Os Guardiões - Reino dos Elementais escrita por Kai


Capítulo 26
A tríplice das chamas


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Mesmo estando com Klaus e Rose, Suzana não se sentia em segurança. Depois de tanto tempo tentando fingindo aceitar o fato da kitsune estar entre eles e ajudar a recuperar Draupnir, a relíquia da terra, finalmente tanto Rose e Klaus se viraram contra ela, deixando-a sozinha. Apesar de ter crescido cercada da mitologia chinesa e as tradições do clã amarelo, a ondina tinha um medo apreensivo por magia que incluía sangue. Sangue era precioso, todos sabiam disso. Sangue significava família, amor, guerra, linhagem, honra, pacto e...sim, morte. Desde o momento que entrara no hall oculto sentira suas energias elementais da água serem quase que drenadas, concedendo lhe pavor assim como passou os dedos pelos livros e viu coisas terríveis e abomináveis, com a exceção da suspeitosa Rose e os outros renegados, Suzana sabia que eles não podiam ser afetados.

Quando terminaram de fazer o ritual, e o pentagrama brilhou assim como a sala tudo parecia afundar (assim como acontecia para entrar nos domínios de Demitry e se inscrever para entrar na ilha Tartária), até que tudo ficou escuro como breu e uma espessa camada de poeira se estendeu. A ondina tossiu e chamou pelos nomes do gnomo e da renegada, ela bateu em alguma coisa e esta murmurou;

–Sou eu- disse Klaus com relutância -Vai me atacar assim como atacou Rose? Espero que não ache que sou um sátiro ou um dagda- Rose que estava por perto riu, enchendo Suzana com uma fúria sem prescindentes, porém teve que se controlar. Ela achou que agora Klaus confiasse mais nela, e a briga dos dois tivesse acabado, mas a Kitsune tinha conseguido destruir isso com clareza. Ela sempre conseguia o que queria;

–Rose- chamou o gnomo -Acenda uma chama- em menos de um minuto, a kitsune invocou a chama estalando os dedos como um isqueiro, e uma bola de fogo vertical estendeu-se como um redemoinho e logo pareceu a chama de uma vela. Rose vira-se para os lados tentando iluminar o local e falou alguma coisa, o eco de sua voz soou por metros, ou talvez quilômetros no interior do castelo ou do Rochedo, Suzana sabia que estava provavelmente na parte mais profunda e desconhecida da cidadela. Klaus caminhou um pouco como se estivesse atrás de alguma coisa a qual tivesse perdido ou desconhecido;

–Tem...tem alguma coisa errada- murmurava ele -Não sinto nada- Rose parecia ter congelado e se virou com a chama na palma de sua mão, quente e controlada, diferente das chamas de Jack, que eram desordenadas, furtivas e destrutivas;

–O que quer dizer?- Suzana igualmente se instigou;

–Suzana, lembra-se da noite em que passamos na Rússia depois que enfrentamos Perunú?- a ondina lembrava como se ontem, mas parecia que isto tinha acontecido há séculos atrás, ela jamais teria pensado que tudo isto iria acontecer naquela época. Ela assentiu e deu prosseguimento;

–Você pediu que as rochas da caverna nos protegessem durante a noite- Klaus mexeu sua sobrancelha com dúvida e arquejou;

–Exatamente. Os gnomos, assim como os outros elementais, tendem a não apenas manipular as forças da natureza como armas, mas como se fizessem parte de si...como uma extensão de seu corpo, ossos, sangue e alma. A maioria das rochas ou da própria terra em si conseguiu resistir às civilizações, a poluição, por séculos vivas. Mas....essas rochas...esse lugar...- Klaus parecia cambalear e teve que segurar a bolsa que continha o diário de Paracelso;

–Está morto- disse Rose secamente -Waeros teve a prudência de fazer isto, pelo menos- Realmente, pensava Suzana, Waeros tinha sido sagaz. A maioria daqueles que tentaram roubar a relíquia da terra foram ladrões, gananciosos em busca de riqueza, e pessoas que queriam almejar alguma vitória, todos contavam muito com seus atributos, poderes, forças, mas... nada disso importava depois da morte;

–Todo o subterrâneo está morto- falou Suzana rispidamente e com o terror assombrando lhe o olhar, mesmo com o crepitar da chama de Rose;

–Não- repreendeu Klaus -Gnomos aqui embaixo são indefesos, a terra está morta, mas não pode-se dizer o mesmo do ar, da água e do fogo aqui presentes- uma armadilha específica, cochichou Rose. Suzana franziu a testa e sentiu medo por Klaus, o gnomo estava indefeso, nada podia fazer na escuridão que se estendia ao redor deles. Estaria dependente de Rose e Suzana, a ondina não podia falhar para com ele novamente, ela não queria, seu desejo era recuperar aquilo que tinha perdido, porém pensou em Jack, onde estaria o salamandra?como ele estaria? ferido? perdido? morto...NÃO, ELA NÃO PODIA PENSAR NISSO, tinha que ser confiante, ter a confiança que a espírita da água lhe dera sobre o amor verdade, mas ela não sabia sobre o amor, não entendia o amor, a profecia poderia ser quase clara, porém seus sentimentos estavam longe disso.

Depois de longos minutos discutindo sobre o que fariam, decidiram andar pelo único caminho que tinham. O labirinto escuro e tenebroso do subterrâneo apavoraria e assustaria até o mais bravo soldado da cidadela, e enlouqueceria até mesmo o mais sábio dos leprachauns, se é que ainda existia sobriedade nos olhos e mentes dos velhos que diziam representar os gnomos e saudá-los. Suzana era indiferente a eles, talvez, se Klaus e eles não tivessem aparecido, ainda estariam discutindo sobre pudim e piadas.

Rose parecia forte, destemida e leal, sempre ao lado do fraco Klaus, e lhe ajudando nas subidas e descidas, além das curvas declives além de dificultosas. A chama parecia enfraquecer a medida que a escuridão aumentava e a umidade parecia crescer, até Suzana sentir que alguma fonte de água estaria próxima, ela não sabia dizer. se sentia confusa naquela escuridão. Mesmo tendo passado só 2 anos na A.T.E. sentia que não havia aprendido o suficiente. Samara, a conselheira, era bela, límpida, mas cruel e bastante persuasiva, ela quase que atormentava aqueles que não lhe obedeciam ou recusavam a obedecer suas ordens no treinamento e aprendizado elemental. Ao longo do caminho em que a ondina, o gnomo e a kitsune percorriam, a chama que tamborilava por entre os dedos de Rose alumiavam as paredes e mostrava desenhos proximamente rupestres ,nas paredes frias e inóspitas que pareciam ter sido cavadas, de Waeros lutando contra o exército de Cailleach; a construção do castelo; o grifo e animais parecidos com grifos e com éguas voando atrás dele em grupo ; golens sendo erguidos e por fim a imagem mais temível para Suzana, Waeros velho prostrado com o anel e a própria morte ao seu lado. Tantos anos de sacrifício para manter a paz, pensava Suzana, e no final perdeu a própria vida para ser um fantasma que protege aquilo logo será tomado por ela, a kitsune e o gnomo;

–Parem- disse Klaus, ele estava com os cabelos cor de caramelo caídos sobre o rosto e quase que colados, a caminhada na escuridão tinha lhe afetado tanto que Rose o sustentava para se caminhar, os sigilos naquele local bombardeavam os gnomos como se estivessem arrancando os membros de uma pessoa devagarmente com instrumentos de tortura medievais. Os olhos verdes e inteligentes dele a pairaram com incerteza;

–Olhem- Suzana virou-se e viu que o caminho que percorriam agora se dividia em três partes e pela primeira vez viram algo que não fosse rocha ou uma escuridão: o que parecia ser uma estátua inicialmente, eram na verdade três estátuas, uma delas estava virada para a direita, a outra estava exatamente no centro, e uma terceira estava virada para a esquerda. A estátua que estava virada para a esquerda representava uma moça jovial, cabelos sedosos e um vestido que quase permitia que os seios fossem vistos, assim como as pernas nuas, trajava uma tocha na mão esquerda que estava se vida. A estátua do meio era uma mulher parecida com a garota da estátua, mas que tinha os longos cabelos presos, como quisesse se conservar, e no lugar do curto vestido usava um manto longo que fazia uma curva a qual insinuava sua possível gravidez, estendia uma tocha para frente com a mão esquerda, que também estava sem vida. Por fim, a estátua virada para a direita estava com o rosto desconfigurado e segurava uma tocha quase que arruinada e parecia usar um manto que cobria todo o corpo. Ambas estavam elevadas em uma espécie de pináculo, e pareciam apontar para os três caminhos opostos, em cada borda do pináculo sob os pés jazia algum tipo de inscrição e símbolos:

Rose abriu os olhos que se clarearam em meio a obscuridade daquele lugar e passou a mão pelas lápides de pedra;

–O que isso?- perguntou a kitsune curiosa -Algum tipo de energia está sendo ecoada daqui...você disse que toda a rocha daqui estava morta...então...?- ela se virou para o Klaus quase inconsciente e desmaiado. Ambos assentiram com o olhar, e então o gnomo se aproximou examinando as estátuas e os caminhos para qual apontavam, Suzana sempre admirou a inteligência dele e sua capacidade de conseguir compreender os livros enfadonhos e que para ela eram teóricos demais. Klaus tinha sua inteligência, Rose possuía coragem, e Jack era nato... o que a ondina tinha demais?

–Isso está vivo- concluiu Klaus ainda olhando para os símbolos tamanha atraentes -Mas isto aqui não é rocha de verdade é...- ele pareceu fraquejar as pernas, porém Rose em um grunhindo o sustentou -...é um feitiço. Waeros podia ser orgulhoso, mas era sagaz, muito sagaz- Suzana franziu a testa e lembrou de como odiava feitiços;

–Feitiço?!- soou a ondina um pouco enraivada;

–Sim, um feitiço- resmungava Rose -Klaus está quase perto de morrer, e você está preocupada com sangue...ótimo- o gnomo tentou murmurar um "parem", mas acabou caindo de joelhos. Rose o sustentou, devido a sua força, e Suzana correu para vê-lo, ele sorriu e arqueou as sobrancelhas, como se ali fosse um lugar perfeito para morrer: com garotas;

–Esse...esse feitiço.... é antigo, muito antigo, Era usado na Roma antiga para guiar os gnomos andarilhos nas estradas antigas feitas pelos elementais. Estas...- ele tossiu -Estas estátuas deveriam ser a deusa tríplice, mas uma delas está aos pedaços- Depois de minutos, Klaus explicou que aquele era a deusa tríplice, senhora dos caminhos, dona da encruzilhada e dos segredos não revelados, muitos nomes eram lhes dados já que elas clareavam a escuridão, mas os viajantes teriam que lhe iluminar, o fogo era a resposta. Por isso, muitos gnomos tinham morrido de frio e fome, só o fogo poderia acordar a deusa de três faces. Quando Klaus terminou, ele enfraqueceu de vez e acabou por cair desolado no chão;

–Klaus!- gritava Suzana, com as lágrimas,ele não podia morrer. O seu gnomo não podia deixá-la. Rose olhava a tudo com uma frieza tão grande, que a ondina teve vontade de explodir, mas quando abriu a boca para dizer qualquer a coisa, a kitsune disse;

–Ele não morreu, está dormindo- levantou-se com rispidez e invocou uma chama da mão direita, deixando Suzana sem palavras até que ela se levantou questionando;

–O que pensa que está fazendo?! Não podemos acordar as estátuas! E se elas nos matarem? Faz séculos que ninguém vem aqui!- Rose a olhou com chamas nos olhos e com um aspecto mais sombrio do que qualquer outro desde que tinha sido curada da flor de Quione;

–Você acha que é assim? Que pode simplesmente destruir os outros e depois mandar sem o mínimo de decência? Klaus e seu querido Jack podem até ter lhe relevado, mas eu não vou ficar de braços cruzados. Posso não ser uma filha da luz, ou qualquer outra coisa idiota profética, mas eu vou lutar- A kitsune parecia quase estar pronta para atacar Suzana;

–Você...você..não pode...- soluçava a ondina, o que teria acontecido com Rose? ela sempre suspeitara dela, mas..

–O que?! Eu não posso o que? Você é uma fraca, Suzana. Sempre foi, eu sei disso. Todos sabem. Prova disso é o fato de sempre estar chorando, escondendo-se na escuridão. Todos irão morrer, deseja ser a primeira?- aquilo tinha soado quase uma ameaça, Suzana tremera, e quase viu um chama selvagem e homicida surgir do punho cerrado da Rose que estava disposta a tudo. Afastou-se dela, indo ver o Klaus febril e que dormia como um anjo, porém parecia estar perto de morrer até que viu a kitsune despertar as chamas em cada uma das três tochas da deusa tríplice. O fogo nelas pareceu iluminar, clarear, vivificar aquele lugar escuro, tenebroso, gélido e seco, até as chamas começaram tremeluzir e fazer uma tempestade de cores amedrontadoras com faces. Os caminhos para que apontavam pareciam ecoar gemidos, ranger de dentes, clamores. Rose se afastou como se estivesse com um sorriso no olhar e então tudo ficou escuro e reacendeu com as chamas verdes e brilhantes da tocha, a tríplice tinha voltado a viver.


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Notas finais do capítulo

Obrigado