A vida sofreu uma repentina mudança. Tudo fazia sentido.

Não, as surras não diminuíram. Meu pai continuou abusando do álcool, da saúde dele e da minha.

Eu havia me apaixonado.

Quando parti para outro trabalho, conheci uma outra garota, que sofria da mesma situação que eu, só que talvez pior, talvez melhor. Ela era abusada pelo próprio irmão. Os pais se postavam ausentes, com medo do que poderia acontecer se colocassem-se contra o rapaz.

Ela também estava desconsolada. Mas existe um grande sentimento, que maravilha as pessoas, enquanto as confunde. É como um alívio, um bálsamo, um analgésico.

Tudo ficava claro e se escurecia ao mesmo tempo. Mas tão nobre sentimento poderia ser causa de uma grande ruína.

Por ter permanecido calada por muito tempo, ela se rebelara. Nós estávamos errados, as pessoas estavam erradas, seus pais estavam errados, assim como seu irmão, o mundo estava errado! Por ver a vida passando passiva, passiva vida não vivida!

Eu entendia o motivo dela. Mas ela não entendia o meu motivo de aproximar. O motivo de querer envolver. E não me deixou aproximar.

Na verdade, eu não queria apoio. Senão, eu pagaria um psicólogo para ouvir minhas lamúrias e me dar qualquer solução banal. Não, eu apenas queria sentir. Um universo de sentimentos que nunca havia presenciado. Alegria, diversão, entusiasmo, criatividade. Todas palavras novas no meu vocabulário. Eu apenas conhecia (de longa data) a tristeza, a lamúria, a desolação, a passividade. E as detestava. Mais do que tudo, odiava a obediência cega.

Estávamos ambos quebrados. Ela, mais do que eu.