é idiota, não diz isso! Eu já não estava bem e quando estamos juntos eu consigo esquecer um pouco da dor - para de caminhar - mas aí você vai e faz aquela cagada, eu fiquei tão mal e estou muito mal… Se isso é idiota pra você, creio que precisamos conversar então sobre nós dois.

— Me desculpa… - olha para ela. Não havia pensado nisso, na hora fiquei irritado em pensar que você estava usando um momento tão íntimo e especial pra nós só pra fugir da conversa!

— Ok… - volta caminhar.

— Paula… É claro que não foi fácil te deitar. Minha vontade não era fazer aquilo. Vem aqui…- segura no braço dela, a fazendo virar. Vamos combinar um coisa? Vamos encerrar esse assunto… Se você não quer conversar, tudo bem. Não precisamos conversar. E para recompensar, vamos tirar uma noite só para nós… E eu vou preparar tudo! - a puxa para um abraço.

— Só isso não vai tornar as coisas mais fáceis! E nem vá pensando que eu vou esquecer tão fácil… E ceder tão fácil também…- aproveita o abraço.

— Com jeitinho e com tempo nós chegamos lá! - sorri.

 

 

As lembranças compartilhadas, o almoço servido, o café da tarde com a broa de milho e as risadas das piadas contadas por Vitor, contagia o dia que segue se despedindo. De volta para casa, Marisa os aguarda.

 

 

 

— Como foi o passeio amores? - os serve com o jantar.

— Eu amei! A gente viu a casa que a mamãe nasceu…- sorri.

— Sério? Então foi realmente incrível…

— Muito! - come.

— Vó, eu fui ver minha dinda… Ela está morando com a mamãe dela agora. Pedi para ela voltar morar comigo…

— Ôh minha pequena…- vai até Vitória - a Dinda vai sempre te amar e sempre te ver, ok?

— Mas sinto a falta dela…

— Eu sei que sente! Advinha o que fiz de sobremesa? - muda de assunto.

— Bolo de cenoura?

— Sim! - ri.

— Eu gosto do seu… Mas o da mamãe é melhor vó!

— Eu sei… - ri.

 

 

 

No quarto Paula e Vitor terminam de tomar banho e se juntam aos filhos.

 

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "12 anos em 12" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.