Family escrita por Luna Sapphire Calhoun


Capítulo 1
Depois da Tempestade




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James não era um garoto malandro, rebelde nem nada, mas pé ante pé ele fez seu caminho de sua casa até o apartamento de Felix e Calhoun. A porta estava trancada, mas ele colocou a mão sobre a fechadura e, com poucos segundos de concentração ouviu um fraco clic. Ficou parado alguns segundos só para garantir, depois entrou e trancou a porta novamente, atirando-se no sofá.

Felix acordou mais cedo do que era seu costume, deixou o quarto silenciosamente para não acordar sua esposa e estava a caminho da cozinha quando notou James deitado encolhido no sofá.

Porque ele estava ali? Como tinha entrado? Apesar de ser Niceland, Tamora normalmente trancava a porta durante a noite, só por segurança. Mesmo assim ele foi checar, estava mesmo trancada.

Lançou um novo olhar para James e resolveu esperar ele acordar.

James despertou com o doce cheiro de leite morno. Imediatamente ele saltou em pé, já era tarde, ele tinha dormido de mais. Talvez ele tivesse um pouco de sorte e ninguém tivesse percebido ele ainda. Silenciosa e cuidadosamente ele se aproximou da cozinha e não viu qualquer sinal de que houvesse alguém lá.

Soltou um suspiro aliviado e virou-se para sair, mas quando o fez deu de cara com Felix.

"Bom dia!" O menino saudou um pouco nervoso.

"Bom dia Jay! Dormiu bem?"

"É." ele respondeu um pouco chateado.

"Não parece ter sido uma boa noite. Tem algo a ver com o porque vocês está aqui?"

James apenas baixou os olhos um pouco envergonhado.

"Algum problema?" Felix perguntou gentilmente.

"Acho que estou indo para casa." James desconversou.

"Não fica para o café?"

"Acho melhor não. Já incomodei de mais."

"Não está incomodando Jay. Você é bem-vindo quando quiser."

"Obrigado!" James sorriu fracamente e seguiu Felix para a cozinha.

Ele permaneceu em silêncio até Tamora juntar-se a eles.

"Bom dia querido!" Ela saudou Felix cor um leve beijo, então notou James. "O que te traz aqui tão cedo Jay-Jay?"
O menino sorriu ante aquele apelido. Praticamente ninguém o chamava assim, nem mesmo em Sugar Rush.

"Só uma visitinha matutina, Sargento." Ele tentou aparentar o maximo de naturalidade possível.

"Você dormiu aqui, não foi?" Ela rebateu.

"Por que acha isso?"

"Eu vi você ontem. O que te fez vir da sua casa até aqui no meio da madrugada?"

O menino deu de ombros e tentou ignorar a pergunta, mas os olhares sobre ele o incomodavam muito e ele murmurou:

"Não estava caonseguindo dormir."

"Por que?" Felix perguntou.

"Só um pesadelo bobo. Mas eu não queria falar com a Clar, nem ficar sozinho lá. Eu não sei porque mas eu me sinto bem aqui." James admitiu.

"Toda a confusão com Kitty perturbou você, não foi?" Felix começava a ficar preocupado.

"Só um pouco. A verdade é que eu não estou muito acostumado com esses perigos e esse estilo de vida. Eu só tenho nove anos, isso não é normal."

"O que não é normal?"

"Não achei que fosse assim quando fugi de casa, mas estar sozinho por um único dia me fez pensar no quanto eu dependo das pessoas. Não fui feito para ser um rebelde como Clarion."

Depois daquela pequena cena, James achou que deveria passar a noite em um lugar diferente. Então, depois de um longo dia de trabalho e uma noite de diversão com os amigos, ele se ofereceu para acompanhar Vanellope de volta ao Sugar Rush e passar a noite lá, mas ao contrário do que ele esperava...

"Sinto muito Jay-Jay." Vanellope respondeu. "Eu adoraria sua companhia e tudo o mais, mas hoje é a noite das meninas e a não ser que você queira passar a noite com Rancis, Gloyd e Swizzle, acho melhor você ir para casa."

Vanellope não pode deixar de se sentir um pouco chateada ao dizer aquilo para ele. James era a pessoa que ela mais gostava de ter por perto, talvez depois de Ralph, mas aquela noite já estava planejada desde antes da chegada dos gêmeos ao Arcade.

"Tudo bem, mas a gente tem que marcar uma outra noite, provavelmente para nós dois, Clar e as meninas. E Ralph é claro."

"É, vai ser legal. Tem certeza que você não vem, Clar?"

"Não. Prometi encontrar Link e as meninas hoje. Quem sabe na próxima."

"Você também não vai para casa?" James voltou-se para a irmã.

"Não."

"Posso ir junto?"

"Sinto muito Jay. Quem sabe da próxima?" E com isso ela saiu correndo.

Vendo-se sozinho, James correu para alcançar Ralph, Felix e Calhoun.

"Não estava indo para o Sugar Rush Jay?" Ralph perguntou surpreso.

"Hoje não. Vanellope vai passar a noite com as meninas e Clar também vai passar a noite fora, então eu achei melhor ficar em casa."

"Sozinho?" Felix perguntou preocupado.

"Por que não? Já estou bem grandinho para tomar conta de mim mesmo."

"Não foi isso que pareceu hoje de manhã." Comentou Calhoun.

James corou um pouco. Ele estava contando que, depois de toda aquela agitação o episódio tivesse sido esquecido.

"Só um pequeno deslize." Ele murmurou.

"Você está começando a falar igual a sua irmã. É normal que você tenha pesadelos depois de tudo o que passou. Não há nada de errado nisso."

"Então porque Clarion faz sempre parecer que tem? Não sei o que há de errado com ela. Pensei que tudo fosse mudar mas, não mudou muito."

"Passaram só dois dias. Dê um tempo a ela. Clarion também tem medo e ela foge disso. Talvez vocês dois só precisem de um pouco de ajuda." Felix sugeriu.

James sorriu. Era tão bom ver que ele tinha amigos com quem podia contar.

Ele acabou dormindo no apartamento de novo, desta vez a convite. Adormeceu logo, tinha certeza de que estava seguro ali.

Felix cobriu o menino, correu a mão pelos cabelos dele e lhe deu um leve beijo na testa. Tamora assistia a tudo com um leve sorriso. Quando seu marido se apriximou ela o beijou sem dizer uma palavra, só depois que se separaram ela disse:

"Foi tão doce da sua parte ajudar o menino."

"Clar tinha razão. Ele está um pouco carente, mas ela mesma não é capaz de ajudar. Acho até que ela também precisa de ajuda.

"E eles tem." Ela respondeu.

"Talvez Clarion tenha o suficiente, mas a vida não é tão simples para James, o mundo era normal para ele antes disso tudo, agora ele está assustado e se sentindo sozinho. Ele precisa de uma família. Os dois precisam, embora Clarion nunca vá deixar que alguém perceba isso."

"Então como você sabe?"

"São os pequenos sinais. Ela não fica sozinha por mais do que o suficiente par ir de um jogo para o outro, faz questão de não ir a lugar nenhum sem que pelo menos um de nós três saibamos onde ela está. Às vezes me pergunto se ela faz isso sem perceber ou de propósito."

"Eles vão ficar bem. Você mesmo disse, só precisam de um tempo."

"Eu disse isso da Clar. James eu não sei. Faz dois dias desde toda aquela conusão, ele está tendo pesadelos e vem pra cá em busca de ajuda..."

"Então talvez ele devesse ficar aqui."

"O que?!" Felix perguntou, surpreso pelas palavras de sua esposa.

"Clarion perdeu a família ainda muito pequena, ela se tornou uma garota das ruas, perigosa, não confia em ninguém, esconde a si mesma por trás de máscaras e mentiras. Ela precisa de alguém que a entenda, de um pouco de ordem, um pouco de amor, e alguém em quem possa confiar. James perdeu a família ainda pequeno, e fugiu de outra depois, teve problemas em ser aceito pela irmã e quase foi morto por ela duas vezes, está abalado e assustado. Ele precisa de alguém que o proteja, que o ajude a se manter forte, um pouco de carinho e atenção. Mais do que tudo eles precisam de alguém que os mantenham juntos. Onde mais eles encontrariam tudo isso? Além do mais você e James se apegaram tanto em tão pouco tempo que estou surpresa que você já não tenha pensado nisso."

"Na verdade pensei. Só não estava certo do que você e Clarion iriam pensar."

"Vamos ser pais pais em breve, que diferença faz adotarmos mais dois? Vai ser bom para todos. E, se eles precisam, quem somos nós para recusar ajuda?"

"Tem razão querida." Ela o beijou novamente. "Perguntamos a eles amanhã." Ele sugeriu quando se separaram novamente. "Tenho certeza que Ralph e Vanellope vão trazer Clarion para o café da manhã."

"Se não trouxerem, vamos até ela. Um piquenique antes do Arcade abrir não vai fazer mal a ninguém."

Felix estava certo sobre o café-da-manhã. Faltando ainda uma hora e meia para o Arcade abrir, Ralph apareceu, com Vanellope em um ombro e Clarion no outro. Eles sempre tiravam um dia para passarem juntos, exceto enquanto o Arcade estava aberto.

"Que cheiro bom!" Vanellope comentou ao entrar, saltando para o chão.

"Parece que você caprichou mais do que nunca no café-da-manhã hoje Felix." Ralph comentou rindo para o amigo.

"Espero que não seja por minha causa." Falou Clarion. "Porque se for eu estou caindo fora."

"Porque você não vai acordar James para podermos comer?" Felix sugeriu, um pouco nervoso com a atitude da menina.

"Vai ficar tudo bem." Sua esposa o assegurou quando a menina se afastou.

Eles ouviram um baque e logo Clarion estava de volta com um sorriso maroto.

"Ele está acordado!" Ela anunciou.

"Precisava ter me jogado do sofá?" James chegou a cozinha resmungando.

Tamora suspirou. Ela tinha dito que ia dar certo, não que ia ser fácil.

"Ainda é de manhã e você já estão brigando!"

"O que ele está fazendo aqui?" Clarion ignorou o comentário.

"Como você não está em casa, eu pensei que seria melhor para ele." Felix explicou.

"Melhor." Ela murmurou. "Se você continuar fazendo isso, ele vai continuar a agir assim."

Clarion sentou-se ao lado de Vanellope.

"Então, por que estou aqui?" Ela perguntou impaciente.

"Pequeno café da manhã em família." Felix disse a ela.

"Nós pensamos que você devia participar também." Vanellope acrescentou.

"Por quê? Eu não sou parte da família." Clarion protestou.

Felix pensou que, não era o melhor momento, mas ele tinha que tentar dizer alguma coisa.

"Mas você pode, se quiser." A menina levantou uma sobrancelha, olhar sério, fazendo-o ficar um pouco mais nervoso, ela parecia pronta para explodir a qualquer minuto.

"Estávamos pensando" Tamora continuou por ele "Vocês dois perderam o seu mundo , James perdeu uma família que ele conhecia, e vocês dois perderam uma família que não conheciam, mas, neste curto espaço de tempo, vocês dois ganharam novos amigos e uma novo vida, uma nova casa, mas isso ainda não parece estar sendo o suficiente."

"E..." Clarion insistiu impaciente.

"Acabamos mais próximos do que amigos neste curto espaço de tempo." Felix finalmente conseguiu continuar. "Nós pensamos que vocês iam ficar bem quando lhes demos uma casa, mas eu notei, não era tudo o que vocês precisavam. Nós observamos vocês nesses dois dias, e chegamos a conclusão que, talvez, a única coisa vocês dois realmente precisam é de uma família, e onde mais você poderiam encontrar uma do que com a gente?"

Não tinha sido seu melhor discurso, mas ele não tinha ideia do que dizer à menina.

"Eu não preciso de ninguém para cuidar de mim!" Clarion exclamou, de repente se levantando. "Eu cuido de mim desde os três anos. Três! Não era uma vida normal para uma criança. Eu não sou mais uma garota normal, e eu não vou ser, nunca! Então não tente ver me como uma, para me fazer agir como uma!" Ela baixou a voz, afastando-se. "Eu estou indo para a minha casa. Até mais."


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