– Quem está aí? – Perguntou a menina.

– Ora, menina Zara. Você vem à minha casa e me pergunta quem sou? – Disse gentilmente o homem. Ao se aproximar mais um pouco, pôde ver um senhor alto e esguio com vestes elegantes da Nação do Fogo. Tinha barba e cabelo brancos com o típico formato da nação do fogo.

– Avatar Roku... ? – Perguntou um tanto incerta.

– Você precisa visitar o Templo do Ar do Sul logo, assim conhecerá todos os seus outros rostos. – Comentou o senhor. – Agora, vamos, diga-me o que veio fazer aqui. – Pediu o Avatar Roku.

– Aprendi dobra de água e de terra, e cheguei na do fogo. – Disse Zara resumindo. – Pretendo aprender a do fogo com meu... amigo... Airon. Então paramos aqui antes de ir à Capital. Mas eu sinto que tem alguém aqui, e alguém que está muito bom escondido. – Declarou a menina.

– Zara, vejo que tem algum problema com seu... amigo. – Falou Roku, imitando a menina ao falar de Airon. Zara desviou o olhar um tanto triste.

Os dois permaneceram em silencio por algum tempo.

– Vejo que tem uma boa companhia. – Comentou Roku, mudando de assunto. Zara olhou para o homem que sinalizou par Sozen. – São lindas criaturas esses tais Tigres-Leões. Lindas e desconcertantes... – Falou se aproximando do animal, que abaixou a cabeça e dobrou uma das patas dianteiras em modo de reverencia ao senhor. Roku alisou o alto da cabeça de Sozen, até que ela levantou-se e o senhor já não alcançava.

Zara franziu o cenho. “Tigre-Leão”.

– Ah, sim... O nome dela é Sozen. – Disse Zara com a mão alisando sua amiga.

– Sozen? Por que escolheu esse nome? – perguntou Roku.

– Porque... Apesar de todas as coisas ruins que Sozen fez, apesar da ambição maligna dele, ele seguia um propósito. – Começou, mas viu que aquele não era o motivo real. – Na verdade... Sei que Sozen era seu amigo, e automaticamente meu amigo, ele te traiu, e automaticamente me traiu também. Mas eu o perdoei e agora Sozen é minha amiga. – Falou com um meio sorriso distante.

– Então porque você não se perdoa e perdoa o seu amigo Airon? – Perguntou Roku enquanto seu corpo se esvaia com a brisa. Logo o Avatar do Fogo sumira completamente e a pergunta ecoava no ar.

Zara viu-se com Sozen, que encostou a sua testa na de Zara com delicadeza. Com aquele toque, Zara foi puxada de volta ao mundo físico.

Com um suspiro desesperado, Zara pendeu para o lado e apoiou-se tremendo. Não estava preparada para voltar, e Sozen a havia trazido de volta!

Eu devia ter perguntado mais sobre ela. Pensou Zara, já que se surpreendia cada vez mais com a criatura.

Olhou para Sozen com os olhos arregalados. O animal estava com o seu tamanho normal, em seu colo, com os dois olhos esbranquiçados abertos, como se estivesse vendo-a.

Zara acariciou a juba de Sozen com carinho, e logo abraçou o animal.

A menina encarou o Templo, mas logo desviou a atenção. Enfim, não conseguira perguntar nada a Roku sobre ter ou não alguém na Ilha.

Virou-se para Gumo e Airon que a encaravam meio incertos.

– Está tudo bem? – Perguntou Zara confusa.

– Zara... você estava no estado avatar? – Perguntou Gumo.

– Não. – Respondeu rápido a menina. – Eu apenas visitei o Mundo Espiritual. – Explicou.

– Seus olhos brilharam igual ao estado Avatar. – Disse Gumo.

– Bem, não... E, Gumo, você nunca me viu no Estado Avatar. – Falou Zara tentando desconversar.

– É... Eu não... – Confirmou Gumo, e em seguida olhou para Airon. O dobrador de fogo estava quase encolhido. Ainda estava com as roupas da Tribo da água, graças a sua estada lá, mas mesmo o azul claro parecia sombrio quando vestido por ele.

Airon estava arrependido de como vinha tratando a todos, mas era orgulhoso demais para pedir perdão. E ela também e orgulhosa demais. Pensava o garoto.

– Brilharam? – Perguntou Zara olhando confusa para Airon.

– E você tremia. – Completou o menino com uma voz rouca, dispersando seus pensamentos.

Zara desviou o olhar e mordeu o lábio inferior, olhando para Sozen.

– Airon, posso falar com você por um instante? – Pediu Zara quase num sussurro inaudível. Airon a encarou por um instante, mas a vergonha começava a surtir efeito e não lhe permitiu olhar nos olhos da Avatar.

Gumo logo entendeu o recado e levantou-se devagar, se afastando depois de receber um olhar amigável de Zara e devolver-lhe um compreensivo.

Quando Gumo estava longe o bastante e sentado numa rocha qualquer, Zara Fitou o chão a sua frente.

“Então por que você não se perdoa e perdoa o seu amigo Airon?” As palavras de Roku lhe invadiam a mente.

– Airon. – Falou Zara depois de longos segundos de silencio. O garoto a encarou, mal sustentando o olhar. – Você me perdoa? – Perguntou a menina, assustando Airon.

E-eu pensei que... Que ela seria tão orgulhosa quanto eu... Ela me pediu perdão? Não posso acreditar... Quem devia implorar por desculpas sou eu, depois de tudo que fiz. Ah, droga! Resmungava mentalmente.

– Hã? – Foi só o que o garoto conseguiu falar, de tão surpreso que estava.

– Você me perdoa por ter gritado com você e pensado coisas tão ruins sobre você? – Pediu Zara novamente, desta vez levantando os olhos azuis esverdeados para ele.

Airon sentia-se pressionado contra a parede.

– V-você não precisa pedir desculpa...

– Airon. – Interrompeu a menina. – Você me perdoa ou não? – Perguntou sendo muito direta.

Te perdoar por me fazer querer mudar? Claro que sim. Te perdoar por me fazer seguir um caminho diferente? Claro que sim! Te perdoar por ser tão maravilhosamente bondosa e justa? Óbvio! Pensava em meio a um turbilhão de pensamentos.

– C-claro. – Disse, ainda sem conseguir falar nada além de palavras pequenas.

– Obrigada. – Falou a menina cm um pequeno e discreto sorriso.

– Zara me desculpe por ser tão ruim. – Falou piano o menino. Tudo o que queria era contar tudo a ela, mas sabia que ela nunca o perderia e iria embora para sempre. Ele não conseguiria perdê-la.

– Você não é ruim, só é... mal humorado. – Falou Zara, amenizando para o rapaz que parecia exagerar nas palavras.

– Não. – Disse Airon sem conseguir encará-la. – Me desculpe por ser ruim. Mas eu estou mudando. – Falava quase num sussurro sofrido. Zara sabia que as palavras dele tinham a ver com o tal segredo. A menina arrepiava-se só de imaginar o que Airon tanto escondia.

Mas ela nunca perguntaria.

– Eu não posso te desculpar por algo que não sei o que é. – Disse a menina ficando séria novamente.

– E você não vai me perguntar o que é. – Afirmou Airon, um tanto decepcionado com a falta de curiosidade dela.

– Não, não vou.- Confirmou a jovem Avatar.

Feitas as pazes, os três amigos e os dois animais procuraram por algum lugar seguro para ficar. Zara negava aproximar-se do templo, tal lugar dava-lhe calafrios. Gumo negava-se a ficar perto do vulcão, embora tudo o que Airon queria era estar lá. Acabaram achando uma caverna grande e ampla, onde apenas uma fogueira podia iluminá-la por completo.

Gumo dormiu muito rápido, deitado num dos casacos que trouxeram.

– Então... Fogo, dobra de fogo... – Disse Zara querendo que Airon já começasse a lhe ensinar, ao menos a teoria.

– Fogo, dobra de fogo... Amanhã. – Disse Airon com um sorriso traquina. Zara bufou de brincadeira e logo os três estavam dormindo.

Apenas Sozen permaneceu acordada. Ficou presa no abraço de Zara, mas ainda vigiando tudo o que podia sentir com as vibrações do solo.

Sozen também sabia que não estavam sozinhos na ilha. Assim como Airon também sabia.