John saiu da barraca onde dormira, acompanhado de Stephen. Os dois se encontraram com Morpheu e Selena para tomarem café da manhã junto com os outros moradores dA Toca, numa enorme mesa de pedra, cheia de comida.

Stephen estava de olho em Morpheu. Não acreditava muito nessa coisa de viagem no tempo. Encarando o homem loiro, Stephen o viu conversando com Selena aos cochichos e depois olhando para John sorrindo. Ficou vermelho de ciúmes, mas se conteve e se aproximou do namorando, dando-lhe um beijo, inesperado.

Morpheu se aproximou dos dois enquanto comia uma maçã, sorridente. Stephen fitou-o, com medo do que fosse dizer. John olhou para Stephen desconfiado e imaginou que talvez não confiasse em Morpheu.

– Ei, gente... Noite agitada, ein?

– Porque você está falando isso? – Perguntou Stephen

– Nada, só queria dizer que vocês me devem uma cama nova agora. Não foi fácil rou... – Morpheu pigarreou – conseguir aquela cama.

Stephen e John se olharam, com medo de que Morpheu ou mais alguém tivesse ouvido o barulho da cama quebrando enquanto os dois transavam durante a comemoração.

– É... bem... – John ficou sem jeito e corou, assim como Stephen.

Morpheu riu alto, batendo de leve no ombro de John e no de Stephen.

– Fiquem tranqüilos, eu só estava brincando. Selena e alguns amigos dela passaram por perto da barraca onde vocês dormiram e ouviram o barulho. Pelo menos, vocês não foram pegos no flagra. – Os meninos suspiraram aliviados – Além disso, aqui ninguém liga pra nada. Todo mundo aqui é bem relaxado. Tanto os humanos quanto os da nossa espécie.

– Você abriga humanos aqui também? – Perguntou John, curioso.

– Sim, porque não? Humanos e Seres Do Amanhã podem viver em paz... Bom, pelo menos os que não querem nos matar... Gente, eu vou pegar minhas coisas e vocês se preparem também.

Morpheu virou-se e foi até sua cabana. Stephen ia voltando para a cabana também, mas John o segurou pelo braço.

– Você suspeita de alguma coisa?

– O que você quer dizer?

– O jeito que você fala com Morpheu, está sendo frio com ele. Você não é assim.

– É ridículo, ok? Essa história de viajar no tempo, é completamente ridícula.

– Mas faz sentido. Além disso, se é tão ridícula assim, porque você está se preparando para ir com a gente?

– Porque eu não vou deixar você sozinho com aquele maluco. Você viu o que ele disse, talvez o nosso namoro tenha alguma coisa a ver com isso tudo. Eu não quero perder você, John.

Stephen abraçou John com força. John retribui o abraço e sussurrou no ouvido de Stephen:

– Nada de ruim vai acontecer conosco. Muito menos com você. Eu te prometo.

E se beijaram.

Poucos minutos depois, viram Morpheu usando uma mochila de uma alça apenas, com o casaco bem conhecido por John e de cabelo para trás. O homem estava se despedindo de Selena com beijos e abraços antes de se juntar à Stephen e John.

– Prontos?

Morpheu estendeu as mãos. Stephen segurou em uma enquanto John segurava a outra para no segundo seguinte, não estarem mais ali.

Os três caíram ao reaparecerem. Morpheu ficou deitado no chão puxando ar com força enquanto John e Stephen se levantavam e olhavam ao redor.

– Mas isso aqui é a sua barraca! – Vociferou Stephen – Eu sabia que era mentira toda essa baboseira de viajem no tempo! Eu sabia!

– Stephen, para de implicar um pouco com ele, por favor e ajuda aqui.

John e Stephen ajudaram Morpheu a se levantar e se sentar em uma cadeira próxima a eles.

– Na verdade... funcionou. – Falou outro Morpheu entrando na barraca.Completamente idêntico ao que estava se levantando – Pude ouvir seus gritos lá de fora.

As duas versões de Morpheu fitavam-se sorrindo.

– Então... – Stephen estava confuso

– É, vocês... nós, viajamos no tempo.

– Você leu minha mente?

– Não, só lembrei de quando eu vim me ver. - E sorriu para sua versão passada - Sugiro que eu, do passado, fique aqui e descanse, já que nem todo mundo aqui sabe que eu sou um viajante do tempo. Josh já deve estar vindo, vamos esperar por ele.

– Quem é Josh?

– São maçãs? – Perguntou a versão do futuro apontando para a mochila.

Seu passado sorriu para si mesmo e abriu a mochila revelando várias maçãs.

– E eu achando que ele estava levando alguma coisa importante! – Falou Stephen indignado.

– Espera... você sabia que estaria fraco demais depois de viajar no tempo...

– Então eu fiz isso de um modo que eu pudesse me lembrar no futuro. – Respondeu o Morpheu do futuro após engolir um pedaço de maçã. – Só não me deixe contar spoilers desnecessários para vocês.

– Como assim?

O Morpheu do futuro encarou John seriamente.

– Vocês estão aqui para entenderem o que está acontecendo, mas Stephen não confia em mim, então eu estou pensando em mostrar à vocês o que John viu quando eu voltei, algumas semanas.

– Tem algo a ver com o nosso namoro? – Perguntou Stephen receoso.

– Você vai descobrir.

– Porque você fica tão fraco assim quando viaja no tempo? – Perguntou John, curioso e ao mesmo tempo tentando quebrar o clima tenso que se formou ali.

– Na hora de juntar as moléculas. Isso dá trabalho.

John ficou encarando-o como se assim pudesse entender o que Morpheu do futuro quis dizer.

– Se teleportar é, separar todas as moléculas de um corpo, atravessá-las por um espaço e juntá-las em outro. Não é só isso, é bem mais complicado, mas dá pra você entender. Além disso, você pode nunca ter percebido porque só teleporta pelo espaço, então é como se você atravessasse por um portal ou fosse mágica.

John ficou ainda mais confuso.

– Eu estou te confundindo ainda mais, não estou? – John fez que sim com a cabeça – Eu fico cansado desse jeito porque preciso nos trazer inteiros, sem o risco de a nossa roupa ou qualquer outra coisa se torne parte de nós ou vice-versa.

– Ainda está confuso, mas acho que entendi.

– Que bom. Porque eu estou ficando sem exemplos e onde diabos está Josh!?

– Eu estou aqui. – Falou um homem, mais ou menos da estatura de Morpheu, com barba e cabelos escuros.

– Ótimo. Então podemos ir, certo?

Josh estendeu as mãos. Morpheu do futuro, John e Stephen tocaram-na.

– Eu sou John e esse...

– Eu me lembro. – Falou Josh sorrindo.

– Desculpe. Eu não entendi.

– No seu futuro e no meu passado, vamos nos conhecer. Agora pensem no nosso destino. – Falou Josh e os meninos pensaram simultaneamente na estação abandonada onde ficavam os Seres Do Amanhã e desapareceram.

***

Os quatro apareceram em um beco cheio de escombros, ouvindo barulhos de tiros e pessoas correndo para todos os lados. Eles olharam para a rua e viram alguns civis passando entre soldados, portando armas e um enorme tanque de guerra passando no centro.

– O que diabos está acontecendo? – Perguntou Stephen – Porque não fomos direto para a estação?

– Está abaixo de nós. Vamos ter que ir pelo jeito antigo. – Morpheu falou encarando Josh. – Vocês podem nos levar até o metrô? Nós não conhecemos o local.

– Ok, mas com todos esses soldados perambulando por aí, não sei se vamos chegar lá rápido.

Os quatro andaram apressadamente pelas ruas, tentando se misturarem com os civis desesperados.

Toda a cidade estava um caos, e um rastro de destruição se seguia pela mesma. Stephen e John perceberam que, se seguissem tal rastro, perceberiam que ele começava pelo local onde ficava o prédio da Ultra. Os dois começaram a pensar que talvez não fosse o namoro dos dois que estivesse em jogo ali.

Mais de uma vez, John pensou que os soldados o encaravam quando passavam ao seu lado, mas depois achou que poderia ser a mente cansada após a viagem no tempo, ou algum efeito colateral.

– Morpheu... – Stephen o chamou, baixinho, com medo de que alguém próximo escutasse algo – Sinto muito pelo modo como venho desconfiado de você.

– Tudo bem, Stephen. Eu mesmo estranhei quando viajei no tempo pela primeira vez.

Josh chamou por Morpheu e por Stephen avisando que perderam-se de John. Os três se viraram procurando pelo rapaz. Este, por sua vez, estava do outro lado da rua, observando por uma vitrine de uma loja de televisões. Quando se aproximaram de John, reclamaram de ter se separado sem avisar, mas quando viram na televisão o que John via, Morpheu e Stephen se calaram.

– Todo mundo sabe sobre nós. – Falou John sem desviar os olhos das imagens.

Os Seres Do Amanhã que se escondiam no subsolo, lutavam ao lado da Ultra contra um oponente em comum: Cara. Todos usando os poderes publicamente. Em uma das cenas, Jedikiah pulou em um outra versão de John, esquivando-os de um carro que voava na direção do menino.

– Nós somos partes disso. – Stephen não podia acreditar no que estava vendo.

John e Stephen ficaram com raiva, ambos mudaram de cor, ficando vermelhos de raiva. Como era possível Cara estar fazendo tudo aquilo? Uma das pessoas que mais buscava a paz destruiu toda a cidade com os poderes, expondo, não só a Ultra mas como todos os Seres Do Amanhã.

– Vamos embora daqui. Precisamos chegar até o metrô. – Falou Morpheu tentando amenizar o “golpe”.

– Não, precisamos saber das baixas antes de chegarmos até o nosso esconderijo. Quem morreu, quem está vivo. – John começou a tomar a frente da situação – Se estamos envolvidos nisso e foi mesmo uma guerra contra Cara, talvez alguns de nós pode ter parado no hospital.

Ou pior, ele pensou.

– Como você vai descobrir isso, cabeção?

John revirou os olhos.

O rapaz foi em direção à um soldado que passava por ali, próximo à um tanque de guerra.

– Com licença... Eu estou um pouco perdido. Para onde essas pessoas estão indo?

– Para fora da cidade. Estamos evacuando o local.

– Onde posso verificar quem morreu e quem está vivo? Não consigo falar com minha mãe e meus irmãos.

– Há anúncios por toda as partes. No metrô e nas rodoviárias tem as listas das pessoas reconhecidas... Eu conheço você?

– Ainda não nos encontramos. – John sorriu e leu a mente do soldado “É um deles. Estava na luta.” – Bom, eu vou andando. Obrigado.

John se virou rapidamente e começou a andar, até ser abordado pelo mesmo soldado com quem falara.

– Espera, moleque... – John não deu atenção e continuou andando, encarando Stephen, Morpheu e Josh – Garoto! Volte aqui.

“Stephen, hora de vazar.”

Stephen, Morpheu e Josh se aproximaram de John e os quatro andaram rápido para a direção oposta a do soldado, enquanto o mesmo se unia a outros soldados.

– Pra onde vamos? – Perguntou Josh

John olhou para Stephen e se lembrou de um ótimo lugar para ficarem por um tempo. O rapaz segurou em Stephen e Morpheu, enquanto Josh segurava-se em Morpheu para que John os teleportassem.

Ao reaparecerem, perceberam que era o terraço onde Stephen e John se beijaram mais uma vez. Stephen abriu um sorriso e não percebeu, mas John sim.

– Ok, Morpheu. Tenho certeza de que Stephen acredita agora, então você já pode nos dizer o que nós temos que impedir que aconteça.

Morpheu fitou John por alguns segundos e então se lembrou de algo. Impaciente, John leu a mente de Morpheu. “É agora”.

– É agora o que?

Morpheu não respondeu, apenas fitou a pessoa que aparecera ao fundo, chamando a atenção de todos. John do futuro encarava Stephen, com os olhos tristes e cheios de lágrimas. Queria abraçá-lo, mas se conteve, fechando as mãos.

– Não é possível! – Falou Stephen boquiaberto.

O John do passado encarou sua versão futura, reparando nas roupas desgastadas, do penteado desfeito, a depressão em seu rosto e o fixo olhar triste em Stephen. Então era isso o que o destino lhe reservara? Não, não podia ser verdade. E aquele jeito de olhar para Stephen? Aliás, por onde estaria o Stephen do futuro? Após uma batalha intensa como a que estava para acontecer com ambos, o que John mais gostaria era de ter Stephen ao seu lado. O rapaz franziu a testa começando a entender o que estava acontecendo.

– Stephen... – John do futuro falou, quase sem voz. Levantou a mão trêmula para o namorado, mas a abaixou rapidamente.

– Josh, acho que nossos amigos aqui precisam de um tempo sozinhos. Vamos para outro lugar.

Josh fez que sim com a cabeça e em seguida, os dois se teleportaram.

O John do passado pigarreou. Não se sentia confortável com o momento e podia imaginar que seu eu do futuro também não.

– Então... – Ele falou tentando quebrar o clima tenso – Você vai falar ou vou ter que entrar na minha própria mente?

John do futuro se aproximou devagar e estendeu as duas mãos.

– É melhor eu mostrá-los.

Os dois viajantes do tempo seguraram as mãos de John e mergulharam em sua mente.

Estavam em lugar escuro e deserto, observando a luta entre Cara, John e Stephen contra o Fundador e eles pareciam estar perdendo. Então tudo se transformou em fumaça e puderam perceber, assim que toda a fumaça desapareceu, que haviam mudado de lugar. Estavam agora, na Ultra observando Jedikiah fazer experimentos com Cara, injetando-lhe algo enquanto a garota chorava e se contorcia. Eles mudaram de cenário mais uma vez em meio à fumaça e se viram em uma avenida cheias de destroços, com corpos e sangue espalhados pelo chão, enquanto Cara flutuava gritando de dor e tudo o que se aproximasse ou ficasse no caminho era repelido, como se a jovem estivesse envolta de um campo de força invisível. John e Stephen observaram uma versão de Stephen salvando o irmão Luca, ser atingido por uma van voadora e quando se deram conta estvam de volta ao terraço.

Stephen abraçou a versão futura de John e o beijou.