Depois da tragédia que aconteceu na hora da fogueira, Nico não conseguia mais suportar ficar perto de Percy. Talvez ele devesse se aproximar para conseguir repetir o acontecido e ouvir o que o filho de Poseidon tinha para dizer. Mas mesmo assim fazia justamente o contrário: se afastava e tentava ignorar os acontecimentos.

Tentava. Pois haviam também sentimentos em jogo.

Tocou a própria têmpora com a intenção de amenizar a dor de cabeça. Ele passara as últimas duas noites em claro, sem sono graças aos milhares de pensamentos borbulhando em sua cabeça. Sem contar que Valentinna não parava de persegui-lo para saber do relacionamento entre ele e Percy, que mesmo ele tendo insistido que não havia nada, a garota continuava teimando. Ou seja, nesse exato momento, ela estava com ele no chalé de Hades, tagarelando sobre um negócio de "fujoshi" e "yaoi" enquanto Nico simplesmente assentia, sem entender uma palavra sequer.

— Ai, Nico, tem que... - ela fez uma pausa - Ei! Você está prestando atenção no que eu to falando?

— Por incrível que pareça, sim. - reclamou o moreno - Mas você fica falando de coisas estranhas. Tipo, até parece que eu sei o que é Aoi, sei lá...

— Yaoi. - corrigiu.

— Tanto faz.

— Não! - ela suspirou - Nico, será que você ainda não percebeu que eu estou tentando te ajudar?

— Não parece. - disse, grosseiro.

No momento em que terminou a frase, se arrependeu. Os olhos da menina se encheram de lágrimas e assumiram um brilho raivoso. O coração de Nico apertou: maravilha, tinha perdido uma amiga. Desejou de todas as formas não se importar.

— Escuta aqui, di Angelo. - seu tom de voz não era de quem brigava, e sim daquelas mães que vão dar um bronca se fizer mais alguma coisa - Não é culpa minha se você não me explica como você prefere que eu te ajude. Mas eu realmente acreditava que você fosse meu amigo de verdade, e sabe o que a gente faz quando um amigo precisa da gente? Tentamos ajudar. Não sei se você percebeu, mas estou tentando de alguma forma te ajudar. Agora não adianta você ficar olhando para mim com essa cara de quem tá de saco cheio, porque não via mudar nada! A única coisa que adiantaria, seria expressar seus sentimentos.

Valentinna respirou fundo. Seus olhos agora transbordavam apenas tristeza e preocupação, e Nico começava cada vez mais a acreditar que essa garota podia ser realmente sua amiga.

— Eu só quero poder te dar um apoio! - uma lágrima escapou e ela logo a enxugou - Por que insiste tanto em se fazer de forte? Ninguém tão indiferente assim!

Então ele percebeu que talvez não fosse o único com grandes problemas ali. Muito hesitante, acabou por estender os braços para Valentinna. Odiava abraços, mas parecia certo no momento. Ela se atirou aos braços do garoto, que a envolveu mais hesitante ainda.

Alguém tinha que registrar esse momento afinal, é agora que o mundo acaba.

Valentinna se soltou e enxugou as lágrimas com as costas da mão. Nico observava cada movimento, com medo do que ela iria falar quando "se acalmasse". Mas ouviu dos lábios dela a ultima coisa que imaginava:

— Me desculpe.

— Claro. E... me desculpa também. - Nico inspirou e tomou coragem de perguntar - Certo, então como você pretende me ajudar?

Mesmo com os olhos ainda vermelhos de lágrimas, o sorriso maléfico dela foi capaz de assustar.

— Vamos ao plano, Niquito.

Um tempo depois...