Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 1
Surpresa


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO EDITADO



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[Tris]

— Telefone pra você! — eu digo de forma rude a ele. Até então eu estava de bom humor, eu até mesmo não havia ainda discutido com ele por causa da pilha de louça na pia. Mas atender aquele telefonema foi um erro. A voz adocicada de Lynn era tão irritante e nojenta que me causava náuseas. E ela tinha a enorme capacidade de me fazer mudar o humor imediatamente.

Tobias apanha o telefone de minhas mãos e esboça um sorrisinho antes de comprimi-lo contra a orelha. Eu semicerro os olhos para ele. Como eu o odeio. Ele também consegue essa mágica. De me irritar facilmente. Sigo para o sofá menor, me jogo bruscamente, meu corpo quicando com o impacto e procuro na TV meu canal preferido...

Não consigo prestar muita atenção, pois ele está tagarelando alto demais com sua querida namorada. Talvez seja intencional, ele é implicante demais. Ainda se diz meu “tutor”. É impossível reprimir a vontade de revirar os olhos cada vez que eu ouço uma risada. E eu ponho teatralmente o dedo na garganta como se fosse vomitar a qualquer momento. Eu rio gostosamente.

Não foi sempre assim. Tobias e eu crescemos juntos, brincamos juntos, lembro que ele segurou minha mão no primeiro dia de aula e me deu um beijo na testa tão terno para me dar segurança, que é quase impossível não desejar que aquele tempo volte. Nossos pais eram amigos. Então consequentemente uma amizade de berço. Um laço forte. Era o que eu achava.

Meus pais, que me deixaram aqui sobre “custódia” de Tobias Eaton, meu inimigo. Por assim dizer. Eles receberam uma proposta de trabalho em outra cidade, ambos são médicos. Escolheram essa profissão por gostar de cuidar das pessoas... Caleb, meu irmão mais velho está cursando uma faculdade há milhares de quilômetros daqui. Resultando em: eu morar com Tobias, pois tenho que concluir o ensino médio e eles não queriam mudar minha rotina escolar. Tento não parecer uma garota infantil coberta de magoas. Mas é impossível quando estou perto do culpado pela existência delas. Não posso simplesmente fugir para minha antiga casa, ainda que ela esteja à venda. Faz um ano que estou aqui perecendo.  

Noto que o silêncio voltou a pairar no ar, e respiro aliviada me concentrando na série que passava, na cena sinistra recheada de sangue e gritos. Ergo a mão com o controle para aumentar um pouco mais o volume, vidrada na tela.

— Lynn virá aqui hoje. — diz Tobias roubando o controle das minhas mãos, instantaneamente dou uma tapa em sua mão fazendo com que ele largue o controle ao chão, felizmente ele cai no tapete felpudo branco. Ele fica surpreso por um tempo depois de se recuperar se inclina e pega-o novamente — ficou maluca Beatrice?

Fico vermelha de raiva.

— Não te disseram que é falta de educação tirar algo da mão das pessoas sem pedir? — eu digo com uma carranca e cruzo os braços. Mesmo se ele o fizesse eu não daria.

— E não te disseram que bater nas pessoas é falta de educação? — retruca com aquele olhar de deboche que eu detesto mais que tudo.

— Na verdade, não me disseram. — eu cuspo impaciente. Ele rir e se joga no sofá maior azul-marinho zapeando os canais atrás de algo que o agrade. O que me enlouquece, esgotando a cota de paciência. — eu estava assistindo The Walking Dead!

Ele dá de ombros e ignora minha reclamação.

Fecho minhas mãos em punho e inspiro e respiro. De novo e de novo de olhos fechados para me acalmar. Eu não quero explodir. Sou capaz de agredi-lo com a fúria que sinto, ainda que meus socos e murros não darão em nada, ele é grande e eu uma baixinha sem músculos.

— Todos os dias eu me pergunto o motivo de meus pais terem perdido a cabeça por me deixar aqui com você. — eu murmuro, ainda com vestígios de raiva. Olhando fixamente para o comercial de pasta de dente que passava na TV.

— Ora porque querida Beatrice, porque eles confiam em mim para essa tarefa, porque vamos combinar né não é para qualquer um... Além disso sou mais perto de uma família para você — ele murmura com aquele sorrisinho de deboche.

Estupefata eu o encaro com os olhos em pequenas fendas e com a boca semiaberta.

— Família! — eu bufo e reviro os olhos.

Depois de uma interminável hora na companhia (desagradável) de Tobias eu escuto a campainha. Praguejo baixinho e solto um suspiro. Eu quase tinha esquecido que ela viria aqui, para terminar o meu dia com chave de ouro. Eu também a odeio, talvez mais que a Tobias. Talvez. Levanto-me ao ver a silhueta morena que passava pela porta ronronando um: Oi, Quatro.

Quatro. Um apelido ridículo, porém consagrado que deram a Tobias desde que ele ingressou no time de basquete. A maior parte do corpo estudantil se refere a ele por este nome. Exceto a mim, até mesmo meus amigos o chamam de número.

— Hum, oi queridinha. — diz Lynn, o que me faz virar os calcanhares e encará-la. Percebo que sua boca está de batom vermelho, e o rosto coberto por uma camada de maquiagem. Fazendo-a ainda mais, odeio admitir, bonita. Ela tem um corpo com muitas curvas, é alta e cobiçada por metade dos garotos da escola. Se não por todos. Tobias a abraça de lado, seu braço envolto a sua cintura.

Eu não respondo, mas mando um sorriso irônico e continuo meu trajeto para cima, porque eu não estou afim de suportar as demonstrações de afeto compartilhadas por ambos. E isso me irrita de tal forma que chega a ser assustadora. Assustadora para mim. A raiva constante e crescente que eu alimento em meu peito. Desde que nossa amizade fora rompida.

Éramos muito próximos. No passado.

No ensino médio ele mudou completamente e preferiu outras companhias. Eu já devia desconfiar que só minha amizade não bastaria. Eu não importava mais a ele. O falecimento de sua mãe o abalou tremendamente que ele achou outra forma de aplacar a dor. Meus braços não eram o suficiente. Ele não deixou que eu enxugasse suas lágrimas. Até porque havia algo que nos separara terminantemente. 

Ao chegar a meu quarto me jogo de costas no colchão com os pés quase passando da cama, coloco os braços debaixo da cabeça. Fecho os olhos e tento não pensar em nada especialmente em Tobias e Lynn. Um pensamento novo invade minha mente. Seria ciúme? A ideia é tão absurda que uma gargalhada cresce em minha garganta passando por meus lábios e eu abro os olhos fitando o teto. Após me recuperar eu respiro e limpo as lágrimas que escorreram pelo ataque de riso.

Impossível.

Está certo que eu não gosto de suas companhias porque elas realmente não são... Saudáveis. Eu me sinto traída, mas vai além disso. E há Lynn, a fútil menina líder de torcida. Minha nossa, isso é tão clichê! O capitão do time de basquete e a capitã líder de torcida. Pergunto-me infinitamente como Tobias quis fazer parte disso, e eu realmente não sei.

Eu juro que ainda consigo ler suas feições, como quando éramos amigos. Nem tudo se perdeu eu acredito. Mas não seria como antes, eu nem sei se posso confiar nele de novo. E nem mais amá-lo como um verdadeiro irmão. Não depois do que houve.

Nada poderia fazer com que eu o perdoasse. Ou que eu almejasse voltar a ficar perto dele. NADA.

Horas depois acordo e noto que há ruídos lá fora. Olho para a janela e vejo a tempestade que se formou enquanto eu estava dormindo. O dia se passou nublado.

Com uma rapidez eu me levanto, tiro minha roupa e caminho até o banheiro que se localiza dentro do quarto, envolvida na toalha. Abro o chuveiro e me coloco lá dentro, apenas molhando meu corpo, enxugo-me e caminho pelos calcanhares no chão frio. Procuro um pijama no guarda roupa e me visto. Um conjunto azul de flanela.

Antes de deitar novamente decido ir na cozinha e beber água por minha garganta estar seca. Ao descer noto que a casa está escura. Chego na cozinha e a luz da geladeira ilumina o local. Pego a jarra e ponho no copo bebendo em seguida. Quando passo pela sala eu vislumbro diante dos raios de luz uma camisa estirada no braço do sofá e semicerro os olhos.

— Tobias — eu digo entre dentes.

Ando em direção do sofá e quando vou apanhar a camisa verde – a mesma que ele estava usando, o que me leva a pensar que ele e Lynn avançaram o sinal – estremeço com essa constatação. Não suporto bagunça. No momento em que eu roço meus dedos na blusa para pegar sinto uma mão agarrar a minha ao mesmo tempo em que um trovão ecoa no céu. Dou um grito.

Depois que volto a mim escuto uma gargalhada. E Tobias segura a barriga enquanto rir descontroladamente.

— Babaca! — eu dou chicotada nele com sua blusa. — ridículo!

— Devia ter visto sua cara! — diz entre risadas desviando, rolando para lá e para cá.

Fecho o rosto.

— Não tem graça! — eu digo, desviando os olhos dele por sua falta de blusa. — vista isso! — eu entrego-a a ele que a veste.

— Eu sei que isso lhe deixa encabulada, baby. — Apelido que talvez usa com Lynn ou qualquer outra de suas conquistas.

— Cala a boca! — eu digo revirando os olhos, mas agradeço por estar escuro.

Escuto uma batida leve na porta, depois elas ficam mais urgentes, desesperadas. Ele se levanta e me encara. Ficamos nos encarando por um tempo, por um momento eu semicerro os olhos achando aquilo esquisito. Mas as batidas insistentes continuam até cessarem de vez. Depois de um tempo caminhamos em direção a porta, ele sinaliza para que eu fique do outro lado e eu o faço, como se fosse cena de filme, eu quase reviro os olhos. Pego um jarro de porcelana marrom com flores pretas na mesinha perto aos degraus. Ele destrava todas as trancas que há naquela porta.

Ele pega a maçaneta nas mãos e gira devagar. No momento em que ele vai para frente eu me inclino também com todo meu corpo, com o jarro acima para tacar a qualquer momento. E como um estralo eu me sinto uma tola, é obvio que um ladrão não cometeria aquele erro. Ele não bateria em sua porta, a menos que fosse retardado.

Olho para todos os lados e não encontro absolutamente nada.

— Talvez fosse algum engraçadinho querendo perturbar. — Tobias fala um tanto irritado. Virando as costas e fazendo menção de entrar novamente.

— Estranho... — eu murmuro pensativa. Mas as batidas pareciam ser tão urgentes, quase um grito de socorro escandaloso. Quando eu imito a ação de Tobias algo como um reflexo brilhante chama minha atenção pela minha visão periférica e eu não hesito em girar meu corpo de novo.

Ao fazer isso eu fico estupefata. Há um cesto marrom há poucos metros de distância. Eu não raciocino direito mas só consigo chamar seu nome.

— Tobias! — grito aturdida. Como não notei antes?

Ele retorna num pulo, pois chega rápido demais, sinto sua presença perto de mim. Somente aponto para o cesto. Ele arfa. Ele também sabe o que é.  Ao ver que eu não me movo ele se apressa em ir até lá, se agacha e apanha o cesto com cuidado, caminha até mim sorrateiramente e o ergue para que nós possamos encarar o que há lá dentro. Perco o ar ao notar um pequenino rosto corado envolto a um manto cor de rosa e sereno, alheio a tempestade ou aos trovões. Tobias e eu nos encaramos, com os olhos arregalados de pavor.

— Vamos entrar! Agora! — eu digo e o empurro pelas costas – este sendo o primeiro contado direto com ele depois de tanto tempo – conforme vou caminhando para dentro, fecho a porta e as trancas novamente. Ao me virar vejo o terror que sentia em meu peito refletido nos olhos azuis escuros de Tobias.


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Notas finais do capítulo

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