–Panem hoje, Panem amanhã, Panem sempre.
Ao contrário do silêncio esperado, a população do distrito 10 começara a vaiar e a fazer o sinal de luto do nosso distrito. Nem Peeta, nem eu causamos isso. Ele apenas falou o discurso que Effie fez (para evitar problemas) e falou essa frase.
O arrastamento começa e permito que Peeta me puxe para trás, para longe dessa confusão. Entramos no Edifício da Justiça e a porta é fechada.
–Katniss, você está bem?
Eu assinto, ainda chocada.
–Você está pálida.
–Só estou com um pouco de tontura. Vamos sair daqui, por favor.
Ele concorda com a cabeça e segura minha mão, me guiando para fora. Aonde estão Effie e Haymitch? Quando saímos vejo que um carro nos espera e suspiro, aliviada. Achei que alguma coisa tinha acontecido com eles.
–Entrem, vamos sair daqui. - fala o mentor. -Antes que a coisa piore.
Nós dois sentamos atrás com Effie, Haymitch vai na frente.
Então está mesmo acontecendo, as pessoas estão se rebelando! Ponho a mão no broche de tordo que coloquei na blusa e fecho os olhos. Vou vingar minha irmã, e mais cedo do que eu esperava.
Nem percebo quando o carro para e o motorista nos fala para descer. É Peeta que abre a porta gentilmente e me diz para sair.
Haymitch bate na porta e quem abre é Carl, o filho do prefeito. A primeira vez que o vi, hoje mais cedo, ele me fez lembrar de Gale. Aparenta ter seus 18 anos e é bem calado, na dele. Isso me deixou menos preocupada também, pois Lexi, apesar de falsa e eu não gostar dela desde quando a vi, aparentava ser 'do bem' e tenho certeza que foi ela que quis me matar.
–Meu pai está resolvendo alguns problemas, podem ficar a vontade.
Todos nós entramos e ele fecha a porta. Depois, senta-se no sofá e pega um livro para ler.
Seguro uma risada, qual foi a última vez que li em paz? Nossa, deve fazer muito tempo. Quando meu pai morreu, eu que achava comida para Prim e minha mãe, eu não tinha tempo para me dar ao luxo de ler um livro.
Haymitch foi para o seu quarto, alegando estar com dor de cabeça. Sei que é mentira, ele só quer pensar um pouco em tudo que está acontecendo. Nossos quartos são no andar de cima, ao contrário da casa do prefeito do 11. Prefiro assim, se acontecer alguma coisa, todos poderão agir imediatamente.
Effie sobe também, e Peeta e eu a seguimos.
–Daqui duas horas será o jantar. Descansem um pouco. Eu estou um pouco assustada com as coisas que estão acontecendo nesse distrito. - ela fala quando chegamos na parte de cima.
–Assustada? - pergunta Peeta.
–Mas é claro! Aqueles pacificadores arrastando as pessoas e matando-as só porque se manifestam. - ela fala, olhando para os lados. É bom saber que ela não acha isso normal. -E além do mais, eles nos empurram sem a menor educação e delicadeza. Por mim, nós jantávamos e embarcávamos nesse trem. Não vejo a hora de chegar na Capital!
Capital...antes parecia estar tão longe. Faltam apenas 22 dias para chegar lá. 24 para chegar em casa. Snow...mas Effie não pode saber sobre isso.
–Concordo, estou ansiosa para chegar a Capital. - falo, tentando soar animada. -Estou indo me deitar.
–Eu também. - fala Peeta.
–É melhor mesmo. Daqui uma hora, irei me arrumar e espero que façam o mesmo. - Effie fala e vai para o seu quarto.
Vou entrar no meu, quando lembro que tenho que contar para Peeta a conversa que tive ontem com Haymitch e Cinna.
–Peeta, preciso falar com você.
Ele faz que sim com a cabeça e entramos no meu quarto. Fecho a porta.
–O que foi? - pergunta ele preocupado.
–Ontem, encontrei o broche de tordo que recebi de Madge e dei para minha irmã, ela o usou nos jogos. - ele assente. -Haymitch pediu para Cinna pegá-lo da exposição dos tributos mortos, sabe? - ele assente. -Foi um furto, e agora estou começando a pensar que se Snow saber que foi Cinna que roubou... - fico apavorada só de pensar na ideia. -Mas não vamos sair do assunto. Haymitch me disse que os distritos estão se rebelando. Não todos, é claro. Alguns dependem da Capital.
Peeta não me interrompe, então continuo:
–Haymitch acredita que o tordo pode ser o símbolo da rebelião e que a líder tem que ser eu.
Fico um ou dois minutos quieta, deixando que ele absorva as informações.
–Katniss, temos que tomar cuidado. Snow é uma peste. Se ele desconfiar de algo, não quero nem pensar...
–Eu estou com medo, Peeta. Medo, porque se estou usando isso, ele já deve ter percebido. Haymitch estava dizendo para sermos discretos, mas agora parece que ele mudou de ideia. Eu não pensava que essa rebelião estava tão próxima de acontecer.
–Nem eu, Katniss, nem eu. Acho que seu pequeno discurso fez as pessoas pensarem numa nova rebelião. - ele fala, coçando a nuca. -Você tem que ter cuidado com esse Carl. Ainda acho que foi Lexi que tentou te matar, e ele é filho do prefeito. Pode ser paranoia, mas tome cuidado com ele. Ainda mais agora que você está com esse tordo, que Snow deve ter percebido que foi roubado.
Não tinha pensado em Carl como uma ameça. Pelo menos não até agora.
–Certo. O que sugira que eu faço quando chegarmos do jantar?
–Sugiro que tranque a porta e encoste a cadeira que tem aí na porta, impedindo que dê para girar a maçaneta do lado de fora.
Parece uma boa ideia.
–Irei fazer isso. Não vejo a hora de irmos em bora dessa casa. Por que você não fala com Haymitch?
–Falar o que? - pergunta Peeta.
–Diga para ele que quando chegarmos no 9, é só você fazer o discurso, jantamos e entramos no trem, rumo ao 8. Uma coisa muito mais rápida, e muito mais segura!
Effie deu essa mesma ideia e realmente gostei.
–Falarei com ele, mas não prometo nada. Sabe como ele é.
Assinto.
–Eu vou descansar um pouco, pensar em tudo isso que você me falou.
–Também vou me deitar. - falo.
Peeta dá um aceno e sai do quarto, fechando a porta ao passar.