Pure Imagination escrita por Sweet Death, SaltedCaramel


Capítulo 6
It's hard to believe: I am a poor Abominable Snowman


Notas iniciais do capítulo

Yey! Olá!! Tudo bem com vocês?!
Me esforcei essa semana, tentando escrever dois capítulos, mas não deu certo......... provavelmente semana que vem o capítulo virá mais tarde.... (na verdade, me esforcei para escrever três, um capítulo era de outra fic, mas no fim consegui só metade de um...).
Não revisei o capítulo, de novo haha :P
Não acontece muita coisa, ainda...mas aí está o cap, de qualquer jeito haha
Hm...boa leitura o/



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Eu tinha alguns amigos.

Naquela época eu tinha.

Quer dizer, não eram amigos. Estavam mais para colegas que não ligavam para o fato de meus cabelos serem brancos como os de seus avós, ou da minha pele ser sensível demais ao sol, branca como farinha, ou dos meus olhos terem as íris claríssimas. Alguns ainda tinham medo e receio de ficar por perto, como se a qualquer momento eu pudesse me revelar um demônio em terra e atacá-los. Ou como se eu chegasse na escola banhado no sangue de sua família. Isso foi o mais próximo que cheguei de uma amizade.

Quando somos crianças, não ligamos tanto para isso. Só queremos diversão. Por isso aquela foi uma época das melhores para mim.

Só queria que essa época não tivesse que divergir tanto na minha mente.

Quando o tempo passa, as lembranças de criança se tornam foscas e sem sentido. Por causa do nosso cérebro em formação, provavelmente.

Odeio isso.

Mais uma vez, vida. Obrigado. Obrigado, ciência... Amo como vocês gostam de me ver feliz... Porque as únicas lembranças pouco mais felizes eu não posso me lembrar, por serem tão distantes.

A única coisa que sou obrigado a lembrar são as partes ruins da vida. Lê-se o “presente”.

E, para incluir na lista de coisas para reclamar na vida, lembranças de momentos tristes firmam-se melhor a mente.

Por isso que eu lembro mais nitidamente daquele tempo. Acontecendo quando eu achava que meu único problema era ser albino. Quando eu ainda tinha “amigos”.

Eu me lembro de um campo aberto, perto da escolinha. Lembro-me de escapar com alguns colegas para aquele lugar. Eu nunca me senti tão feliz quanto quando me convidaram para desviar da escola e brincar um pouco no campo.

Eu via bastante TV naquela época. Desenhos, principalmente. Mas não saía de casa com tanta frequência. Não tinha outros motivos se não para ir à escola ou ajudar Mana. Só.

Mas tudo que eu via naquela caixa animada... me incentivava. Foi vendo os programas que me apaixonei pelo esporte. Me imaginava correndo uma quadra inteira, correndo atrás da bola, fazendo pontos, e, ganhando, distribuiria toques e socos divertidos entre os amigos de equipe toda vez que estivéssemos um passo a frente do adversário. Seríamos unidos, porque é disso que se trata um time: união.

Seria demais. Seria incrível. A adrenalina, a felicidade correndo nas veias. Eu sorriria.

Por isso, indo para aquele campo com amigos... carregando aquela bola de futebol toda manchada e rasgada, a terra esburacada, os aros e as traves enferrujadas prestes a ruírem e precariamente levantadas, os cachorros mijando nos arbustos ao fundo...eu nunca me senti tão animado!

Eu ria bobamente. Disso eu lembrava.

Eu me sentiria horrível por rir daquele jeito, mas os outros também riam assim, então nem me preocupo.

Foi a primeira vez que joguei esporte em vida real.

Eu não tinha pessoas com quem jogar.

Era um time de três contra três tentando acertar o gol.

Eu era desengonçado. Com minha magreza, fraqueza e falta de prática total, não tinha como ser ótimo.

Não me lembro direito.

Lembro do garoto largar a bola, que saiu quicando pela terra desnivelada. Eu tentei chutar, mas nunca havia tentado antes. Caí de bunda e doeu muito. Mas não liguei, só ri junto dos outros.

Era bom, sabe? Rir junto...

Passamos a tarde inteira jogando naquele campinho. Ou tentando jogar, pelo menos, porque eu não conseguia correr mais que alguns metros, chutar, pular, ou fazer qualquer coisa sem sentir algo doer no meu corpo, ou tropeçar ou arfar tremendamente. “Falta de prática”, pensei. Meu time ganhou, pelo menos.

Nem sabia que era o começo do fim.

E foi assim até Mana chegar junto de outros pais e dos professores, surgindo atrás de nós como se estivéssemos perdidos há anos. Ele ficou nervoso comigo e me deu aquele sermão choroso dele, mais de preocupação do que de raiva.

Não me lembro direito.

Mas me lembro de contar a ele o motivo de estar ali, sorrindo com todos os dentes. Ele amoleceu e me abraçou. Estava feliz também, principalmente enquanto eu me despedia dos hm...”amigos”. Lembro deles dizendo não um “tchau” ou “adeus” e sim um esperançoso “até amanhã” que me fez tagarelar ao lado de Mana até chegar em casa.

Me lembro dele estar sorrindo ao meu lado, mesmo que eu tenha falado irritantemente do quão divertido foi aquela tarde.

Ainda respirando pesadamente.

E me lembro...claramente... da expressão de desespero dele e da dor intensa quando tive o meu primeiro ataque e sinal de doença da minha vida, assim que cheguei em casa.

–X-

–Allen, como está se sentindo?

Consegui escapar do susto pela mudança de personalidade que ele teve em segundos. Ele já ia tirando um estetoscópio do bolso do avental, creio que era uma mania que ele conteve desde que entrou pela porta, porque todas as imagens que tenho dele em minha mente é segurando esse objeto. Sendo o Dr. Lee que é.

Demorei a entender, mas o meu tão antigo médico também estava inserido nesse mundo. Interpretando o papel que lhe foi dado.

–Ótimo, creio...- respondi, sorrindo.

Não sabia o que aquele olhar significava. Parecia feliz por mim, mas ainda agia como se quisesse voltar no tempo e desfazer tudo isso.

–Mas, você...- tentei desviar o assunto- eu fiquei tão surpreso quando você se revelou como Komui! Mas é o Dr. Lee e eu...argh! Tão confuso!

Ele sorriu de lado, mas ainda hesitante.

–Eu precisava ficar por perto- respondeu- e você não acha que eu sou muito parecido com ele?

–Sim! Muito!

Eu ri mais alto. Mas ele parecia ter um sorriso triste.

Ele estava preocupado comigo.

Ele esteve comigo desde que era beeeem menor. Ele é da família. Sempre ao meu lado.

Como um...segundo pai.

E, só de pensar nisso, me senti desconfortável ao pensar em meu pai. Onde estava Mana?

Provavelmente em casa, ou verificando um quarto qualquer no hospital, onde acreditava que eu estava.

Eu tentei, com medo, lembrar-me do que acontecia ao pai (se é que ele tinha um) de Austin Brooke. Se eu o estava substituindo, quer dizer que estou “vivendo a vida dele”, certo?

O problema era não me lembrar de nada que havia lido em D.Gray-man.

Pergunto-me se é algo como efeito colateral de tudo que aconteceu. Por falar nisso, TUDO aquilo realmente aconteceu? O necrotério, a luz, o vazio, a tela quadrada, a explosão... TUDO? Ou imaginei uma boa parte?

Tantas coisas para serem respondidas...

E eu duvidava que a ida e volta de Lenalee e Lavi daria tempo suficiente para tê-las respondidas. Antes que eu pudesse abrir a boca, Dr. Lee sentou ao meu lado na cama, fazendo-a balançar o meu corpo. Quando ele tirou o cobertor, pude finalmente observar meus machucados. Pareciam bem doloridos.

Dei graças a Deus que estava enfaixado, porque eu nunca fui de gostar de ver meu corpo em carne viva. Minha perna, meu braço, minha barriga e minha cabeça. Tudo coberto de curativos brancos avermelhados. Eu me sentia algo entre Frankenstein e o Abominável Homem das Neves atropelado.

Mas eu me sentia ótimo do mesmo jeito.

Dr. Lee olhou para os machucados com certa preocupação, mas tentou ao máximo sorrir quando voltou o olhar para mim. Não deu muito certo, mas o sorriso deu para o gasto.

–Certeza de que está bem?

Ele olhou para minha perna e eu segui o olhar.

–Hã...Bem, BEM, eu não estou...Mas estou melhor! Me sinto forte! Me sinto...

–...infinito?

Eu travei. Aquilo não era frase de um livro?

Encarei- de sobrancelhas erguidas. Ele estava tão atento observando o gesso na minha perna que demorou um pouco para perceber.

–Hã?- resmungou- ah, sim, é uma frase de um livro. Eu tive que filtrar alguns desejos dos seus pensamentos e...acabou que algumas frases que você lembrava... as coisas... lembra? O necrotério...

Então aquilo era verdade? Eu...realmente havia voltado dos mortos? Estado deitado, imóvel, frio, em uma maca de necrotério?

Esqueça o “Abominável Homem das Neves”. Eu estava me sentindo um zumbi. Aquilo me dava calafrios.

–Você realmente lia meus pensamentos?

–Não LER. Eles que se transmitiam pra mim.

–E eu morri.

–Isso.

–Mortinho da silva.

–Aham.

–Num necrotério.

–Isso mesmo.

Era coisa demais para absorver.

–E depois eu acordei em um escuro como uma fumaça de Allen, com um quadrado do mal piscando que ditava letras com um quiz do inferno o tempo inteiro, que deu um BUG, fez contagem regressiva e explodiu na minha cara deixando tudo branco?

Ele parecia um pouco impressionado demais. Cheguei a duvidar de que estivesse falando da verdade ou de um sonho.

–Explodiu?

–Sim, logo depois da contagem. Ele estava faiscando e piscando e fazendo barulho e tremendo. E aí......bum.

Eu fiz um “bum” com as mãos, mas nem isso fez o rosto dele parecer menos pálido.

–Explodiu?

Suspirei.

–Sim! Já falei!

Ele esfregou as mãos nos olhos. Os óculos escorregaram para a sua testa e, quando ele parou de suspirar e olhou para mim, os aros voltaram ao lugar. Ainda que estivessem um pouco tortos no nariz.

–Não sei se isso é um problema- disse- provavelmente não. Não se preocupe.

Pelo jeito como ele se comportava, parecia que era um caso para “me preocupar”.

–C-Certeza?

–Ele explodiu DEPOIS da contagem. Talvez não tenha nada errado.

–Então...o quadrado é real?

Ele ergueu as sobrancelhas significadamente.

–É claro que é real!- indignou-se- eu consegui te manter por algum tempo aqui, mas é só naquele vazio que seu destino poderia ser decidido. Aquele sistema...ele só precisava de ajustes.

Ou seja, ele hackeou a morte.

Hm...Isso parecia bem legal para um médico que usa boina e pantufa.

Ia perguntar sobre aquilo. Sobre o Bug.

Mas quando abri a boca ele me interrompeu.

–Acho que eles já devem estar voltando. Temos que ser rápidos.

Procurei os assuntos mais urgentes na minha mente.

–Por que eu não me lembro da história? Digo, D.Gray-man. Eu...eu não consigo me lembrar dos detalhes! Tudo me foge! Parece amnésia...é estranho porque era o meu preferido e daí...

Ele sorriu tão abertamente que eu fiquei imaginando se não havia contado uma piada ao invés de perguntar algo importante. Quase fiquei indignado.

–O que você queria?- ele riu- olha, eu estudo isso há tempos. Não se pode saber o destino! É impossível e é ruim para alguém saber o que vai acontecer. A vida se encarrega de apagar as linhas do destino para que não possam serem lidas. Elas sabem do perigo. Por isso, por mais forte que seja o meu esforço, não posso criar um mundo baseado em algo que você já sabe.

–Então, eu não sei de nada. Só... tenho que viver aqui? Uma vida...

Ele assentiu.

–Não sei se será exatamente como acontece no tal mangá. Nunca saberemos, provavelmente. Isso aqui será uma caixa de surpresas.

Eu não sabia o que pensar daquilo. Poderia ficar pensando o dia inteiro, mas ouvi a voz escandalosa de Lavi gritar alegre ao longe. Estava se aproximando.

–E minha doença?- perguntei, rápido, chamando sua atenção- o que aconteceu com ela?

Ele mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça. Parecia confuso e indeciso.

–Não sei direito- respondeu- não tenho como examiná-lo no momento.

–Mas eu não senti nenhum efeito- sorri- comi normalmente, meu estômago roncou, o acidente não teve nada a ver com pulmões ou corações defeituosos!

Ele sorriu, mas ainda parecia triste.

–Acredito e espero que sim. Provavelmente não tem problemas no seu corpo. Mas... por causa da... de acontecimentos...

Eu tinha a leve impressão de que ele falava da explosão.

–...não posso ter certeza. Seu corpo está normal. Com certeza está, mas...bem , como disse, não sabemos o destino!

Ouvi os passos dos dois. Isso só queria dizer que estavam chegando. As vozes próximas. As risadas cada vez mais altas.

Komui devia ter ouvido também, pois levantou-se rapidamente, ajeitando o avental e a boina.

Ia me ajeitar na cama, para ficar de um jeito que não parecesse ter morrido e voltado a vida e tido uma conversa estranha com meu médico. Não achei uma posição apropriada para essa situação, então só fiquei como estava: dolorido e desgastado.

Eles estavam prestes a abrir a “porta”, quando eu lembrei da coisa mais importante de que precisava falar.

–Dr. Lee!- chamei e ele me olhou com dúvida- e o Man...?

Minha fala foi cortada pelo barulho da tábua de madeira (que tampava o recente buraco-porta) caindo. Lavi e Lenalee surgiram dali, carregando sacolas de plástico brancas repletas de coisas.

O Dr. Le...ou Komui? Ah, que seja...

Komui foi tão profissionalmente rápido que eu até me confundi.

–...então, é só isso, certo? Nenhuma morte, apenas ferimentos no exorcista e nenhuma innocence...- ele disse, como se fosse uma conversa sendo finalizada e não uma frase solta e sem sentido- Muito bem. Espero que melhore. Tome isso, Allen-kun.

Estava estático por um tempo, até perceber que devia entrar no fingimento. Sem realmente saber o do que ele estava falando, só concordei com a cabeça enquanto os dois recém-chegados deixavam as sacolas no criado mudo ao meu lado.

Komui anotava (ou fingia anotar) coisas em um papel na prancheta, que em um golpe de ninja ele tinha agarrado e colocado em posição nos braços como se estivesse estado o tempo todo apenas escrevendo ali.

E eu tinha que dizer que ele fingia muito bem...se eu não soubesse que a caneta estava sendo segurado de ponta cabeça.

De qualquer jeito, ele havia parado para pegar algo no bolso. Um frasco estranho e transparente, com uma tampa de rolha para impedir que o conteúdo líquido incolor acabe escapado. Ele sorriu e estendeu aquilo para mim.

–Passe nos machucados- disse, como um sussurro- vai melhorar mais rápido, acredito.

Se tinha uma coisa que eu me lembrava da história, era que Komui não era bom em invenções que DÃO certo. Não hesitei ao pegar o frasco, mas hesitei em usá-lo.

–Tem certeza , Dr. L...er... Komui?- perguntei, também sussurrando.

Ele pareceu entender meu olhar que complementava a pergunta, pois ele respondeu:

–Sim, claro que funciona! Eu sou ou não sou Komui Lee?! Supervisor da Ordem Negra!

Ele falou alto. Lenalee riu, mas eu acho que entendi.

Komui costumava errar.

Dr. Lee não. Creio, eu.

Ele piscou para mim, enquanto Lenalee o cutucava para falar sobre algo que devia ter inventado e dado errado.

Meu problema começa quando ele precisar interpretar demais.

Ou quando sua personalidade imergir tanto na de Komui que possa se fundir.

E, por algum motivo, acredito que isso possa acontecer algum dia.

Creio que me sentirei solitário caso isso aconteça. Serei eu, apenas, o ser que sabe do segredo da existência desse mundo: uma imaginação.

Mas talvez não aconteça, afinal, nós dois viemos de “outro mundo”. Não realmente seguimos as regras daqui.

Ele sempre será Komui/Dr.Lee. Sempre.

Komui conversava com os dois, não dava para ouvir, mas consegui identificar o biquinho e o muxoxo decepcionado do Lavi. Lenalee parecia mais compreensiva, pois só deu de ombros e acenou afirmativamente com a cabeça.

Achei impressionante como dois segundos depois os três viraram a cabeça para mim ao mesmo tempo. E sorriram. De novo.

Tenho certeza de que esses sorrisos todos uma hora vão me parecer irritantes, mas por enquanto só me faziam queimar em felicidade por dentro. Era algo que eu havia experimentado muitas poucas vezes em meus 16 anos: sorrisos verdadeiros voltados para mim.

Lavi e Lenalee se aproximaram de mim. O ruivo retornou ao biquinho chateado quando disse:

–Alleeeeen- rastejou- Komui disse que temos eu sair daqui- suspirou- ordens da enfermeira.

Lenalee tirou uma latinha roxa da sacola que carregava.

Eu até estranhei o fato de uma exorcista fazer compras em lugares como mercadinhos de ruas quaisquer...

–Um suco- ela disse- de uva, para o caso de sentir sede. Ia deixar um sanduíche, mas o Lavi comeu o último.

Ouvi o ruivo gemer de dor. Tenho certeza de que ela pisou no pé dele....com a força que ela tem nas pernas por usar as Dark Boots, entendo a expressão de dor dele.

Mas, mesmo assim, isso me revirou por dentro.

–Tchau, Allen-kun- ela disse, dando-me um beijo estalado na bochecha.

Não sei se ela tinha me dito algo depois. Estava imerso na sensação do toque.

Lavi repetiu o ato, mas tenho certeza de que ele passou a língua pelo meu rosto... Uma vez Lavi, sempre Lavi.

Komui acenou e deu um último sorriso significadamente.

E, então, os três saíram do quarto, deixando-me novamente sozinho observando o buraco na porta.

Sem esperar um minuto, tirei o frasco de debaixo do lençol. Preferia confiar em Komui ”Dr” Lee que ficar mofando aqui na cama.

Tinha um mundo novo por aí para explorar.

Minha vida como exorcista.

Abri o frasco em um “pop” da rolha saindo. Tinha um cheiro de morango, mas eu tinha aprendido que não se pode confiar nos cheiros bons ou nos gostos escritos na embalagem dos remédios. NUNCA tem gosto de morango.

Derrubei o líquido por todos os curativos que vi. Soltou fumaça. A droga do remédio soltou fumaça na minha perna. Ardia demais, mas, agora que já tinha colocado, só podia aguentar.

Pelo menos eu sabia que efeito estava fazendo, por causa da ardência. Mas se eram efeitos bons ou ruins...eu não vou saber ainda.

Deitei-me de lado (do jeito que consegui com o corpo enfaixado). Precisava dormir, para acordar rejuvenescido.

Não é todo dia que você morre e revive no mundo ideal.

–X-

No dia seguinte eu definitivamente acordei melhor. Quer dizer, eu não tive aquela coisa de “onde estou?”, “quem são eles?”, “O que aconteceu?”. Só senti fome. Demais.

O estômago devia estar compensando pelos anos que eu passei sem comer direito.

Além disso, os machucados já começavam a se arrumar, motivados pelo líquido incolor e fumegante que coloquei no dia anterior.

Recebi visitas quase todos os dias. Lenalee, Lavi, Komui...até Kanda veio um segundo dia. Não disse nada, mas ainda assim veio.

E agora, uma semana depois, posso finalmente sair. As juntas rangendo e o pescoço doendo, mas ainda assim pronto para sair desse lugar.

Espreguicei-me enquanto organizava as coisas. Não tive coragem, ainda, de colocar meu uniforme. Apenas roupas normais de qualquer adolescente normal.

E, pela primeira vez. Eu realmente me vi extremamente feliz por não ser normal, mesmo usando meu velho casaco cinza escuro, jeans e all stars. Eu me sentia perfeitamente bem. Saudável.

Encontrei Lavi logo que pisei fora do prédio. O ruivo me esperava sentado em um banco do na frente. Lia o jornal e eu sabia que por ele estar tão concentrado naquilo (função de Bookman) teria que me aproximar para ser notado.

–Lavi- chamei, ele abaixou o jornal em um sorriso brilhante e tirou os óculos que devia usar para leitura.

–Oi, Allen.

Era a primeira vez que o via sem o uniforme. Tinha que admitir, com vergonha e inveja, que ele conseguia fazer roupas normais de jeans e camiseta de desenho divertido parecerem extremamente sociais. E, com isso, quero dizer que ele era incrivelmente bonito.

Todos eram.

Não vou dizer que ficava um pouco constrangido em ser...assim, do jeito que sou.

Me sinto o amigo feio. Daqueles com quem as pessoas andam para ficar mais bonitas.

Depois de ver Kanda e Lavi, não tem como ficar inseguro em relação à aparência.

Estava tão perdido nos pensamentos que nem notei quando ele passou o braço pelo meu ombro e me obrigou a caminhar em uma direção qualquer.

–Não está doendo, né?- ele perguntou- seu ombro, quero dizer. Eu gosto de ficar apoiado em você, A-lle-n~.

Ele falou como se fosse algo que acontecesse há muito tempo, por isso fiquei meio sem reposta.

–Estamos indo...- comecei a falar, mas logo hesitei- quer dizer, voltando...?

Ele virou para mim e apertou os dedos que seguravam meu ombro. Estava sorrindo divertido como sempre e mal usava a bandana, o que fazia os fios avermelhados caírem bagunçados pelo rosto.

–Voltando para a Ordem, Allen- ele respondeu, engoli em seco- sei que você queria ficar na mordomia do hospital, mas exorcistas são sempre ocupados... Kanda vive pegando missões seguidas, por exemplo, ele não gosta de ficar parado conosco- ele espreguiçou os braços em um gemido- queria eu poder descansar...dormir e dormir... ah! Seria o paraíso para mim! Mas o Bookman odeia isso, vive me jogando nos livros dele...

Eu não sei quando, mas sabia que uma hora o jeito tagarela do Lavi iria me fazer querer enfiar meu punho na boca dele. Por enquanto, queria curtir as piadas dele e ouvir a voz de alguém rindo ao meu lado.

Era tão bom o som das risadas que riem COM você ao invés de rir DE você.

Há uma diferença discrepante nesses dois tipos de risada, acredite.

Estava tão imerso nos pensamentos e na voz dele, que levei um susto tremendo quando ele virou meu corpo em outra direção.

–Ali, Allen...hã...táxi? Vamos de táxi? Pode ser?

Só concordei, não tinha porque dizer não.

Logo, estávamos em um táxi (com um Lavi ainda tagarelando sobre gelatinas sabor uva), a caminho de um lugar que eu só pude imaginar nos sonhos mais incríveis ser real: a Ordem Negra.


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Notas finais do capítulo

E aí? reviews? :3
Sei que não aconteceu muita coisa, mas vou tentar levar essa fic mais demoradamente para: 1- durar mais :P e 2- não acontecer tudo de repente e ficar muito repentino...
Preview:
"Não pensei em nada que não fosse “Não olhe para baixo, não olhe para baixo, não olhe para baixo...”."
"Essa foi a meia hora mais desesperadora da minha vida. E olha que eu morri uma vez."
"Kanda, eu quero lutar.
Os dois pararam a pequena discussão. Os dois ergueram as sobrancelhas para o ser albino que de repente externava uma vontade sem sentido. É, era eu.
-Er...Allen?- Lavi disse, calmamente, enquanto levantava-se- você acabou de sair do hospital.
-Quero testar- respondi- quero ver se não hm... enferrujei."

—Esses dias eu estava pensando em fazer uma one-shot LavixAllen... e uma Crossx Allen (é, tudo com o Allen, mesmo haha) mas se fizer só sairia lá por julho, quando terei tempo. Quem sabe, quem sabe...
—E também pensei que uma fic/one shot de PJO/HDO, alguém leu? Seria yaoi também, porque yaoi é foda U-U, mas isso só beem mais para frente, acredito (tem muita coisa para escrever, já) haha talvez eu fique motivada quando sair O Sangue do Olimpo :3 Jasico ou Pernico talvez...hm...

Enfim, muitíssimo obrigada por ler!!!!!! AMO vocês, ok? >3