Capítulo 36

Tess

Tess acordou e logo sentiu falta de algo. A cama estava muito vazia.

Ele já tinha se acostumado a dormir sentindo a cabeça de Bia em seu peito e o calor do corpo dela contra o seu, sem ela ele se sentia tão só...

Tess se sentou e lembrou que ela tinha ido ao banheiro. Mas isso fora durante a madrugada e já havia amanhecido, ela já devia ter voltado. Mas se ela tinha voltado, como ele não se lembrava de ver ela chegar ou levantar naquela manhã? O sono de Tess era muito leve, acordaria com tal movimentação na cama.

Se ela não tinha voltado, onde estava?

O coração de Tess apertou, ele sabia que havia algo muito errado.

O garoto levantou da cama em um pulo, e menos de cinco minutos depois já vasculhava o navio em busca da namorada.

Quando já tinha revirado todo o Argo II e perguntado a todos, sem nenhuma notícia dela, Tess trombou com alguém.

Ele segurou a pessoa para que não caísse e percebeu que era sua mãe. Ela estava distraída, Tess nunca a tinha visto assim, ela parecia preocupada, muito preocupada.

– Tess, você viu sua irmã? - ela perguntou.

O coração de Tess apertou. Não, não …

– Não me diga que ela também sumiu! - pediu Tess exaltado.

– Como assim "também"? - ela indagou.

– Bia desapareceu hoje de manhã - ele disse fechando os olhos e passando a mão pelos cabelos na tentativa de se acalmar.

Suas duas garotas tinham desaparecido. Uma tinha sido tirada de seus braços. Sua irmãzinha e sua namorada. Duas das mulheres mais importantes de sua vida, sento que a terceira estava a sua frente.

– Oh, não - ele ouviu sua mãe falar e abriu os olhos.

Sua expressão tinha passado de preocupação para entendimento e medo. Ela tinha medo nos olhos. Tess sabia que ela já sabia o significado de tudo aquilo, coisa que ele tinha certeza que mão associaria tão cedo.

– Tess, não saia do navio - ela mandou.

Tess a fitou confuso. Como ela as acharia se não podia sair dali?

– Mas... - ele protestou, mas logo foi interrompido por sua mãe.

Ela segurou suas mãos e olhou fundo nos olhos do filho.

– Só me obedeça, por favor.

Tess assentiu e Annabeth lhe deu um beijo na testa e se foi.

Tess foi em direção ao convés do navio, precisava respirar. Tess encostou na murada do Argo e olhou para a caverna a sua frente. Ele poderia simplesmente entrar e resgata-las. Mas não iria faze-lo. Sua mãe tinha motivos para pedir que ele não fizesse.

Tess tentava não imaginar o que estava acontecendo a suas meninas. Como poderia imaginar sua irmãzinha sofrendo? Aquela que ele viu crescer na barriga de sua mãe? Que ele escolheu o nome? Que ele viu nascer tão pequena e indefesa? Que ele amava incondicionalmente?

Como ele poderia imaginar sua garota sofrendo? Aquela que cresceu com ele? Que foi sua amiga todas as horas? Que o viu chorar e o fez sorrir? Aquela que ele tanto demorou para perceber que era seu verdadeiro amor?

Tess fechou os olhos e enterrou as mãos em seus cabelos. O que mais o irritava no sumiço de Bia era que ele estava com ela. Ele dormira com ela. Ela estava em seus braços e ele a deixara ser levada. Ele não devia ter deixado ela ir naquele maldito banheiro. Ele devia ser a segurado e só a deixado sair junto dele. Talvez assim ela ainda estivesse segura no navio.

" Está com saudades?" Uma voz perguntou em sua cabeça.

Tess estremeceu, era "ela".

" Onde elas estão, Aracne?!" Ele esbravejou.

Tess ouviu a risada maléfica da aranha.

"Sua irmãzinha não é, digamos, problema seu" ela disse se divertindo com tudo aquilo "Já sua amada, bem, veja você mesmo"

Uma imagem apareceu na mente de Tess. Era Bia. Ela estava ajoelhada no chão com os braços levantados, por estarem presos a uma corrente na parede da cela. Por causa do pijama que ela usava, Tess pode ver que seus joelhos,pernas e braços estavam ralados. A cabeça da garota pendia em seu pescoço, ela estava claramente desacordada. Os cabelos de Bia caiam em um emaranhado sobre seu rosto e pelo que Tess conseguia ver através dele, ela tinha aranhões no rosto.

Tess não conseguia se mexer. O que estavam fazendo com ela? Estavam a ferindo!

"Você pode salva-la, heroizinho" disse Aracne enquanto Tess ainda olhava para Bia "Eu posso fazer uma troca. Você por ela"

"Oquê?!" Tess indagou.

"Cria de Athena, ela não vai sobreviver por muito tempo nesse estado" constatou Aracne "Ela pode ter poder,mas não é uma semideusa, não vai resistir muito mais"

Tess olhava para Bia fixamente. Ela não parecia bem e Aracne estava certa, ela não sobreviveria por muito tempo. Naquele momento um som saiu fraco da boca de Bia "Tess...". O coração da garoto apertou e a voz de Aracne ecoou em sua mente "Você tem 24hs " ela disse antes de sumir junto com Bia.

Tess correu para dentro na navio, precisava falar com os outros. Quando chegou a sala descontraída, percebeu que todos já estavam lá. Seu pai suspirou e se aproximou dele.

– Bem, parece que já estamos todos aqui - ele disse - Podemos começar a reunião.

As pessoas foram sentando nas cadeiras, como se já soubessem seus lugares. Tess viu seu pai e Jason irem na direção na cadeira na cabeceira da mesa. Quando chegaram a frente da mesma, os dois se olharam e murmuraram um "desculpe" se sentado nas cadeiras ao lado. Sua mãe sentou na cabeceira e deu um sorriso triste, como se uma velha lembrança viesse à tona.

A reunião começou, mas Tess não conseguia prestar a mínima atenção. Ele olhava todos a sua volta. Sua mãe falava sem demostrar emoção, mas ele a conhecia o bastante para saber que ela não estava bem. Seu pai o olhava de vez em quando e mexia em seu antigo colar do Acampamento Meio-Sangue de cinco em cinco segundos. Lucas batia com os dedos na mesa incessantemente. Mila segurou a mão do marido e acariciou, o fazendo fechara os olhos e suspirar. Ele a fitou e ela lhe lançou um olhar como se dissesse "Você sabe que não podemos fazer nada". Dani andava de um lado para o outro na sala e Mary segurava suas mãos e o fazia se acalmar. James parecia indignado com o que estava acontecendo, ele se levantou e bateu na mesa.

– Vocês não entendem! - ele esbravejou - Nós precisamos resgatá-las!

Só então Tess percebeu do que se tratava a reunião, ele não iam pega-las. Tess se levantou, juntando-se a James.

– Elas precisam de ajuda! - ele disse - Não podem ficar lá por muito mais tempo!

– É uma armadilha - explicou Annabeth.

– Que seja! - disse James - Precisamos ir até lá!

– Ninguém sai do navio - decretou Jason.

James se enfureceu e saiu do sala. Tess sabia que pelo estado dele devia ter visto Ally. Talvez tivesse recebido a mesma proposta que Tess, ele só não sabia por quê.

Tess se virou e foi na direção da porta da sala, mas antes de sair sentiu uma mão em seu ombro. Ele se virou e deu de cara com seu pai, que o abraçou.

– Eu sei que você vai, porque eu iria se fosse sua mãe no lugar de Bia, ou se essa missão fosse minha - disse Percy - Só tome cuidado e faça o que acha que deve fazer.

– Pode deixar - ele disse - Obrigado por entender, pai.

Percy se afastou e assentiu. Tess saiu da sala, escondeu um pouco de ambrosia no bolso secreto de sua calça e mexeu em sua bola de bronze celestial, ele estava pronto para ir.

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Minutos depois ele já estava na porta da caverna ao lado de James. Quando o viu, o garoto sorriu para ele um sorriso cúmplice. Tess retribuiu o sorriso. Eles sempre foram melhores amigos, aquele sorriso era típico deles dois.

Como se tivessem combinado, os dois entraram na caverna juntos e na primeira bifurcação seguiram para lados opostos, de alguma maneira sabiam para onde ir.

Tess correu pelos corredores e depois de quinze minutos chegou, não sabia como, a cela de Bia. Haviam dos telquintes na porta, que sorriram diabolicamente para ele abriram a porta.

Tess correu e se ajoelhou ao lado de Bia. Os monstros a soltaram e ele a segurou para que não caísse.

– Deixem que eu me despeça dela - ele pediu e os telquintes assentiram e saíram.

Tess a apertou em seus braços e ela sussurrou seu nome. Os olhos do garoto se encheram de lágrimas e ele a deitou no chão. Ele pegou um pedaço bem pequeno de ambrosia e colocou na boca de Bia. A cor aos poucos voltou ao rosto da garota e ela acordou.

– Tess? - ela perguntou com voz fraca.

As lágrimas desceram pelo rosto do garoto.

– Oi, Bia.

Ela se sentou e tocou seu rosto, ele nunca chorava.

– Você está chorando - ela constatou - O que está acontecendo?

Tess segurou a mão dela contra seu rosto e fechou os olhos,queria sentir aquele toque mais uma vez, sabia que podia ser a última.

– Oh, deuses - disse Bia e Tess abriu os olhos.

Ela o olhava incrédula, os olhos marejados e uma das mãos sobre a boca.

– Você não deviria ter vindo - ela disse como se já soubesse o que estava acontecendo - Você não deveria ter vindo!

As lágrimas desciam sem parar pelo rosto da garota e Tess sabia que não estava diferente. Ele limpou uma lágrima que descia do rosto de Bia.

– Não podia te deixara aqui - ele explicou.

A garota negou com a cabeça.

– Você não entende - ela disse - Você vai morrer!

Ele Assentiu e colocou uma mecha atrás de sua orelha.

– Se for para que você viva, vale à pena.

Bia o abraçou forte e ele a apertou contra seu corpo. Ele sentia as lágrimas dela molharem sua camisa e o corpo dela tremer com o choro. Ele sabia que também chorava. Sabia que ia morrer, mas se era por ela, por ele estava tudo bem.

– Eu te amo - ela disse entre soluços.

Tess a trouxe para seu colo e a apertou um pouco mais.

– Eu também te amo - ele disse - Mais do que a mim mesmo.

– Não vou conseguir viver sem você - ela disse voltando a chorar e o abraçando mais forte.

– Não vai precisar - ele disse e ela se afastou e o fitou.

Seus olhos,nariz e boca estavam vermelhos de tanto chorar. O rosto estava inchado e as lágrimas escorriam de seus olhos.

– Eu tenho uma promessa para cumprir - ele disse e a beijou.

Bia não entendeu. Promessa? Mas aquilo não importava naquele momento, tudo que importava era ele. A boca dele contra a dela, as mãos dele em suas costas. Os cabelos dele entre seus dedos. O beijo era intenso, amoroso, triste, porém trazia uma esperança que Bia não esperava. Algo que lhe dizia que o que quer que fosse aquela promessa, ele viveria para cumprir. Ela podia sentir os gosto das lágrimas dos dois entre o beijo, lágrimas e mais lágrimas que insistiam em cair.

Ele se afastou dela calmamente e a acariciou seu rosto. Quando Bia abriu os olhos sua íris estava verde, mas não verde como da última vez, dessa vez era um verde apagado, sem vida.

– Por que? - ele perguntou

– Ahn?

– Por que seus olhos ficam verdes? - ele perguntou.

– Ah, isso - ela disse ainda entre lágrimas - Meu avô é descendente de Poseidon, mas com as gerações a cor verde típica dos olhos, foi se perdendo. Meu avô ainda tem olhos verdes, mas minha mãe não. Assim como eu e Dani, ela só tem pintas verdes. Quando estamos em um estado de emoção extrema, as pintas se expandem e olhos ficam verdes.

– Emoção extrema... - ele disse - No dia do sonho foi...

– Medo - ela completou - Hoje é tristeza.

Tess suspirou e assentiu. Tristeza. Tristeza estrema, era isso que ela estava sentido.

Naquele momento a porta se abriu revelando os dois telquintes.

– Você precisa ir agora - ele disse.

Bia voltou a chorar.

– Não! Não vou te deixar aqui!

Tess sorriu tristemente e se levantou, levando ela consigo. Bia o abraçou e Tess a apertou.

– Vou voltar, ok? - ele disse - Vou voltar para você.

– Ok - ela disse entre o choro.

Tess a afastou com cuidado e lhe deu um selinho e um beijo na testa. Um dos telquintes a pegou pelo braço e a levou para fora. Tess se deixou cair no chão da cela e puxou os cabelos. Como sairia dali?

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James

James Encontrou duas dracenas tomando conta da porta. Elas sibilaram o que parecia um riso e abriram a porta. James entrou, seguido das duas mulheres cobra, e foi até Ally. As correntes eram altas demais para que ela ficasse de joelhos, então a garota estavam com os joelhos parcialmente dobrados e completamente desacordada.

As dracaenas a soltaram e James a segurou para que não caísse. Ele a pegou em seus braços e se virou para as duas carcereiras.

– Me deixem à sós com ela - ele disse.

Elas sibilaram e saíram.

James se sentou no chão da cela e a colocou em seu colo. Ally tinha arranhões nas pernas e nos braços, mas o que mais o preocupava eram seus pulsos. Eles sustentaram todo o peso da garoto por só Zeus sabia quanto tempo, estavam muito machucados.

James sentiu as lágrimas escorrerem por sua bochecha, mas não se importou. Ele acariciou os cabelos de loiros de Ally e enterrou a cabeça nele.

Ele não teria chance de pedi-la em namoro quando voltasse para casa, pois não voltaria. Porém ela voltaria, e era isso que importava.

James sentiu uma mão acariciar seus cabelos e suspirou.

– James? - chamou a voz que ele tanto queria ouvir.

Ele levantou a cabeça e olhou nos olhos da garota. Ela arregalou os olhos e tocou seu rosto.

– Por que está chorando? - ela perguntou e ele sorriu tristemente - O que está fazendo aqui?

– Vim te buscar - ele disse sorrindo fracamente.

– Como nós vamos sair daqui? - ela perguntou.

– Não vamos - ele disse colocando uma mecha do cabelo da garota atrás de sua orelha.

– O quê?! - ela indagou confusa.

– Você vai sair, eu não - ele explicou.

– O quê?! Não! Nós vamos sair juntos!

– Não, Ally - ele disse deixando as lágrimas voltarem a cair - Eu fiz um acordo. Você vai, eu fico.

Ela o fitou surpresa e a primeira lágrima desceu por sua bochecha.

– Por que você está fazendo isso? - ela perguntou - Você vai morrer!

Ele sorriu e limpou uma das lágrimas que caiam, que agora já era muitas. Ele não teria outra chance de contar ela, era melhor que dissesse logo.

– Porque eu te amo - ele disse.

Ally o olhou incrédula por um momento e o beijou. Ele suspirou ao sentir aquela maravilhosa sensação novamente. Ele sentiu uma das mãos dela em seus cabelos e a outra sobre seu coração. Ele envolveu sua cintura e a trouxe para mais perto de si aprofundando o beijo. Provavelmente seria o último beijo deles. O último.

Ally o afastou lentamente e o abraçou.

– Eu também te amo - ela disse em seu ouvido - Você não pode morrer!

James a abraçou mais forte. Ele ouvia os soluços dela em seu ouvido. O que mais queria era poder dizer que tudo ficaria bem, que eles conseguiriam sair dali, mas ele não podia.

– Me desculpe - ele disse - Mas entre a minha vida e a sua, eu prefiro a sua.

Ally encostou a testa na dele. As lágrimas desciam copiosamente por seu rosto.

– Talvez eu consiga voltar para te pegar - ela disse - Talvez com Tess...

James lhe deu um selinho para que ela se calasse.

– Seu irmão também está aqui - ele disse - Pelo que entendi ,ele fez o mesmo por Bia.

A garota arregalou os olhos surpresa então negou com a cabeça.

– Não! Não! - ela disse se levantando e puxando James - Você tem que sair daqui! Agora!

Ela o empurrava em direção a porta. James segurou sua mãos e olhou em seus olhos.

– Eu não posso sair - ele explicou.

– Você não está entendendo! Tem que ir agora! - ela insistiu - A profecia ,James! São vocês dois! Você tem que sair!

Ele a puxou para perto de si e a abraçou. Ela bateu em seu peito e depois encostou a cabeça nele e voltou a chorar. James não conseguia pensar direito. Profecia? Do que ela estava falando?

A porta se abriu e as dracaenas entraram.

– Ssssseu tempo acabou - disse uma delas.

James assentiu e beijou os cabelos de Ally.

– Vamos, você tem que ir - ele disse .

Ela o apertou.

– Não! Por favor, você tem que ir! - ela pediu entre lágrimas.

O coração do garoto apertou, elae odiava vê-la assim, mas nada podia fazer, ele a estava salvando.

– Eu te amo - ele disse beijando os cabelos de Ally.

– Eu também te amo - ela respondeu.

James a afastou e a dracaenas a seguram. Ally gritava e esperneava, mas elas a conseguiram levar para fora. Assim que ela saiu James colocou a cabeça na parede e suspirou. Ele nunca mais a veria. Ele estava preso, assim como Tess, pelo resto de sua curta vida.