O título é autoexplicativo. Sempre quis ter um professor particular e estudar em casa, mas meus pais dizem que ir pra escola e interagir com as pessoas é importante. Sem falar que papai é militar, então a escola sai de graça pra mim e pro meu irmão.

A minha alegria é que estou no terceiro ano.

Eu até gosto das aulas e dos professores (alguns), mas todas aquelas crianças e o regime militar, tudo isso é muito puxado. Sempre tento me esquivar da hora de marchar e da educação física.

Coloquei meu uniforme, carreguei meu guarda chuva e minha pasta. Tirei meu irmão da cama e saímos, com Sherlock mais se arrastando do que andando. Meu fôlego é ridículo, na metade do caminho eu estava hiperventilando.

Chegamos aos grandes portões cinza. Todos conversavam animadíssimos uns com os outros, enquanto eu e Sherlock desviávamos dos grupinhos, em direção a secretaria, pra pegar nossos horários.

Meu primeiro tempo era Biologia. "Excelente" eu disse para mim mesmo, “porque não há melhor maneira de começar um ano letivo do que vendo as tripas de um sapo”.

Um menino chamado Edwin era meu parceiro de Biologia desde o começo do ensino médio. Digamos que ele fazia o "trabalho sujo" por mim. Entrei na sala e em pânico quando percebi sua ausência. Calma Mycroft, alguém eventualmente vai ter que fazer dupla com você. Então sobrou esse menino, (que eu não me lembro o nome, então vou chama-lo de Blablablá) e eu fui sentar em sua bancada.

"Oi, meu nome é Blablablá!” ele disse, animadamente, “eu espero que você seja bom em Biologia”.

Sorri devagar. “Estou perdido!” pensei.

“Eca, eu odeio esses sapos!” ele continuou, enquanto eu afundava minha cara em um pudim, mentalmente.

Olhei desesperado para o resto da sala, pra ver se tinha mais alguém sobrando. Foi então que eu vi um menino com cabelo todo emaranhado no estilo desisti-da-sociedade e então eu soube que ele era perfeito para o trabalho.

Ele nem se deu ao trabalho de se apresentar. Sem interação social forçada, um ótimo começo!

De resto foi tudo normal e chato. Menos a hora do lanche, porque eles fazem um pão de batata di-vi-no! Eu comi dois.

Enquanto voltávamos pra casa, vi que o Blablablá estava nos seguindo, mas eu não disse nada.

“Será que ele sabe que a gente já percebeu?” perguntou Sherlock, que pensava o mesmo que eu.

“Definitivamente não” respondi.

Mas ele não estava exatamente nos seguindo. Sua casa ficava dois números antes da nossa, como descobrimos mais tarde.

Entramos, almoçamos e ficamos jogando Monopoly até mamãe chegar em casa. Ela dá aula de Matemática numa Universidade.

E é isso. Está vendo, avaliadora, tudo normal comigo. Eu acho que eu já posso parar de frequentar as suas consultas!