Os olhos meus, que são tão seus escrita por La-Fenix


Capítulo 7
Colapso


Notas iniciais do capítulo

Tentei postar rápido, essa semana vai ser impossível de trabalhar nas minhas fics.



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Eu estava tomando banho, a água fazia eu me sentir menos suja, sentir que estava lavando o sangue da minha pele. Não havia mais sangue em mim, naquele momento, mas a sensação que eu tinha era de que estava coberta de vermelho dos pés à cabeça, eu estava descobrindo que era ma assassina.

Eu estava voando sobre uma floresta tropical. Era de noite e tudo estava escuro, exceto por um aglomerado de luzes adiante. Era uma cidade.

Uma película verde cobriu minha visão, meus olhos arderam como se tivessem deixado cair sal neles, a queimação era insuportável e eu não podia mover meus braços. Uma onda de calafrios me percorreu e pela abertura dos meus olhos eu senti um raio sair dos meus olhos, me cegando por vários instantes antes de sumir.

A cidade estava em chamas, eu ouvia o grito das pessoas queimando em desespero. Mulheres e crianças virando carvão enquanto gritavam em agonia.”

Sentei debaixo do chuveiro, esperando o flashback deixar de me dominar. Controlei o calor que começava a se apoderar dos meus olhos e das minhas mãos, a névoa verde desapareceria se eu me acalmasse o suficiente.Eu não queria abrir um buraco na parede do apartamento de Asa Noturna, melhor dizendo, no de Dick.

Não haviam me deixado ficar ao seu lado, então eu ficaria esperando por ele em sua casa. Estava demorando bastante, eu estava ficando preocupada, humanos eram frágeis, poderiam morrer tão fácil. E aquele humano não merecia morrer, ele era bom,e preocupado com os outros. Queria conhecê-lo melhor.

Coloquei uma calça de malha e uma camiseta preta, as meninas do Monte da Justiça haviam me dado algumas roupas na minha curta estadia lá. Me olhei no espelho, meu corpo me envergonhava demais, eu parecia um saco de ossos, um saco de ossos com os dedos quebrados e tortos, o cabelo curto e mal cortado e as olheiras parecendo roxos na minha cara.

Saí do banheiro e fui para a sala de estar.

Durante os dias que eu passara ali sozinha eu havia tentado deixar o lugar menos impessoal. Havia colhido algumas flores no parque perto dali e as colocara em garrafas que eu achara na lixeira. Eram flores diferentes, tinham o cabo longo e as folhas pequenas e de um verde pastel, as pétalas era de um roxo suave que me deixavam confortada.

Eu também havia feito uma comida que se parecia com a do meu planeta, misturando umas comidas presas em latas (que eu tive de abrir com as mãos, o que era estranho considerando que Dick não tinha tanta força para abrir essas latas), e adicionando um líquido branco que eu achei na geladeira, chamado leite, juntando tudo isso o gosto ficava azedo e a textura pastosa. Exatamente como as comidas do meu planeta de que eu tanto gostava!

O apartamento estava limpo, pois eu havia varrido a sujeira e espanado todo o pó que se acumulara.

Em resumo eu havia me mantido calma arrumando a casa de Asa Noturna, esperando ele retornar. Mantido a calma, mantido o controle.

–Está tudo bem… -Mesmo com o desespero que eu queria libertar (e eu não sabia como ele sairia), eu estava mantendo a calma.

Ouvi a tranca da porta se abrir e imediatamente peguei a faca que estava em cima da mesa, me escondendo atrás da mesma para o caso de ter de me defender. Eu não deveria estar tão calma quanto imaginava.

–Kory? É o Asa Noturna. -Soltei a faca no mesmo instante e corri para a porta da frente.

Ele estava apoiado no batente da porta com uma expressão cansada, e o cabelo bagunçado caindo sobre a máscara.

–Você acordou!--Pulei sobre ele o abraçando e me sentindo aliviada por ele estar bem.-Eu estava tão preocupada! Você levou um tiro do neutralizador, mas ficou tanto tempo desacordado que eu achei que você não levantaria mais. E… eu arrumei a casa…

Fiquei tão feliz que ele estava ali que mal notei que o moreno estava quase caindo por conta do meu peso.

–Estava preocupado com você, achei que você estivesse nervosa e com medo, assim que eu acordei vim pra casa.

“Sim! Eu estou com os nervosa e com muito medo! Principalmente medo de mim mesma.”

–Eu … Só queria que você melhorasse logo. -Ele arqueou a sobrancelha (e a maldita máscara junto).

–Você trouxe alfazemas pra cá? -Dick foi até a mesa da cozinha e pegou a garrafa com as flores para cheirá-las.-Onde arranjou isso tudo?

Fechei a porta da frente atrás de mim e arrumei minha blusa emprestada.

–Eu andei por aí até achar essas flores no parque aqui perto, como você não tinha vasos eu peguei essas garrafas do lixo.-Ele se sentou na mesa para descansar e fungou.-Está sentindo o cheiro da minha comida? Aposto que você vai adorar, é uma adaptação de um prato do meu planeta natal.

Coloquei a travessa da comida em cima da mesa e fui pegar os talheres.

Queria tentar animar o homem que me protegera e se preocupara comigo.

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O cheiro daquela coisa na travessa parecia com o de alguma coisa estragada, que decidira nadar no leite. Era tenebroso imaginar que alguém tinha coragem de comer aquilo, ainda mais alguém tão meigo quanto Kory, que havia se importado em decorar a minha casa, quando eu estava fora. Mas ao invés de me sentir irritado por alguém mexer na minha casa eu estava até me sentindo feliz, mesmo com o corpo fadigado e a cabeça doendo.

Eu não esperava me sentir tão… “Em casa”. Uma sensação de que o lar para onde eu voltava ao final do dia iria me acolher, já não estava num simples apartamento, como antes. Desde que a minha família morrera eu não me sentia mais em casa, mesmo que eu estivesse morando numa mansão depois disso. Eu me sentia um agregado a algo mais terno de repente.

Eu sentia uma raiz de carinho crescer, verdadeiramente, no meu peito. Era algo pequeno, e na hora meu cérebro analítico traduziu isto como ‘alegria pelo bem-estar de Kory’. Quão tolo eu deveria estar naquele momento? Um jovem mascarado, com o cabelo impossivelmente bagunçado e a expressão de nojo ao ver atum e repolho misturados com leite.

Mas era fato. A garota doce e inocente que eu salvara estava bem, não estava fora de controle destruindo a cidade, estava colhendo flores e cozinhando. Estava tão bela e delicada na minha cozinha que eu me admirei de poder perceber tal coisa numa mulher.

–Kory… -A chamei e ela ergueu o rosto e me encarou com uma expressão fofa de cachorrinho.-Sobre o que aconteceu com aquele cara que nos atacou, saiba que eu não vou deixar ninguém te tirar daqui se você não quiser.

–Porque…? Digo, você me conhece a menos de um mês, não sou nenhuma amiga sua. você me salvou de explodir, e eu nem tive como te retribuir. -Seus olhos verdes ficaram marejados de lágrimas e ela apoiou o quadril na bancada da cozinha em descontentamento. -Aposto que a Zatanna já te contou o que eles fizeram comigo. Eu sou uma arma… Estou me lembrando aos poucos do que fiz… É horrível, Dick.

Levantei e fiquei do lado dela.

–Você teve de ser torturada para conseguirem fazer isso, não se chame de arma.

–Mas fizeram! Eu não sei como controlar isso, Dick. Só sei que é perigoso viver comigo. Sou uma prisioneira das vontades dos outros.

–Eu não abandonaria alguém que precisasse de ajuda, mesmo que fosse perigoso, eu escolhi trabalhar com super-humanos para tentar ajudar aos outros. -Suspirei.-Você já percebeu que eu não tenho nenhum tipo de super-poder, eu não posso fazer coisas fantásticas como voar, ter poderes mágicos. Só que quero deixar claro pra você que isto não interfere em nada o modo com que eu ajo, posso me virar sem eles e você não é mais perigosa pra mim do que qualquer outro amigo meu.

A ruiva levantou o rosto e eu vi como ela estava chorando.

–Eu sou uma arma…

Limpei suas lágrimas com o polegar e a trouxe para junto de mim, a abraçando. Como ela era alta, e quase do meu tamanho, seu rosto ficou encaixado no meu ombro.

–Eu posso te ajudar. Temos como treinar suas habilidades e te ajudar a criar auto-controle.

Eu imaginava como era se sentir uma arma. Uma espada na mão de alguém, servindo somente para matar.

–Vamos… Sorria Kory. Você fica mais bonita quando sorri.-Ela deu um sorriso tímido.-Viu? Muito bonita.

Dei um beijo em sua testa. Um beijo sem segundas intenções, um beijo fraternal, mesmo que na hora meu coração tivesse pulado umas batidas.

–Obrigada… -Um leve rubor emanava de suas bochechas, isso fez com que eu sentisse as minhas bochechas esquentarem também.-Você é um homem bom.

–Ei… Eu vou te ajudar a sair dessa, quero que você veja o que eu vejo ao invés de ver uma arma.

–E o que você vê?

–Uma mulher linda, meiga e que tem os olhos mais bonitos que eu já vi.

Me senti bobo dizendo aquilo em voz alta, mas era tão difícil deixar de dizer.

Kory enxugou suas lágrimas e… Desmaiou.

Segurei seu corpo lívido antes dele cair no chão. Ela só deixara a cabeça pender para o lado e desmaiara.

–Kory? Kory! -Ao verificar seu pulso constatei que ele estava baixo, sua respiração estava irregular.

Temi pelo chip em sua nuca. Não puderam retirá-lo quando ela esteve lá por ela ter estado muito agitada. Coloquei dois dedos na nuca de Kory, estava quente como se ela tivesse colocado uma panela ali.

Era o colapso que nós tanto temíamos.


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Notas finais do capítulo

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