Avatar: A Lenda de Zara - Livro 3: Fogo escrita por Evangeline


Capítulo 19
Cap 18: Em Busca da Caverna - Parte 1




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Lentamente, Zara e Avalon seguiam pelo caminho invisível. Pareciam estar dando a volta na imensa montanha ao lado esquerdo dos dois.

Zara não sabia o que falar para o rapaz. Depois do dia anterior, sentia-se mais próxima e mais distante dele. Enquanto isso, Avalon temia as ações dela.

O rapaz suspirou profundamente depois de alguns minutos de “procura”.

– O que foi? – Perguntou Zara, um pouco irritada com a impaciência dele.

– Nada. Só não faço ideia do que estou procurando. – Resmungou baixo, chutando acidentalmente uma pedra escondida pela neblina. – Ai! – Reclamou.

– Já cansou? Com a “Avatar” as coisas são assim mesmo... – Ela falou baixo, como num comentário casual.

– Não cansei. – Ele negou rapidamente. – Mas é um pouco nada produtivo para mim ficar andando nessa ilha sem saber para onde olhar. – Disse um pouco mais grosseiro.

– Olhe para o chão e cale a boca, assim eu me concentro. – Ela revidou.

– Concentrar no quê? Na neblina?! – Avalon já se exaltava. – Assim complica, não acha? Sair do acampamento em busca de algo que sequer sabe por onde começar a procurar. Meus parabéns, Avatar! – Exclamou sarcasticamente, irritando a garota.

– Me sequestra, me tira do meu caminho, e ainda reclama dos meus métodos? - Perguntou, revidando o sarcasmo. – Se acha que é fácil, troca de lugar. – Zara estava irritada, grosseira. Detestava se sentir daquela forma.

– Até trocaria! – Ele respondeu rápido, já alterado. – Dobrar os quatro elementos e ser venerado não seria tão ruim assim! – Disse, rude.

– Ah é? – Perguntou a garota, parando no lugar onde estava e encarando-o. – Quer ser responsável pelo mundo, ter visões estranhas, ter que salvar um monte de gente ingrata, ser cobrado de tudo e todos, para no final e tudo “não passar do seu dever” ? – Disse com a língua afiada. – Pois saiba você, bastardo, que eu não dobro os quatro elementos, e não sou venerada por absolutamente ninguém! Pelo contrário, eu não consigo dobrar as porcarias dos outros dois elementos, não entendo a razão! – Estava frustrada. – Só faço comprar inimizades e responsabilidades. As únicas pessoa que me amaram estão do outro lado do mundo!

“Estou aqui, no fim do mundo, e até agora só fui tratada como uma garota retardada que merece ser largada no meio do nada! Arriscando a minha vida para salvar gente que nem você, que eu não conheço e que vai acabar sendo rude, grosso, egocêntrico e ingrato comigo!”

Quando a garota deu o ultimo grito, Avaon a encarou, surpreso.

Com os olhos arregalados e a respiração inconstante, Zara ouviu seu grito ecoar pela montanha. Eles se encararam por longos minutos, os pensamentos como turbilhoes de furacões em suas mentes.

– Zara... – O rapaz falou baixo.

– Desculpe. – Ela disse antes que ele falasse mais algo. Começou a andar mais uma vez, e logo foi seguida por Avalon.

– Sei que é difícil. Fui indelicado. Desculpe. – Ele falou, sem que a garota respondesse. – Olha... Bem... – Avalon tentava falar, cm certa dificuldade de organizar os pensamentos. Zara virou-se para ele, parando mais uma vez.

Estava hesitante de olhá-lo nos olhos, mas ainda assim o fez.

– Obrigado. – Ele disse. – Eu nunca havia... enxergado a minha pele. – Declarou por fim, desviando o olhar do dela.

Logo voltaram a andar em silencio. Zara lutou para não se lembrar do dia anterior, mas as imagens do peito nu de Avalon a perseguiam, assim como a sensação de tocá-lo. Aquele momento parecia atormentá-lo também, desde o momento em que Zara tocara as mãos nele para curá-lo, ele temia algo maior do que aquela missão.

Não queria ser responsável por ela, apesar de ser especial, Zara lhe era infantil demais, irritante demais. E de uma maneira lamentavelmente verdadeira, boba demais.

A neblina era densa e os passos dos dois provocava eco. O sol havia nascido no outro lado da montanha, o que fazia com que o lado em que estavam ficasse mais frio e escuro. Não demorou para que Zara sentisse um pouco de frio, mesmo sendo acostumada no polo norte.

– Frio? – Perguntou Avalon, com a voz grave e baixa.

– Você não? – Ela perguntou de volta. O rapaz criou uma pequena chama nas mãos, causando uma mudança brusca na iluminação.

– Não muito. – Respondeu. – O que estamos procurando mesmo? – Ele perguntou.

– Uma caverna. – Disse Zara. – Ela ficava num caminho escuro, um caminho de morte que seguia para cima da montanha. Embaixo de uma cachoeira...

– Não ouço som de água, nem mesmo da do mar. – Falou Avalon. – E o que seria um caminho de morte? – Perguntou.

Pensando um pouco no assunto, Zara realmente teve dificuldades de criar um argumento.

– Seria... uma cicatriz. – Falou, causando um breve arrepio no rapaz. Ele tinha um certo trauma de cicatrizes. – A nação do Fogo já atacou esta Ilha? – Perguntou em seguida.

– Já. Inúmeras vezes. Mas nunca conseguiu chegar ao topo. – Respondeu. – Acha que a cicatriz que você viu foi causada pela Nação do Fogo? A ultima vez que a Nação do Fogo esteve aqui foi há mais de...

– Cem anos? – Completou a garota, parando no lugar. – Que cicatrizes o fogo deixa depois de tanto tempo? – Perguntou, tentando enxergar a terra em seus pés.

A vegetação da ilha era rasteira, e poucas plantas erguiam-se penduradas na montanha, como se segurassem na rocha para não cair.

– Eu não sei... Talvez a terra morta. – Admitiu o maior.

– No mundo espiritual, era um caminho negro. Sem vegetação, sem vida. O Fogo havia matado o que existia ali... – Começou a falar, perdida em pensamentos. – É isso o que o fogo supostamente faz. Destrói as coisas para demonstrar o poder que tem. – Concluiu, de cabeça baixa e voz triste.

– Não, Zara... – Negou Avalon.

– Roku me disse que o Fogo é a luz, é a vida, é a energia. – Ela disse. – Mas tudo o que eu vi do fogo até agora foi a dor, a morte, e o medo. – Desabafou.

– O fogo é o que as pessoas fazem dele. – Disse o rapaz, tentando mudar a opinião dela. – Você nunca dobrará fogo se não acreditar que ele é bom. Você gostaria de controlar algo que pode ferir as pessoas? – Perguntou, e logo Zara negou com a cabeça. – Precisa ver a beleza no fogo. Precisa querer dobrá-lo, querer dançar com ele. – Disse por fim.

Querer dançar com ele. A frase repetiu-se na mente dela.

– O que disse? – Ela perguntou, para certificar-se do que ouvira.

– Que você precisa querer ver a beleza do fogo, para dobrá-lo. – Repetiu o rapaz, desentendido.

– Não. Você disse: “Precisa querer dobrá-lo, querer dançar com ele”. Não foi? – Perguntou, por um instante encarando o horizonte.

– Sim... Eu acho. – Respondeu Avalon confuso.

Apenas um verdadeiro dobrador de fogo é capaz de dançar com as chamas. A voz de Roku ecoou em sua mente.

– Quando estiver escuro, frio e morto, o fogo trará de volta a alegria com suas labaredas que dançam. – Disse Zara, como uma citação às palavras de Roku.

– Sim, exatamente. – Afirmou o rapaz, um tanto perplexo. – Faz sentido... – Disse pensativamente. – Quando fui ao Templo do Avatar Damon, o Avatar de fogo anterior ao Roku, eu vi umas escrituras antigas que não conseguia entender. Dizia algo relacionado à escuridão, frio, morte, fogo e dança... Faz total sentido. Depois ele dizia que só um... algo sobre a verdade da alma... Depois era um símbolo relacionado ao chi de cada um, o verdadeiro controle de nossos caminhos espirituais, então aparecia o símbolo do puro fogo, e o da capacidade, e por fim algo relacionado à dança.

Apenas um verdadeiro dobrador de fogo é capaz de dançar com as chamas. – Ela falou com a voz brevemente dupla, a dela e a de um homem por trás. Zara sabia que não era Roku.

– Isso... – Concordou Avalon, estupefato. – Como você...

– Roku me falou. – Ela explicou. – Avalon, o que significa “dançar com o fogo” ? – Perguntou seriamente. O rapaz demorou alguns longos segundos pensando no que diria.

– Para a maioria das pessoas, nada. – Começou a explicar. – Para um dobrador de fogo comum, talvez signifique simular uma dança com o fogo, através da dobra. Para um mestre, significa a agilidade durante um Agni Kai. – Falou, dando uma longa pausa.

– Mas o que realmente significa? – Ela perguntou, curiosa e esperançosa.

– Eu não sei ao certo. – Admitiu. – Tudo se resume ao que seria um ‘verdadeiro dobrador de fogo’.

– “A verdade da alma e o chi de cada um” ? – Supôs Zara, tentando ajuda-lo a pensar.

– Quando você aprender sobre o espírito, talvez possa me dizer. – Comentou Avalon, sendo quase simpático, o que a surpreendeu um pouco.

– Então Roku citou para mim uma escritura antiga de Damon, um outro Avatar do fogo? – Perguntou a garota, estranhando a situação.

– Talvez ele só tenha dito uma frase muito parecida... – Disse. – Mas, Zara... Você já descobriu o que estamos procurando? – Perguntou.

A menina pensou por alguns longos segundos.

– Vamos procurar por uma mudança na terra, ou na vegetação. – Ela falou, como num surto de ideia. Avalon tentou começar a prestar atenção na vegetação, mas logo a fitou confuso.

– Zara... Que vegetação? – Perguntou. As plantas naquela região eram rasteiras, quase não haviam ervas daninhas em lugar algum.

– Não sei... mas é bom ter algo em que se apoiar... – Ela comentou, mais falando consigo mesma do que com ele.

Continuaram andando, apenas encarando as coisas ali, num estranho silencio. A luz do sol começava a aparecer no contorno da montanha.

Quando a iluminação amarela da manhã os alcançou, Zara viu algo que nunca havia visto, e ao mesmo tempo estava sempre ali, diante de seus olhos.


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Notas finais do capítulo

Voltando a postar, cheia de ideias, espero que gostem. :D