Avatar: A Lenda de Zara - Livro 3: Fogo escrita por Evangeline


Capítulo 28
Cap 27: Conflitos Intimos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/463629/chapter/28

A noite já havia caído quando Muraoka saiu com Gumo e Airon, para conversar sobre algo. O irmão mais novo havia aceitado tentar se comportar, queria apenas que pudesse manter distância de Avalon. Intimamente, tudo o que Airon queria era manda-lo embora e jamais olhar em seu rosto novamente.

Zara e Avalon caminhavam vagarosamente pelos andares mais altos do templo. Ambos haviam tomado banho e vestiam roupas dos Nômades do Ar, amarelas e laranjas. Estavam descalços e mais à vontade. Não conversavam sobre nada enquanto andavam, apenas olhavam para o horizonte além das janelas e varandas que apareciam e desapareciam por todo o templo.

Zara estava com uma dupatta amarela envolvendo os ombros, os cabelos recém lavados, soltos, e a saia comprida até os tornozelos, laranja. Enquanto Avalon usava uma calça folgada, amarela, e uma espécie de sobretudo laranja que estendia-se até pouco além dos joelhos, amarrado por uma faixa amarela. Para ambos, aquelas roupas eram as mais confortáveis que jamais haviam usado.

O vento que entrava e saía do templo era frio e forte, o que fez Zara agradecer por estar com a dupatta de algodão envolvendo os ombros, e desejar estar com seus sapatos, pois o chão estava frio.

Quando pararam numa varanda com vista para a parte de trás do templo, os dois se apoiaram no parapeito, e apreciaram o céu esplendorosamente estrelado. A noite completamente negra, e os milhares de astros brilhavam como vagalumes imóveis.

Zara suspirou pesadamente, com a mente dispersa em pensamentos. Estar com Avalon era estranhamente reconfortante, ele não lhe fazia perguntas difíceis ou lhe julgava, não fazia questão de palavras. Não cobrava nada dela, o que a deixava insegura, afinal, não sabia se estar ali com ou sem ela fazia alguma diferença para o rapaz.

– No que está pensando? – Ele perguntou por fim, a voz meio rouca e baixa. Zara fechou os olhos por um momento, aproveitando a brisa gelada que atingia-lhe o rosto.

– No frio. – Ela respondeu com um pequeno sorriso, para então olhar Avalon, que parecia querer saber mais sobre o assunto. – O frio daqui é diferente do frio no Polo Norte... Lá, o ar é pesado, respirar é uma tarefa quase difícil, o ar é espesso... Aqui é tudo tão leve... O vento frio daqui é mais gelado. – Explicou, vendo-o erguer um pouco o canto superior dos lábios finos.

Vê-lo esboçar um semi-sorriso a fez lembrar de Sozen rugindo perto do rosto dele, assuntando-o. A fez lembrar da gargalhada tímida e nervosa que ele não pôde segurar.

– Prefere entrar? Se estiver muito gelado...

– Não, eu gosto daqui... – Ela o interrompeu. Gostava do frio. – Você está com frio? – Ela perguntou, evitando que o assunto se esvaísse novamente.

– Na verdade não, a temperatura me parece mais agradável do que nunca. – Ele falou, vendo a curiosidade nos olhos azulados brilhantes da jovem avatar.

Passaram algumas horas conversando vagarosamente, como se o tempo estivesse parado. Ninguém apareceu para chama-los, e como Zara dissera, “não parecia existir mais ninguém no mundo inteiro”.

– Gosto dessa sensação... – Sussurrou Avalon. Estavam sentados no chão, encostados na parede do templo, mas ainda na varanda. Passava das duas da manhã, e Avalon já havia perguntado diversas vezes se Zara estava com sono, mas a resposta era sempre a mesma:

– Quero ver o sol nascendo, tenho certeza que ele nasce deste lado. – Dizia fitando o horizonte. Embora sempre respondesse aquilo, não demorou para que a garota começasse a bocejar. O sono a embriagou de modo que Avalon quase não conseguia segurar o riso.

Ver Zara bêbada de sono era uma cena que, há duas semanas, jamais imaginaria assistir.

– Comida favorita? – Ele perguntou, deliciando-se com o bom humor exausto da jovem Avatar.

– Essa é difícil... – Ela disse esfregando os braços graças ao frio. – Acho que o salmão da minha mãe Tera é a comida mais deliciosa que já comi. – Falou por fim.

Avalon olhava para ela descaradamente, já não tinha vergonha de encará-la depois de horas de conversa mole.

– Está com frio? – Perguntou o dobrador de fogo, rindo de canto.

– Muito. Venho do Polo Norte, mas não sou uma pedra de gelo. – Ela disse rindo um pouco. Ele queria oferecer-se para esquentá-la, mas achou que poderia ser um pouco indelicado, ou ela poderia interpretar da forma errada.

– Se quiser entrar, podemos esperar o sol nascer lá dentro... – Ele ofereceu depois de hesitar por alguns segundos.

– Podemos? – Ela perguntou antes de bocejar. Ele sorriu mais uma vez, silencioso como sempre.

– Claro que sim. – Respondeu Avalon, levantando-se e oferecendo a mão para que ela levantasse. Após ficarem de pé aproximaram-se do parapeito, mas não soltaram as mãos. Nenhum dos dois sabia a razão, mas não queriam soltar.

– Avalon? – Chamou Zara, olhando para as mãos dadas dos dois.

– Hm? – Ele respondeu, mostrando que estava ouvindo, também olhando para a própria mão que segurava a dela.

– Eu não quero entrar. – Ela disse. – É que... Você podia... Não, eu podia... – Ela começou a gaguejar, mal entendendo a razão de fazê-lo. O rosto dela começou a ficar vermelho, o que a falta de iluminação quase escondeu. – Bem... É, esquece... – Disse por fim, desistindo do que falaria.

Avalon olhava o rosto hesitante da garota quando largou a mão da mesma. Zara segurou a mão recém-abandonada, fitando os próprios pés descalços, quando o rapaz a abraçou.

A jovem Avatar arregalou os olhos na escuridão do abraço de Avalon.

Nunca pensei que passaria por aquilo, muito menos com Ela. Uma semana era o tempo que eu havia passado com Zara, mas me pareciam meses. Há algumas horas, eu vira uma Zara rígida e fria, dando ordens e estabelecendo regras. E agora ela estava ali: tremendo de frio, vulnerável e envergonhada. Eu quase não lembrava da ultima vez que alguém me abraçara, e flashes do que eu havia passado ao lado dela me vinham à mente. Tive medo de estar cavando minha própria cova ao me envolver com aquela garota, mas me pareceu um pouco tarde para recuperar a linha, preferi me render.

Em um instante o sono de Zara passou por inteiro e seu coração disparou. Não era abraçada há muito tempo, e o abraço de Avalon a pegou de surpresa. Depois que o susto passou, Zara retribuiu o abraço, encostando a bochecha no peito do rapaz e envolvendo-o por baixo dos braços.

Avalon pousou o queixo em cima da cabeça da garota e fechou os olhos, um pouco tenso. Encostou-se no parapeito atrás de si, e ali os dois ficaram, o corpo do maior apoiado na pedra polida e o da jovem Avatar no dele. O frio de Zara passava aos poucos, assim como o sono começava a retornar.

O abraço dele me passou uma espécie estranha de segurança, eu podia dormir ali com facilidade, estaria certa de que ele não deixaria nada me acontecer. As mãos dele me apertavam suavemente, porém firmes. Por um instante eu me senti como fogo, sendo dobrada pelas mãos hábeis de um mestre como ele. Por um instante, eu não era mais Avatar, e só a Zara.

Alguns longos minutos se passaram sem que nenhum dos dois quisesse se desfazer daquele abraço. Mal Avalon percebera, perdido em pensamentos, Zara adormeceu. A respiração compassada, o rosto sereno e o corpo pesado fizeram-no sorrir de canto ao tentar acordá-la. Quando enfim o sol começou a nascer, ficou com dó de despertá-la e indeciso sobre leva-la nos braços de volta para a cabana, ou deitá-la em seu colo e ficar por ali até que acordasse.

Escolhendo a segunda opção, pegou-a no colo com cuidado. Quando a aprumou em seus braços, Zara o envolveu delicadamente, fazendo Avalon arregalar os olhos e corar brevemente. Ao se certificar de que ainda estava dormindo, encostou-se na parede externa do templo e escorregou até o chão, sentando-se com a jovem Avatar apoiada em seu colo.

Dobrou uma perna para que a apoiasse melhor e a abraçou suavemente, para aquecê-la. Mal passaram alguns minutos e o próprio também adormeceu.

Ainda era muito cedo quando Muraoka acordou. Ela tinha organizado a cabana improvisadamente para que coubessem cinco redes e ainda sobrasse espaço para Sozen, e ficou um tanto decepcionada em ver que Zara e Avalon não haviam dormido ali. Iria conversar com a jovem Avatar sobre o assunto, mas por enquanto decidira reorganizar o quarto para poder preparar o café-da-manhã de todos eles.

Airon acordou pouco depois, um pouco mais calmo depois da conversa que tivera com Muraoka. Ela havia explicado-lhes a importância do equilíbrio, e sobre como Zara deveria manter-se imparcial por algum tempo até aprender tudo o que precisa sobre o espírito, além de ter ensinado muito sobre a cultura dos Nômades do Ar, coisa que Gumo realmente havia aproveitado muito.

Muraoka sentia em Gumo o interesse dele por aprender cada vez mais, e sabia que tê-lo por perto seria um adicional muito útil ao processo pelo qual Zara estava passando. Mas também sabia que o caráter explosivo de Airon atrapalharia muito, então concentraria os seus esforços nele, e se percebesse que não há solução, iria manda-lo embora.

A manhã foi exaustivamente tediosa para Airon, enquanto Gumo estava sempre enchendo Muraoka de perguntas que ela estava sempre contente em responder. Era em torno de dez da manhã quando Zara e Avalon finalmente apareceram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O desenho da Sozen está pronto, gente. Vocês querem que eu poste junto com o próximo capítulo?