Diário de um Assassinato escrita por Matheus Pereira


Capítulo 9
Rupert Pemberton


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei muito a postar, mas semana passada tive várias provas na escola e mal pude respirar!
Espero que gostem desse capítulo - o raivoso Rupert Pemberton vem dar seu depoimento - digamos que um pouco exaltado.
Boa leitura!



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2h50

Rupert Pemberton – se é que aquele sobrenome pudesse, afinal, ser aplicado a ele – entrou na sala com sua arrogância de costume. Agora, porém, parecia ainda mais irritado. Ele era um jovem corpulento. Se a senhorita Romero gostava de homens grandes, não havia dúvida de que ele era mesmo sua "alma gêmea", como ela havia posto. Ele tinha uma expressão muito séria. Eu não podia evitar sentir uma grande repulsa dele, mas acredito que o senhor Rupert gostava de provocar tal reação nas pessoas. Ao invés de simpatia, ele gostava que os demais sentissem certa aversão por ele.

– Senhor Anthony Reed. – ele disse, olhando para mim, com uma expressão de nojo. Então, se virou para Lucchesi. – Você devia adiantar logo essa baboseira. Já são dez para as três. Tenho uma informação para o senhor, detetive. Aqui em Miami, nós normalmente estamos dormindo a essa hora da noite. Aliás, eu acho que foi proposital eu ser o último a ser chamado.

– Sente-se, senhor Rupert. – Lucchesi disse com firmeza.

– Senhor Pemberton. – ele corrigiu, enquanto se sentava ao meu lado.

– Como nós não sabemos seu verdadeiro sobrenome, irei chamá-lo desse modo, senhor Rupert. – Lucchesi disse, sem se importar com o que era conveniente para o rapaz. – Quero que o senhor responda algumas perguntas.

– Tem mesmo que ser na frente desse homem? – ele perguntou, apontando para mim.

Lucchesi o ignorou:

– Por que o senhor possui uma pistola guardada no quarto?

– Defesa pessoal.

– É mesmo necessário dormir com uma, senhor Rupert?

– A julgar pelo cadáver ainda quente lá em cima, eu lhe digo que sim.

– Eu espero que o senhor saiba desde já que a polícia local irá tomar sua arma.

– Iremos ver.

Lucchesi respirou fundo. Ele parecia não ter paciência para aquele tipo de conversa que Rupert fazia. Pela faísca dos olhos negros de Lucchesi, eu poderia jurar que ele daria um soco em Rupert caso não estivesse investigando a morte do senhor Pemberton.

– Por que o senhor levou a arma consigo, assim que ouviu o grito? Como estava tão certo de que havia acontecido algo grave o bastante para que você precisasse usar aquela pistola?

– Se você tivesse ouvido aquele maldito grito, que parecia ter sido feito bem ao pé do meu ouvido, também não teria pensado duas vezes.

– E ainda assim o senhor deixou sua noiva, a senhorita Romero, sair sozinha para o corredor, totalmente desprotegida?

– Eu não pude impedi-la. Vivian é muito impulsiva. Ela nunca mede os riscos do que faz. Mas eu não demorei mais que trinta segundos para deixar nosso quarto e verificar a situação. – ele explicou, ainda com um olhar contrariado.

– Novamente quanto à pistola, eu posso entender que o senhor usava-a para defesa pessoal. O que provavelmente não tem justificativa é apontar a arma para um completo estranho e ameaçá-lo de morte. – Lucchesi disse, com uma voz que condenava a atitude do rapaz negro.

Ele não pareceu se importar.

– Os ânimos de todos estavam muito exaltados. Eu vejo que o senhor Reed já fez suas acusações, não é mesmo? – ele olhou para mim com desdém. Eu nem ameacei em deixar de encará-lo, pois seria um covarde se o fizesse. – Senhor detetive, eu também sou tão impulsivo quanto Vivian. Eu vejo agora que o senhor Reed não merecia aquilo, mas eu não vou me desculpar, mesmo assim. – ele disse com sua típica arrogância.

Era o cúmulo. Ele reconhecia o próprio erro, mas se recusava em me pedir desculpas.

– Isso não interessa a mim. Mas, se eu fosse você, eu não tardaria em pedir desculpas ao senhor Reed, pois ele poderia muito bem acusá-lo formalmente para a polícia local. Acredito que poucos dessa casa têm muita afeição pelo senhor, e essas mesmas pessoas não veriam mal algum em testemunhar em defesa do senhor Reed.

– Pois que me acusem! Eu já sei que também receberei acusações pela morte de Papai, mais um crime na minha ficha não fará diferença alguma.

– Por que o senhor tem tanta certeza disso?

– Eu sou negro. Isso já é a prova do crime para os policiais de Miami, racistas como são! Porém, a Guerra de Secessão há muito se acabou, não há mais escravidão vigorando em nenhum canto deste País! – ele disse, numa voz exaltada.

– O senhor foi o primeiro a verificar o corpo, não foi? Muito curioso... – mencionou Lucchesi, ignorando as lamentações de Rupert.

– Escute bem, senhor detetive! – ele se inclinou para frente, de modo a encarar Lucchesi de perto. Em seguida, começou a falar com uma voz cada vez mais alta. – A menos que me encontre ao lado de um corpo morto com uma pistola em mãos, eu acho melhor o senhor e seus amigos da polícia me tratarem com os mesmos direitos de qualquer cidadão deste País! Se o senhor insinuar que eu cometi esse crime mais uma vez, eu juro que não vou responder por mim mesmo.

Lucchesi levantou tão vigorosamente que derrubou sua cadeira e eu não pude evitar me sentir um pouco assustado, ficando até mesmo sem ar por um segundo diante daquele ato tão inesperado. Com um forte sotaque italiano tomando-lhe a voz, Lucchesi bradou:

– Ouça com atenção, seu bastardo! – Rupert se levantou, encarando-o de volta. Eu olhei com medo de que aquilo fosse terminar muito mal. – É melhor não me ameaçar, porque eu posso fazer coisas muito piores com você. Empurre-me e você virá logo depois, há um penhasco grande o suficiente para nós dois. E, se você não nota, eu talvez seja a sua única chance de escapar disso, pois certamente os policiais daqui não pensarão duas vezes em mandar um little nigger para atrás das grades de uma prisão.

Rupert engoliu em seco, como se estivesse esmorecendo. Ele notava como Lucchesi estava tenso, como se estivesse tentado em retaliar usando força bruta. E, então, ele se jogou na cadeira em que estava sentado:

– Sinto muito... – ele disse, com uma voz tão macia que não parecia ser o mesmo homem. – Eu sou um homem muito impetuoso, senhor. E é muito difícil para eu lidar com tudo isso. Eu era muito apegado ao meu pai, entenda isso. Eu apenas quero que a morte seja vingada. Eu só descansarei quando o assassino do meu pai for preso e enforcado.

– Pense duas vezes antes de falar algo comigo, senhor Rupert. E fazer a lei é um trabalho para mim e para a polícia. – disse Lucchesi, ainda de pé, olhando-o. Ele parecia um animal acossado. Eu observava com deleite o constrangimento daquele homem arrogante. – Descreva o que o senhor fez assim que a porta foi arrombada.

– Eu entrei no quarto... Eu toquei o pulso de Papai. O coração dele não estava mais funcionando. Mas ele estava muito quente, eu poderia jurar que estivesse vivo, apenas dormindo, não fosse pelo tiro no meio da testa. – explicou Rupert, com a mesma voz domada de antes.

– Um tom de voz muito melhor, senhor Rupert. – observou Lucchesi, num tom de zombaria. – Você foi o único a entrar no quarto, assim que o corpo foi descoberto?

– Sim. O senhor Reed também se aproximou para entrar, mas eu o impedi que o fizesse. Achei por bem conservar o quarto para quando a polícia chegasse. Eles saberiam o que fazer. Eu apenas procurei com a lamparina pela arma, mas eu não encontrei nada.

– O senhor por acaso notou um relógio caído no chão, senhor Rupert?

Ele espremeu os olhos, como se estivesse fazendo esforço para lembrar do que havia acontecido algumas horas atrás. Finalmente, ele disse:

– Sim... Havia mesmo um relógio, um relógio de pulso, caído atrás do corpo. Estava no tapete, em frente à cama. Eu havia ignorado aquilo. É estranho, não é, um relógio de pulso caído no chão? – ele perguntou, pensativo.

– Eu seu caminho para a cabine telefônica, a porta da casa permaneceu mesmo trancada? – perguntou Lucchesi, ignorando mais uma vez o comentário que Rupert fizera.

– É claro que sim. Eu mesmo quem tranquei a porta. E, além disso, o mordomo e o senhor Reed estavam na sala. Emily estava inconsciente, no sofá. E, logo depois, Dewey e Vivian desceram. Sendo essa a única saída, ninguém poderia ter deixado a casa.

– Quem tem a chave do quarto do senhor Pemberton?

– Eu creio que apenas o meu próprio pai tinha a chave.

– O mordomo tem as chaves dos quartos? – Lucchesi perguntou, franzindo o cenho.

– Ah, e é claro, o mordomo. Ele tem as chaves de todas as portas consigo. Mas Eric jamais faria qualquer coisa contra o papai.

– Está ótimo, senhor Rupert. O senhor está dispensado – Lucchesi finalizou, num tom glacial. Rupert, amansado, saiu do escritório com bem menos petulância do que quando havia entrado. Eu larguei a caneta tinteiro na mesa e observei quando Lucchesi começou a andar pelo escritório. Ele andava de um lado para o outro, com uma mão no queixo.

– Trata-se de um rapaz muito mimado. O senhor Pemberton certamente o estragou com tantas regalias. Uma isso à infância que deve ter tido, com Emily o maltratando, e daí você também explica a postura defensiva que ele tem. Uma péssima combinação. Mas não me parece ter tanto sangue frio quanto ele tenta aparentar. – ele observou. Falava em sussurros, e eu não sabia muito bem se devia responder. Parecia mais estar falando consigo mesmo do que iniciando uma conversa. Mas, então, ele se virou para mim. Os seus olhos negros pareciam absorver a luz das velas e eu me senti no escuro total. Ele permaneceu imóvel e eu me forcei a responder algo.

– Eu não acho que ele é tão inofensivo assim. Há algumas horas atrás, ele parecia mais um demônio do que um homem. Talvez ele esteja se esforçando muito para aparentar que está desejoso de vingança, o que é estranho.

– Não... Eu até mesmo penso que ele é sincero nisso. – Lucchesi disse, com os olhos cintilantes. – "Vingança, aliás, é algo que está muito no sangue da nossa família", Dewey Pemberton havia dito. Pois Rupert pode não ter sangue de Pemberton, mas seu desejo de vingança parece ser mesmo real.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que achou da atitude de Rupert? Ele é verdadeiro em sua raiva? Deixe sua opinião!

Até a próxima.



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