Rachel caiu da cama, tamanho o susto. Quinn desceu a blusa rápido, procurando a origem do som. E qual não foi sua surpresa ao dar de cara com Santana as observando e gargalhando na tela do notebook em cima da escrivaninha.

– Lopez! – a loira sibilou irritada, voltando sua atenção para a morena no chão – Você está bem, Rach?

– Si-sim... Tudo bem – a garota se levantou desajeitada, cobrindo o colo com o travesseiro – E-eu vou pro meu quarto. Depois nos falamos.

E saiu feito um raio do quarto, pela porta da sacada. A loira respirou fundo e voltou novamente sua atenção para a amiga na tela do computador.

– Qual o seu problema, Santana? – praguejou.

– Não tenho culpa se você largou o computador ligado e resolveu dar uns pegas na anã – a latina ainda ria da expressão no rosto da amiga.

– A quanto tempo você está ai? – perguntou, escondendo o rosto entre as mãos.

– Tempo o suficiente pra ver que sua baixinha é bem quente...

– SANTANA! – Quinn a repreendeu, corando violentamente.

– Relaxa, Fabray. – pediu – Fico feliz em ver que está aproveitando a vida apropriadamente – brincou – Mas falando sério, em que pé está esse relacionamento?

Quinn suspirou encarando a amiga. Apesar de estar possessa com a interrupção, desabafar com Santana era exatamente o que ela estava precisando.

– Não tenho certeza, San. Ela é incrível e faz com que eu me sinta feliz e especial, como a muito tempo não me sentia. Mas tenho medo de colocar tudo a perder... Nós concordamos em ir devagar e descobrir exatamente o que estamos sentindo, mas... Quando estamos juntas e ela me beija... Uau!

– Deixe eu adivinhar: vocês não conseguem manter as mão afastadas uma da outra. E quando se tocam, sentem correntes elétricas passando por seus corpos.

– Exatamente. E San, nunca senti isso antes. É incrível e delicioso, mas tenho tanto medo de tudo isso ser um sonho, e de repente eu acordar e estar em Lima outra vez e... – o tom de voz da loira beirava o desespero.

– Pode parando por ai, Q. – a latina a interrompeu – Acredite em mim. Não é um sonho. Essa garota incrível realmente existe e está muito a fim de você. E vocês estão em NY, e o futuro que as aguarda é brilhante. – tomou folego e continuou – Aproveita o momento, meu amor. O que tiver que ser, vai ser.

– E não é só ela, San. Os pais dela, Kurt e Mercedes. Me sinto mais em casa aqui do nunca me senti na casa dos meus pais.

– E não precisa pensar muito para saber o motivo – Santana sorriu – E essa é a minha deixa para te mostrar o porquê de eu estar aqui.

Quinn pode ver a amiga olhar para o lado e esticar os braços e chamar por Brittany. A loirinha apareceu na tela com uma Beth sorridente nos braços.

– Beth – os olhos da garota marejaram – Como está grande.

– Oi, lamb – Brittany acenou – Diz oi pra mamãe, B.

O sorriso da loirinha se iluminou ao perceber Quinn do outro lado. Ela esticou os bracinhos na direção da tela.

– Mama – balbuciou.

– Oi meu amor. Que saudade.

– O Puck a deixou aqui a algumas horas. Parece que a Shelby está com uma dessas viroses – Santana explicou – E pediu se ele poderia acompanha-la. Então eles a deixaram aqui.

– Ela está linda, San. – Quinn estava encantada com a visão da filha.

– Q, ela gosta de assistir Harry Potter comigo – Brittany comentou – Ficamos horas na frente da tv. Igual nós fazíamos quando você estava aqui.

– Obrigada por ensina-la a ser nerd como nós B – Quinn riu.

– Ah, e olha só o que ela aprendeu com a gente.

Quinn ficou observando enquanto a loira mais velha pegava um pompom pequeno e entregava a bebe, enquanto segurava outro maior em suas mãos.

– Vamos lá, loirinha.

As duas começaram a sacudir os objetos de uma forma engraçada, mas ritmada. E Beth ria gostosamente.

– Juro que tentei evitar, Q. Mas a guria é mais parecida contigo do que podíamos imaginar. – Santana gracejou.

– Estou vendo. – a loira riu – Hei, será que vocês podem esperar um pouco? A Rach precisa ver isso.

– Claro, vai lá chamar sua garota, Fabrey – a latina implicou, para não perder o costume.

Quinn corre até o quarto da morena, deu apenas uma batida e entrou. A garota não estava a vista, mas dava para ouvir o som do chuveiro vindo do banheiro.

– Rach, querida. Ainda vai demorar? – Quinn perguntou alto da porta.

– Hum... Não, princesa. Já estou quase acabando. Algum problema?

– Nenhum. Só quero que veja algo.

Rachel desligou o chuveiro no mesmo instante. Vestiu o roupão e saiu com os cabelos ainda pingando.

– Hei você – Quinn sussurrou.

A loira sorriu e se aproximou da morena, lhe dando um selinho. Rachel corou, ainda um pouco sem jeito com a situação de momentos antes.

Quinn apenas pegou a morena pela mão, a levando consigo até seu quarto.

– San, voltei. – a loira chamou a atenção das três. – Olhe Rach, é a Beth – apontou.

Beth encarou Rachel por alguns segundos, interessada. As três garotas ficaram em silencio, achando interessante a reação da pequena.

– Oi – Beth disse por fim, sorrindo. –Bem?

– Hei, princesinha. Oi – Rachel respondeu, impressionada – Estou bem. E você? – devolveu a pergunta, se aproximando mais da tela.

– Bem.

– Isso é estranho – Santana comentou. – Nunca a vi tão hipnotizada por alguém desse jeito.

– Amor, acho que é o efeito Rachel sobre as garotas Fabrey – Brittany comentou simplesmente, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

As três garotas a fitaram surpresa, mas nenhuma delas soube o que dizer. Talvez Brittany tivesse razão.

– Enfim – Santana retomou – Já está ficando tarde, é melhor dar banho e colocar a pequena na cama. Se a Shelby chegar e a ver elétrica desse jeito vai no matar.

– Está bem. Muito obrigada meninas por cuidar dela. Mandem notícias da Shelby. Até mais.

– Boa noite, lamb. E desculpe a falta de educação da Santy. Sabe como ela é... – Brittany pediu.

– Está tudo bem, B. – Quinn sorriu, ela amava a delicadeza da amiga. – Tchau, Beth. Mamãe te ama.

– Tchau – a pequena respondeu, mandando um beijo.

– Até mais, Q. Juizo vocês duas hein, Berry?! – Santana advertiu.

– Pode deixar, Lopez.

A web cam foi desligada e só sobraram Quinn e Rachel no quarto. O silencio se fez presente por alguns momentos, ambas perdidas em seus pensamentos.

– Então...

– Então – Quinn repetiu, abraçando a morena pela cintura – Me desculpe pela Santana. Ela não tem senso de privacidade. Pelo menos não a dos outros.

– Está tudo bem princesa. Nós estamos bem, certo?!

– Com certeza, estamos – a loira respondeu, dando um rápido beijo na garota – Será que pode dormir aqui comigo hoje?

– Acho que sim. Só vou colocar meu pijama e já volto.

–x-

O resto da semana passou-se sem maiores intercorrências. Os dias eram corridos e as duas garotas mal tinham tempo de passar alguns momentos a sós.

O máximo que conseguiam era fazer as tarefas de casa juntas no quarto de uma ou de outra, apenas para estarem no mesmo ambiente.

Rachel corria com seus trabalhos acadêmicos, pois sabia que o final de semana seria uma loucura. Quinn, por sua vez, conforme a semana chegava ao fim, desanimava gradativamente. Só de imaginar que a morena mal se lembrava de seu aniversária a deixava frustrada.

Na sexta feira de manhã, Quinn acordou mas demorou a se levantar. O dia seria longo e tinha combinado com as meninas de passar a noite na casa de Tina. Por mais sem vontade que estivesse, não podia dar para trás. As amigas estavam extremamente animadas.

Rachel bateu na porta e entrou sem esperar resposta. Sabia o quanto a loira estava contrariada, e que a culpa era sua. Várias vezes ao longo daquela semana pensou em contar a verdade para a garota, mas sabia que no final das contas valeria a pena.

Abriu a porta da sacada, afastou as cortinas e se aproximou de Quinn devagar, tomando cuidado para não ser atingida eventualmente por algum objeto.

– Bom dia, minha princesa – a beijou, sem ter retorno – Já arrumou suas coisas? Vou te levar para a faculdade hoje.

– Ainda não – respondeu mal humorada.

– Então levanta e vai tomar seu banho que vou arrumar sua mochila.

A pegou pelos braços colocando-a sentada na cama. A loira continuava com cara de poucos amigos. Não estava nem um pouco amável aquela manhã.

Por fim, levantou. Realmente não devia se atrasar para a primeira aula, teria prova e seu professor era nada menos do que insuportável.

Rachel observou Quinn ir para o banheiro sem lhe dirigir sequer um olhar. Sorriu resignada. Pegou a mochila da loira e começo a colocar algumas peças de roupa que provavelmente Quinn precisaria. No fundo da bolsa, colocou um embrulho e antes que esquecesse enviou uma mensagem de aviso para Tina.

Quinn acabou de se arrumar dentro do banheiro. Deu uma última olhada no espelho e saiu. Seguiu a morena ainda em silencio. Já estavam todos à mesa e apenas se entreolharam quando as duas chegaram.

–x-

Rachel assistiu suas aulas até o horário do almoço e pediu dispensa das demais do período da tarde. Dirigiu direto para casa ao encontro de Kurt e Mercedes. Os dois já a esperavam na beira da piscina.

– E então, diva. O que nós temos que fazer? – Kurt perguntou, assim que a viu.

– Bom, já pedi pra Jo dar um jeito na edícula, alguns convidados irão ficar hospedados lá. A Quinn fica comigo no meu quarto. Cedes, as meninas podem ficar no seu quarto com a bebê? E Kurt, tudo bem se a Tina e a Marley ficarem no seu quarto? Você fica com os rapazes na edícula? – pediu. O rapaz concordou.

– Claro. Mas nós não temos camas o suficiente, Rach. – Mercedes comentou.

– Certo. Vamos as compras agora. Mais tarde vão vir entregar o presente da Quinn. Vou deixar a Jo avisada. De quantos colchões vamos precisar?

– Bom, as meninas podem dormir na minha cama. Acho que vamos precisar de mais ou menos uns dez colchões.

– Ok. Vocês já almoçaram? – os dois negaram – Então vamos para o shopping. Comemos algo por lá e compramos tudo o que for necessário.

–x-

Tina e Marley cochichavam em um canto, enquanto Mike e Artie tentavam distrair Quinn. A loira estava quieta ao extremo, mal desviava o olhar do que estava fazendo. Todos sabiam o motivo, mas nada diziam a respeito.

Quando o relógio marcou seis horas da tarde, as duas garotas quase pularam de animação. Pegaram Quinn pelo braço, despediram-se dos rapazes e saíram praticamente correndo do campus.

Foram no carro de Tina. A loira quieta no banco de trás. Marley a espiava vez ou outra, mas por hora preferiu não dizer nada.

Quinn ficou impressionada com a casa da amiga. Ela morava em um condomínio de um apartamento por andar. Era realmente grande.

– Fiquem a vontade meninas. Vou pegar algo pra gente beber. Meus pais não vão passar a noite em casa hoje, então o apartamento é todo nosso.

A garota foi até a cozinha e voltou com três garrafas de cerveja na mão.

– Um brinde – propôs – À nós.

–x-

Rachel estava enlouquecida. O celular no ouvido, notebook no colo. E a noite estava só começando.

– Mercedes você conseguiu falar com a moça do buffet? – gritou, tentado se equilibrar.

– Já sim. Eles estarão aqui amanhã ás nove horas, como combinado. – a garota respondeu da sala de jantar – Estou confirmando a decoração agora.

– Valeu, Cedes – agradeceu – Kurt, você vai comigo a rodoviária amanhã? A gente vai precisar de dois carros.

– Claro. É só me acordar.

– Ótimo. Será que não esquecemos de nada? Estou com a sensação de que tem algo faltando... – resmungou.

– Está tudo dentro do planejado, filha – Hiram respondeu, chegando na sala – Acalme-se. Vai dar tudo certo. E pelo o que eu vi lá na garagem e na edícula, vai ser ainda melhor – brincou.

– Só quero que seja tudo perfeito. – comentou.

– Vai ser, estrelinha. Vai ser.