Haru no Tenshi escrita por annaLI


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews, meninas!! Vocês são demais :) Espero que gostem do cap. ^^



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Ele era só uma criança. Nem estava no primário ainda, mas num passeio da escolinha todos foram conhecer uma plantação de girassóis não muito longe da cidade. No caminho de volta, ele estava sentado ao lado da sua amiga, a única amiga que ele se lembrava de ter na época. Ele estava sentado ao lado da janela para a qual ela de repente começou a apontar, observando uma folhagem que se estendia pela estrada na qual passavam. Era uma folhagem longa e dourada que ficava pendurada como se estivesse enfeitando a estrada e parecia brilhar à luz da tarde de primavera.

– Olha, Syaoran-kun! Daí você pode até tocar!

Sayoran deu uma olhada rápida na professora sentada no primeiro banco. Tinham recebido instruções de não soltar os cintos de segurança ou levantar em hipótese alguma, mas a professora não estava olhando na direção deles, não ia perceber.

– Você quer trocar de lugar? – Ele sussurrou para ela.

Ela sorriu travessa em concordância. Eles trocaram de lugar rápida e silenciosamente, segurando risadinhas. Já acomodada, Sakura só precisou por para fora as pontas dos dedos, pois a folhagem estava praticamente encostando no ônibus. Syaoran não era capaz de lembrar o tempo exato, o certo é que tinha sido pouquíssimo tempo. Ele ainda estava sorrindo para a menina ao seu lado quando aconteceu a tragédia.

Sakura, a doce e alegre Sakura se fora. Era incrível que ele conseguisse lembrar detalhes do que acontecera naquele dia e, ao mesmo tempo, era bem difícil lembrar-se da figura da amiga. Ele já não sabia descrever nada de sua aparência além dos olhos, seus olhos muito expressivos cor de esmeralda.

Ele acordou depois de um sonho que já tinha como um vídeo gravado em sua mente por muitos anos. Nesse sonho ele estava num lugar muito colorido, colorido como a primavera, mas que ao mesmo tempo era coberto por uma densa névoa. Seu pai aparecia segurando a mão de uma criança, nenhum dos dois tinha o rosto exatamente visível por causa da névoa, mas ele reconhecia as vozes que o chamavam. Ele tentava segui-los, mas acabava completamente perdido no jardim enevoado.

Syaoran acordou se sentindo mais cansando que antes. Chegando na cozinha teve uma surpresa, Sakura já estava tomando o café da manhã e ao invés do vestido do dia anterior, usava uma camisa de Syaoran. Uma camisa xadrez de mangas compridas que ele ganhara, mas nunca usara porque era uns três números acima do seu. Em Sakura estava quase maior que o antigo vestido.

– Onde você pegou isso?

– Oh, bom-dia, Syaoran! Está falando da camisa? Wei me deu... ele disse que você não se importaria, mas ele também colocou meu vestido para lavar e garantiu que vou poder usar ele de novo hoje.

– Hum – Syaoran serviu sua própria refeição e começou a comer. – E onde ele está?

– Ele disse que ia na lavanderia buscar meu vestido... Hmm, Syaoran?

– O quê?

– Eu perguntei do Wei se podíamos ter okonomiyaki para o café da manhã ele disse que poderia comprar hoje os ingredientes para fazer mais tarde, mas ele disse que você faz okonomiyaki muito melhor que ele...

– Ah, então agora você quer okonomiyaki?

– Você vai fazer? Por favor! Por favor! Eu sempre tive vontade de comer as comidas dos humanos... eu nunca pude, apesar do cheiro me deixar louca!

– Como é? Então você nunca tinha provado comida humana? – Syaoran acabou rindo – Como era a comida que serviam no planeta em que você vivia antes de vir para a Terra?

– Olha, eu sei que vai ser difícil para você compreender, mas afinal nós estamos nessa juntos e eu preciso que você colabore, então vou lhe contar tudo, certo? – ela começou a falar de um jeito mais cauteloso.

Estava com a cabeça inclinada para a frente por cima da mesa e antes de continuar deu uma olhada para a porta fechada da cozinha.

– A verdade é que eu sou um anjo – disse ela com um quase sussurro.

– Aaah... anjo?

Como se não tivesse percebido o tom irônico do homem a sua frente, ela prosseguiu.

– Isso mesmo. Eu vim aqui para protegê-lo e para conseguir isso, eu preciso, PRECISO que você me deixe ficar sempre por perto... Entende?

– Ah, sim, eu entendo... - Syaoran respondeu. Para ele estava claro que a batida na cabeça da moça tinha sido mesmo bem forte, ela estava até tendo alucinações. Ou, quem sabe, ela era mesmo louca como ele já suspeitara.

Wei voltou para a cozinha nesse momento, avisando que tinha levado o vestido da jovem para o quarto de hóspedes. Sakura agradeceu pela comida e já estava se retirando da cozinha quando retornou da porta para falar com Syaoran.

– Eehh... Syaoran?

– O quê agora?

– Eehh... você pode me arranjar algumas roupas?

– Como é?

– Tudo que eu tenho é aquele vestido e eu sei que as pessoas por aqui usam todo o tipo de roupas lindas e coloridas...

Ela o olhava em expectativa, para demonstrar melhor a gravidade de sua situação estendeu as mãos cobertas pela manga da camisa dele que eram bem mais compridas que seus braços. Olhando aquilo ele pensou um pouco e respondeu com um suspiro.

– Quer saber? Eu posso sim arranjar roupas para você e, melhor ainda, posso lhe arranjar um emprego para que você possa pagar por elas.

– De verdade? Obrigada! Obrigada mesmo!

Podia até ser perigoso deixá-la sozinha com Wei. Era melhor tê-la por perto, onde poderia ser controlada.

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Sakura parecia descontrolada de entusiasmo diante da perspectiva de andar de automóvel e também com o emprego que lhe permitiria ficar no mesmo lugar que Syaoran o dia todo. Logo eles estavam entrando num reluzente carro que fora apanhá-los.

– Que lugar é esse onde vamos trabalhar? – Sakura perguntou empolgada.

– Você já vai saber – foi tudo que Syaoran respondeu, sem desviar os olhos do jornal que lia, sentado ao lado dela.

O motorista, um homem de meia-idade, lançou a Sakura um olhar amigável e risonho pelo retrovisor interno e ela passou a interrogá-lo pelo resto do caminho. Quando finalmente o homem anunciou que tinham chegado ela olhou para o lado e prendeu a respiração diante da beleza do prédio que viu. Era bem menor que alguns arranha-céus nas redondezas, mas não menos imponente. Devia ter uns quatro andares e tinha um estilo bem moderno, exceto que por cima da fachada foram colocadas colunas vermelhas e telhas que remetiam à arquitetura oriental antiga, destoando propositalmente de todo o resto, que era feito de vidro e ferro. Sakura logo percebeu que todas aquelas paredes de vidro eram na verdade vitrines que deixavam à mostra roupas e outros acessórios maravilhosos que faziam encher os olhos. Acima das portas de entrada havia grandes caracteres dourados representando um nome.

– Isso é uma loja?... Quem é Li Xiu Hua? Algum parente seu? – Sakura perguntou a Syaoran enquanto subiam as escadas que conduziam à entrada.

– Não me diga que os anjos também sabem ler chinês!?

– Bom, nós anjos temos uma linguagem própria, mas também podemos entender e nos comunicar em qualquer linguagem humana...

Antes que ele pudesse dizer alguma outra coisa, já tinha destrancado as largas portas de vidro e uma mulher sorridente se aproximou com uma imediata reverência a Syaoran.

– Bom dia, Li-san. – E acrescentou outro “bom-dia” educado à Sakura.

– Bom dia. Ehh... Okabe-san, esta jovem se chama Sakura e vai trabalhar aqui agora. Você sabe de algum setor que esteja precisando de ajuda extra?

– Bem, como o senhor sabe, a única vaga disponível atualmente é no setor de marketing, mas uma ajuda extra é sempre bem-vinda... Posso encaixá-la em algum lugar...

– Ótimo, faça isso. Ela é... uma amiga da minha família que vai ficar na cidade por um tempo... – e vendo que Sakura já estava alisando a saia de um manequim, ele acrescentou: - Ehh... minha mãe faz questão de que ela receba um presente de boas-vindas, então... deixe que ela escolha algumas peças mais tarde e mande que elas sejam entregues no meu apartamento.

– Sim, senhor.

– Sakura, esta é Eri Okabe. Vai ser sua gerente, você deve fazer tudo que ela pedir, ok?

– Ok! – Sakura respondeu, prontamente e depois vendo que ele se afastava: - Aonde você vai?

– Para minha sala – disse ele antes que as portas do elevador se fechassem, encobrindo-o.

– Ehh, nós poderemos ver se ele sair? – Sakura perguntou a sua gerente, preocupada, logo em seguida.

– Hmm, é muito raro ele aparecer por aqui. Geralmente ele entra e sai pelo estacionamento que fica no subterrâneo... – depois, meio que tentando tranquiliza-la, acrescentou: - Mas ele pode mandar avisá-la se sair... Agora, Sakura-san, por favor sente-se aqui. – Ela indicou a Sakura um elegante sofá redondo. – Qual a sua experiência de trabalho?

– Ehhh... na verdade, eu nunca trabalhei antes... – ela respondeu, com um sorriso amarelo – mas não se preocupe, eu gosto muito de aprender!!

Eri Okabe levantou uma sobrancelha. Ela estava pensando que Sakura deveria ser de alguma família rica que perdera todo o dinheiro ou algo assim por causa do que ouvira de Syaoran e do que acabava de ouvir dela.

– Certo. Bem, então vou lhe ensinar algumas coisas básicas para fazer hoje... Venha comigo, vou arranjar um uniforme para você. Ainda temos uma hora antes de abrir.

Dali a alguns minutos, Sakura estava com um terninho preto e dourado como o da própria Okabe e a gerente a instruía sobre o modo correto de dobrar camisas de seda. Depois que Sakura parecia já ter pegado o jeito, ela se afastou para cuidar de outras obrigações. Enquanto isso, outros funcionários continuavam chegando, com seus ternos e terninhos idênticos. Quando Sakura levantou o rosto para responder a um “bom-dia a todos” particularmente animado, deparou-se com uma surpresa.

– Bom dia... Anjo F!?

– Ora, ora... – O homem alto e louro, que não estava usando a vestimenta padrão, diante dela ficou impressionado por alguns instantes e depois alargou o sorriso.

– Bom dia Fay-san – Okabe estava de volta – Já conheceu minha nova funcionária. Essa é Sakura.

– Encantado, minha bela jovem – ele disse com uma profunda reverência que Sakura retribuiu feliz. Estava com vontade de começar a fazer muitas perguntas, mas sabia que não seria certo na frente da gerente. Então Fay prosseguiu: - Mas como assim? Eu precisando de um assistente e é você quem ganha uma nova funcionária? Acho que vou ter uma conversinha com o chefe a respeito disso. Vou querer reivindicá-la para mim.

– M-mas, Fay-san. Ela não possui as exigências necessárias para o seu departamento...

– Ora, vamos! Você sabe que entender de marketing é o de menos, tudo que eu quero é alguém com quem conversar e tomar chá – ele piscou para a mulher e depois se dirigiu a Sakura: - O que acha? Pode ser minha aprendiz! Venha comigo que eu dou um jeito no chefinho...

– Eu ficaria mais perto de Syaoran? – Sakura perguntou.

– Ficaria sim – ele disse, estendendo uma mão a ela. – Eri-san, você se importa?

A mulher parecia atônita com a cena e apenas meneou a cabeça, falando:

– Você é quem sabe...

Assim que entraram no elevador, Sakura começou a falar tudo que vinha querendo.

– É você mesmo, não é? Você! Você se tornou uma lenda! Ninguém nunca explicou direito porque você nunca voltou daquela missão... Só disseram que você tinha decidido ficar como humano na Terra... O que aconteceu afinal? Você fracassou na missão, ficou com medo de Yuuko-sama, por isso não quis voltar?

Fay esperou que ela terminasse de falar e respondeu calmamente sem deixar de sorrir:

– Não, a missão foi bem sucedida. Eu apenas... acabei encontrando motivos para querer ficar...

Sakura ficou alguns segundos tentando imaginar que motivos poderiam fazer com que alguém tomasse tal decisão e não conseguiu encontrar nenhum suficientemente forte.

– Ah, anjo F, de qualquer forma é tão bom encontrá-lo aqui! As coisas lá em cima nunca mais foram as mesmas sem você...

– Fico feliz de ficar sabendo que fiz falta... mas, me conte anjo S, o que a traz aqui disfarçada de mortal?

Sakura explicou a ele tudo sobre sua missão e como sua própria existência dependia do seu sucesso. Os dois tinham chegado a sala de Fay e ele já servira uma xícara de chá para cada um quando ela finalizou sua história. Fay soltou um leve assobio.

– Quem diria! Se não fosse por você nosso chefinho não estaria mais aqui... ele deve estar se sentindo realmente atormentado...

– Você tem alguma idéia do que pode estar acontecendo? Até agora não pude perceber nada errado com a vida dele... nada que justificasse o que ele tentou fazer... Se eu pudesse descobrir qual o problema poderia ajudá-lo de verdade.

– Bom, a única possibilidade que me vem a cabeça é uma coisa que ouvi do melhor amigo dele, que é meu amigo também, há algum tempo... Ele disse que parece que a loja está enfrentando problemas, mas Li-san não deu muitos detalhes... Essa loja é um negócio de família. Acredito que ele sentiria que falhou completamente se esse negócio afundasse.

– Um negócio de família?

– Sim. Quem fundou a loja foi a avó dele quando se mudou para cá com o marido. A loja ainda tem o nome dela.

– Li Xiu Hua?

– Isso mesmo. Eles eram pessoas muito importantes onde moravam na China, mas perderam boa parte de seus bens antes de vir para cá. Aqui ela começou a costurar roupas de acordo com a moda e a elegância que já conhecia e, aos poucos, começou a ficar famosa pela qualidade das roupas que vendia... Logo as mais elegantes damas da sociedade começaram a freqüentar sua loja, depois não eram mais só as damas, mas também seus maridos e filhos. Dizem que naquela época era tradição as meninas de famílias ricas virem aqui para comprar o vestido com que seriam apresentadas à sociedade e isso ainda acontece até hoje. Depois que ela morreu, seu filho assumiu o negócio e continuou a transformar a Li Xiu Hua num verdadeiro templo da elegância e da sofisticação. Ele era apaixonado pelo lugar assim como a mãe, mas morreu ainda bem novo, quando o jovem Li de hoje era apenas um adolescente.

– Ele morreu de quê?

– Parece que foi num acidente de avião...

– Nossa! Acho que Syaoran ainda deve sentir a falta dele...

– É e se você me perguntasse, eu diria que o jovem Li não tem a mesma paixão pelo negócio da família quanto tinham seu pai e sua avó. Talvez por isso seja especialmente difícil para ele superar as crises.

Sakura passou alguns segundos pesando tudo que ele tinha dito até lembrar-se de uma coisa que queria perguntar a ele.

– E você sabe quem é Sakura?

– Sakura é você – ele disse com uma risada.

– Não. Eu quero saber se você sabe de alguma outra Sakura que ele conhece... Sim. No dia do... acidente... ele não parava de chamar o pai e também pronunciava o nome Sakura... acho que é alguém que ele conhece...

– Sinto muito. Não sei de nenhuma outra Sakura que ele conheça.

Anjo S suspirou. Sentia que assim como o pai de Syaoran, “Sakura”, fosse quem fosse, também tinha a ver com os problemas que afligiam seu protegido.

– Anjo F Fay-san, por favor me ajude a ajudar o Syaoran!

– Anjo S Sakura-chan... – Ele pôs uma mão no rosto determinado da jovem a sua frente, sorrindo-lhe com gentileza – Você sabe que pode contar comigo!


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Notas finais do capítulo

Té mais ;*