O clima da cidade mudara drasticamente naquela manhã. Onde estava o sol? simplesmente havia sumido do horizonte. Jessie, a irmã mais velha de Peter, gritava pela casa como uma criança de 8 anos desesperada.

— Não acredito, finalmente está nevando! — A garota gritava, o que fez com que todos da casa acordassem bruscamente.

Peter desceu as escadas de pijama e percebeu que havia neve cobrindo as janelas.

— Garotos, vocês querem carona? Tenho o dia livre hoje — O senhor Fischer se pronunciou do sofá marroquino da sala estar.

— Não precisa, pai. O Paul vem me buscar com a Mel daqui a pouco — Peter respondeu subindo de novo as escadas para se trocar.

— Minhas amigas também estão vindo me buscar, vamos numa feira de livros que abriu ontem e depois vou pra faculdade — Jessie falava enquanto mordiscava uma maçã verde.

Depois de alguns minutos no banheiro, Peter desceu ao ouvir a buzina do carro da Mel, um Porsche rosa. Aquela garota estava mesmo bem de vida. Com a mochila nas costas e um pacote de cookies nas mãos, o garoto foi em direção ao carro.

— Bom dia, mano! — Paul cumprimentou o amigo e apertou sua mão.

— Bom dia. Como vocês estão? — Peter sorriu e entrou no carro.

— Exausta. Eu achei que o grupo de teatro era só diversão, mas o Patrick leva as coisas muito a sério — Mel respondeu, dirigindo.

— Peter, rolou alguma coisa entre você e a Lana? — Paul direcionou os olhos verdes curiosos para o amigo que se remexia no banco de trás.

— A gente deu uma volta pela cidade, mas só isso. Acho que um beijo na bochecha não conta muito, né? — Peter respondeu.

Mel havia ligado o rádio no volume máximo, mal dava para os garotos se entenderem enquanto conversavam.

— Gata, desse jeito você vai nos deixar surdos — Paul falou num tom brincalhão.

— Foi mal, baby. É que eu amo essa música! — Mel balançava os cabelos e batucava no volante.

— É, deu pra perceber — Paul revirou os olhos e riu.

De longe dava para ver a placa com os dizeres "Empire High School", Mel parou o carro no estacionamento do colégio e ao descerem os garotos já foram abordados por membros do grêmio estudantil que lhe entregaram folhetos.

— Baile de inverno? — Paul estranhou ao ler o título do folheto que informava sobre o baile de inverno anual que era realizado em um espaço do colégio.

— Acho que quiseram aproveitar a neve de janeiro. O clima anda muito instável — Mel cogitou.

— Droga, ir sozinho para um baile é um saco — Peter franziu a testa e continuou andando.

— Por que não chama a Lana? — Paul sugeriu, acompanhando os passos do amigo.

— Ontem eu percebi que ela é meio difícil, sabe? O Carter chamou ela pra sair e ela recusou todas as vezes. Se eu ficar dando muita bola pra ela, acho que vou ser tratado que nem ele — Peter parou por um instante.

— Recusou, é? Parece que eles estão bem amiguinhos — Paul apontou para o lado. Lana e Carter estavam conversando apoiados na parede.

Peter fingiu não ligar e mudou de direção, indo direto para a sala de aula.

— Qual aula você tem agora? — Paul perguntou com os olhos fixos no papel de horários.

— Biologia. Que saco — Peter disse enquanto conferia seus horários.

— A gente se vê no intervalo então, mano — Paul deu um leve aperto nas mãos de Peter e seguiu para sua sala.

Os corredores continuavam cheios. Kate Houston, uma das líderes de torcida do time da escola, se aproximou do quadro de horários e cumprimentou Peter.

— Você também tem biologia agora? — Apesar do frio congelante que fazia, Kate fazia de questão de vim de short curto todos os dias para a aula.

— Tenho — Peter confirmou, tentando não olhar muito para as pernas da garota.

— A gente se vê na aula então — Kate piscou.

Estranho. As aulas já deveriam ter começado há 10 minutos, mas nada do sinal tocar. Foi aí que Peter pensou em encontrar Paul para que eles pudessem conversar um pouco, mas finalmente o som estridente do sinal foi ouvido. Peter entrou na sala de aula de biologia e se acomodou, logo em seguida o professor Walter Slim, um homem de meia idade, entrou.

— Pessoal, sei que estão animados com o anúncio do baile de inverno, mas acalmem seus nervos — O senhor Slim pediu, visto que todos estavam exaltados falando sobre o evento e seus possíveis pares.

40 minutos se passaram e faltavam apenas 10 para o término da aula. Diferente da aula de história, a aula de biologia era um pouco mais animada. O professor Slim era muito dinâmico e prestativo. Peter prestava atenção e anotava tudo o que era escrito no quadro, até que sentiu algo áspero atingir seu braço. Era uma bolinha de papel amassada.

"Reparei que você é sempre tão calado. Que tal tomar um chocolate quente depois da aula?" Era o que havia escrito em caneta rosa no papel. Peter olhou para trás para ver se encontrava o remetente daquele bilhete e viu Kate sorrindo do fundo da sala. Ele pensou um pouco, lembrou que precisava de um par para o baile e não estava muito certo que Lana estivesse interessada nele. Então apenas escreveu "Certo, eu adoraria" e jogou o papel de volta para a garota, sem fazer muito barulho. O sinal tocou e todos saíram correndo para desfrutar do intervalo.

— Peter, você estava certo. A senhora Brown fica cada ano mais chata, nem aquele documentário chato sobre a vida dos pinguins me deu tanto sono quanto a aula dela — Paul, que estava parado na porta, comentou.

— Cara, você se lembra da Kate? — Peter mudou de assunto.

— Kate Houston? Aquela garota que pintou meu caderno do homem-aranha de rosa na quarta série? — Paul lembrou, rindo baixo.

— Ela me chamou pra sair — Peter dizia enquanto depositava uma moeda de um dólar na máquina de vendas do corredor.

— Sério? Achei que ela só andasse com jogadores de futebol ou pessoas de Q.I abaixo da média, tipo o dela — Paul respondeu surpreso.

— Cara, vou dar uma volta por aí, esfriar a cabeça — Peter disse, dando uma mordida na barrinha de chocolate.

— Tá, cara. Eu vou dar uma passada na sede do grêmio agora — Paul se despediu.

Os garotos do time de futebol da escola andavam todos juntos pelos corredores do colégio. Carter ria juntos dos amigos enquanto segurava a bola de futebol americano e ao lado dele estava Lana, também sorridente. Peter olhava para ela, com um pouco de decepção e depois que os garotos saíram do corredor, ela se aproximou mais dele.

— Ei, tudo bem? — A garota perguntou, percebendo a indiferença do rapaz.

— Não sabia que você estava andando com o Carter agora. Achei que você achasse ele um babaca — Peter tentou conter a raiva.

— Digamos que ele é um babaca legal — Lana sorriu.

— Aposto que você vai para o baile com ele, né? — Peter insinuou, dando de ombros.

— Pra falar a verdade, eu ainda não tenho um par pro baile — Lana deu um sorriso contagiante.

— É só questão de tempo até o Carter te chamar — Peter deu um sorriso torto.

— Na verdade, a pessoa com quem eu queria ir pro baile ainda não me chamou — Lana ficou meio sem graça.

— Que pessoa? — Peter perguntou curioso.

— Você não foi lá muito gentil comigo hoje, Peter. Então acho que vou te deixar curioso — Lana deu uma piscada e saiu.

Peter ficou parado por alguns instantes, tentando pensar em quem seria essa tal pessoa que despertou o interesse de Lana. Do outro lado do corredor, as pessoas continuavam falando sobre o baile, entusiasmadas com o primeiro evento do colégio e a oportunidade de chamar alguém pra sair e ser convidado.