Aposta Destrutiva escrita por Wine


Capítulo 5
Iludida, insegura e politicamente correta




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Aqueles que acreditavam que Hogsmeade era um vilarejo bruxo essencialmente familiar e calmo sinceramente não sabiam o que procurar. James Potter sabia.

O vento noturno era ligeiramente frio, mas o garoto estava bem protegido em baixo de seu sobretudo comprido e preto. Como já passavam das duas da manhã, todos os estabelecimentos estavam fechados, exceto os ilegais, os favoritos do maroto. A circulação de pessoas pelas ruas era praticamente inexistente, o que tornava mais fácil para um aluno da famosa escola de Hogwarts perambular pelas vias. Não que James parecesse um simples aluno de escola.

Ele parou em frente a um pequeno sobrado de esquina. Caso alguém passasse por ali, julgaria que a casa era trivial, tinha o mesmo padrão das construções vizinhas, porém James era mais esperto do que o senso comum.

Algumas batidas na porta bastavam para ser ouvido.

– Pois não? – Uma senhora que aparentava ter uns longos cento e cinquenta anos atendeu. Ela vestia um vestido rosa florido que não valorizava nada seu corpo em formato de rolha, assim como um coque mal feito em seu cabelo grisalho. – Ah, é você, garoto.

– Senhora Danso – James cumprimentou com cortesia.

– Posso sugerir que escolha Jenny hoje? – A senhora voltou a falar. Direto aos negócios.

– Não – James negou impaciente. – Quero Vanessa, como sempre.

– A idade de Jenny é mais compatível com a sua.

– Quero Vanessa – James insistiu sério.

James tinha que admitir que era demasiadamente desconfortável o fato de antes de visitar sua namorada ter que passar pela cafetão idosa dela. Contudo, ele sabia que por Vanessa tudo valeria a pena. Dentro de um ano, quando James se formasse em Hogwarts, ele a tiraria dessa vida e os dois se mudariam para um lugar remoto, prontos para recomeçar.

A senhora Danso fez alguns barulhos reprovadores como tsk tsk decepcionada.

– Deveria ter marcado um horário, então – ela voltou a dizer. – Vanessa está com cliente.

– O quê? – James indagou irritado. – Como assim cliente? Ela me prometeu que eu seria exclusivo!

A senhora Danso riu uma risada que logo se transformou em engasgo. Era uma senhorinha realmente asquerosa que fedia a chá de pozinho.

– Se eu ganhasse uma moeda cada vez que escuto essa... – Ela murmurou sem traços de humor. – Garoto, é o seguinte. Disponíveis, tenho a Jenny e Marta. Escolha uma dessas ou vá embora.

James moveu-se inquieto. Ele queria arrebentar a cara da velha vulgar que não o deixaria ver sua Vanessa. Queria arruinar o estabelecimento.

– Vou embora, então – ele disse irritado e direcionou-se para a porta de madeira. – Mas prepare-se para arranjar uma substituta quando eu tirar Vanessa desse moquifo.

Nessa manhã especifica, Lily Evans não esperou Alice para o café da manhã. De fato, ela não esperou a amiga sequer levantar da cama. Depois de tomar um banho demorado, pela primeira vez em Hogwarts, Lily secou o cabelo com um dos secadores que trouxe de casa. A mãe dela sempre dissera que cabelos ficavam mais bonitos após serem secados por um secador caseiro. Além disso, ela também se lembrou de passar um retoque de base na face. Toda ajuda era bem vinda.

O pior de tudo era que Lily sabia exatamente o porquê estava fazendo tudo isso; ou melhor, o para quem. Ela se sentia muito burra, visto que sabia que James Potter era um garoto muito longe de seu alcance mesmo que ele tivesse lhe dado um pingo de atenção nos últimos dois dias. Lily estava se comportando como uma pipoca de micro-ondas saltitante e irresponsável.

Todavia, pela primeira vez em muito tempo ela se sentia... animada. Talvez, só talvez, se ela fosse simpática e interessante o suficiente um garoto como James Potter poderia gostar dela de verdade.

Foi com essa mentalidade que entrou na sala de Poções naquele dia. Abriu seu livro em uma página qualquer, fingindo estar entretida com as palavras, mas, na verdade, sua atenção estava focada na porta. Ela notou quando Alice entrou, lançando-a um olhar compreensivo e, sem dizer nenhuma palavra, foi se sentar com Dorcas.

Atenta, Lily também notou quando James se aproximou do batente da porta. Livro, preste atenção no livro, pareça ocupada ela dizia mentalmente. Entretanto, longos segundos se passaram até ela perceber que James não se sentaria ao seu lado como no dia anterior.

Lily estava sozinha.

– Eu não entendo! – Uma indignada Alice exclamou enquanto caminhava ao lado de Lily pelos corredores. – Você se arrumou toda e eu tive que aturar Dorcas durante uma aula inteira. Potter não se sentou do seu lado. Por que não?!

– Eu não me arrumei toda – Lily rapidamente acrescentou envergonhada. – Não me arrumei. Eu não me importo.

Alice suspirou, era esperta demais para cair na mentira da amiga. Ela desejava tanto que Lily se acertasse com alguém, assim Lily e seu namorado poderiam ir a encontros duplos com ela e Frank. Seria perfeito.

– Por que estão tão deprimidas? – Remus Lupin apertou o passo para acompanha-las. – Perdi alguma coisa?

Lily olhou o amigo de cima a baixo.

– Onde esteve ontem? – Ela exigiu saber. – Perdeu todas as suas aulas!

– Enfermaria – ele respondeu em tom natural, entretanto indisposto para formular uma desculpa.

– Você vive sumindo, Rems – Alice acusou.

Remus deu de ombros e virou o rosto.

– Estava me sentindo mal – ele disse calmo e cauteloso com sua escolha de palavras. – Não ignorem minha pergunta. O que aconteceu com vocês?

Alice olhou para Lily, transmitindo uma pergunta silenciosa. Contar ou não contar? Os olhos verdes de Lily se espremeram, propagando uma ameaça óbvia. Lily iria mata-la se Alice comentasse algo.

– Seu amigo é bipolar, - Alice disse ignorando os olhares ameaçadores de Lily. – Uma hora ele parece gostar de Lily, em outra a ignora completamente.

Remus fez uma careta, mas esperou a morena contar tintim por tintim das últimas ações de James Potter em relação à Lily. Finalmente compreendendo a situação, ele cerrou os punhos. Não podia acreditar que James era tão baixo a ponto de iludir uma garota tão pé no chão como Lily Evans.

– Não é nada sério – Lily fez questão de dizer. – E eu não me importo.

Apesar das palavras duras e firmes, as bochechas coradas a traiam.

– Quer um conselho? – Ele perguntou sério. – Fique longe de James, Lily.

Lily piscou. Toda vergonha que sentira ao ter seu segredo – que não era m segredo – revelado a Remus dava lugar a um sentimento de raiva.

– Por quê? – Ela exigiu saber. – Não me acha boa o suficiente? Não sou tão gostosa como Marlene para namorar um de vocês?

De fato, todos os questionamentos que Lily acabara de fazer a atormentavam constantemente. Ela sabia que tinha qualidades, mas também sabia que não eram suficientes para conquistar nenhuma alma masculina; todos os seus anos de vida lhe provaram isso.

– Não – Remus negou, ligeiramente assustado com as perguntas metralhadas a ele. – É claro que não. Acho que é James é quem não é bom o suficiente para você.

– Não foi você mesmo quem me disse que James não era tão ruim quanto eu pensava?

Espantado, Remus não esperava que suas palavras fossem usadas contra ele. Tudo que o garoto queria era encontrar uma forma de Lily perceber que James era um idiota, que só estava brincando com ela devido a uma aposta mais idiota ainda.

– Não nesse caso, Lily – Remus Lupin afirmou cansado e sem a menor vontade de elaborar. – Confie em mim.

Por mais inacreditável que pareça, História da Magia era a aula preferida de James. Era um período em que ele só deveria sentar e fingir prestar atenção enquanto uma professora lia às páginas do livro sem nenhuma emoção evidente.

Ele sentou-se em sua carteira habitual no centro da sala. Gostava de ficar bem embaixo do grande lustre decorativo que apenas complementava a claridade natural que as janelas irradiavam. Sem se surpreender, James notou quando Sirius se sentou atrás dele.

O professor começou a falar e James já pôde sentir a sonolência rotineira tomando conta de seus sentidos.

– Ei, Prongs - Sirius Black sussurrou em seu ouvido, soando assombrosamente de bom humor. – É verdade que você foi expulso ontem da casa?

Não era necessária nenhuma especificação sobre que “casa” Sirius se referia.

– Não fui expulso – James respondeu mal humorado e em voz baixa. – Eu saí.

Sirius assentiu com um sorriso bobo no rosto.

– Então a Vania está dormindo com outros caras também, né? – Ele perguntou em tom de afirmação. – Me parece que eu estava certo. Ela não está tão afim de você...

– Cala a boca – James respondeu carrancudo. – E o nome dela é Vanessa.

A verdade era que ele temia que Sirius estivesse certo. James dera uma quantia financeira bem razoável à Vanessa, de modo que ela não precisaria fazer programas por uns bons meses. Ela prometera que James seria exclusivo. Ainda assim... aparentemente, ontem ela estivera com outro cara.

– Você não consegue conquistar nem um duende perdido – Sirius disse vitorioso. – Não conseguiu nem dar uns beijinhos na ruiva monitora. Nem vamos falar de uma mulher tão vivida como a sua prostituta!

Como um reflexo, James levou a mão à testa. Ele se distraíra tanto com o episódio humilhante da madrugada que se esquecera de que deveria ter continuado com seu plano de conquistar Evans.

– Porra – ele murmurou irritado, canalizando toda sua raiva nas palavras seguintes. – Você vai ver, Sirius. Vou fazer essa ruiva se apaixonar tanto por mim que você nunca mais duvidará do lendário sedutor James Potter.

Lily Evans não era fã de História da Magia. Era uma aula teórica demais, na qual ela deveria sempre estar atenta e pronta para fazer anotações em seu caderninho. Segurava a pena cinza com tanto empenho que os nós de seus dedos ficavam brancos.

Enquanto anotava uma frase qualquer sobre um acontecimento de centenas de anos atrás, um leve objeto voador chocara-se impiedosamente em sua cabeça.

– Mas o quê?! – ela sussurrou enraivecida olhando para trás.

Como alguém se atrevia a jogar um papel amaçado na cabeça da monitora? Era muita ousadia e irresponsabilidade mesmo...

Olhando para trás, ela percebeu que as características mencionadas acima se aplicavam muito bem para seu agressor. A apenas algumas carteiras de distância, James Potter analisava-a com uma de suas expressões malandras no rosto, fazendo um gesto que com clareza indicava que ela deveria abrir a folha que caíra no chão.

Discretamente, Lily, tomada pela mais pura e simples curiosidade, agachou-se e pegou o papel esbranquiçado que caíra aos seus pés. Abriu-o com cuidado, esperando não atrair a atenção de ninguém com o barulho.

Almoça comigo hoje?

Eram três palavras simples e comuns acompanhadas de uma carinha sorridente. Porém, Lily teve que olhar para trás em busca de confirmação para ter certeza de que não estava imaginando coisas. Será que James Potter almoçava como pessoas normais? Era algo que Lily queria descobrir. Contudo, a ruiva não deixou de se recordar das palavras de Remus. Talvez ela devesse ficar longe de Potter.

O restante da aula foi catastrófico para a Lily estudiosa. Qualquer anotação que vinha fazendo fora abandonada a partir do momento em que o bilhete apareceu, deixando-a num verdadeiro dilema. Quando a professora enfim dispensou a turma para a próxima aula, James aproximou-se da garota com um sorriso momentaneamente forçado.

– Já pensou numa resposta?

– Não – ela respondeu, incapaz de olhar diretamente nos olhos dele.

James pareceu genuinamente surpreso.

– Não pensou ou não vai almoçar?

Em um movimento quase imperceptível os lábios de Lily se arquearam ligeiramente para cima em um sorriso tímido. Ela fechou o livro grosso sem pressa nenhuma, internamente gostando da presença de Potter.

– Então, é isso? – Lily perguntou num tom que ela esperava que soasse independente e seguro, encarando-o pela primeira vez. – Ontem fez um esquema cruel para eu ser sua tutora em poções e depois me ignorou nos demais períodos. Agora quer almoçar?

Um brilho perigoso atingiu os olhos dele.

– Quer que eu fale com você nos demais períodos? – James perguntou com falsa inocência. Nada nele era inocente.

– Não foi o que disse – Lily rapidamente atestou.

Por que James Potter virava qualquer diálogo ao seu favor?

Os próximos alunos de História já chegavam à sala de aula, mas isso não alertou Lily e, muito menos, James a fim de sair de onde estavam. Era como se o resto do mundo não existisse.

– Quer ajuda com os livros? – Ele ofereceu.

– Não.

– Certeza? Parecem pesados.

Aham.

James sorriu diante da teimosia da garota, mas o sorriso não atingiu os olhos. Lily notou que, de fato, James parecia muito cansado, como se não tivesse dormido durante a noite. Olheiras apoderavam-se de seu rosto, mas não eram suficientes para afastar um sorriso torto.

– Você está bem? – Lily perguntou preocupada. – Parece... cansado.

Dando de ombros, o maroto começou a acompanha-la para fora do ambiente. Deixou-a ir à frente quando passaram pela porta, era um cavalheiro. Apesar de James não ter admitido, Lily percebeu que ele realmente não estava bem. Entretanto, acreditou ser melhor não insistir nesse tópico.

– Conheço um ótimo restaurante em Hogsmeade – ele disse, enquanto caminhavam calmamente até a próxima aula. – Se sairmos agora chegaremos lá antes que o lugar lote.

Atento, James reparou quando as mãos de Lily tremeram. Era bom saber que nem mesmo alguém tão séria como ela era imune ao seu charme.

– Não mato aulas – Lily respondeu incomodada, seu coração a mil por hora. – Já lhe disse isso antes.

– Do que tem tanto medo?

– Não tenho medo – Ela disse incerta. Será que ela tinha medo? – Mas é errado sair sem permissão, principalmente durante o período de aulas. Você deveria saber disso melhor do que ninguém, Potter. É um monitor.

James suspirou dramaticamente, olhando-a de cima a baixo.

– Você é bonita demais para ser tão politicamente correta, Evans.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando da fic! Fiquei muito feliz com o feedback do último capítulo então resolvi postar mais rápido do que planejava, mas, por favor, continuem comentando para alegrar uma autora amadora :)



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