Niko se assustou com as palavras de Félix, e até mesmo Fabrício choramingou.

_ Félix! Se acalma! – ele pegou o filho no colo e se levantou do sofá, Félix foi atrás dele. – Adriana. – disse entrando na cozinha. – Dá uma olhadinha no Fabrício, por favor. Eu preciso ter uma conversinha com o Félix. – ele olhou para Félix que ainda estava com a expressão séria.

Niko passou por ele e se encaminhou até o quarto e esperou Félix entrar pra fechar a porta.

_ Félix! Eu já disse que não gosto de discutir na frente das crianças!

_ Discutir? Discutir, Niko!? Eu devo ter usado a tabua dos 10 mandamentos como skate pra ouvir isso! – Félix já estava alterado. – Lá estava eu saindo do meu banho, todo limpinho e cheiroso e tenho que ouvir você falando com essa LACRAIA no telefone!!! – ele gesticulava a cada palavra.

Niko respirou fundo, e ficou pensando em como responder aquilo de forma que a discussão não piorasse, mas ele não conseguia mentir.

_ Ele me chamou pra conversar e....

_ O QUE!? – Félix gritou. – Eu não to ouvindo isso, Niko, sinceramente, não estou.

_ Calma, Félix, eu te disse que ele estava com problemas.

_ E você tem que sair correndo atrás dele toda vez, TODA VEZ que ele te pede?

_ Félix, assim você me ofende...

_ Ofendo, é? Se ele tá sendo corno. – ele fez o gesto de chifres na própria cabeça. – Já disse que foi bem feito pra ele! Agora, me diz, você tá sentindo saudade dele!? Por que você pode ser sincero comigo, porque eu sou um poço de sinceridade, Niko!

_ Saudade de...? Félix! Para com isso, eu não sinto saudade dele, não dessa forma que você tá pensando!

_ Eu não sei por que você ainda não vendeu esse apartamento! Não sei! E não sei por que eu tô aqui com você. Pra tudo que é canto que eu olho eu enxergo aquela pombinha em tudo! Se você gosta, problema é seu! Eu vou voltar pra Angra com papi soberano agora que ele terminou o tratamento dele.

_ Félix, não... Eu não vendi ainda, porque eu vou botar pra alugar, é um investimento pra gente.

_ Olha, se você quer se encontrar com ele, vai. Vai! Mas não me deixa saber! Eu não quero saber! Pelas contas do Rosário, você sabe que eu ODEIO aquela lacraia! ODEIO! E eu não quero mais voltar aqui.

_ Você tá fazendo tempestade em copo d’água! Não foram apenas momentos com o Eron que eu tive nesse apartamento, se me lembro bem E MUITO BEM!

Félix sentiu como se tivesse levado um tapa na cara por alguns segundos. Chegava a ser ridículo o ciúme que tinha de Niko, mas tinha todas as razões para ter, Eron tinha sido seu primeiro companheiro, e tinha marcado a vida dele significantemente. Ele ainda se sentia nervoso, mas virou de costas pra Niko e ficou encarando a parede pra se acalmar de vez.

_ Félix... – Niko se aproximou do marido e colocou as mãos nos seus ombros. – Eu não vou me encontrar ele, não se for pra você ficar assim comigo.

Félix colocou a mão sobre uma das mãos de Niko em seu ombro.

_ Niko, eu.... Me desculpa, não tenho direito nenhum sobre você, você pode fazer o que quiser. Eu só fico nervoso, porque... Eu tenho medo que você perceba a merda que você fez.

_ Que merda?

_ De ter escolhido ficar comigo.

Niko fez Félix se virar de frente pra ele e encarou seus olhos escuros e lhe ofereceu o melhor sorriso que pode.

_ Eu amo você, claro que eu ia escolher ficar com você. Não precisa ter medo, Félix. Eu nunca vou sair do seu lado.

_ Nunca é muito tempo, Carneirinho. – ele falou sério.

_ Não é tempo suficiente, meu amor. – ele colocou a mão no rosto dele, o que fez Félix relaxar. – Quantas vezes eu vou ter que te repetir isso?

_ Por favor, eu só quero voltar pra nossa casa, nossa vida. Eu detesto essa cidade. – ele suspirou.

_ Assim que seu pai estiver bem, nós vamos voltar. Te prometo. Você tá melhor?

_ Ainda não. – Félix deu um sorriso meio torto que Niko amava.

_ O que eu preciso fazer pra você ficar melhor?

_ Você ainda pergunta, criatura?

_ Você é bobo demais.

Niko se aproximou dele e lhe beijou a principio com calma, mas Félix mal cabia em si mesmo quando sentia aqueles lábios nos seus, seu coração logo disparou e ele o puxou para mais perto, o abraçando pela cintura. Sentiu os dedos de Niko seu cabelo, e quando percebeu eles já estavam caídos na cama, meio sem ar, Félix sentia cada nervo seu pegando fogo, e só parou de beija-lo quando ouviu uma batida na porta.

_ O jantar tá pronto.

Na mesma hora, Félix revirou os olhos e saiu de cima de Niko se jogando de costas no colchão, enquanto o outro ria.

_ Já vamos, Adriana.

_ Qualquer dia, eu jogo ela em uma caçamba!

_ Ah, joga! – Niko deu um selinho nele. – Coloca uma camiseta e vamos jantar, não quero perder a concentração enquanto como.

Félix sorriu.

_ Se eu conseguir encontrar uma!

_ Tem algumas na área de serviço. – Niko se levantou na cama e ajeitou a roupa. – Depois terminamos essa conversa. – ele piscou para Félix e saiu do quarto, chamando pelas crianças.

Félix permaneceu deitado ali, olhando para o teto por alguns minutos, nunca ia conseguir entender o que sentia por Niko. Era um sentimento avassalador, derrubava todas as suas estruturas, derrubou todas as paredes que ele tinha formado em volta em de si. Ficou apenas ouvindo os barulhos lá fora, quase tinha esquecido que tinha que jantar, quando ouviu em algum lugar do quarto o barulho do seu celular. Levantou da cama e procurou até que o encontrou, tinha recebido uma mensagem.

“Félix, não me ignora, a gente precisa conversar.”

_ Me deixa em paz, criatura!

Ele quase jogou o celular longe, mas sabia que ia sair caro depois, deletou a mensagem e o colocou de volta onde tinha encontrado, e saiu do quarto, atrás de uma camiseta.