–Como explica isso? - pergunta a voz de Haymitch.
–Por que não para de me acusar? - fala Peeta.
–Garoto, não estou te acusando, apenas estou perguntando como explica o que ocorreu! - ele tenta soar calmo, mas parece prestes a explodir. -Vamos lá, conte o que se lembra.
Peeta bufa.
–Tenho certeza que já falei, mas, já que faz tanta questão de saber, aqui vai. - ele respira fundo e começa a falar. -Eu e Katniss voltamos para a casa do prefeito quando saímos do edifício da justiça, na hora da confusão, você sabe. - Haymitch fez sinal para ele continuar. -Então, eu comecei a sentir um mal estar. Ela foi para o quarto dela, eu para o meu. Me deitei, desmaiei, e na hora que acordei estava no chão e você me atacou. Foi só isso, eu juro.
Abro os olhos, mas fecho-os novamente. Pode ser que não queiram que eu ouça, afinal, só ando causando problemas...
–Isso é no mínimo, estranho. Você é inocente, mas isso não faz sentido nenhum.
–Eu sei, mas não é minha culpa. Eu nunca machucaria Katniss, todo mundo sabe disso!
Os dois ficam quietos por alguns segundos.
–E quanto ao episódio de ontem a noite? - Haymitch fala.
–Suspeito que tenha sido Lexi, sem dúvidas. Tenho certeza absoluta.
–Não podemos sair por aí apontando o dedo para as pessoas, mas concordo com você.
Ficam mais um tempo sem falar. Ouço um deles levantando da cadeira, deixando onde quer que eu esteja. Decido abrir os olhos.
Peeta está ainda sentado na cadeira, me observando. Esperava estar no quarto que estava ontem a noite, mas não estou.
–Onde estamos? - pergunto, a voz fraca. Ainda sinto dor na cabeça.
Ele abre um sorrisinho.
–No trem, tivemos que trazer você pra cá, a viagem não podia atrasar.
–E quanto ao meu agressor? Descobriram quem é? - pergunto, como se não tivesse ouvido o trecho da conversa deles.
–Acho que foi Lexi...Você não viu nada mesmo?
Faço que não com a cabeça. Continuamos sem falar nada.
–Amanhã de tarde, chegaremos ao distrito 10. Preparada?
–Mais do que nunca. - falo, com ironia e sorrio amarelo. -Não me deixe falar nada amanhã, certo?
–Certo.
Ainda me sinto culpada pela morte daquele homem. Eu não queria que acontecesse nada disso com a população, mas foi minha culpa, e sei muito bem disso. Sinto que vou começar a chorar e pisco diversas vezes.
–Você está bem?
–Sim. - respondo, sentando-me. Preciso mudar de assunto. -Quantos dias faltam para que retornemos para casa?
–Se as coisas continuarem acontecendo nesse ritmo, digo, 1 distrito a cada dois dias e contando com a Capital, chegaremos em casa daqui a 25 dias.
VINTE E CINCO DIAS????????????????
–Peeta, isso é muita coisa! - falo meio alto, assustando-o com a minha surpresa. -Quero dizer, eu sabia que iríamos a todos os distritos, mas...mas isso é tipo, muito tempo mesmo! Caramba, ficaremos todo esse tempo fora?
Ele assente.
–Achei que sei lá, tirando tudo de ruim que está acontecendo, você estava gostando da viagem... - Peeta fala, meio chateado.
–Eu só quero voltar logo pra casa, rever minha mãe, mas não estou odiando essa viagem por completo. - sorrio da maneira mais franca possível, porque essa é a verdade. Estou gostando de estar com Peeta. Tudo está sendo pior do que eu tinha imaginado, mas estou achando bom estar com ele. -Que horas são?
As janelas do quarto estão fechadas, então não tenho a menor noção do tempo. Ele checa o relógio.
–Sete da noite.
–Eu dormi tudo isso!? - pergunto, surpresa.
Ele concorda mais uma vez. Daí acabam os assuntos e ficamos nos encarando por minutos e mais minutos. Tenho vontade de sair dessa cama e ir fazer alguma coisa, mas estou ocupada nesse momento.
Ele se levanta, para vir até mim, mas Effie aparece na porta.
–Katniss, que bom que acordou! - ele exclama. -Como está?
–Bem melhor.
–Querem jantar?
Nós dois concordamos, e finalmente me levanto.

Estamos no distrito 10. Acordo cedo, tomo um banho. Quando volto no quarto, tem um vestido em cima da cama bem simples. Vou até ele e o ponho, terei que usar essa roupa hoje. Então ouço o barulho de um objeto caindo no chão. Me abaixo e pego-o. O tordo, o tordo que ganhei de Madge, que passei pra Prim. Agora ele está aqui. Como isso veio parar aqui?
Ouço uma batida na porta e termino de me vestir rapidamente, ainda chocada com a aparição do broche.
–Entre.
Cinna entra com uma expressão séria.
–Imagino que já viu o que deixei aí para você. - diz ele apontando para o tordo. -E deve estar se perguntando o que isso estava fazendo no meio das suas roupas.
Concordo com a cabeça.
–De onde peguei isso? Bom, tem um lugar para...você sabe, os tributos que morrem nos jogos. Isso estava indo para a exposição de Prim, mas eu o peguei. - ele pausa. -As pessoas, desde seu pequeno discurso no 11, estão se rebelando Katniss! Se rebelando!
Arregalo os olhos de pavor.
–Eles acreditam que há uma líder, no caso, você. Você é a líder de uma rebelião.
–Pera aí! Eu não disse nada sobre rebelião em lugar nenhum! - digo na defensiva. Está acontecendo...estão se rebelando, e por causa de mim...
–Mas deu a entender. - ele diz. -Agora, escute, Snow deve estar tomando providências contra você. Em 20 dias você estará na Capital e me surpreenderia muito se ele não fosse falar com você.
Gelo por dentro. Snow falando comigo...ele me mataria sem pensar duas vezes!
–O tordo é o símbolo da rebelião.
–Eu não me lembro em nenhum momento de ter falado que ia ser símbolo de uma rebelião, Cinna! E por que você veio me falar disso? Justo você?
–Haymitch me pediu.
Ah, claro. Haymitch contou pra Cinna também...Ótimo!
–O que mais ele te contou?
–Me contou que vocês vão fazer uma rebelião, e só.
Só!??????????????????????
–Certo...mas eu não quero correr mais perigo do que já estou correndo.
Ouvimos uma batida na porta e Haymitch entra antes de ouvir a resposta.
–Deixa eu ver se entendi...dias atrás você topava derrubar Snow, os jogos tudo, agora você está pulando fora?
–Eu não estou pulando fora! - falo, com raiva.
Cinna se retira educadamente.
–Lembre-se de quem é o verdadeiro inimigo! - ele praticamente grita.
–Olha aqui, você está perdendo a noção! Aqui podem ter câmeras, já parou pra pensar?
–Acha que já não demos um jeito nisso? Ao contrário teríamos morrido todos envenenados com a comida do jantar de ontem.
Pensando por um lado, é verdade.
–Mas tem ocorrido coisas estranhas. Peeta me atacando estando inconsciente, eu fui atacada no meio da noite...
–Teremos que falar disso depois, não há muito que possamos fazer. Lexi disse que é inocente e não pudemos fazer mais nada a respeito. Se essas coisas tornarem a acontecer, daí teremos que tomar as providências. - assinto. -Quanto a Peeta...bem, pode ter sido alguma coisa que ele ingeriu que o deixou assim...alguma poção.
Me lembro de uma coisa.
–Ei! Lexi levou um café para ele antes de ele ir fazer o discurso e depois ele passou mal!
As coisas pareciam estar se encaixando na minha cabeça.
–Se fosse uma poção, seria da Capital. Não sei se Lexi teria algum envolvimento com as pessoas de lá. Mas, por via das dúvidas, vamos tomar cuidado. Se foi ela mesma que provocou tudo isso, quem garante que pessoas de outros distritos não farão o mesmo?