– Você está com medo... - Frederick se aproximou. - Medo de um relacionamento?

Suspirei aliviada ao ouvir sua conclusão errônea. Eu realmente estava amedrontada, e não era por causa de um relacionamento.
– Fred, eu não sei se estou pronta para isso. - Disse vagarosamente, tentando convencê-lo.
– Vamos devagar, tudo bem? - Inesperadamente, ele acariciou meu ombro. - Quero que conheça minha família.
– O que?! - Arquejei. - Frederick, você acabou de dizer que iríamos aos poucos.
– Danem-se os poucos. - Ele revirou os olhos. O maldito traço de perfeição curvou-se sobre seus lábios. Eu conhecia aquele sorriso - Eu gosto muito de você, Annie.
– Bom, não temos tudo o que queremos. - Afastei a mão dele e cruzei os braços, esperando que ele entendesse a minha postura defensiva.
– Eu costumo conseguir tudo o que almejo. - Frederick sussurrou. - Você vai ser meu primeiro grande desafio.
– Isso não é um jogo. - Falei impaciente.
– Sedução é. - Rebateu.
– Você vai perder. - Sussurrei próximo ao seu ouvido. - Estou convicta disso.
– Ah, Annie. - Frederick segurou meu queixo suavemente. Pude sentir o cheiro de seu hálito fresco. - Você não sabe do que eu sou capaz.

Sem tirar os olhos dos meus, ele se inclinou para mim. Em seguida, de repente, mas com suavidade e delicadeza, pousou seus lábios sobre os meus. Fui incapaz de me mexer quando sua mão tocou minha nuca.

Em uma lentidão deliberada, suas mãos deslizaram por meus ombros, depois pela lateral do meu corpo, puxando-me para si. Eu tremi, e o senti parar o beijo, embora suas mãos continuassem se movendo, mas logo se detiveram.

Ele se afastou abruptamente de mim. Meu coração reagiu, bombardeando mais rápido. A feição de Frederick era de como se estivesse surpreso com algo. Ele me beija e entra em estado de choque, pensei.
– É melhor você ir. - Sussurrei ainda desnorteada.
– Tem razão. - Ele concordou e avançou para a porta, saindo imediatamente.

Depois acabou. Então, eu desmoronei. Fiquei tão apavorada que tive que fechar os olhos para tornar à realidade. A excitação do momento quase me impediu de lembrar do meu objetivo. Vingança. A minha mente estava inebriada com a mistura de sentimentos. Medo, raiva... Afeição. Nessa partida, eu não poderia entrar de coração aberto, a mente seria meu escudo.

Disparei pela escada, entrando em meu quarto e logo pegando meu celular. Digitei rapidamente o número de Tony e o esperei atender.
– São nove da manhã, Annie. - Ele gemeu sonolento. - Você me acordou e eu espero que seja algo..
– É importante. - Suspirei. - Ele me beijou e ficou apavorado.
– Ele te beijou? - Repetiu com o tom de voz alterado.
– Sim.
– Isso é bom para nosso plano. - Tony pareceu desapontado.
– Eu tinha que seduzi-lo, não era? - Perguntei confusa. - Não há outra forma de me vincular àquela família, e depois deste beijo eu duvido que ele queira apenas minha amizade.
– Como aconteceu? - Ele sussurrou.
– Foi bom. - Arquejei. - Ele me beijou de repente e...
– Preciso de mais detalhes. Estou indo aí. - Então a chamada ficou muda.

Tony havia desligado. Nesses momentos de pura ignorância dele, eu preferia não tê-lo conhecido. Ele sabia disso e pelo jeito, adorava me deixar furiosa. Passaram-se alguns minutos e Tony estava tocando minha campainha. Ele morava a poucos quarteirões e isso, de certa forma, facilitava as visitas.
– Foi um beijou de língua? - Tony não esperou que eu o convidasse, entrou assim que eu abri a porta.
– Oi, bom dia pra você também. - Retruquei. - E sim, foi de língua. O que tem isso?
– E depois? - Ele se encostou no sofá. - O que aconteceu depois?
– Ele me acariciou, beijou e por fim, entrou em estado de choque. - Falei entediada. - Ele simplesmente correu depois do beijo.
– Conseguiu espantar um demônio com um beijo, Annie. - Brincou.
– Que gracinha de comentário. - Cruzei os braços enquanto andava de um lado para o outro, tentando imaginar a razão de Frederick ter agido daquela maneira.
– Ou ele tem a mentalidade de um pré-adolescente, ou ficou muito perturbado com o beijo que ele mesmo deu. - Tony tinha poder de observação que faria qualquer investigador beijar seus pés. - Então, o demônio se apaixonou por um anjo caído.
– Anjo caído? - Fitei-o confusa. - Esta me comparando à Lúcifer?
– Não seria adequado chamar de Anjo Gabriel uma pessoa que tem nas veias o sabor de vingança. - Ele brincou.
– Nós somos a parte boa. - Reagi furiosa.
– Annie, eu sei.
– Você me colocou nisso e vai ter que ir comigo até o fim, Tony. Eu não tenho mais como me livrar dele, você sabe. - Falei de modo alterado. - Eu tenho medo o tempo todo, e quando ele me beijou... Dá pra imaginar? Fingir afeto por alguém que destruiu sua família?
– Acalme-se. - Ele pediu, aproximando-se de mim. - Não sabemos ainda se foram eles.
– Eu sinto um vazio todos os dias. Era meu pai, Tony. - Sussurrei ao perceber que não pude conter as lágrimas. - Eles tem que pagar pelo que fizeram conosco.
– Você não vê o Frederick como um demônio... Talvez a família dele, mas não ele. - Ele sussurrou. - Esse é o problema.
– Isso não é verdade... - Falei enquanto tentava controlar as lágrimas.
– Você não me parece enojada com o beijo. - Tony me fitava sério. - Ele é seu inimigo também.
– Eu sei. - Assenti.
– Ele não vai te machucar, Annie. - Tentou me acalmar. - Acho que ele já esta gostando de você.
– Ele falou algo sobre isso...
– O que exatamente? - Tony cruzou os braços e franziu o cenho.
– Disse que gostava muito de mim e que queria que eu conhecesse a família dele. - Falei pouco à vontade. A ideia de ir até a casa dele me dava arrepios.
– Isso é perfeito. - Ele passou a mão no rosto nervosamente.
– O que faremos agora? - Suspirei.
– Ele vai te convidar para ir até a casa dele e você aceitará. - Tony sorriu. - Seja gentil.

Terei que entrar no covil dos ladrões, pensei amedrontada.