How Far We’ve Come escrita por Lithium


Capítulo 9
7 — Coming Undone


Notas iniciais do capítulo

EU SEI o que vocês estão pensando. Algo na linha de "Ãhn? É uma miragem?" ou "Eu vou esquartejar essa guria", mas dessa vez os estudos realmente me pegaram de jeito e eu não tive tempo para escrever NADA. Mas é, não morri e aqui estou eu com mais um cap.

AAAAAAAAHHHHH 50 REVIEWS E 3 RECOMENDAÇÕES ♥ ♥ ♥ Queria agradecer a todas as divas que comentaram, em especial a Emanuela Potter Jackson, que recomendou a fic.

Esse aqui definitivamente não é um dos meus capítulos favoritos, porque eu o considerei curto. Sim, curto. Eu queria colocar uma porrada de coisas para acontecer e quando eu vi o cap já tinha umas 4.000 palavras. E não foi o mais divertido de escrever. Sei que prometi um POV da Lyly nesse, mas não deu para colocar pelos motivos que eu falei... Porém no próximo sai.

Não sei o que pensar no geral sobre esse capítulo. Juntei um monte de situações em uma coisa só, então só a opinião de vocês é que vai me dizer alguma coisa.

Mas enfim, perceberam que FINALMENTE eu coloquei um fanart no início do cap? Pois é, Jason encerra esse cap com um dilema um tanto enlouquecedor.

Coming Undone = Ficando Desfeito. Nada a ver com o cap, mas minha cabeça estava tipo COMING UNDONE COMING UNDONE COMING UNDONE OH FUCK VAI SER ESSE O TÍTULO DO CAP então aqui está o resultado!

Vou parar de encher o saco de vocês e deixar vocês lerem.

Enjoy!



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Muito tempo atrás, uma semana antes das férias de Páscoa acabarem e a sexta série continuar, o Show de Talentos da H.B School aconteceria. Cinco jurados iriam julgar talentos musicais mirins com idades entre cinco e onze anos, e escolheriam um vencedor para levar um cheque de dois mil dólares para casa.

Fora Apolo quem incentivara Lilith a tomar coragem e se inscrever no festival. Ele tivera uma longa conversa com sua filha sobre a importância do Show de Talentos caso ela quisesse seguir carreira musical.

– As pessoas competem em shows de talentos não só por causa do prêmio em dinheiro, querida, mas sim por experiência. É tudo o que um bom músico procura. Imagine só: poder tocar para uma platéia inteira e ainda por cima, uma corte de jurados que ainda vai te pagar por isso!

– Acha que eu tenho chance?

– Querida, a sua vitória já é garantida – então, ele riu. – Entenda, está no sangue!

Pena que aquela noite seria muito diferente da expectativa dos dois.

Geralmente, quando você tem dificuldade de fazer amigos, não falta gente para te detestar. A sociedade é estranha, então, qualquer coisinha era motivo o suficiente. Calypso e Drew eram as abelhas rainhas da escola, e encarnavam em cima de Lilith desde um incidente no refeitório que gerou uma guerra de comida e um par de bolsas Dolce&Gabbana destruídas.

As duas haviam preparado uma apresentação de música rap, e de acordo com o cronograma do show, se apresentariam dois shows antes de Lilith. Porém, um show antes das suas apresentações, elas foram aos bastidores e procuraram por Lilith, com o propósito de avisá-la sobre uma mudança no cronograma. Lilith se apresentaria logo após as duas.

Ela esperara com o típico e conhecido nervoso pré-palco, e assim que as duas saíram do palco, Lilith entrara e cantara “Miss Nothing”, The Pretty Reckless. Julgando a partir da platéia, ela fora bem. O problema viria depois.

Após todos os candidatos se apresentarem, o organizador do concurso aparecera no palco, pronto para dar os nomes daqueles que se classificaram para a segunda fase. Entretanto, o que ele dissera foi chocante para todos:

– Os jurados votaram e de acordo com os votos, teríamos nossos classificados. Mas apenas teríamos. Lilith Lightwood foi classificada em primeiro lugar, porém, ela apresentou-se antes do horário marcado e portanto, foi desclassificada. Sendo assim, nossas vencedoras são Calypso Atlas e Drew Tanaka!

A notícia a atingira como um tapa na cara. Malditas vacas. Então fora tudo armado?! Uma espécie de complô para desclassificá-la e garantir das duas a vitória (ou no caso, a derrota iminente da escola na próxima fase do concurso)?!

Ela não sabia o que fazer. Ficou estática, no meio do palco, encarando a platéia sem reação. Então, correu para fora do palco. O concurso estava acontecendo na própria escola, então ela só precisou sair da quadra e ir até o depósito do zelador, onde ela sempre iria quando queria pensar um pouco.

Diferentemente do que aconteceria em um filme, Lilith não chorou. Não valia a pena chorar por algo que aquela dupla de vacas lhe fizeram. Ela apenas encarou o teto. Por que foi inventar de se meter naquele concurso?! Agora teria que viver para sempre com o peso da decepção de ter perdido algo daquele porte por pura trapaça. Seu pai tinha razão, afinal. Tudo o que um bom músico quer é a experiência – ele apenas não citara que algumas são mais chocantes que outras.

Ficou por vários minutos ali, encarando o mofo monótono no teto e nas paredes, e sentiu dó do zelador. Quem merecia ter um lugar assim como depósito? Se alguém reformava a escola, o depósito também deveria ser reformado, certo? Ao menos uma pintura nas paredes o lugar deveria receber. Estava explicado o mau humor frequente do zelador – ninguém conseguiria manter uma pontada sequer de bom humor trabalhando por anos a fio em um lugar como aquele.

Mas vamos a parte que realmente interessa: depois de um tempo indeterminado, a porta do depósito do zelador finalmente foi aberta, e aquilo a sobressaltou um pouco. Não o fato de a porta ser aberta, mas sim quem a abrira. Lilith esperava o diretor da escola, ou quem sabe seu pai, porém, quem estava ali era um garoto que Lilith nunca vira na vida. Ele era bastante magro, muito pálido e meio esguio. Não era exatamente alto – tinha uma altura mediana. Seus cabelos e olhos eram do tom mais preto que já vira, assim como as suas roupas, que sugeriam que era gótico.

– Hm... Quem é você? – perguntou ele, com uma das sobrancelhas erguidas.

Lilith não respondeu. Abaixou os olhos e encarou a fileira de potes de água sanitária nas prateleiras. Ele não estava no concurso?

– Mas afinal, o que você está fazendo aqui? – insistiu. – Se está na escola, decerto é uma participante do concurso musical que está acontecendo na quadra.

– Você não viu o concurso? – perguntou Lilith, finalmente.

O garoto negou com um aceno de cabeça e olhou ao redor.

– Não gosto muito desses concursos musicais escolares – respondeu. – Geralmente eles sempre têm alguém que trapaceia.

Lilith soltou uma risada seca.

– É, de trapaça eu entendo bem... – e suspirou, desviando o olhar para o garoto. – Quem é você? Nunca te vi nessa escola.

– Vim de outra escola... Acabei de ser transferido. Então, meu pai trouxe a mim e a minha irmã para darmos uma olhada na nossa “nova escola”. Eu meio que decidi explorar por mim mesmo e encontrei esse depósito.

– Ah.

– Não vai me dizer quem é você?

Ela pensou na hipótese. Mesmo não se apresentando, ele dissera quem ele era – um aluno novo.

– Estudo aqui há mais ou menos um ano, desde o início do ginásio. Meu pai é músico, então ele me convenceu a participar desse concurso. E eu teria sido classificada, mas duas garotas trapacearam e eu não queria uma platéia de trocentas pessoas me encarando. E aqui estou eu.

– Então essas duas praticam, sei lá, uma espécie de bullying com você?

Lilith deu de ombros, um sinal claro para “Tanto faz”.

– Mal te conheço e não sei o real porquê de você ter fugido daquela platéia, mas se eu fosse você, nem me importava com aquelas duas. Afinal, geralmente é pura inveja. Acha que elas precisariam trapacear se não soubessem que você venceria? Existem pessoas assim em todos os lugares.

O garoto deu meia-volta e reabriu a porta do depósito do zelador, pronto para sair, mas Lilith o impediu.

– Espere – disse ela. – Qual o seu nome?

Ele a encarou, como se analisasse se ela era de confiança ou algo assim.

– Nico di Ângelo.

– Nico di Ângelo? Não é um nome muito comum.

– É italiano. Por causa da minha mãe, que veio de lá.

Lilith levantou-se do chão e bateu na calça jeans para tirar as manchas de poeira.

– Sou Lilith Lightwood. Tenho onze anos e estou no início da sexta série. Tudo o que faço é tocar e tirar fotografias... E acho que só.

Nico olhou ao redor mais uma vez.

– Venha, vamos sair daqui.

Juntos, os dois saíram do depósito do zelador e depararam-se com um corredor totalmente vazio.

– Então... De qual escola você veio?

– A questão é de qual cidade eu vim – disse Nico. – Morei durante muito tempo em Nashville, mas me mudei para Little Rock cinco anos atrás. E saí de lá para vir para cá.

– Tennessee, Arkansas e enfim, a boa e velha New York, em uma escola como a Half Bloody. Seu pai deve ser cheio da grana também.

Nico deu de ombros.

– Meu pai é empresário. Um saco. – então, mudou bruscamente de assunto. – Você já vai embora? Ou vai ficar para ver o fim do concurso.

Era uma boa pergunta. O que ela faria? Seguiria seus impulsos ou iria embora, enterrando o episódio na memória para sempre? Mas Lilith decidiu misturar as duas opções.

– Não. Vou ficar, mas não para ver o fim. Vou me vingar.

. . .

Quando Thalia acordou e viu a combinação vestido sob sua cama + seu pai, gritou de susto. Tentou respirar fundo e conter a respiração acelerada pelo horror que estava a sua frente: um vestido longo, rosa pink, cheio de tule e babados.

– Ah, meu Deus. Pai, o que é isso?!

– Minha última tentativa desesperada de mudar seu estilo.

Thalia abriu a boca, incrédula. Como foi que ele disse?!

– Rosa Pink? Você deve estar brincando com a minha cara.

– Não, você é quem vem brincando com a minha cara – disse Zeus. – Filha, preto é legal, mas não acha que você já está ficando até com cara de enterro?

Ela sentiu a face queimar de raiva. Cara de enterro? Então ela precisava matar alguém para usar preto livremente? Que tipo de raciocínio era aquele?!

– Esse vestido é que está com cara de enterro. Sabe de quem? Dele mesmo, porque eu vou jogá-lo no Oceano Pacífico agora para que possa ser comido por tubarões!

Thalia agarrou o vestido e correu para a porta o mais rápido que pôde, porém não foi o suficiente. Zeus também era rápido, e não foi difícil para ele interceptar a porta.

– Thalia! Não complique as coisas, minha filha! – pediu, apontando para a cama. – Sente-se, querida. Vamos conversar.

– Não quero conversar sobre esse vestido ridículo! Vou vestida como eu bem entender para esse jantar, ouviu bem? Por que não dá um sermão nesses no Jason, ao invés de em mim?

– Jason tem smokings a caráter. Eu acho. Mas não importa, não quero conversar sobre roupas e demais coisas femininas. O assunto é bem mais sério.

Thalia ainda não estava de todo confiante se seu pai não ia insistir no assunto “adeus, preto”, mas obedeceu-o e sentou-se nem sua cama.

– Querida, eu gostaria de falar sobre isso com Jason aqui, porque realmente... O que eu tenho a tratar é sobre o futuro de vocês.

– Universidade – completou Thalia, com um suspiro. – Bem, se o senhor quer mesmo falar disso... Vou até o dormitório dele. Não sei o número, mas sei com quem conseguir.

– E posso saber com quem?

– Nico. Tenho o número do dormitório dele graças à irmã dele.

– Aquela moça, a Bianca di Ângelo? – perguntou Zeus. – Achei que vocês duas eram apenas colegas.

Thalia deu de ombros.

– Piper, Lilith, Bianca, Annabeth e meio que somos um quinteto agora; diga-se de passagem.

. . .

Havia várias coisas que Thalia nunca poderia esquecer. Inclusive o dia em que conheceu os amigos de Jason – inclusive o célebre Luke Castellan.

Sete anos atrás, Annabeth e Thalia estavam sentadas no carpete do quarto de Jason, lendo Sherlock Holmes – Um Estudo Em Vermelho (Thalia gosta de livros de mistério) e conversando sobre a história, quando Jason chegou do treino de basquete.

– PAI! – gritou ele, do primeiro andar. – CHEGUEI EM CASA! E EU TROUXE OS MEUS AMIGOS PARA APRESENTAR A VOCÊ!

Thalia sorriu de canto. Jason não parava de falar sobre seus amigos – tanto que ela já decora o nome de alguns deles. Se sua mente não se enganava, entre os cinco garotos havia um chamado Leo, e outro com um nome um pouco mítico... Perseu?

– O PAI NÃO TÁ EM CASA! – gritou Thalia.

Ela ouviu Jason dizer alguma coisa que ela não pôde captar e subir as escadas como um raio.

– Onde ele foi? Oi, Annabeth.

– Oi, Jason.

– Pois é, oi, Jason – disse Thalia, irônica. – Ele disse que ia precisar voltar ao aeroporto para acertar alguns detalhes da viagem à Alemanha... Hey, o que é isso aí?

Jason ergueu a sacola branca (porém não transparente) que segurava. Era grande, e parecia conter algo quadrado dentro. Seu irmão foi até a cama e despejou o conteúdo: um toca-discos*e dois discos de vinil – “Beatles For Sale” e “Yesterday And Today” – que tinha uma capa diferente da que Jason tinha (o único disco de vinil que o loiro tinha era Yesterday And Today). Nela, John, Paul, George e Ringo estavam com bonecas decapitadas nas mãos.

– O diretor Quíron soube que eu e meus amigos somos Beatlemaníacos e resolveu nos dar toca-discos e uns discos originais dos Beatles que ele tinha. A esposa dele estava cansada de tanta... Velharia – explicou, cerrando os dentes na última palavra. Então ele bufou. – Essa mulher só pode ser louca. Nada relacionado à The Beatles é velharia. E, cara, essa capa de Yesterday And Today é a “capa do açougueiro”. Sei que vocês estão pensando “Nossa, essa capa é tão feia e tão assustadora e tão nojenta e baaaahhh que nem dá vontade de olhar”, mas — as pessoas pagam ONZE MILHÕES DE DÓLARES nessa capa.

Thalia se levantou em um salto.

– Vamos vendê-la!

– De jeito nenhum! – berrou Jason. – Ela é minha e pronto. Dessa casa não sai! Agora, vamos descer. Meus amigos estão mofando lá em baixo.

Thalia e Annabeth seguiram Jason pela escadaria da mansão e foram até a cozinha, onde quatro garotos esperavam, carregando sacolas idênticas a de Jason. As duas deram uma olhada em cada um deles. O primeiro da fila tinha uma estatura mediana e tinha um ar de pegador – cabelos pretos e olhos verdes, da cor do mar, e um sorriso sacana no rosto. O garoto que estava ao lado dele era menor – parecia um dos elfos do Papai Noel. O terceiro era baixo – devia ter a altura de Thalia – e era uma mistura de rockeiro com gótico. Palidez extrema, cabelos e olhos pretos, e – claro – roupas pretas. Mas o último chamara a atenção da morena. Muito mais alto que ela, tinha cabelos loiros, olhos azuis e uma beleza inexplicável.

– Pessoal, essa é a minha irmã, Thalia – disse Jason. – A loirinha é a melhor amiga dela, a Annabeth Chase.

– Oi – disse Annabeth.

– Oi – repetiu Thalia.

– Meninas, esses aqui são meus amigos. O primeiro da esquerda para direita é Percy Jackson, o dos olhos verdes. O segundo é Leo Valdez — a carinha de elfo é graças ao seu lado mexicano. O terceiro, esse gótico rockeiro com cara de fantasma é Nico di Ângelo. Eu sei, ele parece assustador, mas relaxem, garotas. É só aparência. – em resposta, Nico lhes deu um sorriso angelical que sumiu tão rápido quanto apareceu. – O último é Luke Castellan.

– Não tenho nenhum título? – perguntou Luke, com um tom de voz sacana.

– Não – disse Jason, rindo depois.

Os garotos disseram respectivos “Ois”, exceto por Nico, que acenou. Thalia pensou ter visto Leo piscar para ela.

– Então... Algumas sugestões para um filme? – perguntou Jason.

– School Of Rock – respondeu Nico, prontamente.

– Queria uma comédia – disse Leo. – Daquelas engraçadas de verdade, como Se Beber, Não Case. Eu amo esse filme.

– A questão é que School Of Rock é melhor – Nico rebateu.

– Nem de longe.

– Faça-me rir, Valdez.

– Você não vai querer, cara gótico.

– Leo, todo mundo sabe que School Of Rock é melhor que Se Beber, Não Case.

– É exatamente o contrário, só você acha que School Of Rock é melhor que Se Beber, Não Case.

Ao seu lado, Jason sufocou uma risada e virou-se para das duas.

– Vocês vêm com a gente? – perguntou o loiro, sorrindo. Era esse o melhor em Jason. Ele não tinha toda aquela coisa de “nada da minha irmã participando dos programas com os meus amigos”. – Não se preocupem com os dois. Eles são sempre assim...

. . .

Thalia bateu quatro vezes na porta do quarto de Nico e esperou, imaginando se o garoto estava acordado àquela hora. Certo, certo – eram dez da manhã, mas ainda havia café-da-manhã no restaurante e se ela conhecia as peças raras que eram os amigos do irmão, com toda a certeza eles estavam dormindo àquela hora. Principalmente na situação em que eles estavam – um cruzeiro no meio das férias de verão. Mas, para a sua surpresa, Nico atendeu à porta vestindo jeans pretos, coturnos de couro pretos, um colete de couro preto e camiseta do 30 Seconds To Mars. Ele parecia um pouco cansado, a julgar pelas olheiras mais fundas que o normal, mas ainda era o mesmo Nico.

– Thalia?! – exclamou, arregalando os olhos.

– Oi – disse ela. – Minha nossa, minha presença é tão surpreendente assim?

Nico deu de ombros.

– Cara, eu achei que era mais provável haver um show de rock nas florestas africanas do que ver você batendo na porta do quarto em que Leo dorme sem que o seu irmão seja junto.

Ela franziu as sobrancelhas?

– O Leo dorme aí? No mesmo quarto que você?

Nico riu, e Thalia pensou se ele não foi abduzido.

– Ah, ele é irritante, mas me ama mesmo assim.

– O escambau que eu amo... – disse Leo, aproximando-se e deixando o queixo cair ao vê-la. – Thalia? Ah, cara. Nico...

– Eu sei, você me ama. Seja mais discreto, Valdez.

– Di Ângelo, eu vou te socar.

– Enfim – disse Nico, voltando-se para Thalia. – Quer entrar?

– Olha, não é por falta de educação nem nada... Mas não posso agora. É que meu pai quer uma reunião de família, então eu vim atrás do meu irmão...

Nico franziu as sobrancelhas e Leo crispou os lábios.

– Pensando bem – disse Leo –, acho que esqueci o número do quarto do Jason. É 319 ou 391?

Nico sacou o celular e abriu o aplicativo de mensagens instantâneas de modo que todos os três pudessem ver.

Gothic – “Don’t get too close, it’s dark inside” está online.

Jase G – We don’t need no education não está online no momento. Ele visualizará a sua mensagem mais tarde.

Gothic – “Don’t get too close, it’s dark inside” diz: Jason, você sabe que eu sei muito bem que você está aí. Atualize a porra do status para online de uma vez. Enfim, Thalia está aqui conosco. Qual é mesmo o número de seu quarto?

Gothic mudou seu status para “Come together, right now, over me”.

No mundo “real”, Leo começou a rir feito uma hiena.

– Acho que o Sr Gothic amanheceu irritado.

Nico ignorou o comentário, talvez por não querer matar Leo tão cedo, quem sabe. Mas ela precisava lhe dar razão: por que Jason não respondia logo a porcaria da mensagem?

Você tem uma nova mensagem.

De: Jason Grace – 10:13a.m

“Acho que o Sr Gothic amanheceu irritado, mas aposto que Leo ou Percy já disseram isso a você, então... Hm, é 319. Achei que tivesse decorado. Mas espera aí... Thalia está aí? Achei que fosse mais provável que houvesse um show de rock nas florestas africanas. E com platéia composta por elefantes, leões, búfalos e demais animais que você encontra em um safári. Ou em um filme do Rei Leão.

De: Jason Grace – 10:13a.m

“Que piadista. Venha logo, de acordo com ela, você tem uma reunião de família para comparecer.

P.S: Sim, o Leo disse que eu estou irritado. Mas como eu sou um gótico legal, decidi não matar ninguém a essa hora da manhã. Vou deixar para decapitá-lo depois. Aliás... Conhece alguém que empalhe cabeças humanas?”

De: Nico di Ângelo – 10:17a.m

– Cabeça empalhada? – perguntou Leo. – Não, obrigada.

. . .

Com Jason já em seu quarto, Thalia respirou fundo e preparou-se para ouvir seja lá o que seu pai queria dizer sobre a universidade. A garota dos cabelos pretos não imaginava que fosse algo ruim, mas o fato de Jason estar segurando a sua mão – o mesmo tom de pele branca, aliás – e a apertando com força a deixou tensa. E também havia algo mais. Estranhamente, ela queria evitar esse assunto.

– Bem, meninos... Vocês já têm dezoito anos. Dezenove pouco depois do fim desse verão. E isso é um sinal de que precisam se matricular em uma universidade assim que voltarmos do cruzeiro. Então, já que estamos nesse tópico, eu gostaria de saber que cursos vocês querem fazer.

– Veterinária – disse ela.

Thalia queria ser veterinária desde criança. Ela e Annabeth tinham um amor por animais – Thalia era vegetariana, até. Tipo, totalmente vegetariana, sem escapas para pizzas, frango assado ou alguma eventual carne em tortilhas, como era o caso de Nico.2

Ela viu seu pai assentir devagar e virar-se para Jason.

– E você, Jason?

Jason abaixou o olhar, encarando o chão, e deu de ombros, apertando a mão de Thalia com mais força.

– Não sei – murmurou. – Eu... Eu ainda estou pensando.

Zeus suspirou.

– Eu compreendo que vocês dois não queiram pensar em faculdade de jeito nenhum. Eu passei por isso quando tinha a idade de vocês. Afinal, eu passarei anos longe da minha família e nunca mais verei meus amigos por um curso que me dê uma oportunidade de trabalho. Mas vocês precisam entender que a faculdade é necessária. Essa oportunidade é tudo o que vocês terão. Sem ela, vocês não terão nenhum objetivo de vida. Nada. Agora, me digam. Algum de vocês dois já sabem para qual faculdade ir?

Thalia negou e Jason permaneceu em silêncio. Seu pai suspirou mais uma vez.

– Pensem nisso, meninos.

Zeus levantou-se e saiu do quarto, deixando os dois sozinhos. Jason soltou sua mão da de Thalia e deitou-se em sua cama, olhando para o teto.

– O pior é que ele tem razão, sabe, Thalia? Ou você abandona tudo o que tem por uma oportunidade ou fica e tudo o que você tem te abandona.

– Mas, Jason... Também não é assim. Nós voltamos da universidade um dia, e nada nos impede de rever nossos amigos.

Mas ela sentiu algo diferente em seu estômago. A sensação que você sente quando mente sem sucesso para si mesmo.

– Não é a questão de rever os amigos ou a família, Thalia. Veja o meu caso. Por exemplo, se eu fosse a uma universidade na... Hm, Virginia, e meus amigos fossem para universidades diferentes na North Carolina, eu com toda certeza poderia revê-los depois do curso ou quem sabe até durante, afinal, os dois estados são bem próximos e é para isso que servem as redes sociais, não é? Mas aí é que está o ponto. Não dá para manter uma amizade como a nossa nas redes sociais. Quer saber, chega. Não há nada a dizer.

Thalia entendia a preocupação de Jason como ninguém, mas ela nunca pensara nessa forma. Nunca pensara na questão de não rever Annabeth ou que a amizade acabasse de desgastando com o tempo. A possibilidade a assustava – não. Definitivamente aquilo não podia acontecer.

E ela percebeu outra coisa. O aperto no coração, a sensação no estômago e a dor já adiantada estava sendo compartilhada entre ela e o irmão, era o sinal de que Thalia e Jason tinham mais um ponto em comum: não conseguiam viver sem seus amigos.

. . .

Antes do jantar, Jason tentou evitar Piper várias vezes. Ele não queria vê-la tão cedo, principalmente depois do mico que pagara na frente dela na manhã daquele dia.

Quando Nico lhe enviara aquela mensagem, sem querer lhe poupara de mais vergonha. Bem que seus amigos lhe diziam: não era novidade para ninguém o fato dele simplesmente não saber chegar em garotas.

E que ele não devia tentar.

Entretanto, Jason Grace confiou em sua sorte e sentou-se ao lado de Piper durante o café da manhã, mesmo que ela estivesse sentada à mesma mesa que Bianca e Annabeth.

– Bom dia, meninas – cumprimentou Jason, tentando parecer ser educado e natural quando seu coração estava martelando.

– Hm... Bom dia, Jason – disse Bianca, com um sorrisinho no canto dos lábios.

Por algum motivo, Piper enrubesceu e desviou o olhar de Bianca.

– Oi, Jason.

E a mesa caiu em um silêncio constrangedor – principalmente se considerarmos o olhar malicioso de Annabeth e a luta interna de Bianca para esconder o riso.

– Mas e então – prosseguiu ele –, ideia legal a da sua mãe de convocar esse jantar, Annabeth. Vocês vão?

Annabeth confirmou.

– Bom, sou filha da organizadora, então minha presença é obrigatória. E vou arrastar as meninas comigo, então...

E foi pensando alto que Jason interrompeu Annabeth e assinou sua sentença de morte.

– Estou louco para ver seu vestido, Piper.

Piper arregalou os olhos e Bianca finalmente explodiu em risadas, atraindo a atenção do refeitório para os dois.

Ah. Caramba.

Então a mensagem de Nico chegou e Jason gaguejou uma desculpa qualquer para deixar a mesa e ir para a mini reunião de família.

Sinceramente, Jason nunca teve uma paixonite tão grande. Piper tinha efeitos estranhos sobre ele – desnorteava a sua mente por completo. Era a fórmula única e simples para fazer com que Jason falasse merda.

E ele ainda precisava se preocupar com a zoação. Quando aquele “episódio” chegasse aos ouvidos dos amigos... Meu Deus.

Jason passou a tarde inteira esquivando-se de Piper, ainda sobre efeito da gafe, e com a cabeça preocupada com o assunto que ele mais detestava: faculdade. Havia tantas profissões. O que ele poderia ser?

Ele realmente queria ir. Queria conhecer novas pessoas, seguir uma profissão, descobrir um talento diferente do basquete.

Mas não queria abandonar os seus amigos, queria ir para a faculdade com eles. Queria continuar sobrevivendo a base de sanduíches e pizzas e vivendo a vida que vive hoje. A vida que esperou sete anos para viver.

Mas afinal, o que ele realmente queria?


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Notas finais do capítulo

¹ Enquanto eu escrevia isso, minha mãe passou por trás de mim e disse: “Seja lá o que você estiver escrevendo sobre os toca-discos, coloque uma nota de rodapé sobre. Vá por mim, acho que todo mundo sabe o que são, mas vá saber. Essa nova geração é imprevisível, minha filha”. Então, estou colocando isso aqui. Antigamente, os toca-discos tinham a função do MP3, a diferença é que eram bem maiores e reproduziam discos de vinil – grandes discos pretos com duas faces diferentes. você só precisava encaixá-los no toca discos e colocar a agulha por cima. Voilá: Música fresquinha.

² Infelizmente, por mais que queira, Annabeth não consegue viver sem carne.

Então, não tenho muito o que dizer aqui exceto isso: O que vocês acharam? Comentem pelo amor de Deus, quero opiniões! E quanto ao próximo capítulo... Bem, ele sai assim que der. Mas eu não vou demorar um mês, assim como eu não demorei um mês para postar esse (digo, foram só três semanas, certo? Ou errado? O.o).

Kisses,

Mel ♥