Demônios escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 16
O começo da eternidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/463983/chapter/16

Eu não consegui dormir nem mesmo um minuto durante a noite; mesmo depois de um mês eu ainda não havia conseguido me acostumar novamente a isso, ao fato de não me cansar. Eu dormia durante uma noite e inteira e depois podia ficar até no mínimo três dias sem nenhum tipo de descanso. Não precisava me sentar por um tempo pra descansar o corpo, ou então parar por um momento pra respirar. Eu só precisava de pouco pra ser muito...

Levantei-me da cama e saí do quarto, eu estava ficando em um dos quartos de hóspede da grande casa. Annabelle achou que seria melhor que a gente ficasse “longe” um do outro até o casamento. Mas na verdade a gente estava “longe” já fazia mais de um ano; não havia acontecido “nada” mesmo depois de a gente voltar.

Desci a escada, passei pela sala de estar e então saí da casa. Olhei para a margem do lago, havia chegado o dia do casamento e os vampiros haviam montado tudo durante a noite. Havia um tapete branco e retangular como uma passarela que ia até uma espécie de altar decorado com rosas brancas. Dos dois lados do tapete comprido havia fileiras de cadeiras de madeira amarela formando a “nave”. Em um lugar, um pouco antes de onde o tapete iniciava havia uma tenda feita de pano branco, de onde eu olhava (da varanda da grande casa) parecia que a tenda estava dividida em duas partes, do tamanho de dois quartos pequenos.

Olhei novamente para as cadeiras e percebi que Erac estava sentado em um das que estavam do lado de cá. Eu estava tão nervoso que nem o havia visto ali. Corri até ele e Erac se assustou quando eu cheguei tão rápido.

–Desculpa te assustar – eu disse me sentando ao seu lado.

–Tudo bem! – ele disse rindo – Também não consegue dormir?

Eu olhei pro céu e percebi que estava um pouco mais claro, o sol começava a se pôr.

–É uma coisa diferente pra mim – respondi – ainda ta nervoso?

No dia anterior eu havia levado Erac e Alice na casa do meu avô, na minha antiga casa. Minha avó quase havia tido um ataque quando viu meu irmão. Eu e Erac tínhamos criado uma história antes de falar com eles; claramente meus avós e minha tia já sabiam que minha mãe havia tido gêmeos, mas pensavam que meu irmão havia morrido logo depois do parto. Erac falou para eles que não sabia o motivo de nosso pai ter decidido fugir com ele, mas que ele havia sido criado muito bem. Eu disse que estava procurando pelo meu pai e havia encontrado Erac e Alice. Eles acreditaram em tudo. E agora meus avós poderiam se encontrar com Erac no meu casamento sem tomar nenhum susto.

Tudo estava correndo bem.

–Eu não consigo parar de pensar o quanto eles são adoráveis – ele falou ainda sorrindo, ele não parava de sorrir.

–Você não acharia isso se saísse de férias com eles – brinquei – minha tia fica histérica sem ter nada pra fazer, minha avó fica extremamente enxerida, e meu avô não da nem um tempo pra descanso.

–Você acharia isso legal se não passasse dois meses inteiros na mesma cidade porque precisa viver fugindo.

Nós rimos.

–Você está nervoso com o casamento?

–Na verdade eu to muito ansioso. Não vejo a hora de me casar logo!

–Agora não falta muito. – Ele disse apontando o dedo na direção da casa grande. Lá no horizonte, atrás dos chalés onde agora todos os vampiros dormiam, o sol subia aos poucos e iluminava cada vez mais o acampamento.

§§§

Eu havia acabado de olhar as horas no meu telefone, eram exatamente 08h45min.

Eu estava em um dos “mini-quartos” da tenda e Annabelle estava no outro. Eu já havia vestido a calça preta, calçado os sapatos de couro – também – preto, e vestido a camisa social da mesma cor da calça. Mas eu ainda brigava com a gravata branca, eu não sabia como colocar aquilo.

–Eric! Você ainda não está pronto? – Margareth disse passando pelo pano branco que havia na entrada da tenda. Ela usava um vestido azul escuro de alça única que ia do lado esquerdo do vestido até o ombro direito. Seus cabelos caiam em ondas em seu ombro direito.

–Eu não sei como dar o nó nessa coisa – disse levantando a gravata.

Margareth veio até mim tirando minhas mãos da gravata e rapidamente deu o nó nela.

–Pronto, coloca o terno.

Eu peguei o terno que estava pendurado com um cabide em uma arara de roupas e o vesti.

–Você está bonito! – Alice disse enquanto entrava com Erac na tenda, eu abotoava os dois botões do terno com cuidado para não arrancar nenhum botão. Eu estava tão nervoso que havia partido um cinto ao meio enquanto o colocava, minha sorte é que Margareth havia arrumado outro.

–Obrigado! – Respondi sorrindo.

–Ta bom. Ta bom – Margareth disse enquanto os levava para fora – está quase na hora e vocês precisam ir para seus lugares. – Ela saiu junto com eles.

Eu estava tão nervoso que só percebi que apertava o cabide em minhas mãos quando ele me cortou. Eu tentei colocá-lo de volta na arara, mas estava retorcido demais então o joguei no chão mesmo.

–Eric? Tem alguém ai com você? – Era Annabelle, ela estava na outra tenda e eu podia ver sua silhueta pelo pano branco.

–Não – eu disse chegando pra perto do pano e me encostando a ela.

–Quer desistir? – Ela parecia realmente acreditar que para mim havia essa possibilidade.

–Claro que não... Eu nunca desistiria de você! Mas você quer desistir?

–Não, nunca!

Eu sorri e então disse:

– Eu sinto como se tivesse passado a minha vida inteira esperando por isso: estar inteiramente com você.

–Eu sinto como se tivesse nascido pra isso! – Eu senti que ela sorriu enquanto disse isso.

Ela colocou a mão levantada encostada no pano e eu coloquei minha mão junto à dela.

–Na próxima vez que eu te tocar – ela começou – será pra nunca mais soltar.

Eu soltei um risinho fraco.

–Eric, ta na hora – Margareth disse colocando a cabeça pra dentro da tenda e logo após saindo.

Eu comecei a andar em direção a saída, mas então voltei.

–Annabelle.

–Sim. – Ela estava evidentemente nervosa.

–Eu vou estar te esperando lá na frente. – Eu sorri e abaixei a cabeça – Eu vou ser o de preto!

–Acho que você vai me reconhecer – ela brincou.

§§§

Eu andei calmamente até o altar e me posicionei ao lado do padre, me virando e ficando de frente para todos os presentes. Meus avós, minha tia, Erac e Alice estavam nas primeiras cadeiras do lado direito da nave, do lado esquerdo estava Margareth e Peter nos primeiros lugares, havia uma cadeira vazia para Andrei.

Apertava as mãos com força; se eu ainda fosse humano, naquele momento estaria ensopado de suor.

Então de repente Andrei saiu da tenda e logo depois ela saiu...

Annabelle usava um vestido tomara-que-caia – obviamente branco – colado á cintura e cheio de diamantes. A parte de baixo se enchia a partir da cintura o que dava ainda mais á ela um ar de princesa.

Minha princesa!

Annabelle passou o braço direito ao braço do seu pai e os dois andaram calmamente, vindo em minha direção.

Aquele minuto que antecedeu a chegada de Annabelle até mim pareceu o maior tempo que eu já esperei por algo na minha vida.

Quando eles chegaram até mim, Andrei apertou minha mão. Logo em seguida eu olhei para Annabelle e estiquei meu braço e ela, então, tocou minha mão.

Nós ficamos frente a frente um do outro e eu observei cada milímetro do seu rosto, seu cabelo estava colocado em um coque no alto da cabeça, usava uns brincos pequenos quase imperceptíveis, e mais nenhuma jóia. Naquele momento em que nós passamos olhando os olhos um do outro não houve mais nada ao nosso redor. Naquele momento não havia mais nada no mundo além de nós. Eu me lembro de assim como ela ter falado os votos, mas não me lembro se foi antes ou depois de o padre perguntar se eu aceitava me casar com ela e eu ter respondido “Com toda certeza”.

Erac me entregou as alianças e nós a trocamos, e então eu ouvi claramente o padre dizer:

–... Eu vos declaro marido e mulher! O noivo pode beijar a noiva.

Eu puxei Annabelle para mim e ela me beijou como se fosse a primeira vez, naquele galpão velho, e mais do que nunca seu beijo tinha gosto de magia. Ela me enfeitiçou ainda mais.

§§§

Uma musica lenta tocava e todos pareciam se divertir na recepção, havia tido alguns brindes: Andrei havia falado que eu me arrependeria caso fizesse Annabelle sofrer e todos riram – isso porque eles nem mesmo imaginavam que ele estivesse falando a pura verdade –, vovó tentara falar, mas só havia chorado então eu me levantei e lhe dei um abraço; vovô falou que eu era um neto perfeito, um filho perfeito, e eu me emocionei com isso; tia Jane disse que Annabelle tinha que ser forte pra me “suportar” e eu ri junto com todos.

Margareth chorou quando falou e enquanto ela estava lá levantada na frente de todos tudo que vivemos desde que eu a conheci passou por minha cabeça, a primeira vez que nos falamos, o primeiro beijo... Quando tudo virou amizade. Margareth era com toda certeza era uma das pessoas que eu nunca esqueceria em toda minha vida. Ela se sentou e Natan passou o braço por sobre seu ombro e logo depois a beijou, eles dois realmente combinavam.

Eu e Annabelle conversávamos quando eu vi tia Jane conversando com um dos convidados de Andrei.

–Por favor, não me diz que ele é um vampiro. – Eu disse para ela e apontando para tia Jane.

–E não é – ela respondeu – é um dos parceiros comerciais do meu pai. Ele nem mesmo sabe sobre nós.

Senti-me feliz ao saber disso porque tia Jane parecia estar se dando realmente bem com aquele cara. Ela finalmente parecia ter desistido de esperar por Charlie, eu agradecia tanto aos céus por isso, porque diminuía um pouco da minha culpa (mas era apenas um pouco, acho que nunca me perdoaria por inteiro por matar o pai de Kessie).

Era quase duas da manhã quando todos foram embora, e Erac e Alice vieram até mim com uma bolsa nas costas cada um.

–Nós estamos indo agora, irmão – Erac falou.

–Vocês não precisam ir. – Annabelle disse antes de mim.

–Nós realmente queremos ir – Alice disse se segurando para não chorar.

–A gente quer andar um pouco pelo país – Erac falou passando o braço encima do ombro de Alice.

–Então espera um pouco – falei.

Como não havia mais ninguém no acampamento corri o mais rápido possível até o quarto de Annabelle onde estavam nossas coisas e peguei a chave do meu carro encima da cômoda ao lado da cama e percebi que nossas malas estavam feitas e colocadas junto a porta do guarda-roupa, aquilo era estranho porque eu e Annabelle havíamos decidido não viajarmos para ter uma lua de mel.

Voltei na mesma velocidade que fui ao carro e parei no mesmo lugar de antes, mas Annabelle não estava mais lá. Olhei em volta pelo acampamento e a vi sentada em uma mesa com Margareth e Natan.

–Podem ir no meu carro – eu disse jogando a chave para Erac.

–A gente não pode... – ele começou a dizer, mas eu o interrompi.

–É da família, e também é uma ótima desculpa para vocês voltarem. Quero ver meu carro de novo.

Alice começou a chorar e veio até mim e me abraçando.

–Você é mesmo uma manteiga derretida em – falei apertando-a em meus braços.

–Sim eu sou!

Ela me soltou e pegou a chave na mão de Erac e foi pegar o carro.

–Vou sentir sua falta – eu falei enquanto abraçava meu irmão.

–Eu te amo, irmão!

–Eu também te amo.

De repente ouvimos a buzina do carro vindo da entrada do acampamento, eu o havia estacionado lá.

–Ta na hora de irmos – ele apertou minha mão, pegou a bolsa que estava jogada no chão.

Então meu irmão correu até o carro e pulou pro banco do passageiro, e eles foram embora. Foi a primeira despedida daquele dia.

De repente quando me virei para trás Annabelle pulou em meus braços me dando um abraço forte.

–Ei, ei eu só sumi por alguns segundos – brinquei.

Ela olhou para mim e vi em sua expressão que estava triste.

–Margareth e Natan estão indo embora – ela disse.

Olhei para frente e vi Margareth e Natan andando em nossa direção.

–Por que estão indo embora? – Perguntei quando eles pararam em nossa frente.

–Natan nunca viu nada do nosso mundo, a não ser aqui e aquele museu velho – ela soltou um risinho fraco – nós vamos dar uma “volta” por aí.

Annabelle me olhou como se pedisse que eu fizesse algo que os impedisse de ir embora.

–Eles realmente precisam ir, Annabelle – falei – nós já temos o que queremos, mas eles ainda têm muito pra ver.

Margareth foi até Annabelle e a abraçou e eu ouvi Margareth começar a chorar.

–Valeu por tudo, cara – eu disse para Natan e ele apertou minha mãe.

–Tudo bem se eu te abraçar agora? – Annabelle perguntou para Natan.

–É, não vai acontecer nada com você – ele disse e ela o abraçou. Pelo visto “cair” mudara bastante coisa.

Margareth segurou a mão de Natan e os dois foram para a casa grande, arrumar as coisas para irem. E aquela foi a segunda despedida do nosso dia.

–Não fica triste – falei para Annabelle – eles vão voltar, sei disso.

Ela assentiu com a cabeça.

–Ei, pra quê aquelas malas lá encima? – Perguntei.

–Isso é comigo – Clair disse vindo andando até nós de mãos dadas com Andrei.

–O que você fez? – Annabelle perguntou sorrindo.

–Ela me fez assistir um filme de romance bobo e teve essa ideia. – Andrei falou e deu um beijo no rosto dela.

Eu comecei a me perguntar que planos mirabolantes haviam passado pela cabeça de Clair.

–Os vampiros já levaram suas malas, então vocês podem subir a colina – Clair disse – ah, Eric acho que seria bom você carregá-la no colo; essas coisas de tradição. Tchauzinho, casal!

Eu assenti para ela, peguei Annabelle em meu colo e sorri para ela.

Aquela foi a terceira e última despedida do dia.

–Não se preocupe com a velocidade, marido! – Ela falou.

–Claro que não, esposa!

Fui em direção a floresta e então corri o mais rápido que podia, desviava facilmente das árvores e subi a pequena montanha em poucos minutos. Então tomei um susto ao chegar na parte da montanha onde nós havíamos vindo um tempo atrás para fazer a homenagem para Jacó, e lá tinha uma pequena casa de madeira pintada de azul claro e com uma varanda na frente. Nossas malas estavam na porta.

–Seu pai se livrou da gente!

–Oh, me lembre de agradecê-lo depois.

Eu continuei andando, abri a porta e logo em seguida entrei deixando as malas do lado de fora. A casa era simplesmente linda. Havia uma pequena sala de estar com dois sofás pequenos e uma TV na parede; do outro lado ficava a entrada para a cozinha e um pouco mais para frente havia três portas, duas estavam fechadas e podíamos ver que a única aberta era a do nosso quarto.

–Podemos olhar o que tem nas outras portas depois – Annabelle falou ainda em meu colo.

Fui para nosso quarto, era amplo e claro, as paredes pintadas de branco e duas janelas de vidro com cortinas amarelas abertas, o edredom na cama era da mesma cor das cortinas. Na parede do outro lado do quarto tinha uma grande estante cheia de livros, em frente a cama havia uma porta que ia para o banheiro.

Coloquei Annabelle deitada na cama e fechei as cortinas, e logo depois voltei parando em frente a cama, ela estava escorada nos cotovelos e me olhou soltando uma piscadela.

–Quer um strip-tease, Senhora Sondler? – Brinquei tentando fazer uma cara o mais próxima do “sexy” possível.

Annabelle apenas riu.

Eu havia deixado meu terno em alguma mesa lá embaixo; tirei a gravata e a joguei no chão, logo depois arranquei a camiseta á rasgando. Tirei os sapatos e fui pra cima dela e comecei a beijá-la.

–Espero que não esteja pensando em usar esse vestido novamente – falei quando ela rapidamente ficou encima de mim e soltou o cabelo.

Ela sabia como me deixar maluco.

–Não, eu não estou.

Levantei meu corpo com ela ainda sentada em meu colo e comecei a beijá-la novamente; coloquei minhas mãos em suas costas e rasguei a parte de trás do vestido e o arranquei pela sua cabeça, ela estava usando uma lingerie branca e eu suspirei dizendo “uau”. Ela segurou meu cinto e o quebrou. Segurei seu corpo junto ao meu e a virei ficando encima dela. Tirei o resto de roupa que ainda sobrava e fiquei completamente nu, arranquei seu sutiã e voltei a beijá-la.

Senti como se nossos corpos faiscassem ao se tocar. Beijei seu pescoço e a ouvi suspirar quando estava dentro dela. Annabelle se agarrou ou meu corpo e me virou ficando encima de mim; ela apoiou as mãos em meu peito e a cama começou a bater na parede do quarto quando começamos a nos mexer.

Senti como se nossos corpos exalassem magia.

Senti como se nossos corpos se conectassem.

Éramos inteiramente um só!

E aquele foi o começo de nossa pequena eternidade juntos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continue a ler os capítulos finais de Demons, clique em "Próximo Capitulo".



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Demônios" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.