(Ambrose Grace)



Eu poderia escolher as mais complexas palavras que se encaixariam no contexto de agora para definir a dor que eu estou sentindo. Mas não.

Eu prefiro preencher minha cabeça de pensamentos vazios e caóticos. Minha situação não se encontra nem um pouco agradável. Você já se sentiu como se a dor fosse a única sensação que predomina o mundo? Ah, a dor.

Tão previsível e tão inesperada dor. Esse vazio, esse espaço branco que preenche cada pedaço do meu coração nesse momento.

Nos últimos cento e vinte minutos, eu vi tanto sangue ser retirado que chegava a parecer uma chuva de sangue vindo de Katherine. Muitas vezes pensei que ela iria ressecar. Até mesmo rezei para ser ao contrário. Depois de um tempo, Katherine Pierce acordou. Nesse momento, senti um aperto em meu coração.

– Katherine. – chamei baixo. Ela não me respondeu.

Um pouco depois, esfregou seus olhos ainda com a corrente presa à parede. Quando ela me olhou, fez exatamente o que tinha feito antes.

Ela gritou fortemente. Fechei meus olhos enquanto o grito de Katherine ecoava no porão escuro e úmido que fomos praticamente despejadas como uma carga que só serviria para depois. Quando o seu grito parou de ecoar, eu abri meus olhos e voltei a encarar a escuridão. Eu conseguia ver Katherine na minha frente, sob a luz de um lampião igual ao que estava me iluminando.

Ela sussurrou algo como eu estou morrendo. Soou como uma pergunta, apesar parecer uma afirmação. Eu neguei com a cabeça.

– Estamos bebendo sangue. – eu afirmei. – Está nos curando. – Eu completei um tanto enjoada.

Ela pareceu assustada e me encarou. Parecia que seus olhos estavam pegando fogo, de tanto que ela me olhava intensivamente.

– Eu estou morrendo, então! – ela disse complexa. – Eu bebi a cura. Ela não me permite beber sangue de vampiros. – Katherine disse a ultima frase como um sussurro.

– Não. – eu disse impaciente. – Você bebeu o sangue. Eu vi.

Katherine pareceu dar um pequeno sorriso.

– Se eu bebi o sangue... Significa que se eu morrer eu irei voltar como vampira. – A única coisa que consegui pensar é que eu também voltaria como vampira se morresse. Eu não havia pensado nisso. Quando Klaus quebrou meu pescoço na casa dos Salvatores, ele havia colocado um anel que protege humanos de criaturas sobrenaturais. A única coisa que pensei é que eu estava sendo usada como uma bolsa de sangue humana. Engoli em seco e formei apenas uma frase.

– Você não irá morrer. – eu disse não muito confiante. Eu pude enxergar esperança nos olhos antes cansados de Katherine.

– Veremos. – ela disse, e deu um pequeno riso.

Quando Klaus apareceu no porão, senti que agora ia ser eu que iria acordar gritando após ser usada como a bolsa humana novamente e ser forçada a beber sangue de vampiro. Eu segurei nas correntes como resto de força eu ainda possuía como se fosse adiantar alguma coisa. Senti como se meu corpo estava congelado. O próprio caminhou calmamente em minha direção.

Klaus agachou na minha frente. Eu prendi a respiração. Busquei por Katherine, mas a menina não estava mais a vista.

– Olá, love. – ele disse. – Você está pronta? – Klaus sorriu ironicamente.

– Não. – eu digo. Tento fazer soar calmamente, mas acaba parecendo uma resposta desesperada.

– Como disse? – seu sorriso se fecha rapidamente.

– Eu não existo para a sua diversão. – eu afirmo.

Klaus ri. Ele me encara profundamente, e um segundo depois, sua mão está em meu pescoço. Ainda segurando meu pescoço, ele me levanta. As correntes me puxam para baixo, mas Klaus me puxa pelo pescoço para cima, me enforcando. Eu começo a tossir, porém ele não parece ligar nem um pouco.

– Na verdade, love, é exatamente para isso que você existe! – ele solta meu pescoço, e eu caio com força no chão. – Mas olhe o lado bom, eu não preciso de mais sangue. Até agora, não era necessário nem uma gota do sangue de vocês. – Ele faz referência a Katherine e eu. Como assim, ele não precisa de sangue?

– Se você não precisa – digo calmamente – Por que raios você quase nos drenou? – eu grito.

– Isso não é da sua conta. – Klaus diz.

Eu reviro os olhos.

– Está bem. – eu falo. – Não é da minha conta. Agora por favor, posso sair daqui? Quer dizer, eu e Katherine.

– Não. – Klaus diz, e em seguida puxa as correntes que estavam me prendendo. Minhas mãos caem duras no chão quando finalmente estou livre daquelas correntes.

Quase perguntei ironicamente porque ele me soltou, mas resolvi deixar quieto.

– Você não vai lembrar o que aconteceu. Vai voltar para a casa dos Salvatores e vai dizer para todos que escapou de mim. Katerina preferiu sair da cidade e você não sabe sobre ela. Se te perguntarem o que aconteceu, você vai dizer que quando acordou, você conseguiu fugir. Você só irá lembrar que aconteceu aqui quando eu quiser que você lembre. Ah, e você também irá contar uma coisa muito importante para todos.

Klaus continuou olhando em meus olhos. Ele se aproxima de mim. Eu me sinto congelada novamente. Ele está me colocando em compulsão.

Então eu encaro a escuridão e o mundo perde o sentido para mim. Sem anel, sem proteção. Apenas eu, abraçando a morte. Isso é uma novidade, Não sei exatamente o que significa, mas indica que sou uma lutadora. De uma maneira mais ou menos corajosa. Um dia eu terei de dar uma explicação sobre os meus pesadelos. Por que eles acontecem. Por que eles realmente jamais acabarão. Seja lá qual for o oposto de bem, é exatamente assim que estou me sentindo. Realmente, não há mais nada a ser dito e há uma espécie de dor pungente onde meu coração se encontra.

– Bem, acho que eles gostariam de saber que possuem mais uma duplicata vampira em suas mãos.

E a voz de Klaus ecoa na escuridão dos meus pensamentos. A última coisa que consigo e quero pensar, é como eu desejo vingança.