O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 11
Annabeth




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Annabeth...

Annabeth...

Filha...

O mundo ainda estava nebuloso. Nada fazia coerência, minha mente ainda estava embaralhada. Não porque eu não tinha capacidade de botá-la pra funcionar, e sim porque eu não queria encarar os fatos.

– Annabeth. – A voz soou mais firme. E então vi minha mãe.

Estava do mesmo modo que estivera na última alucinação. Sobrancelhas arqueadas, os cabelos caindo pelos ombros.

– Annabeth, eu preciso de você.

Annabeth, eu sinto muito.

– Annabeth, eu estou orgulhosa.

– Annabeth... A Sabedoria está em suas mãos.

– Não. – Respondi. Hum, no sonho eu tinha voz... – Você estava decepcionada.

– Annabeth, não era eu. Filha, eu precisava de você, e preciso agora.

– Encontrei Atena Parthenos.

– Eu sei. E estou satisfeita.

– Sempre. Nunca, nada do que eu faça pode abalar alguma coisa.

– Ah, não? – Uma de suas sobrancelhas se ergueu mais ainda. – A filha de Atena caiu no Tártaro, matou Aracne, lutou e voltou.

– A filha de Atena caiu no Tártaro, junto com o filho de Poseidon. O filho do deus do mar matou Aracne, lutou com a garota de Atena e graças a ele ela conseguiu voltar.

Silêncio.

– Por isso eu sinto tanto... Tanto receio de fazer o que você quer. Nada basta. Eu faço, mas o que eu quero nunca está em questão.

– O que você quer, então?

– Perseu Jackson.

Ela sorriu.

– Mas isso você já tem.

– Mas isso você não tolera.

– Tola. Duas vezes tola. Tola por não querer sabedoria, e tola por acreditar que não o quero. Se não o quisesse com você de verdade, ele já não pisaria no mesmo chão que você.

– Você quer dizer então que...

Atena olhou para mim. Ela já me encarava, porém algo em seu olhar foi como um toque. Eu me calei.

– Eu quero dizer que eu desejo sua felicidade, filha... Nunca desejei o contrário. Eu desejo sua ajuda.

– Como é que eu posso te ajudar, mãe?

Atena entreabriu os lábios, pronta para me responder. Repentinamente, seus olhos escureceram e seu cabelo encrespou.

– Você não é minha filha.

– Como é que é?

– Você prefere o amor e a felicidade acima da sabedoria e da honra.

– Mãe...

– NÃO ME CHAME DE MÃE. Eu não sou sua mãe, já disse. Eu sou Minerva.

***

Pensei que acordaria, mas apenas voltei a fitar o Oráculo.

Sabem que a morte os espera.

Então ele se dissolveu e todo o gelo e névoa começaram a se dissipar. Percy abaixou a espada, e eventualmente o meu braço também, uma vez que ambos segurávamos Contracorrente.

O crepitar da crosta que cobria o convés fazia um som caótico, e começou a derreter muito lentamente.

– Você viu a mesma coisa que eu? – Perguntei.

– Depende do que você viu.

Algo em seus olhos mostrava que não era a mesma coisa. Ele encolheu os ombros.

– Desculpe. Provavelmente, não.

– Eu sei – admiti.

Ficamos em silêncio por um tempo, observando o sol terminar de se levantar e aquecer o convés, para derreter todo aquele gelo.

– Então... – Percy falou – Somos o sangue do Olimpo?

– É o que tudo aparenta.

– Sinto muito.

Sorri.

– Não sinta. Vamos ser um só, lembra? Somos um só. E acho que você já sabia que isso ia acontecer.

Ele sorriu.

– É.

Piper subiu correndo ao convés.

Só que ela não sabia que ele estava liso.

E escorregou, porém Percy segurou-a.

– O que é que está acontecendo? – Ela perguntou, enquanto ajudávamos a colocá-la em pé. – E que frio é esse?

– Não aconteceu nada – Olhei para Percy, e ele entendeu. – Acho que choveu um pouco durante a noite.

Jason chegou nessa hora, com uma cara de quem havia caído da cama. Ele não escorregou, ao invés disso, imediatamente agarrou o braço de sua namorada.

– Dormiu bem?

– Jason? Hã, sim. Quer dizer, mais ou menos. – Ela levantou um pouco a blusa, mostrando um hematoma roxo nas costelas. – Eu só...

– Droga. – Jason disse e saiu pisando duro para dentro novamente.

– ... Caí da cama. – Piper franziu as sobrancelhas. – Só isso. O que é que deu nele?

Toquei o roxo dela com um dedo, ela estremeceu. A carne parecia estar rasgada, e a costela não estava, digamos... Inteira.

– Piper, isso aqui é mais sério. Você não caiu da cama simplesmente.

Jason voltou ao convés, com cara ainda amarrada, e ficou olhando.

– Bom... Não consegue se lembrar de nada? Um monstro, uma batida, uma batalha, um...

– Um sonho? – Jason indagou. – Um pesadelo?

– Não, eu não lembro. As noites estão sendo mais turbulentas com pesadelos, mas...

– Piper, não importa. Vamos ter que arrumar isso.

Ela assentiu.

– Vai doer. – Alertei. Lembrei-me das minhas costelas quebradas, aos treze anos, quando Polifemo praticamente as esmagou contra uma rocha. – Jason, abrace-a por trás.

O rapaz foi até ela e passou os braços por sua cintura.

– Não, segure-a pelos braços. – Jason a segurou pelas axilas, prendendo os braços sobre o peito dela. – Quando eu contar até três, puxe-a para cima. Sem dó.

Hesitou por um instante, por fim assentiu.

– Um... Dois... Três.

Ele a puxou, e um estalo ocorreu. Piper não gritou, apenas prendeu a respiração.

– Acabou?

– Não. Precisamos dar um jeito nisso. Percy, Jason, podem ficar de guarda?

– Sim, senhora. – Jason respondeu com um leve sorriso.

Fui com Piper até a enfermaria.

– Então quer dizer que você é médica? – Ela perguntou enquanto sentava-se num banco e eu fechava a porta.

– Uma filha de Atena precisa saber de tudo um pouco.

Ela fez uma expressão que eu conhecia bem.

– Piper, pare de se achar inútil, deuses! Acontece.

– Acontece sempre comigo.

– Não, nem sempre. Poxa, se você fosse inútil, não seria um dos Sete. Além disso, não se esqueça de que eu sou a única aqui que não tem nenhum poder – Eu ri.

– Porém você tem todas as respostas. – Ela me abraçou. – Senti sua falta.

– Também senti, querida. – Suspirei.

– Foi ruim?

– Onde? – Perguntei já sabendo a resposta, e misturei num pote um pouco de ambrósia com néctar e creme para dor muscular.

– Tártaro.

– Não foi muito bom. – Ela ergueu a blusa de novo, e eu abri um pequeno corte no hematoma com a ponta de uma faca.

– Para o caso de ter veneno?

– Nunca se sabe. – Respondi.

– Você estava contando...

– Ah, sim. É o inferno de qualquer crença, não tem chance de ser legal.

– Aracne estava morta?

Ri novamente, espalhando a mistura na pele dela.

– Não. Estava lá, me esperando, mas Percy a matou.

Ela sorriu.

– Seu protetor.

– É. – Sorri, também.

– Acho que você não quer falar sobre isso.

– Não, tudo bem. – Pressionei um quadrado de tecido colante por cima de tudo. – Já passou. Mais alguma pergunta?

– Sim. Você é virgem?

Quase engasguei.

– Piper!

Ela estava gargalhando.

– Ué, eu fiz uma pergunta!

Eu ri.

– Uma pergunta indecente! – Sussurrei.

– Concordo, concordo... Enfim, você é ou não é? – Ela levantou uma sobrancelha.

Pensei em falar a verdade, porém respondi com outra pergunta.

– O que você acha?

– Hã, acho que você... – Piper torceu a boca. – Não é.

– Por que acha isso? – Indaguei baixinho.

– Bom, porque você e Percy são os mais velhos da equipe e... Sei lá, os mais... Apaixonados?

Tomei impulso com as mãos e sentei ao lado dela.

– Piper...

– Ou não foi com Percy?

– Piper! – A repreendi. – Eu sou virgem, claro que sou! E se fosse... Mudar, seria com Percy.

Ela sorriu.

– Huuuum...

– Esclareci suas dúvidas?

– Sim, digamos que sim. – Ela meneou a cabeça. Piper não sacava, mas ela era muito bonita.

– Sempre que tiver qualquer dúvida... Ou quiser perguntar qualquer coisa dessas pra mim, sabe que vou responder com sinceridade. – Confessei.

– Obrigada. Sabe que eu...

Alguns barulhos estranhos ecoaram no convés. Ficamos imóveis imediatamente. Mais barulhos, algumas vozes. Levei um dedo aos lábios, e Piper concordou. Ela puxou uma espada mais comprida que um gládio, e eu abri a porta. Andei na ponta dos pés até minha cabine e peguei minha própria espada de osso de drakon, que estava encostada no batente. Piper contou até três e, juntas, subimos ao convés.

Lá, Percy e Jason estavam com as respectivas espadas sacadas, paralisados e olhando para algo na proa. Quando olhei na direção, uma mulher estava apoiada na amurada. Era esbelta, alta – porém mais baixa que eu -, e usava um vestido verde. O vestido era solto, não dava pra ver onde começava e onde terminava, o cabelo era um interminável caleidoscópio de terra. Estava descalça e segurava dois chicotes, um em cada mão.

Gaia.


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