Pov’s Rapunzel

Desde aquele sonho tenho refletido muito sobre o que acontecera comigo essa semana. Pesadelos, vi as lanternas, conheci e o mundo e principalmente, Jack Frost, a única pessoa - além da minha mãe – que já conversei. Alguma coisa nele me fazia sentir segura. Nem mesmo aqueles pesadelos me faziam desconfiar dele. Afinal, sonho é sonho. Quando sai daquela torre, consegui enxergar a parte boa no mundo que até ai nunca tinha ouvido falar. Minha mãe só me contava que o mundo era cruel e egoísta e que ninguém era bom lá fora. Mas ela certamente está errada. Jack fez muito por mim e de bom animo. Eu ainda estava meio boba com o fato de ninguém além de mim poder vê-lo. Ele tem poderes, poderes de verdade! Como isso seria possível? Pessoas tem poderes? Espera, ele é real? Ou é apenas uma alucinação muito louca da minha mente?

A noite já tinha caído. Meu cabelo estava todo despenteado, como não tinha nada pra fazer, fiquei umas meia hora fazendo nele uma trança. Me bateu uma cede danada então desci meio trêmula e fui na cozinha beber água.

Quando cheguei lá, ouvi uma pedrinha bater na vidraça, então outra bateu, e depois outra. Como achei estranho, fui lá ver o que era. Jack que estava me chamando

– Hey loira! – olhei para Jack como se ele fosse um monstro do pântano

– J-Jack?

– Sua mãe está ai?

– Silêncio, ela está dormindo – sussurrei

– Preciso falar com você

– Sobe aqui

– Não teria como descer?

– Por que você não sobe?

– É melhor se você descer – ouvi passos ali perto

– Jack, você trouxe alguém com você? – olhei desconfiada

– Desce aqui e eu explico tudo – opa, se ele tivesse trazido alguém? E se o meu sonho fosse uma visão do que ia acontecer? "Se liga Rapunzel, é só o Jack, ele não vai fazer nada como você"
– me acalmei

– Tudo bem – mandei embora toda e qualquer desconfiança, amarrei meu cabelo em um gancho que havia na janela e desci

– Oi Rapunzel!

– Oi Jack – não pude me conter e sorri

– Como vai? – ele pegou a minha mão

– Muito melhor agora

– Fico feliz que você está bem - ele sorriu e soltou minha mão

– O que quer falar comigo?

– Olhe ao seu redor. Ver algo estranho?

– Não, tudo normal – olhei curiosa

– Eu sei que pode parecer estranho mas você está vendo alguém?

– Não – olhei novamente – Deveria ver? Tem alguém escondido aqui?

– Só se acreditar que tem – olhei pra ele tipo "Ahññ?"

– Como assim?

– Se lembra quando disse que ninguém me via além de você?

– Sim

– E descobri o porque.

– Conte-me – fiquei curiosa

– Olha, é meio perplexo e pode parecer loucura mas por favor acredite é muito real – ele respirou profundamente – Eu estou morto

– Morto? Como morto? Eu estou te vendo Jack!

– Eu sei, mas eu realmente estou morto – abri minha boca em um “o” perfeito

– Então isso é uma alucinação e eu sou uma louca?

– Não – ele riu abafado – Você não é louca. E eu não sou uma alucinação. Na verdade eu não sei bem o que eu sou. Mas para as pessoas me verem elas precisam acreditar em mim e você de alguma forma acredita

– Acreditar... sim eu acredito... todo ano no inverno ela diz para mim me agasalhar se não Jack Frost iria me congelar. E eu acreditava nisso porque eu passava muito frio e pensava que era você. – rimos – Mas você seria uma espécie de conto ou mito?

– Acho que sim. Você acredita em mais algum conto?

– Eu acreditava em vários outros mas depois parei

– Você acreditava nas Fada dos Dentes?

– Sim. Segundo o que minha mãe disse, ela não era uma fada, era uma bruxa que arrancava os dentes das crianças mal criadas de noite quando dormisse. Ela odiava cáries nos dentes e se você tivesse ela apodrecia todos os dentes restantes.

– Não me diga que você acreditava nisso?

– Por um tempo sim, eu tinha cinco anos quando ouvi isso.

– E no Papai Noel? Já ouviu falar?

– Ah, no homem que pisa nos seus presentes de natal? Sim, já ouvi, eu nunca acreditei nele!

– No Coelho da Páscoa?

– Hum, Coelho da Páscoa? Ouvi falar de um coelho mal que odiava crianças mas não lembro de que ele era da Páscoa. O que é Páscoa?

– Não sei te explicar. Sandman? Já ouviu?

– Desse não

– Você se lembra do Breu?

– Sim – poxa vida, o Breu, me esqueci completamente que ele era também pura loucura, um ser que podia controlar as sombras e a escuridão

– Lembra de que ele é o Bicho Papão?

– Ah é, tinha me esquecido

– Pois é, nele você acredita?

– É, confesso que sim. Tudo que as lendas e mitos dizem que ele faz acontecem.

– Como os pesadelos?

– Acho que sim... então você acha que mandou aquele pesadelo

– Tenho certeza. Você acha que essas outras lendas são reais? Acredita nelas?

– Não mais

– Nem devia acreditar. A Fada dos Dentes, o Papai Noel, o Coelho da Páscoa e Sandman existem!

– Existem?

– Sim, eu posso vê-los. Eles não são como os mitos falam. O Papai Noel é quem entrega brinquedos no Natal, o Coelho da Páscoa esconde ovos da Páscoa para as crianças encontrarem, Sandman é o responsável pelos sonhos e a Fada dos Dentes é uma fada que recolhe os dentes de leite e os troca por moedinhas ou alguma guloseima, basta colocar os dentinhos que caem debaixo do seu travesseiro que ela os pega. Eles estão bem aqui – pronto, agora eu estava confusa

– Aqui? Bem aqui?

– Eles não são maus Rapunzel, são bondosos e gentis e até muito legais. Só precisa acreditar

– Eu não sei Jack, isso parece ser muito simples

– Confia em mim – ela piscou pra mim

– Vou tentar – fechei meus olhos – Eu acredito neles – quando abri meus olhos... levei um belo de um susto

– E então?

– DE ONDE VOCES VIERAM?

– Consegue vê-los? – assenti

– Eles existem! Uou! – pude ver um homem de vermelho, grande e barbudo, uma fada que lembrava um beija-flor, um coelho enorme e um carinha dourado e simpático me acenando

– Oi Rapunzel! Eu sou a Fada dos Dentes

– Olá Fada, muito prazer – sorri

– Jack disse o quanto é bonita e não exagerou nem um pouco – olhei para Jack e ele fez cara de paisagem

– Obrigada Fada, mas você que é muito bonita – não menti porque ela era mesmo

– Que isso! Oh, não acredito, poderia ver seus dentes?

– Ah, claro – pergunta incomum essa não?

– São tão perfeitos e branquinhos – ela abriu minha boca e olhou meus dentes, foi meio estranho mas gostei dos elogios

– Não como os meus né Fada? – Jack sem graça falou

– Sei não Jack – ela respondeu e o coelho soltou uma risadinha

– Você recolheu meus dentes?

– Hum, eu não sei Rapunzel, acho que não, nem eu fazia ideia que você morava aqui nessa torre, ela é muito escondida.

– É tão escondida que mesmo que eu pudesse lhe entregar seus presentes de natal não lhe acharia – o homem barbudo falou

– Você é o Papai Noel não? – sorri a ele

– Sim, mas meu nome é Norte, tem se comportado muito bem Rapunzel, está na lista dos mocinhos

– Faço o possível Norte. – o carinha dourado me cumprimentou com uma espécie de chapéu acima de sua cabeça

– Olá... Sadman – em cima de sua cabeça apareceu seu nome feito de areia dourada que depois se desmanchou.

– Nãos e esqueça de mim

– Coelho da Páscoa. Como devo lhe chamar?

– Coelhão por favor

– Tudo bem Coelhão?

– Muito bem senhorita, feliz páscoa adiantada – ele tirou de sua bolsa um ovo enfeitado pra mim

– Oh, muito obrigada Coelhão, nunca ganhei um ovo de Páscoa na vida. Me desculpe mas nunca ouvi falar de Páscoa

– É, desde a Idade das Trevas a Páscoa foi extinta

– Poderia me explicar como é? Porque se a Páscoa tiver ovos lindos iguais a este é a Páscoa já é a minha época favorita

– Gostei dela! Queria que me tratassem da devida maneira – ele lançou um olhar fominante para Jack

– E eu queria saber porque não tive essa recepção calorosa

– É um crianção mesmo hein Frost! – todos nós rimos

– Então, decidiram me fazer um visita?

– Não exatamente, precisamos da sua ajuda, a Páscoa é amanhã e ninguém vai achar os ovos da Páscoa

– E o que poderia fazer?

– Incentivar os outros a procurar, no dia que você e o Jack foram a Corona no dia do seu aniversário, 15 crianças deixaram de acreditar em Breu e isso é muito bom

– Eu adoraria ajudar mas, não posso – olhei para a torre torcendo para a minha mãe não acordar.

– Entendo, mas e se ela não acordar?

– É muito arriscado

– Sand? Pode? – o carinha piscou pra mim

– Ele pode fazer sua mãe dormir até amanhã

– Pode?

– Se ele adormece-la você nos ajuda?

– Mas é claro – então Jack me levou de volta a torre e eu e Sandman entramos lá (ele foi voando ok?). Minha mãe tinha acabado de acordar

– Rapunzel você está ai, dormiu bem querida?

– Oi mamãe – Sandman jogou um pozinho e ela caiu (literalmente) no sono. Por sorte, ela caiu no sofá então não tive o trabalho de leva-la até seu quarto. Depois, desci da torre com Sandman

– Pronto, agora podemos ir

– Otimo, Rapunzel você tem medo de altura?

– Não, porque?

– Bom, porque senão Coelhão terá uma colega de gritos – ele revirou os olhos; os segui até depois da floresta, dei de cara com um enorme não-sei-o-que vermelho e extravagante.

– O que é exatamente isso Norte?

– Nosso transporte

– Apenas um trenó Rapunzel – Coelhão cochichou pra mim

– Apenas um trenó? Eu ouvi essa sabichão

– Me dê sua mão – Jack já dentro do trenó me ajudou a subir, fiquei ao lado de Jack e Fada

O trenó subiu com tudo. Senti um frio na barriga e involuntariamente apertei a mão de Jack, ele sorriu

– Se ficar com medo pode segurar minha mão

– Desculpe– larguei sua mão – Não estou com medo

– Tá bom então, você está bem?

– Sim obrigada. Norte, onde vamos? – fiz questão de mudar de assunto

– Ao Polo Norte, preciso lhe mostrar uma coisa, acho que você pode saber

Uma corrente fria estava vindo em direção contrária a nossa e eu estava ficando congelada lá em cima. Me cobri com meus braços.

– Está com frio? Se quiser eu posso...

– Não se incomode

– Não é incomodo algum – ele fez um movimento com a mão e a corrente fria mudou de direção

– Obrigada – sorri fraco e olhei pro outro lado

– Você está estranha

– Eu? Não! É impressão sua

– Não é não, você está estranha sim

– Estou nada

– Está sim

– Não estou

– Está sim

– Não estou

– Está sim, o que aconteceu Rapunzel?

– Não aconteceu nada

– Aconteceu sim, fala o que ouve, você está estranha. E é comigo, te fiz alguma coisa?

– Não, você não fez nada, nem quero que faça

– Ahááá! Eu sabia! Fala o que você não quer que eu faça?

– Nada já disse!

– Fala! O que foi caramba! Tem a ver com a sua mãe? Você não queria ter vindo? O que houve?

– Nada eu já disse, para de perguntar

– Poxa loira fala logo! – depois que eu ouvi a palavra "loira" mudei de humor

– Loira? NÃO ME CHAME DE LOIRA JACK FROST! – todos olharam pra mim assustados

– Tá bom, não te chamo de loira, só me diz porque está me tratando assim

– Não estou te tratando diferente que coisa! E como você quer que eu te trate? "Oi Jack, estou com friozinho pode me abraçar?"

– Não precisa ser grossa, foi só uma pergunta

– E já respondi

– Aññññññññññh, falta muito pra gente chegar Norte? – Coelhão perguntou percebendo o mau clima

– Agora já dá para usar o atalho, então não – ele jogou um globo de neve que virou um portal; entramos nele

O silêncio reinou naquele momento, só era desviado alguns segundos por Coelhão e seus surtos de desespero no trenó.

...