Santana as aguardava na sala. Estava apreensiva quanto a reação da amiga quando lhe contasse o que tinha descoberto.

Brittany fez um suco bem gelado e as serviu. Quinn olhava de uma para a outra, impaciente.

– Anda logo, Sant. Me diz o que está acontecendo.

– Ok. É o seguinte – respirou fundo e continuou- Duas semanas atrás o Russel ouviu uma conversa da Kitty com a Marley. Pode imaginar o escândalo que ele fez. Disse que a culpa era sua e que nunca mais deixaria que vocês se vissem. Mas conhece sua irmã. Ela não tem filtro. Falou tudo o que sempre tivemos vontade e mais um pouco – sorriu – Admito que fiquei orgulhosa da baixinha.

– E o que ele fez?

– Por incrível que pareça, na hora ele não fez nada. Apenas deu aquele sorriso nojento dele de dono do mundo e disse que ela se arrependeria por ter dito tudo aquilo. No dia seguindo foi até a escola falar com a Sue e o Figgins. Ameaçou cortar todas as doações às cherrios caso a Sue não tirasse a Kitty do time. Claro que a Sue tentou argumentar, mas...

– Contra o Russel não existe argumentos – Quinn completou irritada.

– Exatamente. Antes de conversar com a Kitty, Sue me chamou e contou o que tinha acontecido e perguntou se eu sabia de alguma coisa. Contei a ela o que tinha acontecido em NY e na noite anterior.

– Como a Kitty reagiu? – quis saber.

– Nada bem, como pode imaginar – continuou – A Sue a abraçou e tentou acalma-la. Disse que fara tudo o que estiver ao seu alcance para reverter essa situação.

– Preciso ver minha irmã – a loira concluiu aflita – Será que ela ainda está acordada?

– Provavelmente – respondeu, pegando o celular – O Glee Club está treinando duro para as Regionais. E ela tem ficado o máximo de tempo possível longe, na casa de um dos colegas ensaiando, para não ter que encontrar com seu pai...

– Ele não é meu pai – Quinn rosnou.

– Hei, calma loira. Desculpe – Santana falou pausadamente – A Kitty respondeu minha mensagem. Está saindo da casa dos gêmeos agora. Pedi pra ela nos encontrar no Bread Stix. Vamos.

–x-

Kitty estava sentada tomando um suco quando avistou as quatro garotas entrando. Levantou de onde estava e se jogou nos braços da irmã.

– Hei pequena, como está? – Quinn a alinhou em seus braços.

– Senti sua falta. – respondeu – E como está nosso novo bebe?

– Bem – sorriu – Crescendo forte e saudável. Mas vim aqui pra saber de você. A Santana me contou sobre sua discussão com o Russel e o que ele fez com você.

– A Sue está fazendo o que pode. Mas a escola precisa das doações. E estou bastante ocupada agora com o Glee Club...

– Então a senhorita canta? – Rachel divertiu-se.

– Sim. E, modéstia à parte, razoavelmente bem – sorriu – Quer assistir ao ensaio amanhã?

– Vou adorar.

– Amanhã nós iremos até a escola. Preciso conversar com a Sue.

– Podemos comer agora? – Brittany pediu – É que a Quinn não deixou a gente comer nada antes de sair de casa – falou acanhada.

–x-

Na manhã seguinte Santana deixou a namorada na casa dos pais e seguiu para a escola com Rachel e Quinn.

Encontraram Kitty as esperando no estacionamento. A garota as acompanhou até a sala de Sue e seguiu para sua primeira aula do dia.

A treinadora estava de cabeça baixa lendo algo, então Quinn bateu na porta para anunciar sua chegada.

– Atrapalho, coach?

Sue ergueu os olhos lentamente.

– Quinn Fabray. Não acredito – sorriu e caminhou até a garota, lhe dando um abraço apertado – Cada vez mais bonita.

– Sue. Você continua a mesma – retribuiu o abraço – Deixe te apresentar – virou em direção à sua acompanhante – Está é Rachel Berry. Minha noiva.

– É um prazer, Srta. Berry – estendeu-lhe a mão.

– O prazer é meu coach Silvestre.

– Olá Santana – saudou a latina – Imagino que Kitty seja o assunto que as trouxe até mim. Estou certa?

– Sim – Quinn admitiu acanhada – O que está acontecendo Sue?

– Bom, Santana me contou que a Kitty se envolveu com uma garota em NY. Parece que Russel descobriu de alguma forma e nossa garota cuspiu boas verdades na cara daquele ser – sorriu sarcástica – Devo dizer que a parabenizei por isso.

Rachel pode perceber o laço entre as três mulheres naquela sala. Quinn já tinha lhe contado algumas histórias de seu passado que envolviam a coach. Elas tinham uma relação realmente forte.

– Enfim, Russel veio até mim e o diretor. Disse que estava cortando as regalias da filha e isso incluía participar das líderes de torcida. Eu questionei, argumentei, briguei. Então ele ameaçou cortar as “generosas doações” que faz mensalmente à escola. – suspirou desanimada – Desculpe, Quinn. Queria ter feito mais pela Kitty. Mas, infelizmente, o dinheiro que ele coloca nessa escola é o que mantem as cherrios e quase todos os outros clubes.

– Sei que continua de olho nela Sue. Só posso te agradecer por isso. – sorriu cordial – Tem alguma ideia do que podemos fazer para resolver isso?

– Para falar a verdade, querida, tenho queimado meus miolos desde quando ele saiu do meu escritório. Mas não consigo chegar a nenhuma solução.

Rachel apenas ouvia a conversa. E uma ideia começou a formar-se em sua mente. Talvez pudesse fazer algo mais para ajudar.

– Será que podem me dar licença, por um minuto? – pediu.

As três concordaram e a morena saiu da sala.

– Noiva? – Sue brincou – Quem diria, Fabray. Estou curiosa para ouvir sua história – ajeitou-se na cadeira.

Quinn e Santana entreolharam-se e riram.

–x-

Quinn e Santana estavam saindo da sala de Sue quando Rachel retornou.

– Hey, baby – Quinn lhe deu um selinho – Onde estava?

– Fazendo algumas ligações e andando pela escola. Quis deixa-las a vontade. – desconversou – Onde estão indo?

– Encontrar com a Kitty. Ela tem uma aula vaga agora.

– Ok. Posso encontra-las daqui a pouco? Quero tirar uma dúvida com a Sue.

– Hum... Ok – concordou, um pouco confusa.

Rachel deu mais um selinho na namorada e entrou na sala da treinadora.

– Com licença, Sue, Será que posso ocupar só mais alguns minutos do seu tempo?

– Sem problemas. Rachel, certo?

– Isso – sorriu – Queria conversar com você sem as meninas por perto – sentou-se em frente à Sue – Ainda não tive o desprazer de conhecer meu sogro, mas já deu para perceber o quão agradável ele é.

– Não faz ideia do quanto.

– Quero tratar de negócios com você e o diretor Figgins. É possível?

Sue observou a morena por alguns instantes. Não podia negar: tinha presença. Podia entender o que sua garota Fabray tinha enxergado na jovem a sua frente.

–Me acompanhe, Srta. Berry.

–x-

Quinn e Santana já estavam na sala do coral com Kitty quando Rachel reapareceu. Tinha um sorriso vitorioso nos lábios que intrigou a namorada.

– Onde esteve o dia todo, morena? – quis saber.

– Daqui a pouco vai saber. Mas antes – sentou ao lado da garota – Vamos ouvir nossa pequena cantar.

Rachel observou a cunhada fazer dueto com um rapaz careca com jaqueta do time de futebol. Eram realmente bons. Todos os alunos na sala fizeram duetos e, aos ouvidos da diva, todos ali tinham futuro, caso seguissem cantando.

Na saída, Sue apareceu, chamando Kitty com uma caixa nas mãos. A garota a olhou confusa mas aceitou o pacote.

– Meu uniforme? – questionou.

– Vá se vestir. Tem um minuto para estar em formação no campo.

– Mas...

– Agora, mini Fabray – gritou.

Ainda confusa, a garota passou por elas correndo em direção ao vestiário. Quinn se aproximou da treinadora, tão perdida quanto a irmã.

– O que está acontecendo, Sue?

– Digamos que temos uma nova patrocinadora. Srta. Berry? – Sue lhe passou a palavra.

– Fiz alguns telefonemas e mandei e-mails mais cedo. Conheço algumas pessoas que realmente apreciam as artes e gostam de incentivar novos talentos.

– O que você aprontou, anã? – Santana quis saber.

– Consegui doações. Mensais. Um montate suficiente para manter as cherrios, o Glee club e quantos clubes mais surgirem.

– Rachel Berry – Quinn se aproximou – Você é demais. – a beijou.

– Hei, ainda estou aqui – Santana gritou, as separando – Mandou bem, Rachel. – a abraçou.

–x-

As três esperaram até Kitty sair do treino. A garota estava exultante. O sorriso não saia de seu rosto.

– Não sei bem o que aconteceu, mas Sue me disse que devia agradecer minha cunhada, então... Muito obrigada Rach. – a loira sorriu a abraçando.

– Não precisa agradecer, Kitty. Só fique firme e dê conta de tudo. – sorriu de volta.

– Pode deixar comigo.

– Kitty agora que as coisas por aqui voltaram aos eixos... – Quinn a abraçou pelos ombros – Acho que tem uma certa morena esperando uma ligação sua.

– Marley – o sorriso da loira fraquejou – Não sei se ela ainda vai querer falar comigo depois de tudo o que disse pra ela.

– Acredite, irmã. Ela quer – sorriu.

Kitty estava tirando o celular do bolso quando congelou no lugar, olhando fixamente para o homem a sua frente.

Russel estava com o rosto vermelho. Parecia que ia explodir a qualquer momento.

– Que diabos está acontecendo aqui? – esbravejou – O que faz vestida nesse uniforme, Katherine?

Quinn sentiu o coração batendo nos ouvidos. Instintivamente, Rachel e Santana se colocaram a frente das duas irmãs, as protegendo da fúria quase assassina de Russel Fabray.

– Deixe-as em paz, Russel – Santana rosnou.

– Não se meta, depravada. – o homem cuspiu.

Rachel precisou segurar Santana, caso contrário a garota avançaria em cima dele.

– É o seguinte, Sr. Fabray – Rachel deu um passo em sua direção – Vou te explicar apenas uma vez, então é bom que escute com atenção – a morena se agigantava em relação à ele, sem precisar erguer o tom de voz – Essa escola não precisa mais do senhor. A Quinn não precisa mais do senhor. E, daqui à um dia ou dois, a Kitty também não irá precisar.

Sem que percebessem, Sue estava ao lado das três, encarando Russel com fúria.

– Elas são minha família agora. E será de bom tom que o senhor não se aproxime delas, se sabe o que é melhor para os seus negócios. Estamos entendidos?

– Quem você pensa que é, sua insolente? – berrou, jogando-se em cima da morena.

– Se não se afastar agora, serei seu pior pesadelo – o encarou sem se intimidar.

– Isso ainda não acabou – rosnou.

– Veremos – respondeu no mesmo tom ameaçador.

Russel saiu pisando duro e chutando tudo o que via pela frente. Rachel esperou que ele ficasse fora de suas vistas para se virar.

– Vocês estão bem? – quis saber.

– Se estamos bem? – Santana gracejou – Foi você quem acabou de bater de frente com o chefão da máfia.

– Rachel, o que quis dizer com eu não ter mais que precisar dele? – Kitty questionou, ainda tremula.

– Você vai vir morar comigo – foi Sue quem respondeu – Esse animal não tem o direito de ficar com você ou com sua irmã. Ele sequer merece ser chamado de pai – falou, enojada.

– Mas eu ainda sou menor de idade...

– Não se preocupe, querida – Rachel a acalmou – Vou resolver tudo.

Quinn estava agarrada a namorada, ainda tentado parar de tremer. Russel sempre a assustara. Desde quando conseguia se lembrar. Então, Rachel se colocara a sua frente, a protegendo. Encarando aquele monstro, sem se preocupar com a própria segurança.

– Você é louca, sabe disso não é?! – riu, a abraçando.