Sob o céu de Paris. escrita por Woodsday


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Espero que minha escrita não tenha ficado confusa demais. E desculpem os erros.



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"Hemingway tinha razão: Paris é mesmo uma festa. Milhões e milhões de pessoas que souberam disso antes de mim tinham razão: Paris é escandalosa, despudorada, absurdamente linda."

Ah, Paris... A doce e encantadora Paris, tardes recheadas de um sentimento misterioso que só quem sente pode saber, não há de modo algum como descrevê-lo, algo doce e profundo. Paris, a cidade do amor, dos apaixonados. Casais passeiam de mãos dadas pela noite iluminada, amantes tendo como testemunhas unicamente o céu estrelado. Paris, Paris, a cidade da luz.

Beijos roubados, sorrisos soltos, mãos dadas e casais envoltos em suas nuvens de amor. Mas para ele não, Paris não significava nada disso, sentia-se infeliz ao sentir o amor rondando-lhe, tanto amor pressionando-o contra si mesmo. Não podia e não conseguia se sentir feliz ali, e ainda assim, Paris havia sido o primeiro lugar que lhe viera a mente. Quando se separara, cinco anos atrás, não se sentira tão afetado quando vira a notícia de que ela estaria aqui, em Paris, em busca de um novo investidor. Era uma surpresa para ele que ela tenha se tornado uma mulher tão importante no mundo dos negócios, jamais poderia esperar isso dela, sempre tão quieta, tão condescendente, Jasper Hale jamais imaginaria que após o abandono do irmão, Isabella Swan se tornaria uma rainha de ferro do mundo dos negócios. Estava orgulhoso por ela, não podia negar. Sabia que a garota sentia-se por vezes coagida na presença do irmão, aceitava todos os mimos e segurança extra por medo de contrariá-lo e vê-lo magoado. Edward precisava saber que Isabella não necessitava de seus esforços. E ele sabia, tão bem sabia, que havia simplesmente a traído com a própria irmã, não foi surpresa para Jasper quando ele encontrou Edward e Alice nus em sua cama de casal, o vampiro já vinha há tempos desconfiando da estranha aproximação dos dois, ainda que fossem muito ligados.

Alice não choramingou ou implorou por perdão, simplesmente declarou que não sabia como por um fim na relação e deixou-se levar pela situação que encontrava, Edward, como ela, concordou com a justificativa da vidente, e logo em seguida acrescentou que em breve conversaria com Isabella e contaria a ela sobre o caso extraconjugal dos dois.

Para a surpresa de Jasper e dos demais integrantes da família, Isabella reagira tão assustadoramente bem quanto o próprio Jasper, simplesmente saíra da sala de estar e voltara dois dias depois com os documentos do divórcio e uma simples frase “fico feliz de ainda ser humana. Ambos sabíamos que isso jamais levaria a nada”. Edward não estava pronto para o desdém na frase de Isabella, mas ela tampouco se importou, assinou os documentos e duas semanas depois estava fora de Forks. Jasper soube alguns meses depois, que Isabella estava estudando em Oxford, para administração e a garota era incrivelmente boa, não entendia o fascínio que tinha pela humana, mas em todos os anos que passaram, não deixara de acompanhar a vida da mesma um único minuto, á distância, é claro, além dos jornais. Isabella Swan se tornara uma das mais famosas empresárias do ramo de construções, levara o pai para morar consigo em Londres e atualmente estava em Paris a negócios. Ele sabia que era uma completa estupidez reaparecer em sua vida, mas ainda não podia negar o impulso. Nas últimas duas semanas a vira vir todos os dias ao café em que estava agora, ela se sentava na mesa da esquerda, a da janela, abria o notebook, pedia o café da casa e ali passava horas, enrolada em sua roupa elegante, fones de ouvidos – tocando uma deliciosa melodia francesa - e com um pequeno sorriso brincando nos lábios a cada minuto. Jasper cada vez se fascinava pela nova Isabella, principalmente pela sua autoconfiança.

Como acontecia todos os dias, o sino que anunciava um novo cliente chamou sua atenção, era ela. Sabia que sim, assim que ouviu os saltos confiantes se encaminharem até balcão e pedir o mesmo café de sempre.

Nessa tarde, ele especialmente havia se sentado mais próximo dela, o bastante para que ela pudesse vê-lo e assim como ela, pediu um café, ainda que não pudesse sentir o gosto, e abriu seu exemplar de Tess of the D’umbervilles, notou Isabella discretamente caminhar até sua mesa de costume e abrir a bolsa pousando o notebook sobre a mesinha vermelha, ela não parecia tê-lo notado até então, e isso lhe causou um estranho incomodo, queria que ela o notasse.

Isabella ergueu um dos olhos esperando ser discreta o bastante para que o vampiro não a notasse. Cinco anos depois, não sabia dizer se estava pronta para encarar um membro da sua antiga família. Jasper Hale não parecia nota-lá, lia silenciosamente o livro que ela reconhecia por Tess, surpreendeu-a que Jasper tive o apreço por esse tipo de leitura, jamais encontrara nos anos viajando um homem que o tivesse. Por fim, soltou um suspiro profundo e reuniu a coragem dentro de si. Não sabia o que diria a ele, um simples “olá” parecia inadequado, mas tinha que o fazer, não se perdoaria se simplesmente saísse correndo do café. Então fechou a tela do notebook e retirou os fones, sentindo imediatamente falta da voz acolhedora de Edith Piaf. Espiou-o novamente e notou que continuava atento a sua leitura, por fim, levantou-se trazendo a xícara consigo e aproximou-se da mesa em que se encontrava seu ex-cunhado.

– Escolha interessante. – Comentou em tom baixo, tomando a liberdade de sentar-se a frente de Jasper.

Ainda que pudesse ouvi-lá se aproximando, não estava preparado para as emoções que o abordaram assim que sua voz atingiu seus ouvidos. Era doce e e envolvente, muito mais do que ele se lembrava. Abaixou o livro lentamente e encarou a mulher a sua frente, os cabelos estavam avermelhados como sempre foram, porém, um pouco mais curtos, um corte moderno, aos vinte e cinco anos, Isabella possua um corpo atraente e o sorriso convidativo de uma mulher experiente, nada parecido com a garota que conhecera quando estavam em Forks.

– Tenho grande admiração por Hardy. – Respondeu finalmente, e pousou o livro fechado em cima da mesa. Um sorriso brincou em seus lábios. – Olá Isabella.

– Olá, Jasper. – Ela não estava preparada para o sotaque profundo e instigante que Jasper tinha, quando conviviam juntos, as poucas horas em que trocavam uma ou duas palavras, Isabella não havia reparado o quão sensual o vampiro podia ser, um pouco além do que vampiros comumente eram. – Paris? – Perguntou em dúvida, levando a xícara de café aos lábios.

– Paris. – Respondeu somente com um leve entortar de cabeça. – Paris?

Isabella deu de ombros mediante a pergunta.

– Eu tinha negócios a resolver. – Respondeu evasiva e os dois se encararam, os olhares fixos um ao outro por um minuto e um silencio pesado pairava entre eles, uma tensão que não cabia a leveza da doce Paris.

Excusez-moi, monsieur et madame, comme toute autre chose?¹ – Uma garçonete usando um avental preto e com um sorriso acolhedor parou diante deles, o modo como os olhava insinuava claramente que eram um casal. Isabella sentiu-se estranha ao constatar o fato, mas nem um pouco constrangida, o que não passou despercebido a ele.

Oui, une tarte au citron, s'il vous plaît?² – Pediu ela e a garota jovem assentiu e voltou a encara-lo, perguntando obviamente qual seria sua escolha.

Rien pour moi, merci. – Balançou a cabeça e ela se afastou. Ele voltou a encarar Isabella, que sustentava o rosto entre as mãos, encarando-o quase como uma criança ao tentar montar um quebra-cabeça de mil peças. – Limão? – Repetiu sua sugestão de torta e ela deu de ombros.

– Gosto do que é azedo. – E sorriu levemente, um sorriso torto e atípico da Isabella que conhecia. – O que fazia em Paris, Jasper? – Perguntou finalmente voltando a levar o café aos lábios.

– Distraindo-me. – Respondeu e a observou remexer-se inquieta em seu lugar. – Pergunte, Isabella.

Isabella suspirou audivelmente, e baixou os olhos, como se a renda da toalha branca fosse tão mais interessante que o próprio vampiro.

– Tem falado com... Você sabe, sua família?

Jasper assentiu para si mesmo, como se soubesse que era exatamente essa sua pergunta, isso a fez se sentir um pouco constrangida, não queria fazer parecer que se importava com o que acontecia com os Cullens, mas também não podia negar que remoía-se de curiosidade, Edward e Alice haviam realmente ficado juntos? A ideia causava-lhe uma certa repulsa, tinha grande estima pela vampira, considerava-a sua melhor amiga, ver-se sendo traída abaixo dos próprios olhos a fez sentir-se terrivelmente humilhada e chateada. Não queria que Alice tivesse feito tais escolhas, ainda que não amasse Edward, jamais poderia perdoar tal traição da parte da amiga.

– Faz muito tempo que não faço parte da família Cullen. – Respondeu ele atraindo sua atenção novamente. Isabella ergueu os olhos, encarando-o e notando a linha rígida entre seus lábios, será que ele ainda se sentia mal pela traição do irmão e da esposa? Não podia culpa-lo, passou tanto tempo ao lado de Alice.

– Por que? – Ousou perguntar e antes que ele pudesse responde-lá, a garçonete se aproximou com a torta e dois garfos, junto de si, trazia uma garrafa de vinho, uma boa marca francesa que Isabella já conhecia.

Je sais que ce n'est pas la coutume des Américains boivent du vin au coucher du soleil ... Mais c'est un vin spécial, grand-père a dû le remettre au couple. Faites bon usage, bon après-midi.³ – Ela deu uma piscadinha e pousou as duas taças junto das garrafas da mesa. Isabella discretamente encarou atrás do balcão, onde uma senhora acenava com um sorriso e a cor subiu as suas bochechas, eles realmente achavam que eram um casal.

Jasper encarou-a levemente fascinado e surpreendido, então Isabella ainda corava, de fato ficava feliz por ainda restar algo da antiga Isabella ali.

– Vamos aproveitar. – Jasper sorriu brilhantemente e Isabella concordou com um assentir de cabeça. - Bon appétit.

Bon appétit. – Repetiu, os lábios entreabertos, a sobrancelha arqueada, Isabella ainda esperava por uma resposta e Jasper teria que da-lá, de um modo ou de outro, não estava ali por acaso, e não podia pensar que ela era tola o bastante para acreditar nisso.

– Carlisle e Esme, eles ficaram ao lado do Alice e Edward, Emmett e Rosalie optaram por não se envolver na situação, e assim, resolvi me ausentar por alguns meses.

– Meses?

– Talvez anos. – Ele soltou um suspiro de lado e os dois deixaram a torta de lado. – Vaguei por muito tempo, por vários lugares, lugares que eu nunca fiz questão de conhecer. Até que notei que eram os mesmos lugares em que você ia.

– Como?

– Exatamente. – Ele a encarou, o rosto sem expressão alguma. Isabella sabia que Jasper não era dado de romantismos, mas saber que ele a perseguiu durante toda a sua era estranhamente perturbador e lisonjeante. – Eu fui em todos os lugares para quais foi, inicialmente não notei que isso estava acontecendo, eu simplesmente ia, caçava, dormia com mulheres e depois acabava esbarrando em você, fosse na saída de um hotel, em um táxi, ou em um ponto turístico, achei que estivesse ficando louco, criando algum tipo de alucinação estranha, mas depois constatei que estava instintivamente, indo atrás de você, para onde quer que fosse.

– Por que? – Perguntou novamente unindo as sobrancelhas.

– Isso é uma coisa que não posso responder, Isabella. Também não entendo ainda o que está havendo aqui.

– O que quer dizer com isso, Major? – Seu tom possuía um leve tom de brincadeira, e ele se surpreendeu por ela conhecer sua antiga profissão. Isabella levou uma garfada da torta aos lábios, e seus olhos fecharam-se ao sentir o agridoce sabor da massa. Um gemido rouco de satisfação escapou dela e ele pode sentir o veneno acumulando-se em sua boca.

– Quero dizer, que algo me puxou para você, Isabella. – As palavras foram proferidas em um tom lento e baixo por ele, e ela se viu obrigada a abrir os olhos para fitar os olhos negros a sua frente. – E embora eu não faça a mínima ideia do que seja, estou muito disposto a descobrir.

A sugestão pairou no ar por dois minutos inteiro, ele observou o rosto inexpressivo de Isabella encara-lo silenciosamente. O silencio o estava torturando, queria saber o que ela pensava e principalmente, o que sentia. Queria que ela o contasse.

Para a sua surpresa, como fez cinco anos antes, Isabella Swan não pronunciou uma única palavra, simplesmente levantou-se da cadeira, pegou suas coisas na mesa a frente, deixando uma nota em cima da mesa e rompeu porta a fora. Ele ficou lá, encarando o lugar vazio onde ela estivera minutos antes, se perguntando o que poderia ter se passado pela cabeça da morena para que a mesma tomasse tal atitude drástica. Certamente, algo que a chocara e a assustara muito.

Jasper Cullen era um cretino. Stupide. O que pensava dela? Como podia achar que ela simplesmente cairia em seus encantos de vampiro? O que se passava por sua cabeça? Dieu! Poderia ele achar por um segundo que ela cederia as suas palavras misteriosas e seu sotaque sedutor? Não conseguia encontrar um motivo plausível para a conversa de minutos atrás, será que Jasper queria alguma espécie de vingança contra os irmãos? Balançou a cabeça e apertou o casaco sobre o corpo, como vinha acontecendo desde que chegara, as noites em Paris eram frias, diferentemente de seus dias ensolarados.

Ela suspirou. O que por Dieu havia se passado na cabeça do homem? Para jogar-lhe tais palavras absurdas e pensar que elas pudessem significar-lhe algo? Não significavam, jamais significariam. Jasper estava somente a procura de um apoio, algo que lhe lembrasse a antiga vida, ou alguém que possivelmente tivesse sentido o mesmo que ele sentira naquela noite.

Os dias passaram rápidos, Jasper sentia-se cada vez mais irritado ao constatar que Isabella não sentia sua falta, apesar de vê-la encarando com extrema suspeita todos os lados da rua. Ele não podia concordar com o fato de Isabella não o querer por perto, era egoismo e tinha consciência de suas ações, porém, a queria. Aceitara sua condição, a queria desesperadamente. Não sabia que se tratava de companheirismo, mas precisava provar Isabella, sentir o gosto de seus lábios e o toque da sua pele. Necessitava de um modo e conquistá-la, ter sua confiança e quem sabe, mais tarde, sua receptividade em sua direção, e sendo assim, Jasper aproximou-se da humana, seu perfume, - ainda chocolate, com um novo toque de menta -, o enfeitiçou momentaneamente, e não resistiu a inspirar mais profundamente.

Isabella parou seus passos assim que a voz melodiosa de uma cantora de rua invadiu seus ouvidos e sentiu-se obrigada a seguir as notas que acompanhavam a voz da mulher. Se aproximou tentando encontrar um espaço entre aqueles parisienses. Observou a mulher cantar a plenos pulmões, Mon Dieu. Ela sorriu inconscientemente assim que a mulher cantando sorriu.

Un jour, deux jours, huit jours... – A voz rouca chegou aos seus ouvidos, podia sentir a respiração fria batendo contra sua pele quente pela corrida. Era impossível não sentir cada mínimo pedaço de sua pele arrepiar-se com a proximidade. Ele era como um felino, silencioso e atraente. A fazia querer aproximar-se, até dar-se conta do perigo que a rodeava.

– O que quer aqui, Jasper? – Virou-se fazendo o cabelo agitar-se e notou seus olhos escurecem lentamente e e um modo estranho isso a satisfez, não gostava de tal sentimento, mas ainda assim não podia deixar de sentir certa alegria ao constatar que o afetava.

– Você. – Declarou com um sorriso de lado, que diferente do irmão, estava longe de ser encantador, para ela, parecia algo um pouco mais arrogante, sedutor, perigoso.

Engoliu em seco.

– Está louco. – Declarou agradecendo quando a voz não falhara ao pronunciar as palavras.

– Por você. – Rebateu aproximando-se mais dois passos, ela recuou outros dois passos e Jasper sorriu satisfeito com sua apreensão.

– Não sei o que pensa que está fazendo, Jasper. Mas não farei parte disso, está me ouvindo? Não irei fazer parte do que quer que seja. Seja algum tipo de vingança, ou de distração, esqueça-me.

– Querida... – A palavra pareceu dançar em seus lábios e notou que divertia-o vê-la tão relutante e perdida. – Porque está tão preocupada, Isabella? – Os lábios aproximaram-se de seu pescoço e fechou os olhos ao sentir o hálito gelado bater contra sua pele mais uma vez. Era indescritível, notou com pesar, que cederia fácil a ele, se assim ele quisesse e para sua infelicidade, ele queria.

– Eu... – Tentou justificar, dizer-lhe que não podia, mas as palavras fugiram-lhe da mente. Sabia que não podia, não deveria se deixar levar, mas... Por qual motivo mesmo?

– Você? – Incitou mais uma vez. Os dedos longos se aproximaram do cachecol verde, abaixando-os lentamente, causando uma estranha eletricidade em sua pele. – Diga-me, Isabella. – Ele aproximou os lábios de seu pescoço, com suavemente passeando-os ali, lenta e tortuosamente. Estava a seduzindo, levando-a aos poucos a beira do abismo.

Ele queria vê-la cair e derreter-se em seus braços.

– Eu preciso ir. – Ela murmurou, a voz baixa e fraca batendo contra a pele de suas bochechas, o hálito quente de menta junto ao seu característico cheiro de chocolate o deixava enlouquecido. Nunca havia sentido por Alice sentimento parecido.

– Sim, nós precisamos ir, querida. – Respondeu em um tom baixo, mantendo consciência de que estavam em público e não tinha intenção de expor sua humana ao constrangimento. – Este é seu hotel? – Perguntou agora, encarando-a nos olhos.

Isabella piscou, repentinamente tomando consciência do que estava prestes a fazer, ela encarou os olhos, agora violetas, provavelmente pelas lentes azuis acima dos olhos vermelhos. Surpreendeu-se quando não sentiu medo, então finalmente assentiu em confirmação. Ele delicadamente puxou-a pelas mãos em direção ao saguão do hotel, e Isabella informou-lhe o número do quarto, não deixando por um único minuto de encara-lo, gostava da forma como agia, as cicatrizes o davam um ar um tanto rude, porém, alguns dos pequenos gestos, como o entortar de lábios, o deixavam estranhamento sofisticado. Ela gostava do contraste.

Isabella observou Jasper ir até o ipod que estava em cima da lareira e liga-lo na mesma música que a jovem moça cantava na sua apresentação pública. Ela respirou fundo e o encarou se aproximar lentamente. Não era nenhuma mulher inexperiente, já havia passado pela cama de muitos homens ao longo de sua faculdade e juventude, não se envergonhava disso, precisava saber que era desejável e ficava feliz que fosse. E ainda assim, nenhum desses homens possuíam tamanha sensualidade que o Major.

Ele podia sentir seu nervosismo e fez questão de deixa-lá relaxar por si só, queria que ela confiasse nele, e sentisse suas emoções sem nenhuma interferência. Aproximou-se e envolveu seu rosto com as mãos frias, os olhares estavam conectados, as respirações misturavam-se em uma única, e por fim, uniu seus lábios ao dela.

Dez anos e três meses depois.

Dizer que abandonou sua vida imediatamente seria uma mentira. Não fez isso e tampouco tivera a intenção de fazer, ainda era jovem, tinha planos, sonhos, uma família, gostaria de poder dizer que abandonou todo o seu mundo pelo Major. Mas não abandonara. E em momento algum, daquela noite tivera a intenção de o fazer. Quando Jasper a amara com devoção e paixão, sentira-se lisonjeada, quando gritara por ele naquela noite, aquilo a marcou e ela sabia, mas não era o tipo de mulher que deixaria de lado toda sua vida por um sonho adolescente. Podia ver agora. Havia mais no mundo do que ser a companheira de um vampiro. Não podia abandonar o pai e tampouco abandonar a carreira que levou muito tempo para construir. Agora aos trinta e cinco anos, finalmente estava como queria, exatamente onde queria. Havia se casado com um bom e lindo homem. Daniel, seu atual marido a fazia se sentir bem, a fazia esquecer de seu passado, possuía uma família de imenso valor, e não sabia como alguém poderia escolher por vontade, a vida solitária de um vampiro. Ela certamente, não escolheria. Havia tido duas filhas, lindas filhas, Marion de sete anos, que herdara o nome da avó paterna, e Marie de cinco anos, que assim como Marion, herdara o nome da avó materna. Estava feliz e completa, finalmente. Não costumava pensar em sua antiga família com frequência, mas tampouco conseguia deixar de pensar em Jasper as vezes, o Major, de algum modo, sempre faria parte de sua essência. Lamentava o modo como as coisas haviam terminado, quando ela confessou a ele que não tinha intenção de torna-se sua companheira vampira, Jasper sentira-se traído e magoado, era uma coisa que ela não esperava de fato, mas não poderia ir contra seus desejos para mais uma vez, agradar um irmão Cullen. Ainda se tratando de algo tão importante. Não pode contestar quando ele decidiu deixa-lá, ele disse precisar de um tempo para assimilar os fatos e ela concordou de bom grado. Não havia nada que pudesse fazer para remediar a situação.

Suspirou outra vez, se encontrava em um balanço, o parque que as filhas costumavam brincar estava vazio, mais uma vez nevava em Nova Iorque. A mudança fora uma escolha que fizera dois meses após se casar. Gostava de Paris, mas viver a sombra das constantes lembranças não era o que queria para si.

– Você se casou. – Declarou a voz vinda de algum lugar atrás de si. Ela se virou e encontrou o objeto de seus pensamentos a encarando. Jasper possuía um olhar indecifrável, mas sua voz continha uma nota de ressentimento, ela suspirou mais uma vez e levantou-se do balanço, dando alguns passos até ele.

– Sim, eu me casei. – Respondeu finalmente encarando-o.

Jasper sorriu e entornou a cabeça minimamente a avaliando, Isabella estava muito bem, tinha que admitir que a maternidade realçara sua beleza. Fazia muito tempo que não a via, mas as memórias estavam perfeitas em sua mente, e lembrar-se dela antes e vê-la agora, era algo completamente diferente. Os quadris estavam um pouco mais largos, assim como os seios um pouco maiores. Notou que não havia engordado nada, nem mesmo depois de dar a luz duas vezes, fazia academia? Ou algum outro meio humano de emagrecer? Ou simplesmente genética perfeita?

Amaldiçoou-se por estar divagando tão interessado em Isabella. Quando pedira a J.J para investigar sobre ela outra vez, não tinha a intenção de voltar a importuna-lá, e ainda assim, não resistira quando chegara ao endereço e a vira balançando distraidamente. Os cabelos mognos faziam um contraste perfeito com a neve branca. Ele simplesmente não resistira a ela. Mais uma vez.

– Está feliz? – Voltou a indagar e Isabella respirou fundo mais uma vez. O cheiro doce e amadeirado invadiu seus pulmões, deixando-a momentaneamente tonta. Jasper ainda a afetava com a mesma intensidade.

– Sim, Jasper. Eu estou muito feliz. Porque está aqui?

Ele assentiu, quase para si mesmo.

– Estou de passagem, não se preocupe. – Respondeu em um tom quase amargo. – Não tenho a intenção de estragar sua felicidade humana e saudável. – Se aproximou um passo a frente e ficou satisfeito quando ela não recuou, mais uma vez, pousou as mãos em suas bochechas e segurou seu rosto entre elas. Isabella olhava-o como antes, aos trinta e cinco anos, ainda tinha o mesmo olhar da garota de dezessete, ele sorriu encantado para ela. – Vim me despedir. – Ela abriu os lábios, queria perguntar os motivos. – Não, escute. Não voltará a me ver, Isabella. Tudo o que precisávamos viver, vivemos. Isso tudo sempre estará vivo em minha mente, mas quero que esqueça, liberte-se disso.

– Jasper... O que..?

– Mamãe? – A garotinha a interrompeu e Jasper se afastou encarando fascinado a pequena miniatura de Isabella. Os cabelos eram mognos como o da mãe, porém tão cacheados que pareciam uma estranha e encantadora junção de molas. As bochechas rosadas e os olhos chocolates encaravam com curiosidade o homem ao lado da mãe. – Quem é ele? – Finalmente perguntou e Isabella sorriu para a filha, afastando-se do vampiro e se abaixando para pegar sua garotinha. Marie estava enrolada em diversas blusas de frio e um enorme cachecol rosa.

– Oi querida, o que faz aqui? – Perguntou puxando-a para si, e a atenção da menina voltou-se para a mãe novamente. Ela sorriu mostrando as janelinhas.

– Papai me pediu para chama-lá, ele disse que Mary está aprontando outra vez. Mary sempre apronta mamãe, e o papai não consegue brigar com ela. – Disse a última parte em um sussurro baixo e Isabella riu suavemente.

– Está bem, vá na frente. Está muito frio. – Abriu um sorriso para a criança e beijou-lhe a bochecha. A menina assentiu e correu pelo caminho estreito que antes eram composto por flores. Sorriu mais uma vez para a visão de sua pequena joia e levantou-se pronta para questionar Jasper sobre a tal despedida. Mas quando virou-se, ele não se encontrava mais lá. Não havia mais nada além do balanço mexendo-se pelo vento e o delicioso cheiro amadeirado fixo em seu nariz.

Abaixou-se pegando o pano verde que chamara sua atenção e então percebeu que era seu cachecol. O cachecol verde daquela noite.

Era isso, Jasper havia ido embora, e tudo estava acabado. Ele lhe mandara esquecer - ela levou o cachecol ao nariz, sentindo o perfume másculo mais uma vez, - mas ela nunca fora boa em acatar ordens.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso. Eu odiei. Mas resolvi postar porque estou fazendo uma limpa na pasta de histórias. *o*