O monstro dentro de nós escrita por Sayu


Capítulo 3
Coragem




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Virar uma fugitiva de um hospital psiquiátrico não era bem a minha meta de vida. Mas não queria ver Hector preso para sempre por minha causa. Eu faria tudo possível para que ele pudesse sair dali. Precisaria ser forte e me conter, não posso mais se escrava de mim mesma.

Por tantos anos me sentindo uma coitada, agora não há nada disso. Ao invés de ficar choramingando num canto, devo ser forte e lutar contra meus medos e meu ódio de minha própria pessoa. As cicatrizes das minhas pernas pareciam me dar mais força, como um símbolo de que eu deveria continuar a lutar.

Já estava na hora dos internados mais violentos irem pra área de lazer. Eu estava escondida atrás de um banco esperando que Hector saísse. Oh, se as enfermeiras me pegassem ali, eu provavelmente seria levada pra solitária. Mas seria muito pior se algum dos internados ali me encontrasse.

– Karin. – Hector apareceu atrás de mim, colocando a mão na minha boca para não fazer barulho.

– Hector! – Não sabia se estava feliz ao vê-lo. Mas era reconfortante poder senti-lo perto de mim novamente. Sem pensar, o abracei. – Me desculpe, me desculpe...

– Eu sei que não foi culpa sua. Sua depressão deve ter piorado, por isso não te deixaram sair, não foi?

– Sim... – virei meus olhos. Foi covarde mentir assim, mas Hector não precisava sentir mais raiva. – Por que matou aquelas pessoas? Você disse que não mataria inocentes, mas eles eram inocentes, não eram?

– Ah, aquilo. Bem, eu diria que foi uma coincidência. Eu precisava fazer uma loucura bem grande para poder voltar para cá, e eu fiz. – ele sorriu.

– Aquilo não foi loucura, foi algo terrível. Não deveria ter feito aquilo!

– Desculpe. – ele passou a mão por meus cabelos negros. – Mas eu irei fazer o necessário para que fiquemos juntos. Não importo se precisar matar alguém, torturar ou sei lá.

– Isso... – nem sabia o que dizer para ele.

– Então, você realmente quer fugir daqui? Eu posso conseguir isso, sem problemas.

– Se ficarmos juntos vai ficar tudo bem, não é? – perguntei, mas aquilo foi mais para me conformar.

– Sim. Eu vou te proteger, então não se preocupe com nada.

– Então devemos fazer uma espécie de plano pra sair daqui.

– Não é muito necessário. Eu conheço alguém que pode nos ajudar, mesmo que me aborreça ter que pedir ajuda para essa pessoa.

– Que pessoa...?

– Vá para a área dos fundos amanhã, assim que anoitecer. Leve suas coisas.

– A área dos fundos? Mas aquilo é quase que completamente fechado.

– Confie em mim, ok? – ele disse, me encarando. – Precisa ir agora antes que alguém te veja. Até mais. – ele sorriu.

Assim que voltei para meu quarto, comecei a jogar todas as minhas roupas em uma mala pequena que já não usava desde que havia chegado ali. Estava tão desligada que nem notei Marie entrando.

– Vai mesmo fazer isso? – Marie perguntou fazendo com que eu parasse imediatamente de pegar as roupas.

– Parece que sim. – sentei na cama dando um longo suspiro em seguida. – Vai tentar me impedir?

– Não. Nunca achei que esse lugar fosse realmente bom pra uma sanidade mental de qualquer forma. Se quiser fugir, eu não vou lhe parar. Mas também não posso lhe ajudar.

– Obrigada, Marie. Eu nem sei se é isso mesmo que eu quero fazer. Mas acho que um dia acabarei perdendo o controle se continuar aqui. – disse, encarando minha perna cheia de cicatrizes.

– Então fuja. Credo, eu nem deveria estar falando algo do tipo. – ela riu. – Mas é sério, esse lugar é bem mais sombrio que você imagina. O que acontece dentro das celas fechadas não é nada divertido.

– O que acontece dentro das celas fechadas? – meus olhos estavam arregalados.

– Desculpe, mas eu não posso lhe contar.

– Tudo bem. – olhei para os lados, ficando desconfortável. – Marie... Obrigada por tudo. Se não fosse por você talvez eu tivesse desmoronado completamente.

– Não foi nada, Karine. Você se subestima tanto, mas sabe, você é bem mais forte do que imagina.

Marie deixou o quarto, me deixando sozinha com aquela frase ecoando em minha mente. Na verdade, eu tinha tanta certeza sobre minha fraqueza que jamais passara em minha cabeça que alguém poderia achar que eu era forte.

Naquele momento eu definitivamente não poderia ficar pensativa e desligada demais. Continuei minha tarefa de arrumar minhas coisas, mas isso não me custou mais de cinco minutos. A maior parte das minhas roupas e tralhas estava na casa que eu não voltava fazia anos.

Tinham me dito que o meu internamento seria temporário, por isso não me preocupei em levar muitas coisas. Mas já faz tempo que notei que me abandonaram aqui pra não terem que arcar com a responsabilidade de ter uma pessoa “louca” morando com eles. Mas tudo bem, pessoas me evitando não é nenhuma novidade pra mim.

Olhei no relógio pregado na parede e notei que já era hora de ir. Com certeza seria estranho sair com uma mala em direção aos fundos do hospital, mas naquele lugar nada era muito normal. As enfermeiras já nem se importavam mais com ações esquisitas.

Então sai de meu quarto e andei em direção dos fundos. Os fundos do hospital eram totalmente desertos e abandonados. Existia inclusive uma lenda de que antigamente faziam experimentos com humanos naquele local e que a alma perturbada das vítimas ainda rondava por ali. Não acreditava nem desacreditava naquilo, mas naquele momento aquilo não me importava nem um pouco.

Na verdade, sair pelos fundos dos hospitais era uma ideia boa e ao mesmo tempo idiota. Porque sequer havia alguma porta ou portão ali, apenas um gigantesco muro quase impossível de escalar. Mas Hector disse que eu deveria confiar nele, e é isso que farei.

– Karin! – Hector chegou por trás de mim.

– Hector! Achei que já estava ali fora.

– É, eu tive que fazer algo... Mais importante, temos que ir logo.

Ouvimos um barulho alto vindo da porta que dava para os fundos, mas isso não fez Hector parar. Assim que giramos a maçaneta e chegamos à parte de trás do hospital, a primeira pessoa que vi foi uma mulher de uns vinte anos que sorria:

– Há quanto tempo, Hector! – e seus olhos eram como os dele...


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Notas finais do capítulo

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