Acordei assustada e suada, tenho a leve impressão de que seja lá qual for o tipo de sonho que tive, não estava gostando nem um pouco. Além disso, estava de novo com aquela sensação de estar sendo vigiada. Eu sei que isso é normal, às vezes você estar caminhando por algum lugar e do nada pensar que alguém está te olhando, agora seria estranho se você tivesse essa sensação dentro do seu próprio quarto, ou pior, quando não tem ninguém em casa. Minha mãe está sempre trabalhando no hospital, ela só volta pra casa no meio da noite para dormir ou domingo que é o dia de folga dela, então basicamente a casa fica mais aos meus cuidados. Decidi deixar de lado essa ideia maluca de estar sendo vigiada e me arrumar para o colégio.

Estava saindo de casa quando vi o Sasuke sair também, claro, ele passou reto e nem ao menos me cumprimentou. Esse cara não é humano, só pode ser uma espécie super avançada de robô, é incrível como ele não fala com ninguém, e quando digo “ninguém” é ninguém mesmo. Quando tinha me mudado para essa casa, eu costumava ficar brava com ele, “será que não enxerga que além de ser sua vizinha, estou na sua sala de aula também? Mereço ao menos um mísero oi”. Mas meu oi não veio, nem pra mandar me ferrar, Sasuke abriu a boca.

Um dia eu tinha decidido que iria falar com ele, já que o mesmo parecia nem me ver, então quem sabe se eu for educada primeiro poderíamos manter uma conversa normal, não é mesmo? Mas meus planos foram destruídos por Naruto, que me explicou porque Sasuke era daquele jeito e que não importasse o que eu dissesse, o garoto não estaria nem escutando. Que cara imbecil, ta certo que perder um irmão deve ser horrível mesmo, mas daí não falar com mais ninguém? Se isolar do mundo? Sasuke precisa de um psicólogo urgente.

Ignorei por completo o robô Sasuke, que já havia sumido da minha visão e continuei meu caminho andando devagar e sentindo o vento bater em meu rosto. É uma das melhores sensações que existe, o vento gelado batendo contra meu rosto quente parecendo que estava fazendo uma espécie de carinho na minha bochecha. Mas de repente, aquela sensação de estar sendo vigiada voltou. Tinha certeza que alguém estava me seguindo. Isso estava me assustando, comecei a andar mais rápido, até que senti alguém me puxar pelo braço:

– Calma Sakura, sou eu. O que aconteceu com você? Por que está correndo?

Conhecia essa voz, agradeci aos deuses por ser Ino. Nem havia percebido que estava correndo, pensei que só havia aumentado a velocidade dos meus passos:

– Meu Deus Ino, você me assustou. Podia arrumar um jeito melhor de ir falar com as pessoas do que ficar seguindo elas pela rua.

– Pode parar com essas acusações Sakura. Não tava seguindo ninguém, virei a esquina de casa e te vi correndo feito uma louca pela rua. Vai me contar de quem estava fugindo ou vou ter que adivinhar quem era o feioso que te assustou? Porque o cara só pode ser muito feio pra você chegar a correr dele. Apesar de que você podia ser mais gentil né, Sakura? Coitadinho, podia dar um fora melhor, onde já se viu, sair correndo... ele deve ta pensando que você é louca.

– Ino, eu não dei fora em ninguém, e não tava fugindo de nada. Só estava com aquela sensação de novo.

– Isso está ficando pior a cada dia, semana passada você olhava pra trás toda hora, hoje já está correndo de fantasmas, amanhã só falta me dizer que está falando com eles. Sério, já pensou em ir a um psicólogo?

Isso foi bastante irônico pra mim, antes de encontrar com Ino, estava pensando que Sasuke precisava se tratar com psicólogo e agora Ino me fala que preciso de um:

– Em momento nenhum falei de fantasmas, e que jeito carinhoso você tem de me falar que está preocupada comigo. Mas, está tudo bem, é só uma sensação e vai passar.

Continuamos andando e falando sobre besteiras até encontrarmos com Naruto já na sala. Sentávamos em duplas, Ino e eu ficávamos juntas nas penúltimas cadeiras do lado esquerdo e nas últimas sentavam Naruto e Shikamaru. Como esperado o Professor Hatake ainda não havia chegado, alias ele nunca chega na hora, acho que o relógio na casa dele não funciona muito bem. Naruto começou a falar com Shikamaru e eu comecei a prestar atenção, afinal, não era sempre que Shikamaru estava acordado em sala de aula, ele sempre dormia quando o professor botava o pé na sala, mas o mais incrível era as suas notas, não sei como uma pessoa tão preguiçosa podia ser tão inteligente:

– E então, foi mesmo visitar os seus parentes? Ficou muito tempo dormindo ou arrumou algumas festas por lá?

– Fiquei dormindo a maior parte do tempo, é tão problemático visitar eles. Sempre te mandam fazer alguma coisa, é um saco. A única coisa boa foi que reencontrei com Kankuro, Temari e Gaara, lembra deles né?

– Sim, sinto saudades de vencer Kankuro no Video-game, ele era realmente ruim. Mas como eles estão?

– Kankuro está na mesma de sempre, Temari está mais mandona do que o normal, o único que mudou mesmo foi o Gaara. Ele ta meio esquisito, não conversa com quase ninguém e se isola em seu quarto.

– Nossa, ele me lembra o Uchiha-mistério. Quem são essas pessoas? - É, Ino não conseguiria ficar de fora da conversa.

– Não é pra tanto também, ninguém chega aos pés do Uchiha. Nesse quesito ele ganha de todos. São três amigos que moravam na cidade, mas eles se mudaram pra perto dos meus parentes antes de vocês duas chegarem. – Explicou Shikamaru.

– Olá pessoal, estão discutindo assuntos sobre a aula? Nossa, que alunos aplicados eu tenho, fiquei até orgulhoso. Mas, que tal fazer os exercícios do livro da página 154 agora e deixar os assuntos para depois? Ah, Nara, tente não dormir sim? - Disse o professor Hatake assustando nós quatro, ele entrou na sala tão quieto que nem ouvimos ele se aproximando de nós.

Quando a aula acabou me juntei a Ino, e ficamos esperando o Naruto tirar dúvidas com o Professor, para voltarmos pra casa.

– E então Sakura, a sensação de estar sendo seguida passou?

– Sim, estou bem Ino, não se preocupe.

– Sabe, se eu fosse você tomaria cuidado. Pode ser que você realmente está sendo seguida. Imagina se for um psicopata desses de filmes.

– Ino, isso é só uma sensação, não tem ninguém me seguindo de verdade, e eu to confusa agora, sua teoria evoluiu de fantasmas para psicopatas de filmes. Nossa você poderia escrever um livro com essa imaginação.

– Eu to preocupada, sou sua amiga e você está desde semana passada com essa sensação, pode ser que realmente esteja acontecendo alguma coisa. Depois não diz que eu não te avisei se acordar com um cara sentado na sua cama.

– Relaxa Ino, mas se faz você se sentir melhor eu vou tomar cuidado. Ok?

– Tudo bem então.

– Sobre o que estão falando? - Naruto, finalmente tinha tirado suas dúvidas e havia se juntando a gente.

– Sobre os diversos perseguidores que ficam atormentando a Sakura. Queria saber se ela tinha dado uma chance para eles. - Ino era realmente incrível, só ela mesmo para distorcer um assunto completamente.

–E você deu alguma chance Sakura-chan? - E só o Naruto para realmente acreditar no que Ino diz.

– Não tem nenhum perseguidor Naruto. Estávamos falando sobre como os exercícios estavam difíceis hoje. - Eu sei que não era legal mentir, mas se Ino já estava preocupada comigo, eu não queria que Naruto ficasse assim também. Porque não havia nenhum motivo para ficar desse jeito.

– Certo então. Podemos ir agora?

Cheguei em casa, dormi um pouco e depois comecei a fazer alguns trabalhos domésticos. Minha mãe ficaria uma fera comigo se chegasse e descobrisse que não fiz nada. Por último fiz uma janta simples pra mim e guardei um pouco para ela no micro-ondas. Quando era pequena tentava ficar acordada até ela chegar e sempre acabava dormindo, agora prefiro dormir e aproveitar ao máximo o tempo que tenho com ela no domingo. Tomei um banho quente demorado e fui pra cama. No momento que deitei lembrei das palavras da Ino “Depois não diz que eu não te avisei se acordar com um cara sentado na sua cama” ri com esse pensamento e acabei dormindo.

Acordei sentindo uma mão tocar no meu ombro, estranhei, minha mãe não costuma me acordar de noite, será que tinha acontecido alguma coisa? Ia abrir o olho quando escutei:

– Sakura, preciso falar com você. Acorde agora.

Eu gelei, meu corpo todo não respondia minhas ações, esse tom de voz não era nem um pouco parecido com o da minha mãe. Era uma voz de homem e não lembro de já ter escutado ela alguma vez antes. Senti a mão apertar mais meu ombro e nesse momento abri meus olhos. Foi ai que gritei.