Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 2
Primeira Noite


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO EDITADO!



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[Tris]

Bebê. Deixaram um bebê na porta da minha... Quero dizer, na casa onde estou morando com Tobias. No momento em que nós seguimos para o sofá eu estou tremendo. Porque quem foi o louco que abandonou um bebê em meio a uma tempestade? E o pior: na nossa casa!

Tobias deposita o cesto em cima do sofá e noto que suas mãos tremem ao estica-las em direção do embrulho rosa, perto de pegar ele desiste e as recolhe rapidamente.

— O que? – pergunto confusa.

— Eu tenho medo de pegar e derrubar a criança. – diz angustiado.

Eu suspiro.

Aproximo-me do cesto e encaro o bebê, ele tem a pele corada e suave, fios ralos de cabelos loiros, não posso ver a cor dos olhos ainda, temo que me apaixone assim logo de cara. Tobias está parado poucos centímetros ao meu lado, encarando também. O bebê está tão quieto. E noto que estou nervosa, muito nervosa, um tremor – o mesmo que senti antes – me invade de novo. Por medo talvez. Mas por que e de que? Não sei ao certo... Um pouco depressa me adianto para me certificar que o bebê está bem. Estendo minhas mãos e apanho o embrulho o depositando em meus braços desajeitadamente. Porque afinal nunca tinha segurado um bebê de verdade no colo. E é uma sensação tão estranha. Identifico o cordão com o pingente que chamou minha atenção lá fora.

No momento em que tiro o bebê, algo caí no chão. Tobias saindo do transe se agacha e o pega. Vejo que é um papel marfim.

— O que é? — pergunto.

— Acho que é um bilhete... – gira o papel e seus olhos se prendem em algo. — está escrito... “Sinto muito em deixa-la assim, mas não tive escolha. É com um aperto no coração que a entrego... Perdoe-me por fazer assim. O nome dela é Nita. Ass: Cara”. – os olhos de Tobias se prendem nos meus, opacos. Como se estivessem vazios. Depois ele ri ironicamente — não é a nós que deve desculpas e sim à criança.

E eu franzo o cenho.

Será que Tobias conhece a mãe do bebê? Fecho os olhos por um momento respirando fundo. Eu estou começando a ficar nervosa de novo... Por favor, não me diga que ele é pai dessa criança!  Peço em pensamento. Um número exorbitante de pensamentos ferve em minha mente de uma vez só...

— Tobias, quem é Cara? — pergunto ávida pela resposta. Temendo em ouvi-la. Meus braços automaticamente ninam o bebê descansando ali, respirando calmamente e dormindo feito um anjo. Não me lembro de guardar reações assim. Na verdade, eu fazia isso quando era mais jovem, com minhas bonecas. Depois de aprender na TV.

— Não faço ideia... — balança a cabeça numa negativa. É inevitável reprimir um suspiro de alivio. Nunca o vi tão sério como agora. Ele sempre se portou descontraído até em ocasiões serias. A pessoa a minha frente era desconhecida. Talvez a situação de agora o tenha levado a se comportar assim.

— Veja, essa tal de Cara pôs esse colar... — digo para ele, que se aproxima mais para ver.

— Como lembrança talvez. — meneia a cabeça.

Solto um longo suspiro.

— Bem, eu acho que é mais viável ficarmos com ela esta noite... — eu digo. Então subitamente a postura de minutos antes desmorona, e ele volta a ser o idiota de sempre.

— Não, eu concordo. — meneia a cabeça. — E depois o que faremos? — pergunta com as sobrancelhas levantadas.

— Agora eu é que tenho que pensar em tudo aqui?

Por alguns minutos ficamos nos encarando, soltando faíscas, como costumamos fazer. Um irritado com o outro. Inspiro e respiro para me acalmar, e aos poucos a sensatez volta a mim.

— Tudo bem, vamos acomodá-la e amanhã pensemos numa solução. — digo terminantemente.

— Por mim. Mas que Lynn não saiba disso.  — ele me alerta. Reviro os olhos. Nem mesmo assim ele esquece a existência de sua querida namorada.

Meus braços estão dormentes, quase sem forças, ela é forte e aparenta ter em torno de seis meses, a julgar pelo seu tamanho e peso. Então devolvo Nita à cesta, que a acomoda muito bem. Não espero que Tobias ajude — não espero nada que venha dele em geral, não mais — e tento carregar a cesta sozinha.

— Posso não ser tão gentil às vezes, mas ainda sou cavalheiro ok. — diz pegando a cesta das minhas mãos e indo na frente, o sigo em seus calcanhares grunhindo.

— Oh, é claro. — digo de maneira irônica.

Caminhamos para cima e ao chegar ao topo da escada Tobias olha para mim girando apenas a cabeça. Fazendo uma pergunta muda.

— Meu quarto. — digo apenas.

Rumamos em direção ao quarto que é meu temporariamente e estico a mão para abrir a porta. Pego uma cadeira e ele coloca sobre ela o cesto, perto a mesa e a cabeceira da cama.

— Muito bem, obrigada. Agora saia! — eu digo mexendo as mãos.

— Eu acho melhor dormir aqui — ele diz, e eu o encaro interrogativamente.

— O que? Não! — recuso imediatamente.

— Não é como se eu fosse te agarrar! — revira os olhos — eu durmo no chão!

— Para qual objetivo?

— Caso precise de mim.

Uma chama quente e um aperto no peito me entorpecem subitamente. Precisar dele? Eu solto uma risada sem humor. Ele não entende, vejo pela forma como ele junta as sobrancelhas.

— Não preciso de você. Não mais. — eu digo e meus olhos ardem.

— O que? – ele parece confuso.

Sínico.

Não posso deixar que minhas mágoas interfiram no problema real agora. O que é o destino do bebê, que é mais importante. E talvez ele tenha razão em uma parte somente embora que ele saiba muito menos de como cuidar de um bebê quanto eu. Então apenas digo relutante:

— Ok. Pode dormir aqui. No chão!

Tobias busca alguns cobertores no seu quarto e estende no chão há uma distância razoável da cama. Por pedido meu. Ele revirou os olhos quando disse... Talvez sua presença fosse realmente necessária. Talvez... Porque é uma atenção redobrada que tenho para controlar minha raiva. E só lembrar-me de sua expressão de pura indagação minutos antes eu entorto minha boca. É claro que ele lembra o que fez, já faz tempo, mas é algo que não se pode apagar assim.

Vou até a estante e passo as escovas entre as mechas loiras, como as de Nita. E quando me viro para ir deitar o vejo sem camisa, apenas de calça larga verde.

— O que significa isso? — eu digo e ignoro meu rosto esquentar.

Mas Tobias não e assim vejo um sorriso torto se formar em seus lábios.

— Você está uma graça com essas bochechas rosadas. — diz rindo e dá uma piscadela.

Eu reviro os olhos.

— Idiota. Eu queria poder agradecer seu “elogio”, mas prefiro ignorar mesmo. Vista uma blusa! — eu digo disfarçando e cobrindo o rosto para não ter nenhuma visão sua enquanto ando depressa até a cama.

Ele ainda ri.

— Me esqueci de que você não é acostumada a esse tipo de coisa... — diz com a voz descontraída. E eu fico com raiva.

De volta a cama eu me cubro e ignoro a presença de Tobias. Agora ele não rir mais, para o meu alivio, e parece que se acomodou debaixo das cobertas. Tento não pensar no que vi, mesmo que sua estrutura física não surtia nenhum efeito em mim, nenhum pouco. Ele era o tipo de garoto que arrancava suspiros sonhadores de todas as meninas da escola, menos eu.

Olho para o teto do quarto — uma mania que adquiri quando quero pensar — reflito por alguns instantes, sua reação confusa ao que eu disse sobre ‘não precisar mais dele’. Será possível que ele não tenha se dado conta do que fez? No caso construir uma barreira imaginaria entre nós durante três anos. Será que não notou o quanto idiota se tornou ao se juntar aos seus “amigos”? Nem mesmo o remorso cabe em seu ego. Sinto uma ponta de raiva e então os rostos de seus novos amigos passam por minha mente numa sequência absurda: Zeke. Max. Eric. Peter. Shauna. Lynn. Molly.

Eu poderia resumir suas personalidades em um adjetivo apenas, mas percebo que não quero mais pensar nisso. Me traz saudade do tempo em que éramos só nós dois. Juntos e inseparáveis. A palavra me faz bufar. E viro para o lado que me dá uma visão de Nita. Ela é muito bonita, o bebê mais encantador que já vi. Ela está poucos centímetros distante de mim e passo um tempo olhando-a. Ergo a mão e afago sua bochecha delicadamente. Então é uma menininha. Foi o primeiro pensamento que tive quando Tobias leu o bilhete, mas eu estava tão aturdida que ele foi abafado pelas minhas dúvidas.

Uma linda garotinha que deixaram aqui. Porque sua mãe fez isso? Porque abandonou um pedacinho seu? Ela devia ter razões para lá de fortes para cometer uma atrocidade dessa. Mas eu cuidaria dela durante aquela noite, meus braços quentes seriam seu refúgio até o momento que estivesse aqui. Num ato impensado eu beijo as pontas dos meus dedos e deposito em sua testa depois, sentindo algo estranho dentro de mim, porém é bom. 

Meus olhos começam a pesar e tento relutar por um momento, mas quando percebo apago na inconsciência. Tenho um sonho naquele pequeno espaço de cochilo. ‘Marcus, o pai de Tobias chega na casa e torna a vida de todos um infortúnio’.

Meu coração está fora do ritmo, muito acelerado, por reflexo dou um salto e com um ‘back’ meu corpo encontra o chão, logo após vem a dor. As feições daquele homem eram aterrorizantes. Apesar de não o vê-lo há muito tempo, eu tenho em minha memória as expressões de tranquilidade e ternura. Mas não é por causa do sonho ruim que me acordo assustada, é pelo barulho agudo e completamente estridente. O choro de um bebê.

Me firmo no chão, que está gelado, mandando tremores ao meu corpo e caminho com pressa onde o cesto está com Nita dentro. Sua face está vermelha, ela meche as mãos e continua a chorar com toda sua força. Ainda com o fantasma do medo de derrubá-la, eu estendo os braços para o cesto e a pego, tendo um pouco de dificuldade, por causa da agitação dela.

— Shiii... — eu digo suavemente, ninando-a como horas antes. Mas ela permanece chorando. Desesperada caminho com o bebê agitado e berrando até onde Tobias está envolto a coberta no chão. Eu o cutuco com o dedão do pé e não parece surtir efeito algum. Com pesar chuto com um pouco mais de força e ele desperta num pulo se posicionando em forma de defesa.

Rolo os olhos.

— Beatrice! — ele suspira e seus olhos que antes estavam selvagens amenizam um pouco. E ele está de camisa. — o que pensa...

— Veja! — eu digo e ele parece se dar conta da gravidade da coisa.

— O que aconteceu? Você deixou ela cair? — diz ele um tanto preocupado.

Um calor sobe por minha cabeça.

— Não, é claro que não! Eu acho que ela está com fome!

— Não é problema, vamos até a cozinha e dar alguma coisa! — revira os olhos.

— Você é humano? Ela é um bebê idiota! Leite! Precisamos de leite! — eu grito. Pela forma como ele diz ele estava tentando fazer piada.

— Não tem leite na dispensa! Fui atrás hoje pela manhã, ou ontem. — diz ele.

Pense Tris! Grito para mim na mente. Um tempo refletindo vem a ideia.

— Pegue o seu carro! — eu digo indo em direção da porta onde está pendurado meu hobby.

...

— Vamos logo! — eu grito de novo.

— Não grita Beatrice, eu estou te ouvindo!

— Ah é? Não parece!

— Se batermos a culpa será sua!

— Cale-se!

Definitivamente, eu estou enlouquecendo. O barulho persistente do choro de Nita está machucando meus ouvidos, além de me desesperar. Eu sei que ela está com fome e estamos a caminho da farmácia. A tempestade amenizou e se transformou em chuviscos.

Pelo caminho não encontramos nenhuma aberta, mas sei que em algum lugar há uma funcionando, tem que estar. Balanço-a do banco de trás para acalmá-la de todas as formas possíveis. Não há jeito. E grito para Tobias ir mais rápido.

— Se formos mais rápido vamos parar num hospital!

— Se você não acelerar você quem acabará num hospital!

Finalmente achamos uma aberta e corro na direção sem esperar por Tobias. O atendente e duas pessoas que estão dentro se assustam pela agitação, e certamente pelo choro de Nita.

— Moço, por favor, eu preciso que me ajude! — eu digo ao atendente vestido com um jaleco branco. Ele está com os olhos verdes arregalados, mas assente.

— Sim? O que deseja? — pergunta com voz calma, tão diferente de mim.

— Hum, preciso que me mostre qual o leite preferível para bebês dessa idade? — indico Nita em meus braços, o choro está mais contido, mas ainda assim alto o suficiente para alarmar qualquer um. As pessoas que estão ali olham para minha roupa, ou melhor, pijama e cabelo bagunçado. Ignoro-as.

— Quantos meses ela tem?

— Seis.

Ele sai de trás do balcão e vai até uma prateleira enfileirada de leites de todos os tipos. Tempo em que Tobias se posiciona ao meu lado. Noto que meus braços doem e olho para ele.

— Tome! — eu digo e faço menção em lhe passar Nita, mas ele recua.

Reviro os olhos.

— Vamos Tobias, não é uma coisa de outro mundo! — eu digo.

Balança a cabeça.

— Ah, por favor. Você consegue carregar um peso de 180 kg e não derrubá-lo, e tem medo de um bebê?

— Oh claro, porque bebês e pesos são iguais!

Rolo os olhos.

— Por favor, meus braços não aguentam mais! — eu solto a contra gosto. Não gosto de demonstrar fraqueza.

Ele suspira.

— Ok. — diz e passo Nita para seus braços. Por um instante ele congela no lugar olhando para baixo, para Nita, e depois como um estralo ele desperta e começa a niná-la desengonçadamente. Subitamente ao sentir o calor de Tobias, Nita se acalma aos poucos. E eu fico boquiaberta. Eu a ninei várias vezes e eu não fui capaz de tranquiliza-la, e ele a pega apenas uma vez e faz a mágica acontecer? Bufo de raiva.

— Aqui está moça... — o atendente se aproxima e me entrega uma lata azul com letras em prata.

— E como funciona? — desvio meus olhos de Tobias e Nita.

— Três colheres devem bastar, você precisa ferver agua e deixa-la morna... E certamente colocar na mamadeira. — explica detalhadamente vendo minha pouca experiência no assunto. Não o culpo. Mamadeira.

Limpo a garganta.

— Você poderia trazer para mim uma mamadeira também? — dou um sorriso amarelo e ele sorrir condescendente.

...

Kyle. O atendente que descobri ser enfermeiro também me explicou tudo o que eu devo saber ou o essencial. Na cozinha estou preparando o leite com uma perna balançando sem parar. Estou apreensiva. Depois de ter colocado as mamadeiras em água quente para matar as bactérias.

Com rapidez pingo uma gota de leite na pele do meu braço para verificar se está na temperatura certa — seguindo as instruções de Kyle — e ando até a sala onde Tobias ligou a TV e está num canal de canções de bebê. A primeira coisa inteligente que já o vi fazer. Hoje.

Balanço a cabeça.

— Acho melhor você me dar ela! — digo, e ele que está totalmente concentrado em Nita desvia a atenção.

— Tudo bem. — diz ele hesitante. Com uma agilidade recém-adquirida seguro Nita e a mamadeira ao mesmo tempo. Coloco em sua pequena boca, ela suga o bico da mamadeira com desespero. Eu a entendo. Talvez tenha ficado horas sem comer antes de sua mãe verdadeira deixa-la em frente da casa. Eu ainda a acho completamente louca, não somente por ter abandonado sua filha, mas também por deixar sob nossa responsabilidade.

E então eu vejo, seus olhos são azuis como o mar à noite, a tonalidade me recorda os olhos de Tobias. E acho que ele também notou, pois olha para Nita encantado — desde que a pegou em seus braços — e eu gosto disso.

Eu não vejo outro destino a ela além de estar perto de nós. Por mais que essa seja a ideia mais radical e absurda que já tive durante meus 17 anos — quase dezoito —. Ainda que eu a conheça há pouco tempo. Eu não posso ir até uma delegacia e entrega-la como se nunca a tivesse conhecido e a alimentado. Ou deixa-la em um orfanato sem saber se as pessoas que irão adotá-la são realmente boas.

Seus olhos gritam para mim que ela precisa de nós. Ou é somente minha consciência que apela para que eu acredite nisso. Ou é culpa do meu coração que está agindo de uma forma estranha desde que a encontramos no cesto. Mas não sei o que há.

E descubro que tenho uma resposta para a solução. Quando Tobias e eu conversarmos a respeito.

A mamadeira está limpa, Nita tomou tudo e a coloco para arrotar. Após ouvi-lo eu a nino mais um pouco e percebo que ela adormeceu novamente enquanto eu tinha uma batalha interior. Tobias está quieto — o que não é normal — e olho para ele, que nos observava.

— Vamos subir... — eu digo e ele assente. Ergo as sobrancelhas pela sua atitude, mas não digo nada.

Já em meu quarto todos voltam para suas respectivas camas, Tobias no chão, Nita é devolvida ao cesto e eu na minha e é um alivio fechar os olhos, sinto como se eu não dormia há séculos. Agarro a beirada do travesseiro macio demais e quando sinto que estou adormecendo. Nita berra novamente.

Levanto com os olhos entre abertos e a pego sentindo um cheiro ruim. Quase vomito. Tobias está ao meu lado prontamente e torce o nariz diante do cheiro.

— Vou pegar as chaves do carro... — diz devagar caminhando para a porta.


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Notas finais do capítulo

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