Os Guardiões - Reino dos Elementais escrita por Kai


Capítulo 30
Amaldiçoados


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Klaus sentia-se estranho desde que escolhera o caminho dos heróis. Obviamente, Suzana e Rose não se falavam desde a última brigas delas, e ele tinha uma leve impressão de que nada seria o mesmo. Despedindo-se da deusa tríplice, os três partiram para uma das rotas reverenciadas pela deusa de três e adentrarem em regiões onde pés elementais não tocavam há séculos. O caminho era escuro, tenebroso, assim como a biblioteca em que passaram e os mistérios os quais descobriram, mas, diferente das outras rochas e pedregulhos que aparentavam não possuir energia vital ou quaisquer resquícios de vida elemental, as pedras que firmavam os passos de Klaus pareciam estar perplexamente "vivas". Claro, não exalavam pura vitalidade gnômica, mas o gnomo conseguia sentir vibrações derivadas do solo, seria pois um sinal de que estavam perto da relíquia da terra? Olhando para as paredes, percebeu que os desenhos e pinturas inscritas não representavam mais as vitórias de Waeros ou o sofrimento dos renegados perante seu inabalável poder. Os desenhos mostravam rituais, feitiços, símbolos antigos referentes à língua dos pássaros e o sepultamento de Waeros.

À medida que entravam cada vez mais no caminho dos heróis, Klaus pressentia um desconforto enorme em Suzana. Ele, em sua mais modesta e humilde opinião, não acreditava que fosse culpa dele a ondina cometer diversos erros irreparáveis para com os filhos da luz. Independentemente de Rose ser uma renegada, ela era aquela que o gnomo mais depositava sua confiança e esperança,ainda que tivessem passado por situações que quase massacraram o coração do gnomo. A chama da bela kitsune esclarecia os pensamentos de Klaus, e suas mãos dadas as dele exprimiam fé e conforto: ela parecia ser corajosa, destemida, sábia, pronta a fazer o que tivesse que ser feito pelo mundo e os elementais, por mais humilhada que fosse, ela sempre colocava os outros acima dela, prova disso foi sua fuga com Katherine ainda que não quisesse ou o fato de ter largado a comodidade da Baviera para ir à Irlanda com alguém que tinha sido escolhido como filho da luz e tinha medo de contar para seus próprios pais temendo a reação deles. Klaus não queria ser a sombra de Fagner quando ele se tornasse líder de sua família ou fosse seu "capacho" como Rômulo, futuramente. Seu interesse por livros podia ter lhe levado além durante a busca pelas relíquias (subindo de mero gnomo nos cantos mais remotos da Europa para conselheiro e represente da raça elemental da terra mais populosa: os duendes), entretanto, e agora? o que seria dele?

Katherine continuava desaparecida desde a batalha contra os renegados em frente a Sidh, Jack tinha tentado trazê-la de volta e derrotar a primeira mãe, mas o grande objetivo deles, a principal missão deles, se concentrava sob liderança de Klaus, um gnomo pequeno e fraco. Ele se via dessa forma, todos o viam assim. Do que adiantava ter conhecimento e poderes tão necessários no subterrâneo do rochedo se não poderia usá-los e ser sustentado por duas garotas semelhantes a cão e gato? Suzana era água, Rose sempre foi fogo. Suzana era paixão, mas Rose era muito mais do que amor. Suzana era traição, Rose jamais lhe trairia. Como o Wellington podia ser tão tolo? Ter sido levado pelo sentimento astucioso e o veneno das palavras da ondina? Tudo se encaixava perfeitamente na mente de Klaus: ela lhe manipulava desde o início, de alguma forma sabia que o gnomo tornaria-se conselheiro e queria crescer em poder entre os elementais como qualquer outro que perderia a herança de um clã poderoso quanto o Yin Huang. No final das contas, ela sempre quis estar com Jack.

A fênix de Jack tinha salvo os aprendizes de seu pai, Jack tinha salvo Suzana quando Fang despencou dos céus na Baviera, ela tinha lhe beijado... Não... alguma coisa estava errada com Klaus...Como aquilo estava sendo suscitado em sua mente novamente? Ele tinha perdoado a ondina, estava do lado de Rose, mas continuava sendo um escolhido da profecia e teria que aguentá-la assim como o salamandra até o final... Por que seu cérebro chacoalhava incessantemente? Uma forte dor de cabeça atordoou-lhe e quase caiu até que Rose desatou sua mão com a dele, já que estavam praticamente grudadas, e apontou para dois enormes portões de pedra encravados como diamante em um anel na caverno e estavam repletos de símbolos gravados como escrita cuneiforme em antigas tábuas de pedra. "Guardando os portões estavam dois esqueletos de altura em torno de 3 metros com armaduras detalhadas em ouro e outras pedras preciosas, portava lanças de ferro com pontas de aço tão brilhantes que ofuscavam a chama erguida pela kitsune;

–O que é aquilo?- perguntou Rose cismada. Diferente do que pensava, Klaus não foi ajudado por Suzana a se reerguer, o gnomo simplesmente firmou suas unhas nas paredes e tentou colocar-se de pé. Antes de responder, Klaus ficou encantado com a simetria dos símbolos e as tochas com suas elegantes chamas verdes. De repente,a ondina pulou no meio deles e se esgueirou para a fronte dos portais. Seus olhos brilhavam, mas estava paralisada, sem nenhum movimento apenas olhava;

–O que vai fazer, Suzana?- perguntava Rose sarcasticamente -Estragar tudo outra vez? Não acha que fez o bastante, filhazinha da luz- Klaus achou que a ondina fosse disparar frases amedrontadoras ou atacar Rose, mas ela permaneceu quieta até que tirou a mochila que trazia desde que chegara ao castelo do Estranho e retirou um antigo utensílio de madeira que mais parecia um pedaço de um galho, mas ambos sabiam seu potencial elemental grandioso. Sua presença irradiava inquestionavelmente intensa energia espiritual que chegava a queimar o interior de Klaus. Suzana o lançou no ar e quando voltou caiu diretamente na mão esquerda da asiática, a mesma o posicionou inclinadamente e fechou os olhos. Rose a olhava com desprezo de braços cruzados esperando seu inevitável fracasso. Klaus andava tateando as paredes para ver o que a ondina fazia mas quase tropeçou numa pedra, ele iria desabar no esqueleto à esquerda, mas seus olhares vidraram na ondina unânimes.

Suzana abriu os olhos e repetiu palavras em latim;

Excita, interior, et imminutæ sunt aperta ad factorem mystici seducere spiritus– inusitadamente, os símbolos incrustados começaram a brilhar e queimarem em chamas verdes até os portões se abrirem como se todos os ventos dos quatro cantos do subterrâneo abrissem-nos. Klaus e Rose entreolharam-se surpresos e perceberam que Suzana já entrava no lugar-destino dos caminho dos heróis. O gnomo não sabia se a espírita da água tivera instruído a ondina ou ela tinha utilizado o poder do cajado para abrir o tal, já que a lenda de Moisés, o hebreu, dizia que o líder dos escravos havia aberto uma passagem no mar com a relíquia agraciando os judeus com a ida à terra prometida enviando um sopro grandioso do Oriente...seria uma demonstração do poder sob posse de quem tivesse a relíquia da água? Abrir passagens, manipular serpentes, invocar enchentes e grandes massas de água... Rose girou instantaneamente em chamas e transformou-se em sua perspicaz, astuta e típica raposa sem cauda. Seguindo a raposa pela passagem tenebrosa e escura tentou ao máximo que podia se guiar pelos outros sentidos ainda funcionais, em especial, a audição, mas não era necessário, tochas estavam espalhadas pelos cantos mais remotos da caverna sustentadas por esqueletos parecidos com os encontrados na entrada. No entanto, não usavam nenhum tipo de armadura ou veste e tinham altura variante entre 4 e 5 metros, pareciam estátuas macabras de algum artista elemental psicótico. O que mais surpreendeu o gnomo foi que no espaço enorme disposto a maior parte estava inundado, água límpida peculiar enchia o lugar podendo ser vista desde a superfície até as partes mais profundas o que guarda há séculos: joias, espadas, escudos... nas paredes relativamente longínquas e estranhas estavam inseridas lápides e túmulos repletos de ossos e restos mortais completamente putrefatos: gnomos que tentaram capturar Draupnir achando que habilidades como esperteza e riqueza poderiam substituir bravura e honra necessária para conseguir quaisquer proezas na morada do rei estranho. Enquanto que Rose, em sua forma de raposa, andava pela passarela longa e destemida composta por rochas olhava e farejava curiosamente por todo o ambiente como se suspeitasse de algo ou alguma coisa, Klaus distraía-se com a beleza dos ossos e das riquezas perdidas, não só materiais, mas... o que aqueles mortos não levaram consigo nas asas sombrias da morte? Paixões, medos, ganâncias, desejos, amores, pensamentos, memórias. Sonhos que nunca seriam realizados;

–Klaus- chamou Suzana, o gnomo saiu de seus vãos turbilhões de pensamentos para a vida real;

–Preciso falar com você- afirmava ela -Jack está em perigo, posso senti-lo, a cidadela toda está em perigo, precisamos pegar a relíquia e impedirmos que este lugar não caia pela primeira vez desde o início de sua civilidade- Klaus franziu a testa;

–Acha realmente que vou acreditar em você? Você não passa de uma mentirosa e quebradora de promessas, pode até ter aberto a passagem ou salvo a minha família, mas eu não te amo- as palavras foram como facadas consecutivas no coração da ondina;

–Sério? Você acha que é por causa do nosso "relacionamento" Como pode ser tão idiota? O mundo está em perigo, as duas forças elementais mais poderosas se uniram para mergulhar o mundo em trevas, provavelmente nunca verei meu pai ou qualquer pessoa que fez parte da minha vida, de alguma forma, e você ainda está com ciúmes de mim e Jack?!- Klaus por um instante ficou vermelho e abriu a boca para questioná-la;

–Eu te odeio!- gritou Klaus;

–Idiota!- rebateu Suzana;

–Traidora!- enfureceu-se o gnomo;

–Insuportável!-explodiu Suzana;

–Mimada!-

–CDF!- Klaus cerrou os punhos pronto para ameaçar a garota do cajado, mas ela foi mais rápida: girou o bastão entre as mãos e lançou uma rajada de água tão forte que fez o gnomo ser bombardeado para o lado, escorregar e cair dentro água que abrangia a caverna;

–Klaus!- exclamou Suzana preocupada. A ondina olhou para a kitsune, mas ela simplesmente não se importava com a mera discussão dos dois. Era o momento dela fazer alguma coisa importante. Suzana manejou o cajado e fez uma pequena abertura no grande lago que rodeava a passarela e provocou uma mera coluna de água que carregava um Klaus furioso e colérico, entretanto, algo perturbava a ondina, alguma coisa escura se manifestava na água. Quando trazia o gnomo definitivamente de volta a margem, uma mão esquelética e selvagem o apunhalou e tentou afogá-lo, Klaus gritou e lançou a mão para longe pedindo ajuda. Suzana estendeu a mão e puxou-no para dentro. Inesperadamente, esqueletos começaram a se levantar das partes mais profundas do lago e rosnar em direção a eles. Alguns tinham desde 2 até 5 metros de altura, seus olhos e boca expeliam chamas verdes, porém portavam armas e carregavam em seus corpos joias ou escudos e lançados transpassando-lhes;

–O que são essas coisas?- perguntava Suzana assustada -São só esqueletos... não deveriam estar mortos?- o Klaus ensopado e assustados tentou falar mas foram atacados por dezenas de esqueletos que carregavam espadas mortíferas. O gnomo estava indefeso, portanto se desviava dos golpes quase certeiros e afiados, Suzana lançava rajadas de água autônomas em cada um dos esqueletos. A ondina deu uma cambalhota para o lado, quase caindo no lado e com risco de ser apanhada por outros esqueletos, e começou a disparar tiros de água que explodiam costelas, crânios e impediam os esqueletos de se moverem. Usando o cajado, abatia vários dos "mortos-vivos" e chegou a permitir que este se transformasse numa serpente e lhes esmagassem;

–É o Samhain- gritava Klaus para a ondina enquanto manejava uma das espadas e atacava esqueletos que tentavam sair das águas límpidas e medonhas -Ele tem uma maldição: "aquilo que está morto abrirá os olhos e o que dorme acordará"- o gnomo enfiou a lâmina no lugar onde estaria o coração da criatura e este rosnou para ele com seus olhos que queimavam em chamas esverdeadas. o esqueleto enfiou sua mão no pescoço dele e abriu a boca para devorá-lo, mas explodiu em vários cacos de gelo e ossos. Klaus caiu no chão e tocou a mão da Suzana que o levantava;

–Quando elementais morrem, muitos mestres elementais pensaram em formas de proteger seus pertences e tesouros. Egípcios colocaram maldições em suas pirâmides, babilônios usavam kerabus, chineses prendiam dragões...mas nada é pior do que morrer infeliz- Suzana e Klaus eram rodeados por mais e mais esqueletos furiosos, mas a serpente lhes protegia a todo o custo;

–São Lichs, mortos que desejam vingança e protegem aquilo que tentaram roubar. Para despertá-los é necessária muita energia negra e caóticas, mas...-

–O Samhain deve ter feito o trabalho sujo- completou Suzana -Como podemos derrotá-los? Eles são muitos- Klaus pensou por um momento e viu o quanto estavam encurralados;

–A grande maioria deles está vindo do fundo lago para cá, se bloquearmos o lago estaremos livres! Precisamos de distração- Klaus correu para os lados em zigue-zague e começou a chamar a atenção dos esqueletos enfeitiçados. Mais e mais deles se levantavam e perseguiam o gnomo para a parte esquerda da passarela, lugar onde se concentravam. Suzana chamou a serpente estalando os dedos e esta correu até ela e saltou até cair no formato de cajado em suas mãos. O gnomo parecia fazer piadas sem graça acerca dos esqueletos ou enganá-los com suas frases hediondas, mas Suzana conseguia se concentrar de qualquer forma. Ao perceber que quase todos os esqueletos estavam tentando atacar Klaus, levantou o cajado de Moisés e invocou as forças opostas do lado, as águas levantavam-se como grandes colunas tempestuosas e juntavam-se até formar uma enorme e grandiosa onda capaz de afogar dezenas de homens. Sentindo que tinha erguido toda gota de água do lado direito da passarela, sinalizou para que Klaus corresse para perto dele e ele fugiu em disparada parte da ondina. A onda saltou sobre os filhos da luz e esta conseguiu destruir os ossos e enviá-los para a outra banda submersa da passarela. Suzana tentou mantê-los no fundo do lago com a energia presente no cajado,girando-lhe e canalizando todas as suas forças, porém a água explodiu e ela caiu para trás. A tentativa de conter os lichs havia sido um fracasso e agora eles tentavam se reerguer colocando mãos e pontas de lanças para fora da superfície, mas algo ainda mais estranho aconteceu: a água frágil e brilhante resplandeceu na forma de luzes verdes e desconcertantes, os esqueletos pareciam se confundir e voltarem a dormir no interior do lago. Klaus correu para ajudar Suzana a se levantar e ambos viram o que realmente tinha salvado-nos: Rose transparecia vaidade e orgulho de si própria com a mão direita levantada, algo dourado e incandescente apontava que tinha pego alguma das joias da caverna. Abaixando a mão, o lago voltou a sua cor natural e ambas as margens voltaram aos seus níveis normais de água, tanto a direita como a esquerda;

–Rose...o que... o que é isso em sua mão?- perguntava Suzana quebrantada;

–ah, isso?- apontava ela -É Draupnir, o anel de Waeros. Lindo, não? Combina perfeitamente comigo. Aliás, obrigado por me agradecerem sinceramente por ter salvo vocês, agora vocês me devem um pequeno favor, no caso, a eterna escravidão, como esses ossinhos- Klaus ficou assustado;

–O que quer dizer? Vamos, Rose... essa é a relíquia da terra, não é um brinquedo, temos que sair daqui, Cailleach pode chegar a qualquer momento com seus exércitos e...-

–E você quer salvar o mundo, não? Mostrar a todos como é inteligente, corajoso, justo, forte, mas isso não é verdade , Klaus. Sabe como é fraco, inútil, não só para sua família, mas para os escolhidos da profecia e toda a ilha Tartária. Diga, o que você fez de bom para os elementais esse tempo todo?- Lágrimas surgiam nos olhos do gnomo diante do sorriso impiedoso de Rose;

–Ops. Peguei pesado, gnomo?- Suzana apontou o cajado para a kitsune;

–Eu sabia! Sempre soube que era a verdadeira traidora! Jamais deveria ter te deixado ir conosco para Sídh!-

–Suzana- ria Rose -Paremos de ser infantis. Eu nunca gostei de qualquer um de vocês- sorridente, ela olhou para Klaus -Nem da sua família, Klaus. O único a quem sirvo, a quem sempre servi, está dentro de mim- Todo o corpo de Rose revestiu-se de chamas negras e então de sua boca dócil e gente, um negro e quentíssimo bafo de fogo foi jogado contra o gnomo e a ondina. As chamas negras eram tão quentes e profundas que as próprias rochas derreteram. Klaus saltou para o lado e viu que Rose tinha se transformado em uma raposa negra e agora fugia para além da passarela. Klaus gritou a fim de que a ondina detenha-na. Suzana saltou na água ,e, firmando seus pés, criou uma placa de gelo pouco densa mas capaz de sustentá-la. Lançou seus braços para trás e como fosse uma surfista, a correnteza d'água empurrou-na para alcançar Rose.

*****

Suzana sabia que estava certa. Sempre soube. Rose nunca lhe enganara a respeito de sua fidelidade. As águas levavam a ondina para as partes mais remotas do rochedo, lugares submersos e escondidos de todos. Por um breve momento, viu a raposa obscura correr entre as ramificações da passarela com anel de Waeros. Suzana disparou socos e rajadas de água saltaram no ar e quase atingiram-na como lanças de gelo, a kitsune saltava e se defendia cuspindo fogo consumido por trevas. Esquecendo-se do que estava em sua frente, a ondina viu que toda a água desabava numa única abertura e percebeu que estava no pico da cachoeira que desaguava como rio na cidadela. Num giro sincronizado, saltou para fora da água e lançou-se à margem seca feita de rochas ao seu lado. Ao longe, observou toda a cidadela com suas construções antigas e a população temerosa para o que estava por vir. Suzana olhou para os lados procurando a raposa, mas uma rajada de fogo cortante fez expelir um grito tortuoso e cair para o lado abalada. Rose apareceu com olhar e trejeitos perturbados, alguma coisa estava fora do lugar dentro dela;

–Oh, a princesinha se queimou- uma risada antiga e colossal ecoou de sua boca para os ouvidos da ondina, não era mais a voz sábia e madura de Rose, era uma voz sem qualquer apreço ou vestígio de bondade;

Eu irei matá-la, Suzana, assim como matei Jack. Nada do que você fizer irá adianta, essa renegada inútil e desprezível sempre este sob meu comando entre você sua trupe, contatando-me seus segredos e conhecimentos mundanos. Jamais precisei desta nojenta garota ou da morta mãe as quais possui e possuo, toda carne é minha, bela amarela, e todos irão saber que eu retornei. Hoje, as trevas se levantarão para nunca mais caírem!- Ainda possuindo Rose, Ahura ergueu a mão com Draupnir no dedo e um grande raio de luz iluminou a nascente da cachoeira. Luzes semelhantes à Aurora Boreal surgiram nos céus e uma grande barreira invisível caiu como cacos de vidro de uma grande e espaçosa janela. Suzana tentou se levantar, mesmo com as costas e outras partes do corpo latejando de dor por terem sido queimadas, mas com apenas um gesto de Ahura foi lançada contra a parede e ficou suspensa como uma marionete, o sufoco era abundante, e o ar parecia sair dos seus pulmões;

Exércitos meus! Vermes da terra e escolhidos pelo senhor da escuridão! Clamem!Saúdam! Eu vos declaro donos desse covil repulsivo e odioso e juízes de quaisquer almas, inocentes ou não, Samhain chega ao fim, mas o meu reino não. Eu sou eterno. Repartam os inocentes! Destruam a ordem! Que o caos reine para todo o sempre!- Suzana caiu e sentiu dor inominável se apossar do seu corpo. Ahura disparava rajadas de fogo negro que incendiavam casas secretas construções antigas, porém algo estranho aconteceu. A receptácula a qual lhe habitava parecia gritar de desespero dentre as cruéis gargalhadas do espírito e tentava controlar novamente seu corpo. Infelizmente, ela tinha aceitado, era sua única escolha, por mais que no âmago do seu ser não quisesse, Ahura precisava de um corpo, ele não era físico, não pertencia a este plano,o plano elemental físico, mas as trevas estavam no coração da kitsune desde que voltara;

Como ousa, sua renegada imunda? Eu...eu...sou Ahura!– bradava e rosnava o espírito das trevas, mas ela não o aguentava, seu corpo não era forte o suficiente. Suzana observava seus olhos vazarem sangue assim como orelhas e nariz. Tentou ajudá-la, mas lançava fogo para todos os lados e a única coisa que conseguiu fazer foi se esconder o mas distante possível. Rose vomitava litros e litros de sangue negro e fétido que despencava e queimava as rochas como ácido, ela balbuciava, esperneava, agonizava, mas Ahura a queria, tentava manter as coisas sob controle, mas duas entidades não poderiam viver no mesmo corpo.

O corpo de Rose começou a queimar em verdadeira agonia. Suzana se arrastou cuidadosamente para tentar salvá-la enquanto podia, mas estava fraca, muito ferida, e havia deixado o cajado de Moisés onde os esqueletos repousavam temporariamente, estava totalmente indefesa. A kitsune já não suportava conter Utah e então seu corpo começou a se reduzir a cinzas, até que seus olhos explodiram e sua própria língua derretia. Rose gritou miseravelmente com as mãos no pescoço tentando "matar" Ahura, mas ela tropeçou na beira do penhasco e caiu em desespero com a mão estendida em direção a Suzana sussurrando seu nome;

–Su...za..na..- Ahura gritou vorazmente dentro de Rose e saiu dela como uma grande chama preta e destemida.

A kitsune estava morta


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Notas finais do capítulo

Obrigado