A-Next: Beyond Frontiers escrita por Joke


Capítulo 14
James




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Capítulo 14 – James Rogers

– Steve, você deveria descansar um pouco. Está com ele a quase dois dias inteiros. – A voz da minha mãe é a primeira que consigo escutar depois de passar um bom tempo fora do ar. E quando digo “fora do ar”, seria equivalente a estar completamente apagado. – Eu fico um pouco com ele agora, vá comer alguma coisa.

– Da última vez que saí de perto dele, não voltei tão cedo como imaginava – ouço um breve e pesado suspiro. A voz entrega o cansaço do meu pai, contudo, também exibe sua determinação em permanecer onde está. – Não acredito que deixei isso acontecer...

– A culpa não foi sua, Steve – a voz firme da Viúva Negra corta o lamento do Capitão. – Não foi de ninguém. James sabia dos riscos quando aceitou fazer parte do A-Next.

– Não estou falando apenas disso, Nat – ele replica neutro. – O casamento, nós deveríamos ter previsto! Mas baixamos a guarda e muitas vidas pagaram por isso. – É impossível não reconhecer a derrota e a culpa mescladas em sua voz. Percebi que meu pai, mesmo tendo uma convivência breve com o mesmo, tem a mania de sempre colocar o peso do mundo sobre os ombros. Um fardo muito difícil de conviver nos tempos violentos de hoje.

Quando pensei que minha mãe fosse tirar essa ideia da cabeça dele, um silêncio inesperado dá um fim à conversa.

Casamento? Que casamento? O que aconteceu nele? Quem atacou?

As perguntas fazem minha cabeça doer, transmitindo a mesma para cada parte do meu corpo.

– Steve, olhe! – Minha mãe exclama, mostrando algo para o meu pai que não consigo identificar de primeira. – Está aumentando!

A dor aumenta à medida que volto a sentir meu corpo, intensificando ainda mais quando finalmente abro meus olhos. Estou cego, as luzes estão claras demais. Tento respirar, mas um cano atrapalha a onda de ar, engasgando-me.

– Tira isso dele! – Um vulto grita, arrancando o pequeno tubo plástico da minha boca. O ato alivia meu sufoco e começo a tossir enquanto engulo ar sem parar para dentro dos pulmões.

Minha vista não está das melhores, mas consigo identificar as figuras dos meus pais ao meu lado.

– James! – Braços me envolvem e puxam meu corpo. Sinto o cheiro do shampoo cítrico que minha mãe usa quando meu nariz é envolto por seus cabelos vermelhos. O abraço é quase sufocante, mas não me importo, estou realmente feliz por ser novamente capaz de sentir um toque humano.

– O que... Aconteceu? – As palavras são lentas, acompanhando meu raciocínio ainda lerdo e impreciso.

– Você não se lembra de nada? – Steve Rogers se manifesta, trazendo minha atenção. Agora percebo que a voz que antes ouvi era meramente um reflexo da evidente exaustão do meu pai. Há dois grandes buracos roxos embaixo dos olhos acentuados pelas sobrancelhas pesadas. Algumas marcas de expressão se desenvolveram tão depressa que parece ter ganhado uns 10 anos em poucos dias.

Faço um considerável esforço para tentar me lembrar de algo, mas a última recordação que tenho é de estar voltando pra casa depois de ter encontrado Steve Coulson no bar. É muito estranho estar todo enfaixado sem se lembrar do motivo.

– Você se envolveu numa luta contra o Electro no metrô – minha confusão devia ser tão evidente que Natasha nem esperou por uma resposta. – Salvou muitas vidas, mas quase se matou. Espero que tenha aprendido a lição de nunca agir por conta própria.

– É mesmo? – Nossa, a coisa deve ter sido feia mesmo pra minha memória simplesmente apagá-la. – Faz muito tempo?

– Uma semana quase. – Meu pai fala num tom neutro.

Uma semana... É quase inacreditável pensar que fiquei tanto tempo desacordado. Era normal eu ficar no máximo dois dias de cama quando Banner exagerava na força e me arrebentava no treinamento.

– Uau – é tudo o que consigo expressar, ainda absorvendo as informações. – E minha equipe, conseguiram pegar o Sexteto Sinistro? Eles se viraram bem sem mim? - Para a minha surpresa, quando digo “minha equipe”, tanto meu pai quanto minha mãe desviam os olhos dos meus, obviamente desconfortáveis com algo que não consigo identificar. – O quê? Aconteceu alguma coisa?

– James... Acho melhor conversarmos sobre esse assunto quando você estiver melhor. – Steve Rogers assume a postura de “Capitão América”. Ele não é muito bom em lidar com assuntos delicados comigo ou com a mãe, acho que facilita seu trabalho apenas fingir que tudo não passa de mais um de seus deveres como super-herói.

– Acho que deveríamos deixá-lo descansar um pouco. – Minha mãe sugere, já virando as costas para onde estou deitado.

– Não! – Eu agarro seu pulso, fazendo-a virar imediatamente pra mim. – Já tive bastante tempo pra descansar. O que tá acontecendo? Vocês não podem apenas fazer essas caras e irem embora sem me dar uma explicação! O que aconteceu com os meus amigos?! Eles estão bem? - Novamente meus pais se encaram com os mesmos olhos carregados de aflição. Céus, como eu odeio isso! – Pelo amor de deus, falem logo de uma vez!

– Aconteceu um ataque surpresa – meu pai enfim começa a falar, ignorando os olhares de censura que minha mãe lança. – Foi durante o casamento de Remy e Marie. Aquela garota... Sin... Ela e a HAMMER vieram quando menos esperávamos. - Meu queixo cai. Não é possível que a Sin tenha feito isso... Um ataque tão ousado até mesmo para alguém como ela. Pergunto-me se imaginava que poderia levar uma baita surra se o seu plano tivesse falhado. Foi um golpe de sorte, aposto. – Tivemos muitas perdas. Lorna, Kitty, Hank entre outros estão mortos... Já Howard, Elise, May, Luke, Thomas e Erika desapareceram. Não sabemos se continuam vivos.

– Como assim “desapareceram”?! E Dante e Frank? Estão mortos também? – Sinto meu coração querer ir pra minha boca de tão forte que são suas batidas.

É então que recebo:

– Frank salvou Dante do destino que os outros tiveram... Mas isso acabou drenando muita energia dele e... – Nem mesmo o Capitão é capaz de terminar a frase.

– Ele foi enterrado há dois dias junto com as outras vítimas – minha mãe termina, abaixando a cabeça. – Sinto muito.

Não tenho uma reação imediata. Conforme meu cérebro processa as palavras dos meus pais, uma enorme nuvem negra vai se formando em cima de mim, retirando qualquer resquício do meu alívio por ter acordado e transformando-o em dor. Eu já deveria ter me acostumado com a sensação, já senti tanta, principalmente no Ragnarok. Porém, as coisas não funcionam assim, e meu corpo começa a pesar cada vez mais.

Eles não podem ter evaporado do nada... Não podem. E Frank... Deus, Frank, como pude deixar isso acontecer com você? Por que não estava lá te cobrindo? Um verdadeiro amigo e parceiro teria feito isso.

Abandonei-os, e agora estão desaparecidos (e possivelmente mortos) por minha causa.

A ideia de não os ter por perto é insuportável. Não ver nunca mais Luke e Mayday trocando insultos engraçados, Thomas tentando apaziguar os nervos de todos, menos os dele próprio. Ou então Howard ter uma nova ideia, Elise fazer um truque de mágica, Frank tentar cuidar de todos nós... Ver Erika sorrir.

Sacudo a cabeça, recusando-me a aceitar os pensamentos tenebrosos. Sin não vai tirar de mim as pessoas com quem mais me importo. Essa foi a última vez que ela brincou com o fogo sem se queimar! Uma fúria imensa varre a tristeza e um novo pensamento toma conta de mim: vou encontrá-los, nem que eu tenha que ir até o fim do mundo.

Tratei meus amigos de volta.

– James? – Minha mãe me chama, preocupada. – Querido, você está tremendo.

Nada respondo, apenas tento levantar com um forte impulso pra fora da cama. Se não estivesse com tanta raiva, meu corpo já teria cedido de volta para a cama devido à dor.

– O que pensa que está fazendo?! Você acabou de acordar! – Steve tenta me fazer voltar à cama, mas afasto seus braços com um empurrão.

– Não vou ficar nem mais um segundo nessa cama.

– Reed disse que...

– Não ligo para o que ele disse! – Vocifero, não conseguindo mais conter meu ódio. – Preciso fazer alguma coisa! – Percebo que começo a chorar. Lágrimas invadem os meus olhos e por alguns instantes perco as forças nas pernas. Cambaleio para frente, sendo aparado por meus pais. – Eles não podem ter sumido... – Choramingo no ombro da minha mãe, que tenta me acalmar afagando gentilmente meus cabelos. – Não depois de tudo o que passamos... Ah, eu vou matar aquela vagabunda!

– Steve, vá chamar Reed, Sue ou Valéria. Ele está ficando descontrolado – escuto minha mãe instruir meu pai. – Ele precisa se acalmar, a pressão está aumentando muito rápido.

– Você vai ficar bem?

– Ele não vai me machucar. - Se tivesse escutado isso em qualquer outra hora, ficaria magoado, todavia, estou completamente tomado pela raiva e pelo desgosto. Eles que me controlam e não o contrário. Continuo a chorar de ódio, querendo ter Sin agora na minha frente pra poder quebrar todos os ossos do seu corpo devagar, saboreando cada estalo e cada grito de dor.

Meu deus, eles podem estar mortos... Todos eles... Por quê? Já não sofremos o bastante durante a vida toda sem nossos pais? Podemos ser super-heróis, mas isso não nos torna menos humanos.

Meu pai volta acompanhado de duas pessoas que não consigo distinguir devido à quantidade de água que ainda tenho em meus olhos. Uma delas retira meus braços do corpo da minha mãe, que se afasta rapidamente, dando espaço à outra forma. Um aperto de ferro me imobiliza e sinto uma leve picada no antebraço.

Não demora muito para eu voltar a dormir.


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Notas finais do capítulo

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